Loures, 8 de setembro de 2012 |
Tenho um vizinho que passa o dia à janela do seu rés-do-chão, não fazendo, portanto, a ponta dum corno. Consta-se que passa substâncias ilícitas através dos jovens do secundário e ao que parece possui um historial (afamado entre as gentes deste bairro) de ex-presidiário.
À parte estas questões, é notoriamente um bon vivant, é muito comunicativo e prestável, nomeadamente a abrir a porta da entrada aos vizinhos que chegam carregados com sacos de compras, isto estando dentro da sua casa. Dá a ideia de que o homem faz o que faz com as substâncias mas quer cair nas graças do povo, particularmente os deste prédio.
Fui várias vezes uma das felizardas a quem se lhe abriu a porta como que milagrosamente. Um amor, este vizinho. Desfazia-me em agradecimentos sempre que a minha entrada no prédio era favorecida por tão gentil alminha. Para que me interessa se o homem foi, é ou faz, né? Quero lá eu saber... Abra a porta, que a gente até esquece, vá.
Até um dia, pois há sempre um dia.
Um dia ouvi-o bendizer a mulher, que é uma moira de trabalho, que faz muitas horas seguidas, chega extenuada e ainda vai cuidar da bebé e da casa, batati-batatá, pardais ao ninho. Não me contendo, soltei um 'haja alguém que trabalhe!'. Asseguro que só quis ser engraçada mas não obtive sucesso.
(Pela boca morre o peixe...)
Resultado: o homem nunca mais me facilitou a entrada... Venha eu carregada, ou não.
Tenho um vizinho que tem um Ford Fiesta. Anda sempre em alta velocidade por aqui, fazendo crer que tem uma bólide nas unhas. Mas não tem. Não sei explicar isto, só sei que o carro não vale nada. Não há praticamente dia nenhum em que não veja a porra do homem. É enorme, tem uma voz possante, é presunçoso que se farta. Já chega, que já estou a dar importância a mais...
Os meus vizinhos de cima são pretos. (Fica mais bonito se escrever africanos, né?) Pelo que se me consta são cinco: pai, mãe e três filhos ainda crianças. A miúda do meio caga-se de medo da Olívia, vá-se lá saber porquê, a minha cadela é um doce de bichinha. Agarra-se ao irmão mais velho ou à mãe ou ao pai. Raio da miúda, pá! Um dia 'inda lhe pergunto: 'olha lá, tu és preta (ai, perdão, africana) e a Olívia também é escurinha, já viste? Não tenhas medo, rapariga...'
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