Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O mal

Não, quero antes esta aqui.
Ah, veja lá que eu tinha entendido mal.
Não faz mal.
Pois não...

Arranja-se o mal onde quisermos colocá-lo. Retira-se, assim o queiramos. Sorrisos. Cumplicidade. O balcão como meu amante adorado. Acontece em momentos bons. Não sei se esses pedaços de tempo afloram por si só, se sou eu que os procuro nos recantos da vida.

Bê-á-bá

Chegou-lhe uma dor repentina ao peito. Uma dor ou tristeza, não sabe, só sabe que o fogo dos últimos dias se extinguiu por causa da dor.
Saíram todos e ela ficou em casa, então dá-lhe para pensar em tristezas indizíveis e tem vontade de escrevê-las, só que não sabe escrever, não está habituada a isso, a exposição aflige-a. Enquanto a caneta atravessa o papel formando as toscas frases ela recorda tempos idos em que dava vazão a sentimentos nobres sob a forma escrita. Sim, já escreveu, mas está lá tão longe esse tempo em que pouco importava o que escrevia, apenas importava escrever. Ao presente tem medo de escrever. O que são as coisas...

|xaraooo|

Escolha

Entre ser um vegetal ou uma alma insatisfeita, escolho a segunda. Mesmo que não me satisfaça.

A minha historinha

Pumba, mais uma leitora. Desta feita completamente inesperada. Uma familiar leu a minha história.
Diz que a história é gira, o que não me surpreendeu, dificilmente alguém ficará agarrado a uma simples história, deslumbrado, embasbacado e tudo o mais. Os comentários das pessoas geralmente pouco diferem da classificação 'gira'.
Repito: não me surpreende, sei que o santo da casa não faz milagres.

A invejosa

Invejo bastante quem é compreendido, principalmente naquilo que escreve. Há dias dei com um blogue onde li 'ai, eu estou tão gorda, credo, pareço um bisonte'. Houve comentários bem-dispostos, onde os leitores revelavam à bloguista que ela tinha um sentido de humor fantástico.
E eu tenho inveja destas coisas que vejo acontecerem aos outros porque para mim não as há.
Não pretendo ter – muita - graça, não é que deseje possuir um sentido de humor notório, marcante, é, antes, um desejo - este sim, imenso – de ser entendida abruptamente.
Para mim o falso é mesmo falso, o verdadeiro é mesmo verdadeiro. Não me deleito em incertezas, tenho-as mas desprestigio-as, anulo-as. Ou, melhor ainda, escrevo-as.
Tenho prazer em dizer que sou como um diamante → multifacetada. Sou todas as coisas e todos os sentimentos, cabe tudo cá dentro. Logo... Tenho uma razão absoluta quando digo que sou abestalhada e incongruente.
Comecei por dizer categoricamente que sou invejosa, invejo a vida dos outros, está lá com todas as letras, escarrapachado, tenho necessidade de me expor sem romantismo ou modéstia.
Os lados positivos servem para lembrar a mim e aos outros que tenho virtudes ou alegrias ou simplesmente coisas simples e boas na minha personalidade e no meu modo de viver.
Os lados negativos... Bem, os lados negativos são insultos que me dou para castigar-me em forma catártica, esse castigo é-me necessário, é assim que enfrento o medo. Eu quero que se entenda assim. 
E por agora é isto.

Tenho um amigo

Tenho um amigo que não suporta ver no Fuçasbuque as pessoas a escreverem banalidades como 'vou-me deitar até amanhã, durmam bem'.
Perguntei-lhe porquê, ele responde 'não gosto'.
Esmiucei a coisa, ele responde 'não gosto, pá'.
Esmifrei até à exaustão, ele responde 'não gosto e pronto'.

E acabou a conversa, obviamente. Diz que há desbloqueadores de conversa mas eu cá não percebo nada disso.

Vaidade

Para me atender a Carminho teve de alterar o atendimento à dona Alda, que ficou para mais tarde, que por isso foi almoçar mais tarde, o que fez com que o senhor Tomé saísse mais tarde por ter de preparar o almoço da dona Alda.
Tudo isto por causa das minhas unhas e da minha vaidade... Oh, como sou importante.

Aquela pessoa

Há aquela pessoa que não se pode ver comer, principalmente se come com prazer, todos logo dizem que não coma, está muito gorda, é preciso ter cuidado com a saúde.
Tu sabes como são essas coisas... Credo, que horror, oh céus, ninguém te deixa comer em paz. Sossega, vá, um dia o cenário muda.

Tentação

Fui tentada. Um funcionário dos parquímetros vinha retirar a caixa metálica contendo as moedinhas que o pessoal encarecidamente (?!) lá vai colocando. A minha tentação foi agarrar numa grande pedra que estava no chão e dar-lhe com ela nos cornos até ver sangue ou então até o cabrão cair. Posteriormente... fugir com o carcanhol. Que tentação enorme.

Cave

Empoeirada;
bafienta;
fria;
escura;
sombria.


Lisboa, 28 de setembro de 2012



E far-se-á luz!

Lisboa, 28 de setembro de 2012

Passarada viva e saudável*

Lisboa, 28 de setembro de 2012

*Contrariamente ao pássaro de ontem...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Natureza

Está um passarinho morto ao fundo da escada, mesmo encostado aos vidros empoeirados. É o outono, dizem que visa a queda, a morte, que o jazer lhe está inerente. Já andava uma varejeira de roda do cadáver, logo mais chegarão as formigas, à noite vem a ratazana acabar com o resto.

A árvore ainda não amarelou. Não é uma árvore qualquer. É a árvore. O leitor volte, que um dia destes vê-la-á por aqui. Conto com essas duas coisinhas: a árvore (finalmente) amarelar e o leitor regressar ao blogue.

Uma mulher sentou-se no meu banco antes que eu lá chegasse. Segui. Não quero estar próxima de ninguém, a solidão é uma desdita que eu tenho de viver para bem do meu escrever. Estou cansada de distribuir atenção pelas pessoas, ninguém a merece.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O peso

Passei na rua e vi uma t-shirt numa montra que dizia 'faz-me um bico' e um desenho de passarinho sem bico. É uma piada, bem sei, mas fez-me lembrar um tempo já distante em que tive uma t-shirt cujas letras diziam 'look at me' dentro duma figura enorme representando um olho feminino com longas pestanas e uma outra que na frente tinha escrito 'la tequila quema' e nas costas 'yo tambien'.

Hoje talvez não tivesse a audácia de envergar roupas com essas inscrições algo arrojadas, a gente aprende o peso das palavras quando escreve.

Tolerância

A tolerância é desejável, a sociedade ensina-nos nesse caminho, é uma coisa boa, se vista de repente. Só por dizer que eu estou doente por ser tolerante.

A minha historinha

Carminho quer ler o livro que contém a minha historinha. Pus o meu exemplar à disposição, num misto de orgulho e receio.
Não a vi ler a minha história, que pena ia gostar de ver os trejeitos dela, pois é muito expressiva.

('Carminho lê o livro' é giro para título de livro.)

Avermelhou

Um homem na casa dos cinquenta que se apresente de calças vermelhas é alguém que seguramente quer chamar a atenção, parecer mais novo, engatar miúdas, agarrando afincadamente a juventude que apesar de tudo já se foi, não dando, portanto, ouvidos ao chamamento da velhice.
Eu cá, o que gostava muito era que ele me contasse de si em vez de ser eu a inventar aquilo que me parece. Gostava de ser uma jornalista de gravador na mão, interpelando as pessoas, conversando, adquirindo saber, bebendo diretamente da fonte. Quimeras. Nem eu saberia ser assim, jornalista destemida, pronta a questionar atitudes em modo falante.

Bê-á-bá

Ela isto ou ela aquilo. E era isto. Por agora e para já. Amanhã será aquilo.

|ogcoepo|

Para já, para já...

Resvalar no tempo é o melhor, para já.

Assimetria

Ela tem as sobrancelhas assimétricas, cada uma tem a sua própria personalidade: uma zangada, outra ponderada. Não reagem mal entre si, não discordam, limitam-se a conviver e aturar-se, completam-se, vivem felizes na mesma cara.
É isso o que tem de ser feito para se ser feliz, suportar as diferenças dos outros.

Passeio noturno

Por causa dos passeios à noite com a cadela tenho achado mais dinheiro no chão. Não passam de caganitos monetários, um ou dois cêntimos, mas o que eu acho mais piada é a luz dos faróis dos carros descortinarem a presença das moedas no chão, fazendo-as luzir na noite, um pedaço de metal escuro e baço também pode brilhar imenso e eu não sabia que podia.

Nota posterior: ontem à noite chovia imenso, não saí com a cadela, só o Luís. A bicha não quis andar à chuva, fez o chichizinho e ala para casa. Se falasse teria dito: passear à chuva, não!

O nome da cadela

É Olívia...

Pequeno à parte: a rica filha está sempre a dizer-me que Olívia não tem assento mas eu não quero saber, a gente diz Olívia, não Olivia. Ademais, o corretor ortográfico deste programa diz que Olívia é que está bem.

O nome da minha cadela é Olívia. Há dias lembrei-me de perguntar ao Gualter qual era o nome da mãe dele e ao homem da cafetaria também. Nenhuma foi ou é Olívia.

Saco cheio

Eu vinha com um saco na mão, cheio de mercadoria, o que não destoa da minha vidinha comum. Um cliente, que conheço há qu' anos e não me inspira simpatia absolutamente nenhuma, olhou demoradamente para o dito saco com uma curiosidade aguçada. Como não aprecio o bicho em questão, aquilo aborreceu-me, tanto mais que o sorriso escarninho e falso que sempre ostenta é enervante. Vai daí, eu, esta alminha que por vezes gosta de atuar de chofre, olhei-o de frente e fui retirando de dentro do saco as peças uma a uma, apresentando-as com categoria, levantando-as no ar como quem expõe objetos de suma importância:

– Um litro de petróleo.
– Uma esfregona vileda.
– Meio litro de benzina.
– Dois rolos para esmalte.
– Uma esponja de pedreiro.
– O papelinho das faltas.

Eu sei, eu sei: às vezes tenho cá uma lata... As pessoas ficam sem palavras, vão dizer o quê a uma apresentação destas, ?

Nominar com as galinhas e assim

Nomes que posso usar nas minhas histórias:

Alcídio;
Alcídia;
Rufino;
Rufina.

A dona Rufina é defunta há que tempos. Vendia ovos bons de verdade, grandes, a gema muito amarelinha e luzidia, a clara espessa e fácil de montar.
À sexta-feira a dona Rufina recebia um camião e comprava uma palete. Um dia comprei-lhe uma dúzia e cheirou-me mal de repente. Nunca na minha vida tinha cheirado uma coisa assim, era fétido, insuportável, tinha de suster o ar. Por momentos pensei que a dona Rufina se tinha descuidado e dado largas a uma flatulência inesperada, mas ela rapidamente me desfez a dúvida, era um ovo podre. E trocou-mo, claro. Grande negociante, aquela senhora.
Agora que escrevo me lembro da voz entrecortada dela, parecia uma galinha velha aos soluços, mas no tom era a Miss Piggy. Mescla do caraças. Morreu. Já tinha dito que ela morreu, não tinha?

Alturas

A dona Palmira trabalha enterrada num balcão altíssimo. Aquilo é o patrão que não quer que ela se distraia com quem passa na rua.

Que engraçadinho

Um cliente fez uma gracinha com a trincha popular que lhe vendi, diz que se é popular é porque é boa rapariga e gosta de conviver.

Não sei porque é que não me ri até me doerem os ossos da língua...

Cusca

A dona Filomena tem uma pequena pastelaria com um balcão corrido a todo o comprimento, sendo que um dos lados do pequeno estabelecimento é forrado a espelho. É comum a dona Filomena pôr-se em bicos de pés para cuscar a minha figura por inteiro através do reflexo que o espelho lhe devolve. Daqui não depreendo que ela seja lésbica e goste de admirar mulheres, não senhores, a dona Filomena é quadrilheira até à quinta casa, isso sim, e não resiste a mirar a minha vestimenta ou o tamanho do meu traseiro, muito embora julgue que eu não dou por nada. Pobrezita.

A saber

Não sei se sabes mas se não sabes vais ficar a saber: aquela mulher ali tem a cara do Estica, o compincha do Bucha. Mas em fêmea, ora pois.

Figura pública

Lá de quando em quando também sou compradora, já se vê: o Jeremy Irons esteve aqui a vender-me umas coisitas.

Cavalheiro; cavalo; será?

Perguntei a um homem se ela acha que a palavra cavalheiro deriva de cavalo. Ele respondeu:
– Sei lá! Olha, eu, cavalo, sou.
Hum, ok, vivo rodeada disto assim, eu.

Dias de um Ginásio

Há uma mulher que acaba o treino, agarra num colchão e vai alongar. Descalça-se e deita-se para trás. Vira e revira, estendendo a musculatura. Depois senta-se. Mexe e remexe, nos braços, nas pernas, ou tira as peles dos pés e das unhas das mãos, completamente distraída, enquanto pensa. Outras vezes fala ao telemóvel durante um tempo que parece não terminar nunca. Sorri. Olha ao redor sem ver, conversando animadamente com alguém invisível, que não está presente para mais ninguém senão para ela. Com os meneios de cabeça os longos cabelos escorregam-lhe para os ombros e escondem-lhe metade da face. Ela fica linda e muito sensual, tanto que já nem me lembro das peles dos pés.
Talvez a beleza e a sensualidade existam apenas nos meus olhos, o que não me incomoda nada.

Cheirinho

O senhor Adeodato, o homem que tem uma loja com tudo o que é de lamber, mostrou-me o louro que tem para venda em saquinhos, já seco e pronto a usar, não fosse eu querer comprar. Neguei a pretensiosa oferta, disse que quando preciso de louro vou passear a um lugar da saloiada onde à beira da estrada está um loureiro lindo e enorme, apanho as folhas que me apetecer e depois deixo-as secar em cima do frigorífico. O senhor Adeodato põe uma cara estranha e declara muito poético, como que para amordaçar a deceção de não vender:
– O louro tem que secar à sombra para não ficar sem aroma.
Gostei deste aroma, surpreendeu-me, o senhor Adeodato é aquele homem que classifico como amavelmente rude.

Farmacêutico

De manhã, na radio, ouvi dizer que hoje é o dia dos farmacêuticos. Eu só tenho a dizer do assunto que houve um dia desses aí em que o senhor doutor da farmácia ouvindo os meus passos se deteve lá à frente e inclusivamente voltou atrás para se abeirar de mim e perguntar o que eu acho da ausência de pessoas e do pouco movimento desta área.
É este o meu contributo para este dia especial, em que os farmacêuticos são lembrados como pessoas idóneas e quase beneméritas. Quero e convém-me ainda referir que não pretendo distanciar o senhor doutor da farmácia desses dois adjetivos. (Mas ele não anda nada perto disso, não...)

Praxe

Lá iam os caloiros cantando em alta voz

Sou bicho
Sou feio
Sou bicho nojento
Sou bicho-do-mato
E com isso me contento

Repetiram tanto a cantilena que deu para eu decorar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Observatório

Uma boa atividade para mim é pôr-me à espreita duma clínica dentária a ver quantas pessoas saem de lá com a boca descaída por causa da anestesia por causa da broca por causa da dor. Ponho-me à espreita daquela clínica ali assim, cuja entrada fica mesmo em frente à paragem do autocarro. Sento-me no banco, mas ao contrário, dando as costas à avenida e ali me quedo. Muda, preferencialmente. Se o prezado leitor vir uma mulher de costas, sentada numa paragem de autocarro em Lisboa, já sabe que sou eu, não me diga nada, que eu cá sou de poucas falas, mas mire, olhe muito, profundamente, disso gosto eu.
Claro que tenho mais o que fazer, mas seja lá como for eu sempre terei mais que fazer, portanto, acho essa uma boa atividade para mim. Amanhã tratarei deste assunto peculiar.

Roupagem

A senhora com roupa de pronúncia inglesa
(leia-se el corte ingles em vez de pronúncia inglesa)
passa ao largo do banco onde estou sentada. Gostava de dizer dela, de mostrá-la, de escrevê-la. Mas não posso. A chuva costuma ser minha amiga nestas coisas da escrita. Hoje choveu mas notou-se poucochinho no blogue.

Não e não

Não pensem que me conhecem só por causa daquilo que escrevo. Eu sou muito mais que um simples blogue.

Chuva

Hoje choveu. Prenúncio de inverno. Caiu chuvinha em cima da minha tola e pés sem me importar com isso. A chuva distrai-me, já nem me lembrava que o som dos passos se propaga imenso por causa da humidade que há no chão, nem me lembrava das senhoras de saco de plástico na cabeça, que esta chuvinha, ainda assim, ainda que se tenha prenunciado durante dias, apanhou-as desprevenidas.

Dilema

Neste momento não sei se me apetece morrer ou deitar-me.

Muito bom é dos diabos

Ter algo dos diabos é uma coisa boa, só por dizer que eu tenho aquilo dos diabos e não me apetece nada nem nada nem me parece nada bom nem nada.

Consulta

Quando entrou no consultório o senhor doutor cheirava a tabaco. O que aconteceria se eu:
– O senhor doutor arranja-me um cigarro?
É que este é um homem ligado à saúde, por outro lado esta malta dos fumos tem o hábito enraizado de partilhar com o próximo o prazer de fumar.

Adenda

Próxima consulta: 10 do 10 às 10. Foi o senhor doutor quem referiu a coincidência numérica.

Lá em baixo

A minha autoestima é tão baixinha, tão mal fundamentada (por mim, claro) que o alter ego, no meu caso, deve chamar-se baixer ego. Tem é de existir ego, é incontornável.

Ainda fingindo

A ideia primordial é ser uma pessoa normal. Posteriormente, devido à incapacidade, já só quero parecer normal.

Tive um amigo...

Em tempos tive um amigo que se tornou muito especial. Era um conselheiro que eu tinha ali, muito embora estivesse tão envolvido na trama como eu. Gostava de escrever-lhe uma carta ou um verso. Mas é difícil, não sei escrever assim. Olha, amigo, fica só sabendo que gostei de te conhecer, apesar de toda aquela envolvência que não lembra a ninguém, sei reconhecer que em certos momentos foste amigo, avisaste-me dos perigos, fizeste-me saber como correm as coisas sem que estas tivessem efetivamente ocorrido. Bem hajas.

Bem

A rica filha quer ser escritora. Disse-o a uma colega que lhe respondeu que ela deve escrever bem porque fala muito bem.
Está toda contente, a rapariga.

Bom-dia!

Sou muito exigente: não quero ouvir bons dias mal articulados ou respingões.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Palavreado

Não sei como é com a outra gente, mas a mim chegam-me palavras à cabeça sem mais nem menos, soltas e isoladas, sem construção frásica. Uns dias mais tarde, ou apenas umas horas, depende, acho um lugarzinho fantástico num texto e insiro-as aí.
Tenho para mim que a minha musa existe.

Cabelos

A franja grossa, caindo num dos lados do rosto, revoltosamente, que de quando em quando é atirada para trás com um brusco movimento de cabeça, é apanágio dos betinhos, essa classe dos primores da sociedade.

Escrever é fingir certezas. Por isso, no texto acima afirmo, não pergunto.

Outono

Chegou o outono. Baixou a temperatura. É escusado andar a fugir do sol, que ele agora já não me penetra com tanta raiva.

Quadro

No lugar da musa está exposto um quadro com uma gorda deitada, expirando sensualidade através da porosidade da tinta. Afinal as gordas têm algo a dizer aos pintores, bem como a quem passa e se detém. Qual gajas boas, qual quê... É só chicha.

Sufoco

É-me terrivelmente difícil fingir que não percebo ou fingir que não vejo ou fingir que não sinto ou, e aí muito menos, fingir que não existo ou fingir que não escrevo, engolindo os escritos que me queimam os dedos, escritos esses que sinto terem de ser forçosamente atirados para o ecrã.

Assunto

As pessoas falam mais das suas dores que das suas alegrias. O dói-dói toma-lhes demasiada atenção, mais que o pôr-do-sol tão lindo ou o mar azul picado a espuma branca; a voz límpida duma criança; o brilho no olhar de quem amam. O dói-dói preenche-os, é denso, ocupa-os a mente por inteiro. Os bens da vida, que os há, sim senhores, não os fazem sentir assim, são meros sopros, fraquinhos, fraquinhos.

Pedido

Preciso dum amigo

– pode ser imaginário, e prefiro o género masculino, eles amedrontam-me menos, a astúcia dos homens é leve e frontal -

para lhe contar que tenho uma amiga da minha idade que tem os níveis de glicémia elevados, está toda ela alargando os ossos, tem as mãos e os pés dormentes ao fim do dia e... afinal não está grávida. Ah, e pinta as unhas de azul hortência.
Preciso desabafar com um amigo, não quero ser assim como ela, um dia mais tarde, e apavora-me que ela seja da minha idade. Olha se eu estou quase naquele estado lastimoso, ou afinal sou uma mulher de sorte e já cá deviam estar as doenças da velhice, pelo menos um vislumbrar da coisa?

E era isto, amiguinho.

Mimalhices para a Olívia

Sei que por vezes falo com a cadela como se de uma criança se tratasse. Sou alegre e comunicativa, faço caretas e repito palavras simples ou sílabas sem sentido nenhum. Pois, isso mesmo, parece que estou a comunicar com um bebé de colo, que só assim entende e reage à presença dos adultos.
Lembrei-me de avisar os ricos filhos:
– Quando vocês tiverem filhos já sabem que eu vou falar assim com eles, é esta a figura que eu vou fazer...
Os dois torceram o nariz, cada um à sua maneira, ele olhou-me de lado, ela de frente, mas ambos com cara de quem acha esta mãe muito estranha, já para não falar da ideia inconcebível de serem pais.

Anfitrião

O rico filho sabe ser anfitrião, quem diria.
Há dias veio um amigo dele jantar cá a casa mas apresentaram-se os dois tardiamente, de maneiras que quem tratou do estômago da visita foi o rico filho, bem como do seu próprio restauro. E tratou o amigo bem, não o deixou fazer nada, nem servir-se, pôs-lhe a mesa e tudo. O outro ia dizendo 'deixa lá isso, eu sirvo-me' e eu só ouvia o rico filho dizer 'não serves nada, estás parvo?' E toca de lhe pôr a comida no prato com todos os preparos.
E é assim, as crianças transformam-se em adultos... Normais. E eu só posso ficar feliz porque dei uma ajudinha para que a transformação ocorra.

Ponto de articulação

Enquanto lavava os dentes, a rica filha ia falando e falando, como é seu costume. Claro que não se percebia nada e queixei-me disso. E ela, a minha aspirante a linguista particular, depois de acabar a lavagem, de boca limpa, diz:
– Não percebias nada porque a escova de dentes estava em cima do ponto de articulação, mãe.

Na carruagem de metro...

… Apinhada por demais, entrou uma moça com um carrinho de bebé. As pessoas amontoadas fizeram um esforço e lá se conseguiu espaço para este passageiro minúsculo cujo primeiro transporte ocupava um espaço do caraças.
Logo de seguida a campainha soou e uma voz simpática anunciou a próxima estação. A moça fez gestos de quem queria sair. O comboio parou. A dita viu-se e desejou-se para sair nessa estação. O esforço dos passageiros foi tal que se ouviu um burburinho aflito. Aflita estava também a moça, que quase vê a sua saída vedada. Mas lá se consegue, mediante a muito boa vontade dos passageiros e do maquinista, uma das passageiras inclusivamente se atravessou frente à porta para que esta não se fechasse enquanto ela se esquivava desajeitadamente por entre corredores de gente.

Moral da história: mas porque é que esta alminha não foi a pé?! Era só uma estação, 'miga, e daquelas que descem a avenida Almirante Reis, Areeiro – Alameda... Viu só o transtorno que causou? Está bom tempo e tudo...

Pedido de namoro

Sempre tive a mania de escrever imenso, já vem da infância. Há dias lembrei-me dum pedido de namoro que me fizeram quando andava na segunda classe.
O rapaz (cuja alcunha era Batata*, e sim, era um rapaz, nesse tempo os rapazes queriam namorar com raparigas...) deu-me um bilhetinho onde escrevera toscamente o pedido. Não lembro exatamente o que dizia (mas tenho pena!), só me lembro que tinha vários erros ortográficos, os quais detetei imediatamente. O mais gritante era o meu nome escrito assim: Jina.
Não curti a cena, não curti mesmo. De maneiras que a minha resposta foi uma folha de caderno inteira onde começo com um: 'ó meu menino, para já o meu nome não é Jina, é Gina' (a única frase que me lembro de escrever) e onde continuo por aí fora admoestando o moço, lembrando-o dos seus erros no meu (já então) modo pragmático e abrutalhado.
Portanto, escrevi um verdadeiro testamento e no fim disse-lhe que não, não namorava com ele.
Nos tempos seguintes andava pelo recreio a provocá-lo, cantarolando o refrão duma cantiga da Tonicha que dava na radio:

*«Batatinhas, miudinhas
a fritar, a fritar na frigideira!»


Passou bem?

O senhor Tomé tem um passou-bem tão vigoroso que eu limito-me a estender a minha mão e deixá-la ficar entre aquela mão enorme que ele tem, não é preciso mais nada, o seu vigor é suficiente pelos dois.

Aguarrás

Eu tinha um litro de aguarrás em cima do balcão prestes a ser vendido, mas a cliente ia lamentando a capacidade da embalagem ser em demasia, só precisava dum bocadinho, para que quereria o restante e blás.
E eis que salta de lá uma outra cliente que aguardava a sua vez e se oferece para lhe arranjar um pouquinho, tinha lá em casa e não se importava nada de lha oferecer se a senhora quisesse.
Ou seja: assim se concretizou no meu balcão o espírito de entreajuda entre duas perfeitas desconhecidas.
Ou seja: é bonito, bem sei.
Ou seja: eu não vendi, não pus o país a mexer.
Ou seja: há sempre um perdedor. Ou muitos.

Sábado passado

Enquanto esperava pela boleia do meu colega... Como sou muito dispersa e gosto de observar, tanto detenho o olhar no teto como no chão. E no colega.




Lisboa, 22 de setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

O dito

Dizer que não tenho nada a dizer é dizer alguma coisa. Nunca estou vazia.

Ferro a vapor

Engomar lenços de assoar transporta-me ao antigamente - lembra o passado -, é como se eu ainda não existisse nos próprios gestos.

Pedido

Preciso de alguém para engendrar um plano que me ensine a viver. Convém que seja um plano rectilíneo, uma coisinha simples, que eu ando sem energia.

Olhem lá!

Não me faço apenas disto aqui.

Eu

Descobri que não devia ter deixado a escrita invadir a minha vida. Mas não foi hoje.

Anúncio

Somente a quem interesse: estou extremamente cansada.

Aconteceu

Primeiro a pergunta. Depois a resposta. O inverso é uma exclamação despropositada e ridícula.
Não, não estou a exagerar nem estou a dar largas ao alter ego. Foi assim que aconteceu.

...

Não sei como aguentamos viver. Somos feitos cá duma fibra mais densa...

Ora aí está...

A vida é tão contraditória que a reação nos tira a razão.

Chamamento odorífero

Não é só a cadela que vem ver que cheirinho é este que emana da cozinha. Os ricos filhos também.

Perfume

Cheira como quem está.
Melhoramento: o bolo cheira como quem está cozido.

Hoje

Domingo: cagari, cagaró.

sábado, 22 de setembro de 2012

Ausência

De manhã escrevi do acompanhamento que os meios tecnológicos nos podem oferecer. Pois bem, por casualidade estou sozinha em casa, é que nem a cadela cá está para me fazer companhia. E aqui estou eu de roda da internet para não me sentir sozinha.
É um acompanhamento ilusório, inútil, frustrante?
Paciência.
Os acompanhamentos reais também são assim, a maioria das vezes.

13:00

Vá, vamos s' imbora! Acabou a faina.

Pagamento

São tantos euros e alguns cêntimos, por favor.
Ó minha senhora, sem favor! Tenho que pagar, a senhora não me deixa levar isto de graça!

(Ai credo, um homem bruto...)

Quotidiano

Aviso: o texto seguinte é suscetível de melindrar os espíritos mais sossegados.

As putas são como as bruxas → existem. Os cabrões idem. Do lado de lá há um cabrão casado que fode com uma puta casada. Espero que da última afirmação se depreenda que são ambos casados mas não entre si.
Do lado de cá há outro cabrão. Este é ciumento ou assim, não tira os olhos do lado de lá, verificando sistematicamente cada centímetro. Ademais, sabe as notícias todas, é ele que me informa sobre estes adultérios. Sim, no plural, são dois adúlteros.
Sabemos que o cabrão casado passa o dia enfiado em casa da puta casada.
Sabemos que é posto fora perto da hora do marido corno chegar.
Sabemos que o caso está mesmo prestes a rebentar, na rua do lado de lá toda a gente comenta.
Sabemos o que sabemos porque o cabrão ciumento, é ciumento e apaixonado pela puta casada. Que grande cabrão, pá.

Dialogar

Os diálogos são como o andamento numa pauta, são quebras de ritmo, ora intensificam ora amainam a prosa.
Dificilmente escreverei um romance algum dia... Não me apetece escrever diálogos e a meu ver os ditos são muito necessários. Não imprescindíveis mas necessários.

Creme de rosto

Ofereci um creme Benamor à minha mãe. Quando ela mirou o presente diz:
– Ah, filha, a mãe usava isto quando era moça nova*!
– Eu sei.
Abre muito os olhos – a minha mãe é muito expressiva – e em jeito de novidade diz:
– Ainda se encontra nas drogarias!
– Ó mãe… – Digo, como quem contém um ralhete – Eu vendo esse creme.

Dentro...

… Da carruagem do metro estava um homem a ver um filme no tablet, o que me faz pensar que as pessoas hoje estão mais acompanhadas, ao contrário do que se pensa. Ninguém está sozinho, agora. Diz-se que a internet e derivados (telemóveis, redes sociais e isso) é oca e vazia, que não traz conforto à alma, nada como falar ao vivo, olhar nos olhos e assim. Está bem, concordo, mas só até certo ponto. O que vejo no olhar das pessoas reais nem sempre é tolerância ou benevolência e imagino que eu não reflita esses sentimentos através do meu olhar em todas as ocasiões. Ou seja: não há pachorra, e na comunicação à distância... Há. Basta observar uma carruagem de metro, ali muitas pessoas estavam ocupadas e acompanhadas. Comecei por dar o exemplo do homem que via um filme no tablet mas olhando ao redor vi pessoas falando ao telemóvel, teclando e enviando sms. As restantes estavam quietas e caladas. Sozinhas.

Términus

Terminei a leitura do livro 'A menina é filha de quem?' (Rita Ferro) durante as férias lá fora. Ainda não houve ocasião de escrever as minhas conclusões acerca do livro, ora porque não me apeteceu ora porque me fui esquecendo. É hoje.

Gostei bastante deste livro, mostrou-me um lado da vida que não conheço, o dos meninos betinhos, onde há dinheiro e posição social elevada, onde a vida é ornamentada diferentemente. Claro que nem tudo é positivo, há podridão humana também nesse meio, o que não me surpreendeu por aí além, onde há pessoas... as pessoas agirão como tal, o que de certa forma prova a genuinidade inata de todos nós; o cerne do ser humano, onde quer que estejamos.
Mas queria sobretudo registar que este livro sendo um romance autobiográfico me trouxe uma visão do meio artístico que eu desconhecia, a autora cresceu no meio de poetas e escritores. A dada altura do seu discurso refere que os artistas pensam livremente, assim como que ingenuamente, tudo lhes parece permitido, por assim dizer, não têm maldade se agirem sem a intenção de magoar.
Sei que esta ideia é discutível, no entanto compreendo-a. Há algo de libertino e despreocupado na mente dum artista, tudo se pode fazer. Nesse todo, espremendo e espremendo e espremendo, o artista encontra arte, pontilhada ou intensamente brilhante, que pode ser vulgar, banal, ou até de baixo escalão, pouco me importa. Sim, aqui já estou a falar por mim, eu sinto assim.

Nova historinha

'Ocultos Buracos'. Não gosto do título do livro, lembra sexo. Pronto, já disse.
Não estou tão embrenhada no acontecimento desta vez, tanto que nem tenho escrito praticamente nada acerca desta publicação. Conhecendo os meandros destas lides, e sendo que não é um livro exclusivamente meu, é claro que uma segunda vez não se iguala a uma primeira.
Mas estou convencida que vou gostar de assistir a mais um lançamento, tanto mais que participo no livro em questão - como creio que já deu para perceber... - e também porque agora já conheço alguns dos autores. Quero dizer... Hum, conheço do Fuçasbuque, mas pronto, conheço e vou reconhecer as caras deles e vou lá dizer-lhes olha eu sou aquela assim-assim e blás.
Mas indo ainda ao título da coletânea, antes de o mesmo ser decidido definitivamente houve discussão no Fuças. Mas eu, esta alminha contendente com a questiúncula 'intitular', e porque não se lembrou de título nenhum, manteve-se caladinha.
Entretanto esforcei-me um bocadinho e inventei que um título assim dá nas vistas e é isso o que o povo quer. Humanamente, falando: todos gostamos que reparem em nós, inclusive passamos a vida inteira aprimorando os métodos para chamar a atenção dos demais. 'Ocultos Buracos'? Seja.

Sábado

Há aquela pessoa que trabalha em certos sábados. Hoje é um sábado desses. Cá estás tu. Toda a gente te pergunta, destilando escárnio
'então hoje por aqui?'
ou fingindo desorientação mental
'quê, não me digas que hoje não é sábado!'
E tu respondes cheia de graça, pois é o mínimo que podes fazer, não vale a pena mostrares-te zangada, as pessoas dão-te atenção, consideras melhor ideia levar a coisa na brincadeira, afinal de contas isto não custa nada, daqui a poucochinho está a manhã passada, podes escrever as parvoíces do costume e tudo, já viste?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

No metro...

… Estava um homem a ler de pé, mesmo junto à linha de aviso circunscrita no chão. Hoje em dia as pessoas leem em todo o lado, aproveitando todos os bocadinhos e assim avançar na cultura e no saber. Desconheço se o homem lia por prazer ou dever, podia estar a estudar e ter de remir o tempo.
Esta visão fez-me lembrar que não vou ter tempo de ler todos os livros que gostaria. Mas ando a esforçar-me, leio quê... uns quatro ou cinco livros por ano, para aí.

Politiquice

O homem que ministra os dinheiros do país tem uns papos por baixo dos olhos que são qualquer coisa de grandioso. Mexer em dinheiro tira o sono, só pode.

Politiquice

O chefe do jardim maravilhoso que é este país diz que não é cego nem surdo. Hum, ok, então e parvo?!

Declaração

Não irei à vigília. Para já, não sou noctívaga. Para depois... Não sei. Não vou e pronto. E também não sei se quero que a troika se lixe, ao que parece é essa a base, tenho de apreciar melhor o assunto. Repito: não vou à vigília de logo à noite.

Horário

Agora vou daqui alindar as sobrancelhas. Também vou crispar as mãos e entesar os pés mas isso é outro caso.

?

A palavra manifestação ainda será válida ou agora só se entende se dissermos manif?!

Doentiamente

Há pessoas tão doentes que na farmácia dão-lhes um saco enorme feito dum material resistente, tipo pano. Qual plástico, qual quê, não aguentaria o peso de tantos medicamentos.

Banco

O novo bancário tem ar de escultor mas é só porque é parecido com um homem que é escultor.
A nova bancária acompanha o novo bancário no cafezinho e aproveita para cumprimentar o pessoal maior.
Depois disto mais nada. Resto eu, talvez, a que observa.

Casório

A filha da doutora juíza vai-se casar. De certa maneira participarei na festa, vendi os ganchinhos de cabelo que hão-de segurar o véu da noiva.

Aquela pessoa

Há aquela (pessoa) cliente que pede um produto para o inox.
Há aquela (pessoa) balconista que vai buscar à prateleira o específico para o efeito.
Há aquela cliente que desdenha da balconista e lhe explica como se ela fosse muito burra que não é nada disso, é para o fogão!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Linguagem

O pai perguntou à rica filha se de manhã ainda dá aquele passeiozinho grande com a cadela.
A mãe achou montes de piada ao passeio pequeno e grande em simultâneo e inserido numa só expressão e perguntou à rica filha se o caso tem nome nas ciências da linguagem.
A rica filha fica pensativa e diz que é um pleonasmo mas hesita.
O rico filho salta de lá e larga o seu saber não menos douto, ainda que seja de escolaridade inferior: é antítese!
A rica filha ainda pensativa diz ah pois é, pleonasmo é acentuar algo, como 'subir para cima', por exemplo.
A mãe atenta à conversa lembra que a avó usa a expressão 'um moço novo'... Um pleonasmo que nunca consta nos exemplos.


Nota: ver antítese aqui.

Post de gaja

(Este sim, é um post de gaja.)

A Olívia tem as axilas peladas, ou seja, naquela parte do corpo de cadela que corresponde às axilas duma mulher, a Olívia tem-nas peladas, o que é o sonho de qualquer gaja.

A Olívia tem nove mamas. Aqui o sonho é dos gajos.

Introdução

– Olhe, eu queria aquela fita que se vende em rolos que é para um gajo pôr nas janelas por causa das poeiras e o caraças.

Cúmulo

O homem com o nome da pátria diz que este país não presta.

Desejo

Às vezes apetecia-me saber escrever doutra maneira. Não quero dizer melhor ou pior, apenas diferente. Como se colocando as angústias num outro tipo de escrita estas fossem purgadas e realmente exterminadas. Como a poesia, por exemplo, esse plano palavroso que para mim é absolutamente inalcançável. Considero-o tanto assim que devido a essa impossibilidade me parece um bem preciosíssimo. Dá-me a ideia que os poetas escrevem as dores sem se exporem demasiado, sei lá... E eu queria ser assim.

O embaraço

Há dias vivi uma situação embaraçosa. Muito, muito embaraçosa. Tão embaraçosa que não vou revelá-la. Mas não é só pelo embaraço que não ponho a questão a arejar, é que ainda mantenho em mim o instinto de segredar.
Adiante.
O que eu quero mesmo registar é o seguinte: voltei a sentir-me estupidamente inteligente. E sem substâncias medicamentosas. Que bom. Isto porque vivi o embaraço na mais perfeita calma, nada de aparências, não, estava mesmo calma.

Calor

O Gualter parece uma mulher com afrontamentos. Abanica-se com o que tiver mão, está vermelhão nas faces, e todo ele é pingas de suor.
Fiz-lhe essa observação, ele limitou-se a sorrir como um macaquinho feliz.

Blue kitchen

Estive numa cozinha azul.

Tabuleiros: azul
Tapete do chão: azul
Tapetes do lava-louça: azul
Frasco do chá: azul
Fruteira: azul
Naperons: azul
Pegas: azul
Azulejos: azul

Bem que este dia tinha de ser azul...

Dias de um Ginásio

Nota prévia: este post devia chamar-se 'Post de gaja' ou 'Lady in blue'. Dois títulos. Repito: dois. Fantástico... Dada a dificuldade que sempre me assola na hora de escolher títulos.

Ontem, no decorrer de um dos exercícios de cardio, como a cabeça fica desocupada, pus-me a pensar que roupa traria hoje. Vagueei o pensamento pela saia das florinhas em conjunto com a camisa aos quadradinhos... pelo top às risquinhas com as calças às bolinhas... e pelo vestido das cornucópiazinhas verde fluorescente com fundo laranja berrante... Entretanto, dentre tanta roupa linda que possuo, ocorreu-me a indumentária horrorosa que envergo enquanto trabalhadora, a qual não me dignifica nem um pouco como género feminino e fiquei um tanto ou quanto infeliz com a minha vidinha.
Momentos depois pousei o olhar num homem que andava lá no ginásio de máquina em máquina, cujo braço direito não está completo, falta-lhe a mão e parte do antebraço. Achei melhor alegrar-me.

Tenho uma amiga...

Ah, que brincos tão giros que tu tens!
Gostas? Comprei nos Olivais há que tempos...
São muito bonitos.
Obrigada. Não eram assim...
Não?!
Tinham umas penas nas pontas...
Oh...
Entretanto caíram.
Ah, mas são giros, ainda assim.
Era cada uma de sua cor. As penas.
Hum-hum.
E não sei se reparaste que os dois brincos não são iguais...
Sim, ia agora mesmo falar nisso.
Pois é, eram vendidos à unidade, não faziam caso dos pares, a bancada tinha muitos brincos dentro do mesmo género de todas as cores, escolhi estes dois.
Muito bem, muito bem. Vais publicar esta conversa no teu blogue?
Vou, acho que vale a pena, mostra como és uma amiga atenta.
Sério?
Sério. Espero ardentemente que não se note que és tão amiga e tão atenta porque fui eu que te criei, és imaginária.

Trabalhar

Para mim o trabalho não se mistura com o prazer. Por exemplo: o meu blogue não me dá trabalho nenhum, é um prazer construí-lo. Não consigo conceber a ideia de que tenho trabalho a manter um blogue, quando for trabalhoso mantê-lo...

Ricos filhos

Enganei-me e chamei rico filho à rica filha. Diz ela assim:

– Então mãe, tenho o bigode assim tão grande?

A passo

Dona Petra passa na rua.
Bengala na mão.
Antes canadiana. Bengala, não.
Plural: canadianas, duas são.
Tiquetique, tiquetique, quando assentam no chão.

Coisinha chata

(Hoje é daqueles dias que não se pode estar aqui... Credo, oh céus, alguém me valha, vá lá.)

Plástico

Entram, uma a dizer para a outra que aqui têm tudo.
Primeiro diz que queria sacos pretos, depois diz que era estreito. Mostrei-lhe o fole, diz que mesmo assim não ia dar.
Fui buscar o plástico embalado, diz que era muito caro.
Lembrei o plástico a metro, diz que os metros que tinha de levar tornavam a aquisição cara, já que era para deitar fora...

Não, não vamos à ideia sui generis 'compar para deitar fora logo a seguir', vamos à matemática: a questão era uma, três as soluções. Três para um. Eu cá esforcei-me... Ah, e a loja tem tudo, sim senhores.

Ovários

Por um motivo que recordo muito bem mas não quero divulgar, chegou à conversa que durante a gestação, se o feto é feminino, o aparelho reprodutor forma-se antes de alguns órgãos vitais e/ou importantes.
Muito embora eu não saiba explicar isto melhor, apenas me baseio numa simples ideia que retirei dum artigo qualquer que li há muitos anos, e achando este facto absolutamente espetacular e especial, pois se a mulher, ainda nado-vivo, já detém a vida no seu corpo... Fiz saber essa ideia já turva pelo tempo à rica filha. Vai daí, ela volta-se para mim muito espantada e diz:
- Quer dizer que eu antes de ter olhos já tinha ovários?!

Picheleira

O meu colega teve um trabalhão a explicar a um senhor como escrever Picheleira. Ia dizendo: «Piche-Piche-Piche-Picheleira.»
Não, não estou a falar de gaguez, é que o senhor em questão achava muito estranho a piche.

Terminal Pagamento Automático

Não apelo aos clientes que pressionem 'ok, código, ok', eu cá não. Agora já toda a gente está familiarizada com este tipo de pagamento, até o pessoal muito mais velho. Eu digo 'ora, faça favor!', o multibanco tornou-se corriqueiro, creio que as pessoas sabem muito bem o que têm a fazer.

Tenho um amigo...

Tenho um amigo que me perguntou:
– Então hoje vai querer o recibo com uma consulta de quê? E acrescenta: temos várias modalidades, é só escolher. Veja lá: quer clínica geral, psicologia, psiquiatria...
– Ui, psiquiatria não, por favor, que isso é doença de malucos, ponha psicologia. Psicologia é doença de rico.

Não é meu amigo, este senhor, mas faz de conta.

O segredo

Se as pessoas me contam as suas coisinhas é porque não querem manter segredo, presumo. Eu cá acho que um segredo que esteja em duas cabeças já não é segredo. Portanto, lá vai:

A dona Genoveva arrecada as moedas de dois euros para pôr no mealheiro da afilhada. Pede-me, inclusive, que lhe dê o troco com essas moedas, caso eu possa, pois claro.

A parte que mais me interessa saber é: o que a miúda fará com o dinheiro, caraças?!

Hum, acho que é segredo...

Resquícios

Outro resquício das férias foi um jantar. Experimentei uma receita do Rudolph* → Frango com Piripiri à Portuguesa. Sim, o Rudolph fez essa referência, é um prato tipicamente português, disse inclusive que quando preparava a viagem a Portugal na agência o tinham aconselhado a provar o nosso frango com piripiri.

Dispõe-se um frango cortado em pedaços numa travessa de ir ao forno e tempera-se a gosto com azeite, sal, malagueta fresca e alhos, estes últimos picados finamente.
Por cima coloca-se cebola às meias luas grossas e pimento vermelho cortado em pedaços. Tempera-se a cebola e o pimento com sal e pimenta.
Finaliza-se com uma laranja cortada às rodelas.
Vai ao forno quente. Muito quente.

Ora bem, não posso dizer que tenha adorado a receita, o frango fica um bocado para o cozido, não adquire o aspeto de assado e tostado, talvez pela humidade dos legumes e da laranja. E também acho que a laranja nesta receita não é uma 'coisa' à portuguesa. Mas pronto... Quem sou eu para contrariar o Rudolph?
Comprei uma laranja propositadamente para esta receita. Uma, só uma, que agora as laranjas não têm a mínima piada, não é tempo delas. Escolhi-a dum cesto onde estava as melhores e mais caras, custou 23 cêntimos. Conclusão: perdi 23 cêntimos, que a laranja parece-me perfeitamente dispensável.

*Programa visto no canal 24Kitchen

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Caminho

Fui a pé. Outra vez. Qual metro, qual quê. A meio caminho enfiei os chinelos.
Uma das visões mais fantásticas que tenho sempre que venho por ali é o veio central de um espaço destinado ao estacionamento, mesmo no meio da avenida. Gosto de andar em sítios pouco frequentados, tendo o intuito de passear, de andar ali, mesmo ali. Parece que os carros afocinham direito a mim, só por dizer que estão parados. Divirto-me assim, que querem?

Resquícios

Não foram grandes férias, não. Não foram grandes, pois não. Mas estou com saudades de casa, do ninho e assim, de andar descalça e trajar roupas desafogadas. Mesmo de ouvir o sinal sonoro tururú-tururú do messenger, o chat da internet mais usado por amigos e família, vindo da janela vizinha, ou ainda de ouvir um cantor espanhol que canta 'avé maria, quando seras mia' (deve ser religioso, este cantor...), cujo som estridente também saía daquela janela.
Ai, que saudades.

?

Cada vez pergunto menos, principalmente aqui no blogue, mas esquecendo isso por ora, eu gostava tanto de saber se toda a gente pergunta a toda a gente se foi à manifestação do passado sábado ou se esta perguntinha só acontece comigo...?

Regresso

Regresso. Ao trabalho. Que outro título, ?

Pois muito bem. Está-se bem e coiso. Cagari, cagaró.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sem título

Apresento este post sem título porque não sei como condensar o facto de querer escrever um texto onde registo que se me acabaram as férias...

Este grupinho de dias de férias foi tão breve que mais pareceu um fim-de-semana prolongado. Se bem que um fim-de-semama desses costuma incluir feriados e ontem e hoje não foram dias desses,  pois se não teria sido impossível ir à Biblioteca e à retrosaria, como efetivamente fui.

Na Biblioteca fiquei a saber que tinha livros fora de prazo, porque, aparentemente, há uns livros que são mais importantes que outros, de maneiras que não podemos ficar com eles tanto tempo assim.

Na retrosaria fiquei a saber que sou muito boa a escolher cores de linhas se não tiver um pedacinho do tecido para amostra. Não sei se deu para perceber que escolhi a cor a olho. Não sei se deu para perceber que sou mesmo boa porque acertei na cor, rigorosamente, é tal e qual.

No caminho para casa vi as hortências já murchas. Por um lado temos o sol imenso,  por outro, o outono a chegar, época de amarelar.

Outono não rima com férias. Não condiz, não casa.

Ora bem, se as férias acabam hoje, amanhã vou trabalhar. Irei trabalhar. Não, não tenho saudades.

Comecei o texto sem saber o que escrever (veja-se o título) e termino exatamente igual. Pelo meio ficam as patacoadas do costume.

O banho

A Olívia tomou banho. Não gostou. O que prova que esta bichinha faz jus à raça... Os cães não querem nada com água.

Narcisa

Loures, 18 de setembro de 2012

Hoje, como narcisista, não trago a descrição pormenorizada do meu almoço, mas antes uma foto onde asseguro que estou com uma expressão fantástica e onde mostro o meu mais recente par de brincos.

Dias de um Ginásio

Ter as nalgas e as omoplatas assentes no chão quando a professorinha de stretching manda a gente ter toda a parte de trás do corpinho tocando o chão... Parece-me bem. É melhor registar que estou a ser irónica, que às vezes não se percebe nada do que escrevo.

Paragem

Não ter a visita das primas - sim, volto ainda ao assunto - fez com que um grande motor que eu tinha ativado cá por dentro fosse repentinamente parado e silenciado. Ao sério, até ouvi o dito motor dentro da tola. Depois pifou...

Momentanemente

De momento estou indecisa sobre o que escrever. Não tenho muito jeito para ter um espaço de tempo certinho e destinado à criação de textos, por isso, nestes dias em casa, fico perdida. Já cá venho e talvez nem demore nada.

Bolo de chocolate com frutos vermelhos


150 gr de manteiga
200 gr de açúcar mascavado
3 ovos
1 colher de chá de fermento em pó
350 gr de frutos vermelhos congelados
100 gr de chocolate partido em pedacinhos
2 colheres de sopa de açúcar me pó
1 colher de sopa de farinha maisena
100 gr de açúcar branco

Bater a manteiga com o açúcar mascavado.
Juntar os ovos, um a um.
Misturar a farinha e o fermento peneirados.
Envolver metade da porção de frutos vermelhos (que devem estar congelados para não se desfazerem) no açúcar em pó e na maisena.
Verter na massa.
Juntar o chocolate em pedacinhos.
Misturar tudo e levar ao forno.
Preparar o molho levando os restantes frutos vermelhos ao lume com o açúcar branco.
Deixar ferver e apurar.
Derramar sobre o bolo já cozido e arrefecido.

Mais uma receita retirada do programa do Rudolph, o qual passa no canal televisivo 24 kitchen.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Lembrete

Antes que me esqueça: as primas não vieram cá a casa. Ia ser giro, são pessoas que não conheço, e sendo que viriam de livre vontade, para concluir uma espécie de volta pelos primos todos ou lá que é, e considerando que as pessoas atuando por vontade própria são muito mais simpáticas e acessíveis... Ia ser muito giro. Paciência.

Voto

Acho que aos votos matrimoniais de jurarmos amor na
saúde / doença,
riqueza / pobreza,
devia ser acrescentado um outro:
no fedor e no aroma.
É que às vezes é preciso um amor enorme...

Não descobri uma maneira bonita ou sequer romântica de dizer o que acabei de escrever. Bem que tentei.

Almoço

Neste momento estou com a impressão que o mundo inteiro quer saber tudo acerca do meu almoço. Às vezes dão-me estas coisas... 

Almocei omolete de queijo francês com coentros, beringela e pimento vermelho grelhados e salada de alface, de sobremesa salada de fruta com iogurte grego, finalizando com um aromático café.

Estar completamente sozinha em casa faz-me uma certa impressão. É por isso que comunico com o mundo, primordialmente um blogue é para isso mesmo.

Telenovela

Estive a ver uma novela, o que prova que estou de férias. Não é que não goste ou sinta repulsa por novelas, não sou dessas, é porque noutras alturas, menos ociosas, não tenho tempo para ver na tv tudo o que gostaria, tenho de fazer escolhas.

Foto de sábado

Loures, 15 de setembro de 2012

Mais uma foto que não pode ser ignorada. São as raízes duma planta que estava há meses a clamar por espaço, adquirindo assim a forma da base do vaso. É de louvar o que os seres vivos fazem pela sobrevivência...

Foto de sexta-feira

Lisboa, 14 de setembro de 2012

Na sexta-dfeira esqueci-me completamente de apresentar esta foto. Passado o fim de semana sinto que não a devo ignorar. Trata-se de uma imagem que há muito tempo queria captar, desde este dia...

«Lisboa, 21 de agosto de 2012

Ontem, ao descer, vi o arbusto das malaguetas (não sei como se chama, parece não é malagueteiro ou malagueteira) projetando uma sombra muito definida na parede devido ao sol direto e pleno, numa hora em que é suposto assim ser – 3 e tal da tarde. Gostei da visão: os pontinhos vermelho vivo, as folhas brilhando, os ramos obscuros, quase cinzentos, onde não se via quentura, mas levando em conta a caloraça do dia...
Mas hoje não deu para ir lá abaixo tirar fotos, por isso descrevo uma imagem que não captei.»

Expressamente

Eu não fui à manifestação, não lamento nem acho que devia ter ido. Sou comodista, passiva... E confessa.

Registo

São dez da manhã. 
De momento quero registar que é fixe estar em casa numa segunda-feira de manhã, hora e local que geralmente não coincidem. 
Há escola e trabalho para todos, menos para mim, o que me faz sentir como que ilícita.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Vou estar de férias...

Sim, hoje é sexta-feira, daqui a nada estou de férias. Curioso o facto de os sábados e domingos também serem número se antes da segunda-feira primeiro dia de férias, porque sendo ao contrário não os sinto assim.

Estou quase de férias mas não parece. Mas estou. Urras.

P.S. Hoje fui desejando ao longo do dia terminar todos os meus rascunhos. Ali pelo meio ainda tentei efetivamente esgotar tudo, tudo, tudo. Não sei, às vezes apetece-me terminar a escrita. Não me refiro a terminar o blogue ou a deixar de escrever, por vezes só queria ter a cabeça limpa e vazia. Estou cansada, mas não consigo parar de escrever ou deixar de ter assuntos nos quais tenho vontade de tocar.

Não te acanhes

O melhor era contar a alguém o que escrevo, ou seja: falar com pessoas, contar-lhes a viva voz as minhas histórias ao invés de me pôr a escrevê-las.
(Talvez assim a companhia fosse melhor.)
Pelo menos é assim que atuam as pessoas normais.
(Presumo.)

Montra

Há pessoas que estão tanto tempo a mirar as minhas montras e o interesse que colocam na observação é tão desmesurado e tão ávido que eu quase acredito que esta – afinal - é uma loja interessante.

Dias de um Ginásio

Pois que
regressei ao ginásio, pois sim senhores.
Pois que
estou aqui que não posso, pois sim senhores.
Pois que
não está tudo na mesma, pois não senhores.
Pois que
me doem os músculos, particularmente os de maior porte... Creio que especificar é dispensável.

Post parvo

Disse ao meu colega:
– Vou fazer um post parvo.
E fui.

O plano profissional tem semelhanças com o plano sexual. Ou seja, o meu colega tem um gel de introdução para vender lá na loja dele.
Eu explico (é capaz de ser boa ideia…): é um gel para facilitar a introdução de cabos nos tubos que estão no interior das paredes.

Passado

Uma cliente queria ver todos os inseticidas que há nas prateleiras deste estabelecimento. Mostrei-lhos todos, sem reservas, mas estava esbaforida cá por dentro, tinha o pensamento cheio de coisas para escrever, credo, que aflição, esta alminha não se despacha. Deixei-me de tretas e acalmei-me, pronto, já sei como é, quando a minha criatividade é interrompida, logo mais, volta. E fixei-me no trabalho. Pelo meio do atendimento, fui lembrando que em tempos parti um candeeiro desta senhora, ela havia-o deixado cá para pôr fio novo e eu, ao mudá-lo de sítio, pumba, bateu numa superfície dura e quebrou-se. Quando tive de me explicar à senhora toda eu me encolhia mas disse o que tinha a dizer, fui sincera e pronto, apenas lhe vi um esgar de tristeza e pouca irritação. Que alívio.
Hoje, ao despedir-se de mim, depois de ser esmeradamente atendida, que eu cá não sendo modesta sei que sou uma pessoa fantástica em todas as vertentes, diz ela assim:
– Ficam-lhe muito bem esses óculos.
Ora bem, daqui se depreende e comprova – pois não, não sou modesta - que a história do candeeiro vai dista... E dela não há memória.

Praça de Espanha → Arroios

A questão era ir a pé ou de metro. Apetecia-me andar, passei ao lado da estação e não me enfiei por ali abaixo.
Tenho uma confusãozinha nos meus bilhetes de metro: ao todo são quatro, três não têm dinheiro e um tem quarenta cêntimos mas está fora de prazo, dois do grupo de três estão inseridos num papelinho pequeno onde escrevi 'vazios, mesmo vazios'. Tenho de tratar deste assunto especial urgentemente.
Mas indo à questão de há pouco: fui a pé, precisava andar, o sol ainda não ia alto, o calor era poucochinho. ... Eu vou andando. E fui andando e pensando, que a minha vida é pensar e pensante. Seguidamente escrevo, o que me alegra e acompanha.

O encontro

Vou explicar o caso pragmaticamente.

A prima veio de França e achou por bem dar uma ronda por Lisboa por modo a conhecer os primos todos, todos, todos. O Luís ofereceu-se para fazer a célebre feijoada, que viessem todos cá almoçar ou assim, a Gina faz os doces, dizia ele, e eu faço o chili sem picante (?!) por causa do pessoal mais velho. Portanto, tenho a casa cheia de primos não tarda, muito embora me pareça que ninguém vai querer cá vir, pois é o costume desta gente, os primos, quero eu dizer, não as primas, que essas não conheço. As pobres não devem saber onde se estão – ou estariam - a meter, adivinho eu, isto aqui em casa é tudo maluco, só escapa a cadela. A rica filha disse logo: ó mãe, já viste se as primas depois gostassem muito do teu blogue e quisessem ler o teu livro e assim?

Toda a gente percebeu, ? Então passemos ao próximo post.

Café+queque

De manhã fiz reparo ao facto de o homem da cafetaria reconhecer nos meus gestos que eu queria aquele queque, aquele e impreterivelmente aquele, referindo depois algo maravilhada como é que ele consegue e tal, que eu não teria jeito para atender pessoas ali, credo, acho que não ia perceber nunca para que raio de bolo apontariam os clientes.
O queque em questão tinha em volta uma forma de papel estranha e questionei-me em voz alta como seria que o senhor Tomé – o pasteleiro do estamine - faria aquilo. O homem da cafetaria disse que era super fácil, eu que retirasse o papel e logo veria. Obedeci, retirei o papel e espalmei-o em cima da mesa, assim não passava dum pedaço de papel elementarmente recortado mas muito funcional pois enrolava-se no queque mesmo bem.
Minutos depois salta lá de dentro o senhor Tomé com algo redondo nas mãos, sorrindo muito, como é seu costume, e inclinou a iguaria para eu ver bem. Ah, piza outra vez, que bom, senhor Tomé, exclamei eu, grata. Que não, que era quiche. Pensei alto de novo, concluindo que também não tenho jeito para cozinheira.

Facto das contas

O meu guarda-livros diz que me deixe disso de assinar o nome completo na folha de ordenado, que hoje em dia a rubrica é oficial, 'eh pá, que é isso, assim nunca mais acaba de escrever, já viu', refere o senhor Austregésilo ao depois de me ver rabiscar o meu nome inteirinho.
Eu digo que não faz mal nenhum, lugar onde se leia 'assinatura', pois esta senhora que escreve escarrapacha lá o nome todo.
E eu, que agora ando numa de segredar, digo que o motivo principal para esta espécie de teimosia não é este, mas não posso revelar, é segredo. Só quero que fique registado para mais tarde recordar. E agora não se fala mais nisso.

Nortada

Tenho um cliente que é de Bila Praia d' Áncora. Eu traduzo, vá: Vila Praia de Âncora.

A folha amarela

O italiano que fala espanhol e tenta falar português rabiscou numa folha A4 amarela o mapa de Itália. Soube que havemos de lá ir para o ano e delineou toscamente alguns conselhos.
Todos sabemos que a crosta terrestre que forma a Itália lembra a forma duma bota de cano alto. Pois bem, ali por alturas do peito do pé deste belo país fica Marateia, o verdadeiro destino, onde as praias são de areia negra, depois frisa que nós não devíamos deixar de ir ali para os lados do salto alto, onde a areia é tão branca que temos de usar óculos para não cegar. Foi ele que disse...

Pergunto-me se deva já criar a etiqueta 'Férias 2013'... Crio, pois.

Ironia

A maior ironia do Fuçasbuque é as pessoas escreverem queixas do tipo 'vejm só o tempo que estou para ser atendida no sítio tal' e depois choverem cliques no 'Gosto'. Além dos cliques, estas questiúnculas geram uma discussão enorme entre as pessoas, há verdadeiros debates. Que ironia.

Tenho muitos amigos...

Subtítulo: 'Amigos do Fuçasbuque'

Tenho um amigo que abomina completamente o Fuças. Que é um desplante o que as pessoas divulgam das suas vidas. Que é só mulheres depravadas ao engate, e eles também mas pronto, um gajo pode. Que ninguém tem nada que saber onde ele vai de férias, quando vai de férias, como vai de férias, era o que falatava. Que não acredita que o que publicam seja tudo verdade, ora essa. Que as pessoas são todas umas vaidosas e mostram o que não têm e escrevem o que não sentem.

Tenho um amigo que criou recentemente um perfil no Fuçasbuque. Convidou-me para ser sua amiga e eu acedi prontamente. Depois disse-me 'ah tu estás lá no meu Fuças' e eu respondi 'pois estou, eu lá ia recusar um amigo como tu...'

Tenho um amigo que não lê livros nem revistas nem porra nenhuma e o caraças, diz que não gosta de ler e não está para isso, que é uma grande chatice. Mas leu o meu post da Olívia... Tão fofo, pá.

Tenho um amigo que comenta as minhas fotos presencialmente, saltando aquela parte em que podia clicar no 'gosto' e ficava o caso arrumado. 'Olha, gosto daquela tua foto...', diz ele. Folgo que as pessoas ainda comuniquem no frente a frente.

Tenho um amigo que me incentiva a escrever parvoíces no Fuças. 'Hás-de escrever lá no Fuças como é que fazes isso que eu não sei. O isso é saber como poupar o dinheiro como eu, vangloriei-me que após as comprinhas que fiz ainda tinha dinheiro para o almoço e agora o bicho quer que eu escreva.

Post de gaja

O mundo é das gajas. Olha só os casórios: começando nas noivas – alguém repara na cor do laço do noivo? - e acabando nas damas de honor – alguém deixa de notar os lindos vestidos das mesmas? Continuando: as lojas de roupas unissexo apresentam sempre o vestuário feminino em primeiro lugar, em lugar de destaque e grande evidência porque elas não se poupam a adicionar mais um topezinho ou uma sainha ao guarda-roupa, os cabeleireiros unissexo têm fotos de mulheres lindas porque só as mulheres presumem que ficarão iguais à gaja da foto.
Por toda esta importância que o mundo nos oferece é que de vez em quando há uns cabrões que querem tirar-nos o poderio, tipo assim o Clóvis, esse presunçoso e ególatra, cuja atividade a que dá mais atenção é a de sobressair... E consegue.

Trunfo

A juventude é bela por si só. O maior trunfo da beleza é a juventude.
Não interessa se são gordos/as ou feios/as, havendo juventude, tira-se daí o proveito, há uma aura pura e malina em simultâneo muito à superfície, sendo por isso fácil evidenciá-la.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Um agrado

Gosto da ideia de escrever para uma pessoa em particular, inclusive já o fiz em tempos mas é limitativo. E as outras pessoas, depois como é?

Essência guardada

«Um escritor tem de escrever sobre escrever. Escrever é a madre dos escritores.»

«Eu gosto de escrever sobre escrever.»

Comecei a escrever levada por um motivo especial e único: precisava de desabafar ocasiões e sentimentos contraditórios e ilícitos, a ânsia asfixiava-me, o ardor era imenso, intensamente invulgar, era mister desabafar. Um dia lembrei-me de escrever.
Esta é a parte bela e poética do ato.
Mas o verdadeiro motivo, a parte prática, que mais não é do que a escória do que escrevi anteriormente, a parte física, por assim dizer… É segredo.

Blogosfera

É
(pode ser)
tão
(mísero)
poucochinho,
(afinal...)
um blogue.

Se eu soubesse escrever não o faria num blogue. Por vezes sinto que escrevendo num blogue não sou suficientemente boa e sincera, daí o publicar num blogue, já que é fácil, rápido e não muito caro.
Se eu soubesse escrever não sussurraria apenas o que escrevo, declamaria os meus textos a quem quisesse ouvir, só a esses, não teria tempo para perder com quem não me valorizasse. Ou então até podia ter um blogue mas com a caixa de comentários fechada, é assim que fazem os escritores e jornalistas e essa malta das letras, que tem por boa qualidade aquilo que escreve.

Que tristeza

Estás triste?
Sim.
Porque é que estás triste?
Sou viciada em tristeza, preciso dela para escrever.

Baú

«O meu telemóvel faz-me lembrar algo, alguém ou uma situação em particular. Talvez não devesse escrever nada disto, mas por vezes é tão difícil não quebrar certas regras, é tão difícil não me deixar levar ao sabor daquilo que não devo pensar, é tão difícil controlar alguns pensamentos que tenho. (...)Porque, no fundo, estas coisas sabem mesmo bem.
27/12/07»

O pensamento é do mais livre que há, ninguém lhe poderá jamais aceder. Melhor que esta liberdade só se for um tapete voador, e eu em cima dele, voando, umas vezes em pé de pernas ligeiramente afastadas, sentindo o frescor do vento, outras de cócoras, espreitando para baixo, maravilhando-me com o universo afinal tão pequenino. Por qualquer razão desconhecida materializo a minha liberdade num tapete voador.
Ninguém sabe o que penso, certo? Então vou pensar o pensamento mais horripilante. Posso e quero. Já não tenho vergonha dos pensamentos perversos ou não merecedores de atenção, já não tenho idade para esses embaraços. Pode pensar-se tudo, não tenhas medo, ninguém descobrirá.

Rede

Não fora a rede do Metropolitano e eu não saberia que há uma zona de Lisboa que se chama Quinta das Conchas.

Quinta-feira

Hoje é sexta-feira?
Não.
Então porque é que o metro vai cheio de turistas agarrados a grandes malas de viagem?

Férias, descanso e passeio também ocorrem nos dias mais distantes do fim-de-semana, ó menina.

Pregação surda

Um homem pregava no cimo da escadaria duma igreja. Tinha um ar de alucinado, não de crente, oferecendo uma visão estrambólica ao transeunte. Andava de um lado para o outro, de bíblia na mão, pregando a quem quisesse ouvi-lo mas ninguém parou, aquele arzinho de maluquinho do salvamento cristão não ajudava nada.
Um grupo de raparigas recém-chegadas à adolescência passou por ali, falando e rindo alto, a maioria tinha um cigarro entre os dedos, sem o mínimo jeito para segurar o pequeno cilindro fumegante, notoriamente novatas no ato de cigarrar.
Achei piada à incongruência.

Ai o amor...

O amor sublime, não o verdadeiro, que o amor inverdadeiro não existe, amor é amor.
Mas dizia eu...
O amor sublime é o que não está expectante sobre nenhuma espécie de retorno, o vulgo 'dar sem esperar receber'. É difícil alcançar um estágio assim tão humilde, eu sei. Calhando o adjetivo 'humilde' é pouco mas creio que é necessária uma grande humildade para sentir o amor sublime.
Eu, não sendo romântica, antes uma 'esporadicamente romântica e facilmente curável' é assim que penso. Penso ainda que caso o leitor saiba e conheça este amor que mal expliquei – valha-me o chavão ' o amor não se explica, sente-se' -, há-de sentir-se feliz com esse conhecimento. Essa é a melhor parte.

Almoçar

Almoço: frango assado no forno com arroz de ervilhas e salada mista. Logo tinha que passar lá fora a viscondessa mesmo na altura em que eu segurava um ossinho com a mão e lhe sugava a chicha avidamente.
A viscondessa olhou para mim com cara de má pessoa. Até aí tudo bem, esta senhora nunca oferece ao transeunte uma expressão benevolente. Daí se depreende que não terá ficado ofendida por me ver a comer com as mãos tão sofregamente, a cara dela é a mesma de sempre.

Dez (10)

Tenho dói-dói no pé.
Achei dez euros.
Tenho pingo no nariz.
Achei dez euros.
Tenho sono.
Achei dez euros.
Tenho raiva.
Achei dez euros...

Achei dez euros. Achei dez euros. Achei dez euros. Achei dez euros.

Piada que lembra a qualquer um

2050. Diz que nesse ano ainda tão longínquo Portugal terá menos um milhão e meio de habitantes. Que maravilha, olha só a quantidade de pessoas a menos para me moer a cabeça?
2050. Eu → 82 anos. Hum... Pode ser que sim; pode ser que ainda tenha cabeça para moer, impossível não é.

Parecença

A esotérica aqui do pedaço tem um certo ar de Gabriela. Com a novela 'Gabriela, cravo e canela' sofrendo um remake e passando na tv, é que eu vi a semelhança. Só por dizer que a esotérica não é bonita. Mas pronto, possui aquela cabeleira imensa e farfalhuda, que se levanta à mínima brisa e ainda o ar tropical. E usa um cigarro na mão sempre que a vejo, o que já não combina... E os cabelos são grisalhos... E não é bonita. E... não é formosa. Seja lá como for eu vi a Gabriela presente na postura da esotérica e acabou aqui a conversa.

Post de gaja

- Olha, este ano vai voltar a usar-se a saia-calça, já viste?
Ele faz um esgar de desagrado e grunhe um monossílabo que não sei escrever. Provoquei-o num só fôlego:
– Vou fazer uma saia dessas de cada cor para te atazanar nem vais conseguir tirar os olhos de cima da mim que a gente tem tendência a fixar o olhar naquilo que nos horroriza sabes isso não sabes?

Post de gaja

Pus-me a pensar na quantidade de brincos que comprei este verão. O primeiro pensamento foi que não terei comprado assim tantos, credo, não sou nada gastadora, mas depois de inventariar...

Tenho uns pequeninos amarelos, outros vermelhos a imitar florzinhas.
Tenho uns grandes e amarelos, com uma argola dourada e uma flor por junto, fazem um barulho enorme ali mesmo ao pé dos ouvidos, chego zonza ao fim do dia.
Tenho uns amarelos também mas ainda maiores que os anteriores que como som produzem apenas um tlim-tlim praticamente impercetível.
Tenho uns imitando os gomos duma laranja cortada na horizontal mas em lilás.
Tenho uns cor-de-laranja com laivos dourados cuja forma não se assemelha a coisa nenhuma a não ser que eu puxe muito pela imaginação... Parecem uns corações mal formados, vá.
E acabou. Depois de inventariar... Concluí que ainda são uns quantos.

Está muito quente...

«Com este calor lá em casa é andar de rabinho de cavalo e ganchos nas laterais!»

O que o calor faz às pessoas, credo... Como por exemplo vir à rua comprar duas dúzias de ganchos. Grata fiquei.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A pergunta

Não me perguntem porque escrevo isto ou aquilo, não me peçam para explicar nada do que se lê aqui. Por favor. Não gosto.

Não, ninguém me perguntou nada, eu é que do alto da minha solidão imagino por vezes que alguém se interessa muitíssimo por aquilo que escrevo e esmiuça os meus assuntos. E eu não gostaria que isso acontecesse, olha se eu tivesse de explicar o post anterior...

O furto

Tenho um desses. Roubei-o do estendal da Flávia. Dá cá. Pumba, este é meu. Sinto-me uma criancinha que fez cocó nas cuecas e pode se descoberta daí a nada. Ou seja, já fiz merda. Não, pior, sinto-me uma mulher às direitas que não quer ser direita e roubou; cometeu um delito pequenino e insignificante. Insignificante, porque a menos que alguém descubra o objeto roubado, assim permanecerá → sem significância.

Mesmo assim

Mesmo assim não sabem,
mesmo que eu escreva muito do que acontece na minha vida,
mesmo assim,
não sabem o que acontece na minha cabeça.

O sol quente

'E este solinho quente, não é tão bom?' Perguntou-me ele. Eu fiz um aceno de cabeça como se concordasse, mas pensei 'é muito bom se não tivermos de levar com ele em cima dos cornos...'
Eu adoro ver um mar revolto. Ver. Se andar lá dentro aos rebolões lutando por chegar à margem não lhe acho graça nenhuma... Porque é que com o sol ia ser diferente?!

Números

Afinal há quem consiga ser eloquente com os números, contando histórias com predominação numérica. Pode pensar-se que as palavras são a realeza da prosa... Mas não, eis que os números surgem na boca de alguém que se expressa maravilhosamente bem com contas e números. O auxílio são as palavras, sim, mas numa espécie de assessoras, os números curiosamente estão no trono.

Trunfo

«Ah e tal tu não podes ir ali para o quintal em tronco nu porque já tens mamas e eu posso porque sou homem e coiso»

Foi com este argumento que o meu irmão me tramou, quando eu tinha para aí uns doze anos. Discutíamos, não as diferenças entre sexos, antes a desvantagens de ser mulher, ele sempre na minha peugada, claro, que eu cá, a bem da verdade marimbava para aquilo, nunca tive prazer em guerras, por santas que fossem. Perdi o jogo com facilidade, claro, mas fosse esta conversa ao presente e teria resposta para ele, dir-lhe-ia com todas as letras qual é o maior trunfo de ser mulher, o trunfo que derrota qualquer macho. Anda cá, chega lá aqui que é para ouvires o que já sabes.

Eureka

Descobri em mim uma outra mania e vou arejá-la seguidamente.
Até aqui só tinha uma mania: a que tenho manias, leiam bem, por favor, tenho a mania que tenho manias. Como já referi, tenho outra mania: a que sou escritora.
Estou cada dia mais completa e folgo por isso, sem juízos. Conquanto não haja que vocalizar a frase 'eu sou escritora', se puder mantê-la apenas na forma escrita, pois muito bem, é na boa, eu consigo escrever que 'sou escritora' sem problemas de maior. Manias...

O vizinho-criança

Eu estava à varanda inspirando o agradável ar da noite. Ouvi uma vozinha lá de cima a chamar-me:
– Senhora! Ó senhora!
Olhei para cima e vi um menino que por vezes vejo a brincar lá em baixo, quando ainda é dia. Sem me conhecer, anunciou-me que estava á janela à espera da amiga Sandra e que fez ontem anos, nove, frisou. Falava cheio duma alegria e à-vontade que só as crianças possuem. Dei-lhe a atenção que me lembrei de dar, ou seja, não fui lá muito conversadora, para mim as crianças são uma classe difícil de lidar. Ali pelo meio tive vontade de lhe dizer uma piada:
«Ah pois, deves estar muito crescido mas eu daqui não te consigo ver bem...»
Mas achei melhor deixar-me de larachas das minhas, pois se nem os adultos as entendem...

Estações do ano

O verão vai alto, o sol vai baixo. Fogem um do outro, ao que parece em sentidos opostos, pois se um corre para cima e outro para baixo... Mas a colisão é inevitável, quando colidirem chega o outono.

Café

Seis cadeiras, seis chávenas de café. Todos vazios; uma dúzia de objetos vazios.
Da mesa ao lado, essa sim, cheia, soavam as vozes discordantes mas alegres, dentre o burburinho alguém se destacou, ouvi dizer que «convive bem com toda a gente'.

Eu não. Eu não convivo bem com ninguém. Nem comigo. A convivência é-me obviamente necessária mas eu cá não sei fazer nada disso assim, pelo menos não muito bem, talvez conviva assim-assim, vá.
Que pena não ser boa nestas coisas do convívio, ia ser tão bom.

A jeito

Convém que a gente seja como nos dá jeito, ser como os outros nos querem ver não é lá grande coisa...

Praxes

Chegaram as praxes dos académicos das redondezas. A alameda está cheia de magotes e bruaá, em certos momentos entope e tudo, ficamos com os olhos e os ouvidos congestionados.

Oreo, a bolacha maravilha


Começo os escritos de hoje com um docinho. O que de melhor existe para atenuar os horrores desta vida que um paladar doce e uma textura fofinha? Então vamos a isso.

Mousse de Oreo

Ingredientes:

• 3 pacotes de natas (600 ml)

• 2 pacotes de bolachas Oreo (300 gr)

• 1 lata de leite condensado

Preparação:

Bata as natas até ficarem sólidas. Junte o leite condensado e misture bem. Por fim adicione as bolachas previamente desfeitas na picadora e envolva tudo.
Para decorar, deixe de lado 4 bolachas, parta-as ao meio e coloque-as em cima da mousse depois de pronta.

Nota: esta receita foi-me gentilmente cedida pela filha da Dulcineia, creio que a encontrou na internet. Obrigadinha, ‘miga.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

As aventuras duma balconista de regresso ao trabalho

Preâmbulo

Podia dizer que é a parte dois d' «As aventuras duma balconista de regresso ao trabalho» mas isso implicaria continuar mais uns dias com este tema, ideia que não me apraz, sei que me farto de tudo com facilidade e assim antevejo o enjoo. Esta não é a parte dois de porra nenhuma, portanto, é, isso sim, um texto ao qual decidi dar o mesmo título e apresentar com as mesmas características porque o nível de criatividade anda baixo.

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Tenho saudades dos ricos filhos, estava habituada a estar com eles por perto todo o dia. Agora sinto a falta da sua presença, vozes, ditos engraçados e leves, tão próprios dos jovens.

Os adornos - brincos, anéis e pulseiras – estão a fazer-me uma confusão do caraças, cócegas e assim, o que contribui um tudo-nada para me enervar.

Ontem mantive a esperança de me inspirar por estar no lugar que mais me impulsiona a escrita. Hoje subsiste ainda uma réstia dessa esperança, quiçá vã. Tenho mais o que fazer mas estou a escrever.

Já vislumbrei pessoas de quem não tinha saudades. Já tomei consciência do mundo real, da vida real, das pessoas reais.

Escrevo para não chorar. Não, não estou triste. Não sei desenvolver o fenómeno – ou deveria dizer absurdez - mas querendo explicar, não passa disto: escrevo para não chorar.

Almoço: bife de peru com arroz branco e salada mista. Como pouco, a zona fazendo a vaza de atenuante do apetite, outra vez.

Desculpem lá o abuso mas eu sou boa de caras, muito boa mesmo. No lugar da musa, lá ao fundo, vi um jovem que antes das férias tinha um penteado invulgar, uma franja grossa e comprida, já escrevi algumas vezes acerca dele. Hoje vinha com pente 3, quase careca, estava muito diferente, todo o rosto se alterou mas reconheci-lhe imediatamente os gestos e a postura elegante e reservada.

Continuo sem conseguir ler. Ontem parei a leitura num pequeno excerto que me teletransportou para uma vacuidade indesejada, a masmorra, ou lá que é isto, sinto que sou parte daquelas palavras, estão gravadas no meu cérebro, por isso saltam à vista nas minhas atitudes e expressões:
«Segurava a carteira com as mãos, encostada ao ventre, e fixava-me com um ar de inocência e de enfado.
'Cá estou eu', dizia ela. 'Se para si for cedo demais, posso esperar, ou se tiver mudado de ideias...'*.
Dificilmente sairei da masmorra, por agora. Eu sou assim, tal e qual, frontal e lacónica nas introduções à conversa e sempre disposta a não aborrecer ou melindrar.
Sou terrivelmente desconcentrada, e nestes últimos dias piorei substancialmente. Se não há concentração para ler, a ver se escrevo então, que a bem da verdade é o que me está a faltar.

Cinco da tarde, hora de mais um passeio. Comigo tem de ser assim, há que sair para arejar, sofro dos nervos.
Enquanto caminho dou as boas-vindas ao sono, tenho as pálpebras pesadas, mal abro os olhos. Este entorpecimento é bom e sabe bem, a dormência leva-me para longe a vida, pouco me importa que uns mandem raios à direita e outros lancem bátegas de água pela esquerda, que vão todos dar uma curva enorme...

Uma conhecida minha diz que se tivesse de escrever uma história, escreveria sobre a cunhada, que é linda e tem sofrido grandes dissabores na vida.
Concordo → a cunhada dela é indubitavelmente linda, e sei por experiência que as pessoas vistosas... São isso mesmo, vistosas, dão nas vistas, é um 'empurrão' para escrever. Mas eu, que tenho a mania que sou escritora, escolheria uma pessoa cinzenta, donde não chispassem espectros luminosos, sem relevos instantâneos, pois o meu prazer em escrever é colocar o secundário no protagonismo, destacar o insignificante.

*In 'O olhar das mulheres', Max Gallo (página 114) 

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