… da cliente via-se a cidade, Lisboa, tão linda ao crepúsculo, num daqueles fins de tarde cor-de-laranja e lilás, matizados numa só cor indefinida. Desviei o olhar destas cores e pousei-o demoradamente num cestinho com muitas caixas de medicamentos.
– A senhora está a olhar para esses medicamentos todos, não é?
Senti-me mal mas coisa pouca, quando não posso fugir enfrento. Confirmei, estava realmente observando os remédios.
– O meu filho fez um transplante em janeiro, tem de tomar isso tudo.
Logo a prole anui, enquanto eu aproveito para colocar a miserável máscara da compaixão e solto uma ou outra frase prefabricada, abafando assim a surpresa.
Ela sabe que eu olhava para a quantidade de caixas de medicamentos, mas não sabe o que eu pensava, a bem dizer eu estava a escrever dentro da minha tola. Se bem me lembro era uma patacoada qualquer relativa ao nome dum dos medicamentos, o olhar tão fixo devia-se ao facto de eu querer fixar a porra do nome. Lamento imenso não me lembrar...
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