Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Lugar da musa

Vou falar do moço que serve cafés no lugar da musa e do desfecho daquele recadinho que há exatamente dez dias atrás lhe deixei por baixo do pires.
No primeiro dia em que o reencontrei ao balcão servindo os cafés do costume, vi-o cheio de salamaleques. Sério. Bom, na realidade este moço é pouco viril e tem um jeito manso de falar e de manusear o que quer que seja, portanto os salamaleques não faziam assim grande diferença dos seus costumes, contudo atentei nele a ver se.
Levou um ror de tempo a medir o pó de café, a certa altura 'sujou' o rebordo do manípulo e atrapalhou-se. Escolhida, finalmente, a quantidade de pó, calcou-o montes de vezes, não contei quantas mas foram muitas, deu três apertões no manípulo. E asseguro que quando digo 'três' e 'apertões' não estou a exagerar. Quanta virilidade, oh céus.
Não, nada disso, é muito brando, este moço.
Quando pousou o meu café no balcão disse 'aqui tem' com um sorriso meio tímido, quando colocou o pau de canela no pires disse 'aqui tem' com um sorriso meio tímido e quando colocou a bolachinha no pires disse 'aqui tem' com um sorriso meio tímido. Ao ver, e viver, tudo isto, não sei a cara que eu estava a fazer, mas tenho para mim que sorria tão timidamente quanto ele, e interiormente estava convencida que ele lera o recadinho, só me resta saber se isso era notório ou então não. Teria de ser ele a dizer, não é. É.
Mas não.
O café estava mal tirado. Bah. Escrevi um recadinho que não deixei debaixo do pires por conta de estas coisas da escrita promoverem certas paixões. Efémeras, decerto, mas pronto, escrever é perigoso, sei disso há qu' anos.
A saga continua abaixo da imagem que mostra o recadinho que ainda lhe escrevi, mas.




Não satisfeita, no segundo dia em que me relacionei cafeínicamente com o moço, voltei a observar todos os seus gestos. A mesma precisão na quantidade de pó, mas mais, muito mais esmero na pressão. Cinco. Cinco pressões naquela peça para calcar o pó, e o manípulo foi empurrado com muita vontade. Lá vontade tinha ele. Só podia sair um café muito bom, não é. É.
Mas não.
Ele hesitou bastante por entre todos os gestos. Acho que as hesitações estragaram o café. Que porra. Tanto medo, 'migo. Depois, eu já sentada e tal, lançou-me uns olhares de soslaio ao retirar as chávenas das outras mesas.
Agora, ou seja: hoje, sempre que para ali estou a rabiscar nos papelinhos, sinto-me esquisita.
Conclusão:
O, moço, que, serve, cafés, no, lugar, da, musa, não, só, leu, como, percebeu, o, meu, recadinho.

2 comentários:

Manuel disse...

Não terá ficado ofuscado pela beleza da cliente?
Às vezes acontece.
A propósito, no campo pequeno, há um café que frequentei muito.
Tinha um empregado, tão burro, que um dia ouvi, um cliente, pedir um café com a asa da chávena voltada para a direita.
O pobre, quando voltou, colocou a chávena com a asa para o lado esquerdo.
cliente disse: Eu pedi com a asa para a direita.
O empregado respondeu, desculpe vou buscar outro.
Juro que não é anedota.

Gina G disse...

Não creio que seja ofuscamento, Manuel. O moço é lento de natureza, falta-lhe um certo vigor. E é muito jovem. ;)

Esse episódio que contou parece mesmo uma anedota. :)

Arquivo do blogue