Gina, a mulher que tem um blogue

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Da visita

Nunca pensei que a primeira visita destes consortes ao hospital de Loures fosse por conta de um dos ricos filhos, oh céus, o percurso natural seria um de nós, mais velhos, um dia desses dar-lhe um piripaque qualquer e precisar de lá ir com urgência. Pronto, nada disso, dói-dói agudo e ruim na barriga da rica filha e lá fomos nós. Aquilo até é giro, só por dizer que quando entrei ia preocupadíssima com a rapariga e não me deu logo para me pôr a perscrutar o lugar e as pessoas. A rica filha foi lá para dentro e eu fiquei à espera, como fazem as mães das pessoas crescidas. Passado um bocado chamaram a acompanhante da doente Ana Cláudia Guê. Era eu. Acompanhante, já não sou mãe. Dantes, perante os senhores doutores das doenças, era mãe, assim até parece que deixei de o ser. Mas não, se há coisa que jamais me será retirada é o ser mãe de dois seres. A rica filha queria-me lá, estava abalada por demais, por isso me chamavam. Fiquei abalada também eu, mas controlada, na verdade não funciono mal com um problema concreto, seja ele qual for, até hoje. Consolei-a como pude, dei-lhe os conselhos de que me lembrei, o que a fez retomar o bom senso perdido no meio de tanto mal-estar. Beijinhos e festinhas, eu, beijinhos e festinhas, ela. Aqui convém acrescentar que nenhuma de nós duas é muito dada a beijinhos e agarranços amaricados, daí o surpreendente da coisa, a rapariga sentia-se mesmo mal. Tínhamos dado entrada às duas e cinquenta da madrugada, entretanto o tempo passara. Foi-lhe feito o que havia a fazer e os sintomas foram gradualmente desaparecendo. Mandaram-me sair. Obedeci. Passado tempo a rica filha vem de lá para ficarmos à espera do resultado de análises e exames vários. Deita-se nas cadeiras, com os casacos da gente as duas a fazer de almofada. Afago-lhe os longos cabelos. Tão linda, a dormir. Cinco da manhã, a minha cabeça pesa cem quilos. Sério. Que sono. Mas nada de dormir, nem fechar os olhos mais do que dois ou três minutos, não conseguia, nem que quisesse, e se a chamassem. Ná, dormir, nada. Seis da manhã, aspiradores correm os espaços, há uma musiquinha pequenina, baixinha, no ar, Radio Comercial, né. É, só pode, Sia canta para o ar, mas baixinho, como já disse, aquela canção do candelabro. Isto é giro, já tinha eu dito. Seis e quarenta e cinco, toca o despertador da rica filha. Ri-se, que está tão melhor. Rio-me. Sete da manhã, toca o despertador de uma doente que tal como nós aguardava resultados. Rimo-nos. Isto afinal é mesmo giro. Chamam pelo nome da rica filha, finalmente. Depois vem de lá com as novidades: a senhora doutora diz que o que tem não é nada de grave e faz a sua prescrição médica, bem como advertências: nada de leite nem café. A rica filha quase chora, mas aqui de raiva e saudades já muito sentidas, e lamenta-se-me: sem leite nem café...? Oh! Vamos para casa. Comemos coisas e eu faço-me à estrada para ir às compras, tem de ser, outra vez, pois, chicha branca e peixinho magro e legumes verdes e amarelos e fruta do mais liso que há. Curiosamente percorro a mesma estrada, que impressão que aquilo me faz. E eu com tanto sono. Rotundas, tenho de abrandar. Há um senhor numa mota que observa o sinal de que não vou sair da rotunda tão cedo, mas o raio do homem não para de vez, abrando para lhe dar espaço mas ele para abruptamente. Hum. Sigo. Não despertei lá grande coisa, mesmo assim. Faço as compras em modo dormente, ainda bem que não me esqueci de nada. Depois o dia correu anormalmente porque fiquei em casa a tomar conta da minha filha adulta.

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