Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

sábado, 8 de setembro de 2012

Falta o Marinho...

Era agosto, ainda. Passei junto ao gradeamento da escola pública, vazia nessa altura, e vejo uma figura pequena e redonda lá dentro, varrendo o enorme espaço. Era um homem mais ou menos da minha idade, que em tempos foi criança, como eu. Brincámos juntos, às escondidas, só os dois, é a recordação mais viva que tenho. Era giro brincar com ele, fácil. Não gostava da desordem nem de guerrear, já em criança essas facetas representavam um entrave nas minhas relações, logo, éramos grandes amigos.

É o Marinho, um dos jardineiros aqui da cidade.

Meti-em com ele, chamei-o:
- Marinho!
Atendeu-me e aproximou-se, perguntei-lhe se se lembrava de mim, tirei os óculos escuros para o facilitar, fez um esgar duvidoso.
- Sou a Gina...
Lembrou-se imediatamente, vi no seu rosto. Senti-me aliviada. Reconheci-lhe traços físicos da mãe, inclusive, e por estranho que pareça, o tom da voz. Entretanto fiquei vazia, sem assunto, sei que a mãe e o pai morreram há vários anos, não ia perguntar por eles, e a irmã é uma pessoa que não me interessa... O local e a sua atividade salvaram-me.
- Andas a limpar a escola?
Retirava as plantas que cresciam nas juntas dos mosaicos, que agora, sem as crianças por ali, haviam crescido imenso, e para além disso com a escola de repouso é que era.
Perguntei-lhe se se importava que eu lhe tivesse chamado Marinho, pois era conhecido por esse diminuitivo na infância. Claro que não, disse, ainda há pessoas que 'coiso'.
Ali pelo meio fui-me lembrando que ele teve um deficiente aproveitamento escolar, nunca foi muito esperto na escola e isso afinal refletiu-se na sua vida adulta, sendo que ainda diz 'da Murteira' quando deveria dizer 'na Murteira' e tem grande dificuldade em se expressar.
- Gostei de te ver, Marinho. Mesmo a sério.
- Também gostei.
Falámos pouco, não passou disto. Curioso como as pessoas que tanto preencheram a minha vida, hoje, chegada a este estágio, não há cumplicidade, a menos que me agarre ao passado. Mas o passado não me sustenta...

Sem comentários:

Arquivo do blogue