Fevereiro; 2009; Hospital de Santa Maria:
«Numa das refeições tomadas no refeitório reparei num homem que olhava insistentemente para mim enquanto eu bebia a sopa. Passados alguns instantes, um outro olhava de soslaio enquanto eu tentava abrir, desajeitadamente diga-se, o invólucro que continha a colher que me levaria o pudim à boca.
Tendo a achar que não tenho graça, porém, momentos há em que me parece que divirto as pessoas de alguma maneira. Neste caso, pela originalidade demonstrada no modo como comi a sopa e pelo desajeitamento em levar a cabo uma tarefa tão simples como abrir um invólucro de plástico...
Não posso dizer que tenha sentido muita vergonha por me estarem a observar, um tão atentamente e outro fingindo nem reparar, mas logo que acabei de comer, tirei o meu caderno da mala e refugiei-me na minha escrita. Há vezes em que é aí que vivo por não saber como viver no mundo de outros.»
Abril; 2014; Lugar da Musa:
Habituei-me a abrir o invólucro da bolachinha sem fazer caso dos barulhos. Monsieur Dupond (ou Dupont) incomoda-se ligeiramente; o moço do penteado estiloso não se desconcentra; a igual aparenta não me ouvir.
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