Gina, a mulher que tem um blogue

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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

As aventuras duma balconista de regresso ao trabalho

Las Chapas, 28 de agosto de 2012

Primeiro a notícia mais importante: a roupa de trabalho ainda me serve, para meu gáudio. Rejubilei, portanto, o que não costuma acontecer, que aquela indumentária deprime-me de sobremaneira, e aqui já não estou a falar de larguras.

De manhã, no carro, vinha escrevendo um post na minha cabeça - que é mais ou menos o que faço em todos os instantes da minha vida – resumiria num texto toda e qualquer pessoinha que entrasse loja adentro, referindo que todos iam perguntar ‘então e as férias?’, e imaginava que veria a dona Adelina, a dona Luísa, a dona Delmira, a dona Marília, a dona Maria do Céu... Mas ninguém apareceu. Excetuando as últimas duas, sendo que a primeira nem se lembrou das minhas férias e a segunda veio pedir emprestados dez euros, o que as coloca bastante arredadas do assunto ‘férias’, pelos vistos.
Tomei contacto com vendedores e clientes, já se sabe, uma balconista não o é sem estas classes. Reformulei pela enésima vez o pensamento desmoralizador: não tenho vocação para esta profissão.
Dos vendedores, um, ao telefone, foi chato como a potassa – ou não fosse eu droguista -, queria vender tudo duma só vez. Outro, mais comedido, com um ar de Jeremy Irons mas em tamanho minhon foi tão simplório que deu pena, vá lá, homem, deixe lá um cartãozinho que eu prometo pensar em si quando o estiver a arrumar.
Dos clientes, um perguntou-me desde quando é que o restaurador olex é àquele preço, ao que eu me limitei a encolher os ombros e dizer baixinho: ‘desde agora’. Outro diz que um canivete pequeno é suscetível de ser mais barato, deu-me vontade de responder ‘cá para mim você gastou o dinheiro todo nas palavras’.

Almoço: peixe assado. Esta zona tem em mim o efeito de me tirar o apetite, o que não é de todo indesejável, a fome não me faz falta nenhuma.

No deambular, que retomei de bom grado, corria um ventinho agradável. A minha franja andava aqui aos rebolões, tapava-me a visão, quase desejei ter o penteado da miúda do rés-do-chão - que tem cancro e anda careca pela rua passeando o cão – mas sem a chatice do cancro, claro.
Que não se ligue muito a este item, são resquícios das férias, esse tempo que estupidifica qualquer um.

Um dos sofás pretos tem um pé torto, prestes a partir de vez, por pouco não caí eu. São aquelas senhoras da avenida que andam sempre a arrastá-los para se sentirem juntas e aconchegadas, ouvirem-se melhor.

Não consegui ler, tudo me desconcentrou. Preciso de escrever.

Na cave, tudo na mesma: o radio precisou da carícia habitual para se lhe soltar o som e as prateleiras estão empoeiradas e inertes, esperando que alguém lhes mexa → eu...

No resto do dia, tudo bem. Tirando a agonizante dor de pernas - já nem me lembrava que existia este tipo de dor, credo, oh céus -, mais a dorzinha de cabeça parva, a dorzinha é que é parva, não eu, pois tudo muito bem sim senhores, o dia passou-se muito bem mesmo. Só por dizer que tive pouco tempo para escrever, o regresso sempre me azafama, pouco descanso enquanto não vejo tudo encaminhado, daí este texto produzido à pressa, ainda que não se note pressa nenhuma nas minhas palavras, tenho a certeza, se algum leitor chegar aqui vai pensar ‘ena, que texto fantástico, nem imagino como escreverá esta senhora quando está inspirada’.


2 comentários:

Manuel disse...

Donde se conclui que continua elegante.

Gina G disse...

Hum...

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