Fui almoçar a casa de uns amigos. Uns conhecidos, quero eu dizer, que amigos são outra coisa.
A anfitriã havia-se esquecido de preparar a saladinha à portuguesa: alface, tomate, pepino, cebola. Já sentada à mesa desmancha-se e desabafa que tinha tudo comprado mas fazer a salada é que não se tinha lembrado. Acrescenta ainda que não aprecia saladas e verduras, só não diz o quanto odeia por vergonha das visitas. Mas o marido adora, o filho mais velho idem, e ela, por si só, lá se convence:
– Vou fazer a salada, faço-a num instante!
– Ó ‘mor… Não te importas?
Diz ele cheio de amabilidades, valorizando imensamente o préstimo forçado dela...
A refeição quase terminara. De sobremesa houve mini gelados pastosos e sensaborões, o que contrastou um pouco com o prato principal – frango à brás – a qual, sendo uma refeição económica, estava bastante saborosa.
Fui a salvadora do momento doce, levara de casa uma musse de bolachas oreo que é simplesmente divinal. Até os manos mais novos da anfitriã, filhos da mesma mãe mas de pais diferentes, dissera ela por entre garfadas, os dois calados e sorrateiros se lamberam com a minha iguaria.
Comecei por ajudar a levantar a mesa mas mandaram-me parar, uma visita não trabalha e blás, aquelas coisas que a gente diz para parecer bem mas era uma sorte do caraças que alguém tivesse a trabalheira, que não nós.
Quando dou por isso está o anfitrião lavando a louça e elogiando a minha taça, que bonita é. E a anfitriã, que é feito dela? Está lá fora na varanda, fumando um cigarro.
Sou invadida por aquele sentimento tão bem descrito numa canção d' agora: 'os maridos das outras'. Porra, pá, olha só a sorte desta cabra! Eu cá não fumo, tudo bem, mas era fixe o meu marido tratar da louça enquanto me dedico à escrita...
Acabou a refeição. Está um calor que não se pode dentro daquela casa minúscula. Olívia, a minha cadela, está apreensiva, ainda não saiu de debaixo da mesa. Todos falam, gesticulam, defendem umas ideias, anuem a outras. Eu não, estou prestes a aborrecer-me, exausta de me forçar a sentir (ou a parecer...) bem-disposta e alegre. Quem dera ser uma cadela ou outro bicho qualquer...
Sinto-me diferente mas faço finca-pé: não sou diferente, quero antes dizer: os outros é que são diferentes. Eu não tenho nada que me sentir deslocada no meio das pessoas só porque elas são diferentes de mim...
(Iupi! Sou escritora, iupi! Duas vezes, duas vezes, duas vezes - três, afinal?! - escritora! Já não vale pela unicidade, iupi!)
Sou tão diferente. Queria tanto não o ser.
Gina, a mulher que tem um blogue
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