Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

...

Promessa reconfortante à minha caneta:

«Amanhã venho ver como estás. Descansa, vá.»

Epifania

30 de outubro de 2013 (ontem) foi o dia em que percebi a influência que Lisboa tem sobre a minha escrita. Quero dizer: eu já sabia que a cidade me influenciava, só não tinha compreendido o tamanhão da coisa.


Lisboa - praça de Londres, 30 de outubro de 2013

...

Há barulho aqui atrás. Não me explico, que não me apetece.
Pensamento. Nem o voo do pássaro é tão livre assim.
Mulher menstruada. Não há quadro mais deprimente.
Não é poema, tampouco ficção.

Exposição

Luz ao fundo do túnel.
Só que não é túnel, é escada.
Com luz que vem lá de baixo.
Falo do quadro.
Negro.
Vá lá que a luz alumia.

A árvore amarela

Uma mulher estacou, recolheu uma das folhas e depois olhou para ela durante instantes. Seria uma foto linda. Dali a árvore estava amarela e belíssima. A mulher era jovem, não lhe consegui definir as feições mas os gestos eram os de quem tinha o dom da contemplação pura e simples. O banco estava vazio, fui até lá com o intuito de tirar fotos à árvore. Sabem como é quando a gente espera demasiado? Pois é, ao pé da árvore, quando me sentei debaixo dela, não é que a beleza tenha abalado toda, nada disso, mas não estava tão magnífica como quando a avistei de longe, enverdecera, curiosamente, qual amarelo qual quê. Não tirei fotos nenhumas, a minha árvore tem de amarelar muito mais para merecer figurar no blogue.

Pôr a mão na fruta

Há fotos que podiam contar uma história.

A fruta

Frutos vermelhos. Frutos laranjas. Frutos amarelos. Frutos verdes. Frutos... Coiso.

Sem ler

Esqueci-me do livro. Caraças, pá.
O livro do momento ('A Acidental', Ali Smith) retrata uma família em férias numa casa de campo, no seio da qual aparece repentinamente uma intrusa que consegue socializar estranhamente com cada um deles, usando artimanhas e mistérios tais que todos se apaixonam por ela, cada um à sua maneira.

Dia de

Hoje é dia das bruxas, ou noite das bruxas, que a esta hora já está escurinho. As imagens foram retiradas duma revista Teleculinária (datada de 24/02/1992) que a minha sogra me ofereceu porque anda para lá às malucas* com tralha que já não lhe interessa.



*Termo que a minha mãe usa para designar um grande alvoroço doméstico, limpezas e isso.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Gina, a mulher que dá opinião

Aceitei o desafio da Olinda do blogue ‘rascunhos, rabiscos e limitada’. Acho que pode chamar-se desafio, afinal de contas é-me difícil dar opinião acerca da criação dalguém que conheço principalmente através do blogue, tendo forçosamente que mandar embora a hipocrisia e o medo de melindrar. Mas despi a pele de uma certa Gina que é um tanto ou quanto reservada e fiz aparecer uma outra Gina, destemida e escrevente. E vamos a isso.

Vou começar pelo pior.
O único ponto negativo foi alguns contos terminarem demasiado abruptamente. Compreendo que possa dar azo a que os leitores inventem a sua própria história a partir dum tema e cenário mas eu não gosto, fico com água na boca, sou muito apegada ao real, ou então pouco imaginativa, ou ainda muito boa ouvinte e vai daí gosto de ‘ouvir’ tudo...

Vou agora continuar com o que achei melhor, bom e muito bom.
A Olinda possui uma escrita clara e acessível. Sei que estou a repetir as opiniões doutros leitores mas é efetivamente uma das marcas da autora, mantém-se à parte daquele pretensiosismo tolo de quem quer ‘escrever bem’, usando artimanhas e floreados que quanto a mim só atrapalham e enfeiam o texto.
A autora aborda despudoradamente assuntos temíveis e/ou vergonhosos tais como o sexo e a morte. Escrever é difícil devido à exposição de sentimentos, opiniões, cenas e intimidades nossas (sim, mesmo que seja ficção) e quando chega a hora de publicar nenhum tema parece ‘normal’ e nada parece tão relativo ou tão acessível assim.
Uma das coisas mais agradáveis que verifiquei com a leitura deste livro de contos foi conseguir lê-lo sem interrupções, habitualmente sou uma leitora desconcentrada e repetidamente assaltada por pensamentos extra e posso dizer que tal não aconteceu.
Uma outra agradabilidade foi não ter tentado mudar as histórias, ou seja: tenho a mania de estar a ler e a mudar os textos na minha cabeça, do tipo ‘eu cá escrevia assim ou punha esta palavra aqui’. É esta minha característica algo presunçosa que me ajuda a decidir se compro o livro ou não, isto nas raras vezes em que ando a escolhê-los nas livrarias. Portanto: compraria o livro da Olinda.
Para finalizar a opinião, os contos que mais gostei foram: ‘Organismos’; ‘Liberdade de Escrita’; ‘Conto Quase Erótico’.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

?!

Já alguém escreveu escrever querendo escrever escreveu?!

A Gina é para o erotismo como o erotismo não é para a Gina

Vou escrever um conto erótico.
Vou voltar ao meu tom intimista.
Vou matar saudades.
Pois, é isso, não me dou com erotismo, e se não me dou com erotismo o melhor é salvar a 'coisa' escrevendo o mais intrinsecamente que possa.

Agora também já leio a monte

Sei. Sei-o porque tenho memória. Sei que já escrevi que leio 4 livros, ou que vou lendo 4 livros, que encetei 4 leituras e as vou cumprindo conforme os apetites. Só ainda não me tinha apercebido que a par com o trabalhar a monte, pensar a monte, viver a monte e escrever a monte... Agora também já leio a monte.

Outono

Ai, que sombras já tão longas, oh céus. Todos os bancos à sombra, e isto que no verão seria tão bem-vindo!

Mesa redonda

Ele recolheu a chávena. Ai. ... Não viu. Nem olhou.

=

A igual tem companhia, hoje. Curiosamente não se lhe transforma a expressão, é uma daquelas raras pessoas que emanam felicidade e bom senso, estando só ou então não.

Como?!

Como é que o frio sabe que está na hora de aparecer?!

Desde a infância que esta questiúncula me incomoda. Já me disseram que é uma coisinha ao estilo do meu pai. E é.

Almoço

A sopa é da cor do meu casaco. Está frio, por isso o casaco da cor da sopa. Está tanto frio, tu queres ver que amanhã já tenho de trazer o cachecol e as luvas...
Coisas boas do frio:
sentir o sol nas costas quando subo a avenida;
sentir calor, ainda assim sentir calor, e sem estar dentro dum espaço fechado com temperatura artificial.

Roupa

Se me puser para aqui a inventariar (atenção: eu escrevi inventariar) os tecidos que tenho numa caixa à espera de serem transformados em modelitos... Faço um post enorme.
Os tecidos de outono/inverno têm um problema, tenho de fazer nova visita para comprar forros e aviamentos.

Alcunha

Ela chama o meu colega de manny mãozinhas*. Se eu fosse o meu colega e gostasse de escrever e tivesse um blogue agora ia fazer um post, que eu cá acho que a gente ter alcunhas giras é coisa boa pra escrever. Note bem: giras, alcunhas giras.

Dias de um Ginásio

Chamo-lhe 'a toda boa'. E é, só por dizer que não é esse lado que quero explanar. É o lado das cores, do colorido, de condizer elástico de cabelo com perneiras, calças com ténis, camisola com meias, punhos com top. Parece uma bonequinha.

Do dia

Hoje está sol. Solinho simpático. Sol. Dia soalheiro.
A mulher que gosta do tempo embrulhado está triste.
A mulher que gosta do cinzento dos dias anda cabisbaixa.
A mulher que gosta da humidade reclama com o sol.
A mulher que gosta da chuva queixa-se da dita.
A mulher que gosta das nuvens carregadas é incompreendida.

De manhã

O novo condutor da minha viatura, o rico filho, usou os óculos do pai e deixou-os fora da caixa. Mau maria...

3333

Capicua. Para esta tinha de arranjar atenção e não a deixar escapar sem a colocar no devido lugar, que é especial que se farta. Quatro vezes três. Três, três, três, três. 3333.

3332

Quase.

Vista

É noite. Bolas, pá, agora já é noite. Daqui parece que a varanda é imensa, quadrada. Avisto uma janela que se confunde com a enorme porta mesmo ao pé de mim. Estou baralhada, já é noite. Traseiras, luzes. Traseiras, só posso imaginá-las, inventá-las. O telejornal retrata desgraças ou incidentes e mais nada. Que seca. O gatinho tem um poleiro. O gatinho é solitário e medricas. O espaço é muito, não há livros, há fotos mas poucas e aglomeradas, de resto paredes compridas e vazias. Há tv, móvel para a tv, o telejornal fala e diz e comenta. Há sofá largo com espreguiçadeira e tudo. Mas a vista... Ah, a vista: há luzes porque é de noite, agora já é noite. É Lisboa.

Luminosos

Este ano o Governo vai deixar o povo alegrar-se com as luzinhas de Natal, andavam na Alameda a montá-las. São árvores de ferro com vestígios de vermelho e prata que quando iluminadas ficarão bem. Depois, à noite, andavam na praça do Chile empoleirados na estátua a juntar fios, apenas brilhando ainda os coletes refletores.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Contraponto

Se penso em fazer algo que supostamente me maravilhará, se o pensamento é incessante, se sonho amiúde que está a acontecer, se me toma a vida quando estou acordada, enfim: se me monopoliza completamente, então o melhor é concretizar esse algo, quando não morrerei sem viver o deslumbramento desse logro prazer. Mesmo que o algo seja um prazer perverso. Sim, mesmo que seja um algo proibido. Mesmo que faça de mim um ser repudiante perante os conhecidos, mesmo que venha a sentir-me uma criminosa perante a sociedade, mesmo assim. Não tenho que pôr de lado desejos tão prementes. Não tenho, não. Viver é fazer coisas, viver não é deixar de fazer coisas. Porque se eu não colocar maldade nos atos estes não a terão. Porque a consciência tem o molde que eu lhe quiser dar. Porque no algo concreto existe um bem: quando ocorrer, a loucura esvair-se-á num sopro, desvalorizando completamente o que me apaixonou, tanto que sentirei repulsa do que hei desejado ardentemente.

A pecaminosa que escreve
(tentando ilustrar a gula…)

«Não há amor mais sincero que o amor à comida.», Bernard Shaw

Esta frase está há meses nos meus rascunhos, à espera de oportunidade para aparecer. Escrevi da gula, revelo. O meu conto 'Modo de' assenta sobre a gula. E, vai daí, com o desenvolvimento perdi o controlo e o tema descambou, ou então converteu-se, não sei muito bem. Rabiei pra caraças para me manter no assunto. Não deu. Pumba. Coiso. Olha, paciência. Afinal de contas as incertezas e o desequilíbrio ajudam(-me) a escrever.

«Arranje-me uma marguerita, por favor. Com muito sal no bordo do copo para eu passar a língua prazerosamente, sorver o líquido turvo com uma vontade contida, os dentes fazendo as vezes duma rede que não deixará entrar o gelo dentro da boca, quero que derreta dentro do copo, esperar a marguerita como que transbordar antes de cada golinho que me há-de saber a limão muito ácido e a Tequila. Principalmente a Tequila, a ver se rodopio aqui sentada, enquanto absorvo o resto do lugar, que eu cá adoro essas cenas de olhar e tal, para as pessoas, para os objetos, pensar e cismar e disfrutar de tudo quanto é visível e invisível, plausível e impossível. Quero relaxar, o dia foi ruim, a minha vida está estranha, eu sou uma pessoa muito especial. Quero uma marguerita, é isso mesmo. Obrigadinha.»

Nota: excerto dum post meu datado de 12 de abril de 2012

Gina, a mulher que tem uma mota

Quer dizer, ainda não tenho uma mota mas está quase.
Para já adianto que as opiniões acerca do meu futuro relacionado com a mota divergem e não é pouco.
Uns dizem
'ah e tal tu não vais conseguir andar naquilo'.
Outros dizem
'ah e tal vai haver divórcio porque depois queres ser tu a conduzir e não deixas o homem pegar na mota'.
Eu, por ora e no blogue, omito a minha opinião, que este post serve mais para registar as divergências.

De quando os donos chegam a casa

Ainda não contei da cadela toda maluca quando a gente chega, pelo menos ainda não estendi o assunto. Então é assim:

Cadela ouve o elevador e ainda dentro de casa manifesta-se entusiasticamente.
Dona responde fazendo ‘béu béu’ ou chama ‘bicho-cão’, é conforme os apetites. Dono diz ‘ó minha maluca’ ou ‘ó nina’, é conforme os apetites.
Cadela ladra lá de dentro enquanto se rebusca a chave.
Dona vai dizendo as tais coisas. Dono idem.
Cadela continua o ladrar entusiástico, como quem chama.
Abre-se a porta, escancara-se e a cadela salta de lá com grande ânimo, farejando os dois donos à vez ainda no átrio.
Dona muda o miminho para ‘mi-tu-tu’. Dono vai dizendo ‘olha pa ela, olha pa ela’.
Cadela corre. Não, não é bem assim, é antes: cadela corre desaustinadamente. Está tão feliz que geme e o gemido parece uma lamúria.
Donos vão fazendo festinhas e dizendo as mimalhices referidas acima.
Cadela atenta num dono de cada vez elevando as patas, gemendo com o prazer da sua chegada, lambendo onde a deixam lamber, farejando os sacos, atentando num dono de cada vez, farejando os sacos, atentando, farejando.
Donos e mimalhices e blás.
Cadela corre da cozinha ao quarto e do quarto à cozinha incessantemente, nove metros são percorridos num instante, para aí em três segundos. Tapetes são arredados à sua passagem. Ali pelo meio ainda há farejos e lambedelas para os ricos filhos que normalmente já estão em casa.
Todos os dias temos uns cinco minutos de alegria e excitação imensas para acalmar.

Palavra de ordem: digitalizar


Olha eu de flor na mão e a fazer não sei o quê...


Olha eu toda gira...


Olha eu... Coiso.

O rico filho é mesmo parecido comigo, oh se é. O mais curioso é que na fotos acima eu tinha a idade que ele tem hoje: 19 anos.

Música

Agora quando chego ao carro, principalmente à segunda-feira, há música diferente a tocar... Porque há condutor diferente: o rico filho.

Fotografias

As fotos dos ricos filhos foram mudadas para dar lugar às imagens fofas e giríssimas que trouxe das férias. Não que estas últimas sejam mais importantes, antes pelo contrário, que pus aquelas em lugar destacado, mesmo à entrada. Quem me vier visitar vê logo os ricos filhos numa tira vertical em três fotos, duas tiras, duas paredes opostas.
Resta apenas dizer que dantes era uma tira vertical de duas fotos.

O elevador...

… Que estava parado há anos voltou a funcionar. A coisa foi tão repentina e inesperada que quando o dlim-dlim se ouviu no meu patamar não consegui entrar lá para dentro, saiu-me o ar todo dos pulmões. Mesmo assim abri a porta, cheirava a pó e quando olhei melhor vi tudo ao contrário, como se estivesse do lado de dentro dum espelho ou algo assim a atirar para o macabro.

|É claro que vi tudo ao contrário, os dois elevadores são pares, como os pés, as mãos, os olhos…|

Antes de deixar deslizar a porta estiquei o braço e cliquei num andar qualquer, mandei-o embora, e chamei o outro elevador...

Este fim-de-semana...

… mudou a hora e fui buscar as pantufas, o polar de andar por casa. Tudo culmina...

Uma década

O pc doméstico é tão velho que tem as tripas de fora. A maioria do hardware foi adquirido em finais de 2003, tem portanto quase 10 anos. E tem as tripas de fora.

Bolo de Laranja Inteira


Já tinha visto
por aqui e por ali
um bolo que é feito
com a laranja inteira.
Não é muito difícil
 inventar um bolo
e vai daí
resolvi experimentar recriando um dos meus bolos, o de banana.

Então fiz assim:


1 laranja grande (cerca de 200 gr)
3 ovos
½ cup de óleo
2 cups de açúcar mascavado
2 cups de farinha
½ cup de amêndoa moída
1 colher de café de gengibre em pó
1 colher de chá de canela em pó
1 colher de chá de fermento em pó

Colocar no liquidificador a laranja em pedaços, retirando os polos, o veio do meio e os caroços se os houver, os ovos e o óleo e triturar.
Peneirar os ingredientes secos para uma tigela.
Juntar os dois volumes e mexer.
Levar ao forno a 180º durante 40 minutos.

Notas:
Substituí a laranja pela mesma quantidade de tangerinas, resultou bem.
A receita foi baseada em conhecimentos adquiridos através dos tempos, portanto: é da minha autoria.

sábado, 26 de outubro de 2013

Baú

Às vezes sou tão verdadeira...


«(...) Tenho de parar de escrever. A sério, dava-me um jeito do caraças. (...) Tenho a nítida sensação de que não sei escrever, apresento-me de raspão, escorrego nos temas e saio apressadamente dos meus pequeninos textos. Não sei escrever. Não sei, não.»

|26-7-2013|

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Suspiro

Viver custa tanto, oh se custa. Viver não tem assim tanta piada, ah pois não.

Dois posts

Ontem escrevi e publiquei este post mas mais não é que um resumo disto:

Não sou suficientemente louca se deixar escapar as coisas que a minha cabeça tem necessidade de dizer, por si só essa maluqueira não me dá cartão de hospital psiquiátrico, um cartão que aplique um desconto nas reações parvas que tenho, um cartão de 'ah coitada, esta tem desconto, é maluca, tem cartão e tudo'. Eu tinha era de ter efetivado a coisa, isso sim, e não ficar-me apenas pela vontade imensa de me matar, matar-me mesmo. Mas não morrer, claro, afinal ter-me mantido viva, digamos que passar pela aventura, fazer a merda, sofrer horrores numa cama de hospital, cheia de tubos e isso, fazer sofrer os meus e depois resistir gloriosamente à morte, como quem ressuscita, ou faz de conta que é uma fénix e essas merdas da libertação e do êxodo e esse tipo de coisas. Atuando assim, com efetividade, é que eu ficava por heroína na memória das pessoas e hoje toda a gente me apreciaria e mais não sei o quê. Caraças, pá, não sou suficientemente louca.

Nota: escrito em julho de 2013 e só hoje publicado.

Morreu

Lisboa, rua Aquiles Monteverde, numa tarde chuvosa. O pombo foi esborrachado. Tem a ver com borracha e tem a ver com borracho. Pneu; borracha. Pombo; borracho. Estou para aqui a fazer um filme do caraças, tentando ironizar o drama porque fiquei deveras impressionada. O pombo foi atropelado por um carro duma maneira tão atroz que lhe ouvi estalar os ossos, e porque ouvi os estalidos olhei, e quando olhei ainda o vi debater-se, e nisto passa outro carro no mesmo ponto, ouço novamente o estalar de ossos do bichinho e arrepiei-me porque desta vez além de ouvir, vi, e ainda vi que já não se mexeu. Foi horripilante. Sei que era só um pombo que mais não fazia do que encher a cidade com dejetos, mas se fosse uma pessoa eu não sentiria mais compaixão.

3311

Não é capicua mas é muito e muito e muito giro.

Horas

Por causa das faturas sei horas de coisas que comprei e por causa de esticar assuntos que não lembram a ninguém depreendo coisas que vou fazer.
Às catorze e trinta e oito (e trinta segundos) comprei um tecido para fazer um casaco que um dia faço oh se faço e vai ficar giríssimo e vai fazer-me ficar esplendorosa.
Mas às catorze e dezasseis (segundos não registados) havia comprado um livro: 'Um quarto que não é seu', Alicia Giménez Bartlett, o qual é contado pela criada de quarto de Virginia Wolf. De notar que o livro é fictício. Mais um para a prateleira dos livros ainda não lidos.

Horário

Os dias estão a ficar tão mais pequenos que agora, na última vez de cada dia em que o homem dos olhos espantados passa aqui (são quatro vezes ao dia), dá-me a ideia que anda a fazer horas extraordinárias.

Os (des)conhecidos

'Eh pá, a gente conhece-se', disse o homem com uma certeza que me baratinou a cachimónia até mais não. Devo ter arregalado os olhos enquanto negava com vagar.
Hum, 'a gente conhece-se' diz ele, 'a gente', diz ele à moda saloia. Porra, uma cena destas assim logo de manhã... Só faltava ele ser giro e eu também, portanto: a gente ser os dois muita giros, a gente à moda saloia, pois, pra fazer uma cena hollywoodesca num bar de cruzeiro em mares imensos ou algo assim. Mas uma cena de primeira categoria, que eu cá pra imaginar tem de ser em bom. Ou mau, mas o mau em bom.

Toda a gente sabe que o diluente tem um cheiro forte

Chegaram os diluentes e ficaram num determinado lugar por umas quantas horas. Por motivos que não interessam para nada mantive-me alguns minutos bem perto dos ditos diluentes, respirando aquele cheiro forte que essa substância exala.
Eu disse que se ‘aspiramos o cheiro e isso significa que vamos tendo menos cheiro para cheirar porque com as aspirações o cheiro vai ficando dentro do nosso corpo’* não foi? Então, pronto, é isso, fiquei com o cheiro cá dentro, no cérebro, nas narinas, nos pulmões, a minha respiração a cheirar a diluente.
Eu queria que este fosse um texto grácil, quiçá poético, mas pronto...

Musiquinha

I got the eye of the tiger, a fighter, dancing through the fire
'cause I am a champion and you're gonna hear me roar


– Boa-tarde...

Louder, louder than a lion
'cause I am a champion and you're gonna hear me roar


– Boa-tarde!

Oh oh oh oh oh oh
You're gonna hear me roar


– Tem parafusos?

Oh oh oh oh oh oh
You're gonna hear me roar



Tenho um amigo...

… Que veio visitar-me e calhou ser na hora da entrega do correio.
– Olha o teu patrão mandou uma carta ao meu. - Digo eu no gozo.
– Ai que giro, os nossos patrões trocam correspondência. -Responde ele com ironia.
Depois rimos todos unissonamente. Todos, a gente os dois.

Outono

'I wanna be beautiful enough for you' escrito na roupa dela; a roupa de verão a dar as últimas; a derradeira vez em que o decote é profundo e pode mostrar um pedacinho do peito; daqui a nada há frio e depois qual mostrar seja lá o que for qual quê; maio vem aí, é a esperança.

São tantas, senhores, são tantas

Esta anda a ver. Esta quer ser maluca de todo. Esta tudo faz. Esta tudo espera. Esta tudo faz para tal. Esta não dá conta de si. Esta esturrica qualquer um com o olhar. Esta não oferece nada. Esta quer conversa. Esta anda a ver se vê. Esta tem a mania que é boa. Esta anda triste. Esta fala desalmadamente. Esta quer festa. Esta gosta do deslumbramento. Esta anda só a ver. Esta acha tudo mal. Esta é amorosa. Esta é autossuficiente. Esta é incaracterística. Esta acha-se bem. Esta tem resposta pronta. Esta não tem nada a ver com isso.

Na estação

Devia ter ido na carruagem anterior;
mal de mim ter ficado a descansar no banco de madeira;
tenho tempo
- tenho sempre tanto tempo... –
ai eu
- continuam-se-me os ais de ontem -;
uma mulher fala ininterruptamente com a completa desconhecida que é a sua companheira de banco, o banco de madeira
– assuntos: doenças dos ossos e chuvada algo inesperada e que estão todas molhadas -;
a outra olha para mim de vez em quando encolhendo ligeiramente os ombros não vá a faladora notar;
no lado oposto chega uma outra mulher, não havendo lugares vazios senta-se na pedra
– onde não é banco de madeira –
e vendo uma mancha amarela passa os dedos e leva ao nariz para cheirar
– não vá ser urina que secou e amarelou –
e mesmo assim tira um lenço de papel do bolso para limpar
– mas não consegue apagar a mancha –
e faz de conta que limpa, senta-se e olha-me com um desprezo insano.
São doidas, as três.
Não diferentes, nada disso.
Chega o comboio, as duas primeiras fundem-se com a multidão;
verifico que a terceira coxeia, se tivesse notado antes ter-lhe-ia oferecido o meu lugar no banco de madeira.

Cena

Criança: A sua mãe?
Adulto: A minha mãe não está cá.
Criança: A sua mãe não está cá porquê?
Adulto: Porque morreu.
Criança: Morreu?
Adulto: Pois.
Criança: Morreu porquê?
Adulto: Olha pá, porque viveu muito tempo, comeu muita sopa e depois morreu.
Criança: Eu não quero comer muita sopa.
Adulto: Ahahahahaha!
Criança: Eu nunca vou morrer porque não vou comer a sopa toda.
Adulto: Ahahahahaha!
Criança: Eu nunca vou morrer, pois não?
Adulto: Não pá, tu nunca vais morrer.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

...

Estado: ironicamente depressivo. Diz o povo que é culpa do tempo. Seja. Também dizem que as mulheres sentem as coisas exageradamente. É como quiserem, estou deprimida, não contesto, queixo-me: ai.

...

Um dia cristalizo no meio da rua e depois vou ter muitas pessoas a adorar-me. Pessoas das boas. A sério, vou ter uma lápide explicando sucintamente aos transeuntes como eu era iluminada e tudo.

...

Os mortos não sentem. Se sentem, queixem-se, digam 'ai, quanta dor sinto'.

...

Escrever é morrer. Pois, sei do que falo. Qual imortalizar momentos e emoções, qual quê. Morro em cada palavra, não fica cá nada, escrevo para me esvaziar e vou morrendo. Escrever é um vácuo tão grande, tão grande. Uma tristeza imensa. Uma cruz podre. Por isso é que nem toda a gente escreve.

...

Porque não passar àquela porta e cumprimentar o senhor e ter de fingir que estou supercontente (esta palavrita existe no dicionário) e sou superfixe (esta palavrita não aparece no dicionário), cumprimentar com um sorriso enorme, enquanto digo 'olá tudo bem' e coiso. Mesmo que tenha a língua morta, mesmo que falar seja um suplício. Se o ponto S culmina no ponto G... ai ponto G não que parece mal, no ponto F, vá, e estes se alongam até ao ponto W, lá vou eu, tem de ser.
'Olá, tudo bem?'
E coiso. O resultado desta equação parola foi um sorriso. E não foi meu.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Come e cala-te

«Não tem que agradecer,
ó minha senhora,
eu só disse a verdade!»

Post virgem a posteriori*

Pode ser-se feliz, é só não pedinchar.
E ser-se estúpido.
Pode ser-se estúpido.
É só não olhar para o lado.
E ser-se cego.
Não tentar ser melhor.
Tampouco intentar ser mais.
Ser-se feliz é ser desumano.

*...

Realmente

«Roubo-te à linguagem, só assim serás real.»

Ana Marques Gastão, 'Lápis Mínimo'

A folha que aterrou dentro da minha mala

Lisboa, 22 de outubro de 2013

*

Oferecido.
Oferecido, não, encontrado.
Não.
Encontrado e oferecido.
Tenho é de fazer uma revisão aos olhos, que estes óculos já quase não alcançam números tão minúsculos, são como números novos, mas velhos.

61?4. 6184.
Representa GINA.
Quero dizer: representa assim-assim. Não representa nada.

Espelho revelador

Lisboa, 22 de outubro de 2013

O rol dos esquecidos...

Lisboa, 22 de outubro de 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

3285

Está vento, tenho o cabelo nos olhos. Eu sei que ninguém me perguntou nada mas eu também não pedi a ninguém para ler isto.

3284

Outono. As folhas rodopiam. As moscas rodopiam. As folhas e as moscas pousam, se o vento amaina. As folhas pousam, só pousam. As moscas pousam onde querem. Tenho frio. Bah. É mesmo assim, não é? Há tanta coisa especial, tanta coisa invulgar, e não se me apresenta um verão de doze meses porquê?

3283

Tenho um verniz novo e discreto. É discreto. E discreto. Não saber escrever é assustador. E nem tenho a dúvida como amiga... Não sei escrever. Quem me dera estar desnorteada. |Suspiro.|

3282

Pode ser-se feliz, é só não esperar nem pedinchar. Ser um amorfo. Ser vegetal.

3281

O homem que foi pastor de ovelhas na tv anda a passear três cães. As patas são onze. Contei-as eu. Onze, pois. Um dos bichos era perneta, pobrezito.

3280

Para esta cliente ‘pega pegajosa’ é ‘cola poderosa’ para mim.

3279

O ó do meu nome veio comprar fita de calafetar. O tempo está a arrefecer. O ó é o masculino.

3278

A senhora tem qualquer coisa contra os machos, que é que eu hei de fazer...
Pois tenho, e costumo apontar tudo num papel.

|Ainda este cabrão não sabe que conto ao mundo as minhas aflições com machos e com fêmeas, às vezes até os misturo, faço para aí uma pouca vergonha, pá...|

3277

Ui, credo, faça-se luz, lembrei-me que os dias vão decrescer drasticamente doravante. Oh céus. Lá para o Natal a luminosidade não dura mais que sete ou oito horas. Se calhar mais. Ou menos. Eu depois digo.

3276

Lisboa, avenida João XXI. Vão haver luminosos alusivos ao Natal, andam homens a montá-los nos postes. Vem aí o Natal. Luminosos à noite, claro. Podiam pô-los a alumiar o dia mas há que poupar, traria alegria e isso mas pronto.

3275

Há uma tendência (incrível e enorme) para os coxos escolherem ser barbeiros ou sapateiros.

3274

Consegui escrever 'ventosas p/ mesas vidro' e ' suportes p/ espelhos' num papelinho de 20x45 mm.

3273

Sonhei que tinha as calças estupidamente descosidas. Estupidamente quer dizer num lugar espalhafatoso e aquém da sensualidade, portanto. Muito aquém.

3272

Cheira a mofo. Deve ser do tempo.

3271

Deixei uma coisa no coiso e agora tenho de coiso e de coiso e tenho vergonha de fazer esse coiso e fico coisa.

3270

O cabelo da senhora é
excessivamente encaracolado.
Quando está humidade
encaracola desaustinadamente.
E nunca está
corretamente penteado.

domingo, 20 de outubro de 2013

Para memorizar

«Que na memória fiquem não só os lugares, mas também as horas.»

Ana Marques Gastão, 'Lápis Mínimo'

Meia estação

Se olhasse para as folhas da árvore contra as nuvens escuras, era inverno, se olhasse contra o céu azul era verão. É isto a meia estação, um céu meio encoberto.

Nada

«Estás muito calado, Santo. Estás a pensar em quê?», pergunta a Âmbar do outro lado da mesa. (À frente de toda a gente.)
«Nada», diz Magnus.
«Estavas a pensar exatamente o quê em relação a isso?», pergunta a Âmbar.
«Em relação a quê?», pergunta Magnus.
«Em relação a nada», diz a Âmbar.
Todos se riem.
«Não», diz Magnus. «Estava a pensar, hum, num farol. Se quiseres, por exemplo. Estava a tentar calcular, medir a área interna total em metros cúbicos seria extremamente difícil por causa do tamanho do farol que vai mudando à medida que uma pessoa, ahh, sobe cada vez mais até ao fim.»

'A Acidental', Ali Smith

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«Aprendi bastante fora do palco porque só levei para o palco aquilo que aprendi na vida, só que vivi no palco aquilo que na vida não tinha jeito para viver.» 
João Perry, no programa 'Alta Definição' de ontem.

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Matei moscas. Carreguei um cadáver que não matei. Comi papel com mais de quarenta anos.

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Loures, 20 de outubro de 2013

Queques de Milho Anisados



300 gramas de farinha de milho
200 gramas de açúcar
2 ovos
100 gramas de manteiga
1 colher de café de erva-doce moída
1 colher de café de canela em pó
1 colher de chá de fermento em pó
1 pitada de sal
sementes de papoila para plovilhar

Misturar muito bem todos os ingredientes. colocar em forminhas de queque, dispor as sementes de papoila por cima e levar ao forno. Muito simples e muito bom, tal como a receita anterior.

Nota: receita retirada da revista Teleculinária e Doçaria, de julho de 1987

Torta Morena



400 gramas de bolacha maria picada
200 gramas de açúcar amarelo
250 gramas de manteiga
50 gramas de abóbora cristalizada
50 gramas de cerejas cristalizadas
50 gramas de passas
50 gramas de pinhões
50 gramas de miolos de noz picados
50 gramas de amêndoas sem pele picadas
1 laranja, raspa e sumo

Misturam-se todos os ingredientes, forma-se um rolo e coloca-se no frigorífico até solidificar. Muito simples e muito bom.


Nota 1: não usei as cerejas nem os pinhões

Nota 2: receita retirada da revista Teleculinária e Doçaria de janeiro de 1984

No lixo, não

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