Primeiro leva que tempos à procura do molho de chaves. Quando o encontra sustem-no no ar e abre as chaves em leque enquanto me fixa com um olhar cinzento, como quem pensa em algo importantíssimo, pousando o indicador numa chave de cada vez, calculando algo, presumo. Aguento o olhar dela. Ela por sua vez não me aguenta, desconcentro-a, quer descobrir qual das chaves daquele molho é preciso reproduzir, se olhar para mim não vai conseguir, fixa um ponto acima dos meus ombros e queda-se por lá até conseguir os seus intentos.
Registo este pequeno episódio porque acho curioso ela ter de se colocar no abstrato para alcançar a concentração, fixando um ponto inerte.
Podemos ser todos assim, bem sei, no fundo somos todos iguais. Mas essa ideia é derrotista, derrota-me o ato de escrever.
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