Gina, a mulher que tem um blogue

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terça-feira, 11 de setembro de 2012

As aventuras duma balconista de regresso ao trabalho

Preâmbulo

Podia dizer que é a parte dois d' «As aventuras duma balconista de regresso ao trabalho» mas isso implicaria continuar mais uns dias com este tema, ideia que não me apraz, sei que me farto de tudo com facilidade e assim antevejo o enjoo. Esta não é a parte dois de porra nenhuma, portanto, é, isso sim, um texto ao qual decidi dar o mesmo título e apresentar com as mesmas características porque o nível de criatividade anda baixo.

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Tenho saudades dos ricos filhos, estava habituada a estar com eles por perto todo o dia. Agora sinto a falta da sua presença, vozes, ditos engraçados e leves, tão próprios dos jovens.

Os adornos - brincos, anéis e pulseiras – estão a fazer-me uma confusão do caraças, cócegas e assim, o que contribui um tudo-nada para me enervar.

Ontem mantive a esperança de me inspirar por estar no lugar que mais me impulsiona a escrita. Hoje subsiste ainda uma réstia dessa esperança, quiçá vã. Tenho mais o que fazer mas estou a escrever.

Já vislumbrei pessoas de quem não tinha saudades. Já tomei consciência do mundo real, da vida real, das pessoas reais.

Escrevo para não chorar. Não, não estou triste. Não sei desenvolver o fenómeno – ou deveria dizer absurdez - mas querendo explicar, não passa disto: escrevo para não chorar.

Almoço: bife de peru com arroz branco e salada mista. Como pouco, a zona fazendo a vaza de atenuante do apetite, outra vez.

Desculpem lá o abuso mas eu sou boa de caras, muito boa mesmo. No lugar da musa, lá ao fundo, vi um jovem que antes das férias tinha um penteado invulgar, uma franja grossa e comprida, já escrevi algumas vezes acerca dele. Hoje vinha com pente 3, quase careca, estava muito diferente, todo o rosto se alterou mas reconheci-lhe imediatamente os gestos e a postura elegante e reservada.

Continuo sem conseguir ler. Ontem parei a leitura num pequeno excerto que me teletransportou para uma vacuidade indesejada, a masmorra, ou lá que é isto, sinto que sou parte daquelas palavras, estão gravadas no meu cérebro, por isso saltam à vista nas minhas atitudes e expressões:
«Segurava a carteira com as mãos, encostada ao ventre, e fixava-me com um ar de inocência e de enfado.
'Cá estou eu', dizia ela. 'Se para si for cedo demais, posso esperar, ou se tiver mudado de ideias...'*.
Dificilmente sairei da masmorra, por agora. Eu sou assim, tal e qual, frontal e lacónica nas introduções à conversa e sempre disposta a não aborrecer ou melindrar.
Sou terrivelmente desconcentrada, e nestes últimos dias piorei substancialmente. Se não há concentração para ler, a ver se escrevo então, que a bem da verdade é o que me está a faltar.

Cinco da tarde, hora de mais um passeio. Comigo tem de ser assim, há que sair para arejar, sofro dos nervos.
Enquanto caminho dou as boas-vindas ao sono, tenho as pálpebras pesadas, mal abro os olhos. Este entorpecimento é bom e sabe bem, a dormência leva-me para longe a vida, pouco me importa que uns mandem raios à direita e outros lancem bátegas de água pela esquerda, que vão todos dar uma curva enorme...

Uma conhecida minha diz que se tivesse de escrever uma história, escreveria sobre a cunhada, que é linda e tem sofrido grandes dissabores na vida.
Concordo → a cunhada dela é indubitavelmente linda, e sei por experiência que as pessoas vistosas... São isso mesmo, vistosas, dão nas vistas, é um 'empurrão' para escrever. Mas eu, que tenho a mania que sou escritora, escolheria uma pessoa cinzenta, donde não chispassem espectros luminosos, sem relevos instantâneos, pois o meu prazer em escrever é colocar o secundário no protagonismo, destacar o insignificante.

*In 'O olhar das mulheres', Max Gallo (página 114) 

2 comentários:

Manuel disse...

Passo muitas vezes por aqui mas de uma forma muito silenciosa. Leio, solto uma gargalhada ou um sorriso e passo ao post seguinte.
O comentário, julgo eu, não será importante para a Gi, pois o seu prazer reside nos pensamentos que nos vai deixando.
Mas pode ter a certeza que a visito muitas vezes.
Bom regresso a este mundo dos afazeres!

Gina G disse...

Obrigada! ;)

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