Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Gesto

Não sou mulher de fazer figas, numa ânsia de obter graciosamente uma vida escorreita. Antes busco uma esperança fervorosa, o que é precisamente o mesmo mas sem o gesto de entrelaçar os polegares nos dedos vizinhos.

Hábito

Habituaram-se a ver-me rabiscar, os meus.
Habituaram-se, deixou de ser novidade, agora é banal, doravante não surpreenderei mais.
Habituaram-se a ver-me inquirir, averiguar, e até a desesperar, os meus, por causa do meu gosto pela escrita.
Mas não é que me entendam. Os meus também não me entendem. Nem eu já espero nada disso...

Amizade

Não são só as crianças que têm amigos no imaginário. Precisa-se ao longo da vida de amigos perfeitos, como não os há, imaginam-se assim → corteses e dispostos.

Folhas à chuva

De repente pareceu-me que as folhas encharcadas que se espalham pelo chão de Lisboa se transformavam num lago acastanhado que me engolia. Fiz um esforço imenso para sair dali. As folhas ladeavam-me e sugavam-me mas eu fui mais forte.
E tudo passou, porque, em conseguindo, posso imaginar o que me aprouver.

Abordagem

A cigana mostra-me uma mala vermelha, enfiando-a debaixo do meu chapéu-de-chuva. Quase me assusta. Deixa-me da mão, ora que porra!

Poesia

Eu. Simplista na prosa... Logo...
Simplista na poesia.
Eu.

Ao ritmo

O fascínio que o tempo e os relógios exercem sobre o ser humano é devido a algo intrínseco. O tempo representa uma cadência precisa, o que se assemelha ao batimento cardíaco. Assim fica-se igual, a solidão já não apoquenta. Para algumas pessoas o relógio significa o controlo do tempo, ilusório, por sinal, que o tempo não se controla, nem se detém.
Há outras cadências: a música, o matraquear dum qualquer motor, o mar, a sucção: deslumbram, divertem ou saciam; o pingo da torneira, o tiquetaque do relógio, o tamborilar de dedos, o fungar e/ou o pigarrear constante: desorientam, irritam ou enlouquecem.
Há outra questão que quero registar: quando as pessoas estão deprimidas em elevado grau têm tendência para balançar o corpo e arrastar os pés, rebuscam a cadência, portanto, o que me leva novamente à questão do intrínseco, vai-se ao interior, procurando o núcleo, como se esses ritmos e sons trouxessem a bonança. E trazem.
Há também, e por último... Último porque já não lembro mais ritmo nenhum... O ritmo sexual. E o melhor que tenho a fazer neste momento é abandonar timidamente esta ideia espetacular relacionada com cadências e interiores porque não encontro poesia no ritmo sexual. O sexo não pertence ao espírito, é animalesco, irracional, orgânico.
Ah, já agora: os ritmos desta vida são prazerosos ou então não. E é só. Ou devia ser só, eu cá tenho a mania de querer explicar questões que não se explicam.

O homem só

O meu colega tem uma cliente que jura lá em casa nunca ter entrado outro homem senão ele, desde varões de cortinado colocados a fechaduras e canos substituídos, sempre foi este meu colega quem por lá se moveu. No masculino, bem entendido.
A senhora vive com a mãe (viveu sempre), é muito ajuizada, ajuizada até demais (este reforço de palavras pertence à própria), o que me leva a crer que o 'problema' é exatamente esse, o juízo...

Dia de chuva

A dona Lurdes diz que 'sol e chuva ao mesmo tempo é casamento de uma viúva'. Sorri e levantando as mãos ao céu numa prece esperançada, pergunta:
– Será que sou eu, meu deus?
E continua, agora menos romântica, impondo condições:
– Mas desta vez tem que ser com um de que eu goste, ouviste, deus?

Pezinho de borracha

O senhor polícia (pergunto-me se devia escrever 'polícia' com letra maiúscula, afinal de contas é uma autoridade) estava a comprar um terminal de borracha daqueles que se põem nos pés dos bancos ou cadeiras mas com o intuito de o pôr no seu bastão. Penso eu que era no bastão, afinal o negócio não estava a ser comandado por mim, mas eu estava tão curiosa que espreitei rodando a cabeça naquela direção enquanto as mãos continuavam o trabalho de arrumar os pensos higiénicos e os lenços de assoar na prateleira. Ora bem, caiu tudo ao chão. Ainda apanhei os pensos no ar mas quando o fiz ruiu a fileira de lenços e na tentativa de apanhar tudo... Tudo caiu. Ninguém me ligou porra nenhuma pois como se sabe eu sempre faço tudo em poucochinho e/ou num fraco sussurro.
Mas a moral da história, o fulcro da questão, é o bastão do senhor polícia (Polícia, será?) com um pezinho de borracha de três quartos de polegada (mais coisa menos coisa, ou por outra: pra que é que isso interessa?), isso sim.

Ponto de exclamação!

Olha só: os mestres da escrita advertem os aspirantes a escritores a não abusarem do ponto de exclamação!
Homessa!
É tão mal amado, este sinal!

Requisição

Às vezes é preciso os clientes deixarem nome e número de telefone, por uma questão de ética ou puramente pró-forma. Uma dessas vezes foi assim:

– Diga-me o seu nome e o contacto, por favor. – Peço eu.
– Olhe, - Diz ela toda despachada – O contacto é Natividade, agora se quiser ficar com o número de telefone...

A lavadeira saloia

A Adília lavava a sua própria roupa no tanque coletivo de Loures. Tinha quinze anos, uma mãe mais velha que a minha, o que muito me alegrava*, vivia numa barraca sem luz e sem água canalizada, sita mesmo ao lado do tanque municipal e tinha mau aproveitamento escolar.
Um dia, durante uma daquelas aulas em que éramos colegas de carteira, pusemo-nos a riscar a roupa uma da outra. Qual de nós terá começado a tonta brincadeira? Não me lembro.
A Adília tinha uma saia cor-de-rosa, eu tinha umas calças beges, a caneta era escura, grandes riscos, grande contraste, cada uma de nós chegou a casa num lindo estado... Recordo ela dizer em voz desconsolada que ia ter de pôr a saia na lixívia e que a mãe ia ralhar muito, em calhando levava pancada. E eu? Eu estava na boa, imbuída dum espírito rebelde, quando mostrasse as calças pintalgadas à minha mãe logo se veria... Não deve ter acontecido nada de especial porque não tenho na memória qual foi a reação da minha mãe.

*Em criança eu tinha o trauma de ter uma mãe 'velha' porque a minha era sempre das mais velhas, senão a mais velha de todas as mães dos meus colegas. Anos mais tarde a vida proporcionou-me um facto especial para contrariar essa ideia: ser sempre a mãe mais nova quando comparada com as mães dos colegas dos ricos filhos.

O riso

A dona Almerinda ri-se muito dos meus comentários. Riso sonante mas salobro, é demasiado para a graça que tenho.
Não creio que ela finja o riso, antes creio que assim faz porque se sente sozinha e gosta de participar no meio.

Apressadamente

Cliente quer uma lanterna, tem o marido idoso e algo dependente no átrio do prédio às escuras, esperando a luz que ela há-de levar.
Droguista avia-a o melhor que pode mediante a rapidez solicitada.
Cliente está muito ansiosa, o marido ainda se mete escadas acima.
Droguista explica (mediante a rapidez solicitada) como funciona o pequeno objeto.
Cliente anui, acalma-se um pouco.
Droguista vai buscar as pilhas, insere-as no compartimento e... Tcharam, faz-se luz.
Cliente ainda quer uma esponja de banho macia para lavar o marido.
Droguista mostra o que há.
Cliente escolhe, pede desculpa por estar tão apressada, agradece imenso, estende a nota.
Droguista responde 'deixe lá isso, não há problema' e busca o troco.
Cliente com gestos imprecisos prepara-se para sair mas deixa cair no chão a lanterna cuja tampinha lhe salta o que faz com que já não acenda. Marido à espera, 'ai meu deus que ele vai por ali acima e noutro dia caiu, veja lá'.
Droguista segura na lanterna, meio atarantada, clica no sítio que supostamente faria aparecer a tão desejada luz e percebe que mantendo o dedo ali a luz também se mantém.
Cliente diz que não faz mal nenhum, mete o dedo ali e pronto, para agora, para já, para este momento serve bem, ir ter com o marido que a espera ou estará na iminência de se mover escadas acima é prioritário. Despede-se, então.
Droguista retribui o adeus e logo depois dá por falta de uma esponja, há pouco mostrara dois tipos à cliente... Certamente com a pressa a cliente pusera tudo de rompante dentro do saco. Espera-se então até amanhã, a ver o que dá.
O amamnhã chega e é encontrada no chão uma rodela em acrílico, o que faz lembrar esta droguista que é bem capaz de aquela coisinha ser da lanterna da dona Marta. E era, horas depois lá vem ela, ao chegar a casa, depois de sossegar, com calma, verificou que levara uma esponja a mais inadvertidamente. E já agora, se não haveria pelo chão uma chapinha ou algo assim...

E agora falo eu: ou seja, ontem não quisera saber ou esperar, estava muito bem assim, resolvia e tal, e hoje, depois de acalmar os ânimos lá vem ela toda lampeira para eu lhe resolver o berbicacho.
Não sei porque é que as pessoas correm. Mas correm. Corremos todos. Se há recompensa no final...? Também não sei.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Obra amorosa

Estou cansada. A sério, estou muito cansada da minha obra amorosa, naquele ponto em que já não posso olhar para as minhas próprias palavras sem que me apeteça desistir de as enviar para a editora. Portanto... Abandono hoje a minha obra, fica assim, não mexo mais.
Resta-me uma espécie de consolo: o prazo de entrega termina amanhã, e ao menos não deixei o envio para o último dia, última hora, últimos cinco minutos, como fiz da vez anterior.
Já enviei, já está. Se os senhores que vão ler aquela merd... Ai perdão, aquela obra amorosa não a julgarem suficientemente boa para integrar a próxima coletânea... O blogue acolhê-la-á sem refilar e siga a vida.

Poemas...

… Já não os há. Pelo menos por agora. Estou um bocado vazia, inclusive para prosar divinamente. Se é que me faço entender. Digo divinamente considerando que escrevo divinamente em certos dias, claro está, que isto do ego é uma coisa que não desaparece, não senhores, e às vezes acho-me muito boa nisto de escrever. Mas hoje não, por isso escrevo ao contrário, que quando me acho muito boa não digo (escrevo) nada disso, não sou capaz.

Mastigação

Mastigar um pedacinho de noz-moscada que o cozinheiro inadvertidamente deixou escapar para dentro da panela do guisado... Não é fixe. A boca fica quente, ali entre o piripiri e o mentol.

Agora me lembro

Para espantar o frio tenho outra coisinha: falar ao telemóvel com o homem do computador aqui do estamine, combinando os termos do próximo update em plena avenida onde há banzé pra caraças. Qual frio, qual quê... Nadinha, nadinha.

Querer saber

Então, está tudo bem?

Vamos indo... Como diria a minha mãe.

Tudo bem. Como diria o meu pai.

Porque este blogue não é um blogue normal...

… Este post vai existir.

Ontem publiquei um postzinho e hoje publicava um postzinho apenas, não? Nem pensar! Este blogue faz-se de muitos, muitos, muitos posts, engordando a cada dia que passa. Sou uma exagerada.

Coisas

(ou então)

Post sem título

Introdução:
(Há sempre uma maneira gira, um ponto de vista que faz sorrir, um lado curtido, um prisma diferente de ver as adversidades da vida.)

Problema:
Como deixar de sentir a porra do frio entrando por entre toda e qualquer costura da roupa ou frecha natural, normal e necessária?

Solução:
Conduzir um carro que apita repentina e insistentemente, mostrando luzinhas imensas no tablier que piscam e piscam e piscam, e ainda por cima só a custo se lhe consegue virar o volante. Mas a muito custo mesmo, assim como que os carros de antigamente mas trinta vezes pior, para aí. Isso mesmo. Um horror. Uma aflição do caraças. Paredes e muros direitos a mim, o volante não rodava com o despacho habitual, ah pois é. Cheguei ilesa ao meu destino, ao menos isso.

Conclusão:
Qual frio, qual quê? Eu cá, nessa hora, estava capaz de sair à rua com um vestidinho de alças e um cardigan curto de malha fina pelas costas e nos pés umas sandálias de tiras... Destemidamente.

Nota de rodapé:
Pois é: o meu carro avariou. Ou por outra: o meu carro avariou e depois avariou da mesma avaria que afinal nem era aquela avaria, era outra. Ou é outra. Ou isso, já nem sei. Note bem: o meu carro voltou a avariar ao sair da oficina...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fiz bolo


Hoje fiz um bolo, é isso mesmo que eu quero dizer. É quarta-feira e eu fiz bolo. Tive a tarde livre por causa de virem uns senhores cá a casa buscar-me a máquina da roupa que avariou, a malvada. Agora valha-me a vizinha de baixo, que é uma querida, no sábado lá vou eu descendo as escadas com sete quilos de roupa para ela ma lavar...
Fiz um bolo (acho que já toda a gente percebeu essa parte) de coco e anis e para isso inspirei-em nesta receita. Alterei umas coisinhas, claro, é meu costume, achei que na receita sugerida neste blogue havia açúcar e farinha a mais e manteiga e ovos a menos. Portanto, lá vai a minha receita:

Bolo de Coco e Anis Estrelado

Ingredientes para o bolo

6 ovos
200 gr de manteiga amolecida
400 gr de açúcar
400 gr de farinha
100 gr de coco
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
250 ml de leite
1 colher de café de essência de anis
(também se pode ferver o leite com duas ou três florinhas de anis e deixa-se arrefecer completamente antes de adicionar ao bolo, esse será portanto o primeiro passo.)

Preparação

Bater a manteiga com o açúcar. Quando esbranquiçado adicionar as gemas uma a uma. De seguida juntar o coco, o leite, a farinha e o bicarbonato e por último as claras em castelo. Levar então ao forno em forma untada de manteiga e enfarinhada durante 40 minutos, mais coisa menos coisa.

Ingredientes para a cobertura

1 chávena e meia de leite
1 chávena de açúcar
100 gr de coco
1 colher de sopa de manteiga
1 gema
1 colher de chá de essência de baunilha

Preparação

Ferver o leite com o açúcar. Adicionar o coco e a manteiga e deixar ferver até fazer ponto de estrada. No fim, juntar uma gema de ovo desfeita, mexendo rapidamente para não talhar. Aromatizar com a baunilha. Cobrir o bolo com este creme. Polvilhar com coco... Ou então não.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Vendo as vistas

Lisboa, avenida João XXI. Do lado direito de quem segue na direção do Campo Pequeno, depois de passar o cruzamento com a avenida de Roma, há uma subidinha com árvores de folhas vermelhas que andavam num sarrabulho quando por lá passei. Havia folhas no ar, no chão e ainda no arvoredo.
Do outro lado da rua também há árvores com folhas ainda fixas e agarradas aos ramos, ou no chão, ou pelo ar, bailando ao vento, só por dizer que são noutras cores: amarelas e castanhas.
Lá ao fundo, mais junto ao Areeiro, as folhas estão mescladas a dois tons, umas são amarelas outras ainda estão verdes, parece um estandarte brasileiro. Sei lá, a mim lembra-me e pronto, hoje não tenho poesia…
Sim, é bonito, o outono é bonito e colorido. E ventoso, já agora.

Versejar

Não sei fazer poemas, senhores
Não sei falar de amor nem de fadas
As minhas apresentações
São desvarios literários
Em frases curtas
Sem pontuação

Essência

Quando te afastas sabes que deixas um rasto olvidável. É a tua essência, mulher...

Gostos

Costa de Caparica, 28 de outubro de 2012

A minha cadela, além de ser uma desavergonhada, prova disso mesmo é a foto acima onde mostra as suas partes íntimas a quem quiser ver, gosta de vinho tinto, whisky e sorve uma tigelinha de caldo de legumes em três segundos, palavras do rico filho. Que bicha mais interessante havia de cair neste lar...

Blás

Então a senhora está-me a dizer que blás?
Sim, eu estou-lhe a dizer que blás.

(Não estou a dizer nada diferente de blás, não senhor. A mania que as pessoas têm de sacudir a água do pacote usando os outros, pá...)

Recadinhos

Já cá faltavam os recadinhos do rico filho...

«Tirei um euro ao pai pq preciso para comprar uma folha de teste.»

«Se puderem dar uma volta com a Olívia dêem pq eu adormeci e agora tou bué atrasado.»

Obra amorosa

Por aqui continua-se nas...

Sobras de amor

Há alguma prova de amor maior que a mãe doar um rim à filha necessitada dum desses órgãos?

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Lar tenebroso

O corredor da dona Petra é duma escuridão absurda, e range, balança e assusta, o coração de qualquer um dispararia ao pisar aquele chão – não sou a única... Tenebroso, mesmo tenebroso. Só falta haver um gato preto e baço deambulando pela casa toda a soltar miaus de vez em quando, a dona Petra ter uma verruga enorme e peluda no queixo e um caldeirão suspenso por cima duma chaminé à antiga, fervente e espumoso.

A compustura duma senhora

Dona Genoveva sai do prédio toda aperaltada. Chapéu de abas largas, clássico e vistoso, batom grená, bengalinha com pega dourada e lustrosa, como se a empregada lhe tivesse passado o pano mesmo agora.
Segura na porta, resoluta. Arruma-se, empertiga-se e avança, cheia de glória. 'Deve ir ao cinema com as amigas', penso eu. Esse encontro social parece ser o mais comum na sua vida, daí a minha ilação tão pronta.
Assim que a dona Genoveva inicia a marcha algo titubeante, fingindo uma segurança nas pernas que não sente, dois jovens desatam a rir, escarnecendo da senhora, pois parece-lhes uma figura patética. Não gostei... Mas pronto, são jovens, insensíveis, distantes do envelhecimento e quiçá da morte. Siga a vida, entretanto.

O cabo

Lá vem ela, traz na mão uma vassoura, transporta-a na horizontal, quase esventra quem se lhe cruza no caminho. Tem um olhar profundo, dois lagos azuis donde emana um sentimento cheio de seriedade. Raramente um olhar azul é benigno.

Três

Três poemas?
Sério?!
Mas então sei fazer poemas, é...?

Ora bem, creio que já deixei registado por aí que me tenho dedicado um pouco à poesia nas últimas semanas. Não, não sou poeta. Não sou mesmo, não tenho qualquer dúvida desta afirmação, a poesia é um riacho que não banha a minha mata. É um tipo de escrita que flui momentaneamente, preciso de momentos específicos, muito sós e terrivelmente tristes, não há como reter os sentimentos, atafulhá-los todos cá dentro e depois, quando posso escrever, quando tenho tempo para isso, deixar sair em forma escrita como faço com a prosa. Não dá. Para mim não dá. Falo apenas em nome da minha pessoa, obviamente, e salvaguardo desde já a hipótese de um dia mudar de opinião.
Mas... Fiz uma série de poemas e publiquei-os num grupo na página da editora (Pastelaria Studios Editora)no Facebook. Recebi alguns comentários e outros tantos 'gostos', se bem que estes últimos não me entusiasmam porque as pessoas podem clicar sem querer e/ou sem ler, já os comentários provam que a pessoa leu. Uma das pessoas que comentou afirmava que eu tenho veia modernista, o que me leva a crer que fujo ao tradicional, que eu cá, se há assunto do qual não percebo patavina, é de estilos literários.
E, já agora acrescento, acho que os participantes deste grupo vão ter a possibilidade de participar numa antologia poética a publicar no próximo inverno. Para tal serão escolhidos três poemas de cada um. Não sei se percebi bem, se é para todos, se só para os melhores. Seja lá como for estou curiosa, caso seja uma das escolhidas, de perceber quais serão os meus melhores poemas...

Obra amorosa

Ando aqui fartinha, fartinha, tão fartinha da minha história de amor. Hoje não lhe pego mais, estou naquela fase em que me parece que escrevo uma história básica e desengraçada. E abrutalhada, ainda por cima. Eu não sei falar de amor... Oh céus!
Tenho de descansar, por ora estou exasperada de mais para continuar. Amanhã vou achar um piadão às minhas palavras amorosas... Mantenho essa esperança, é o melhor a fazer por agora.

Frases do amor doutros poetas, ouvidos no radio durante este dia:

'Cause to love you
Mean so much more
(Finger Tips)

Nem que eu morra aqui,
Mulher tu sabes o quanto eu te amo
O quanto eu gosto de ti
(Os Azeitona)

Hei-de te amar
Ou então hei-de chorar por ti
Mesmo assim quero ver-te sorrir
E se perder
Vou tentar esquecer-te de vez
Conto até três
Se quiser ser feliz
(The Gift)

Ahora, que me he quedado solo
Veo que te debo tanto y lo siento tanto
Ahora, no aguantaré sin ti, no hay forma de seguir
Así
(Pablo Alborán)

Diz que...

… As orelhas nunca param de crescer, viva a pessoa o tempo que viver. Hoje fui contemplada com a visão dum par de orelhas fenomenal, em termos de tamanho, já se vê, o que faz jus ao que se diz por aí.

Perseguição

Posso entrar atrás de si?

Ó 'migo, então não pode?! Sabe, normalmente as pessoas andam atrás de mim sem pedirem autorização, o senhor é diferente. Bem-haja.

Obra amorosa

Vou editar aqui as minhas sobras de amor. Ideias que tive para criar a minha história, que hoje não passam de tópicos que não soube desenvolver. Talvez no futuro me lembre destas ideias e as cozinhe em lume brando para ficarem tenrinhas, ou as toste para criar uma crosta rija e saborosa. Se não... Olha, para aqui ficam e não falo mais disto.

Sobras de amor

A felicidade pode ser momentânea. Tal e qual como o amor. A vida é feita de altos e baixos... Mas isso já toda a gente sabe.

Milena tem um amor descomunal à escrita. Tanto deixa fluir o assunto como se atemoriza com as reações dos leitores. Que inconstância...

Um dia, ainda namorávamos, tu estavas a passar a ferro a tua camisa. Eu esperava-te, íamos sair. De repente olhaste-me tão intensamente que me assustei, não soube o que fazer com esse fogo desconhecido. Só anos depois é que percebi, era determinação o que o teu olhar denunciava. Hoje sei que és uma mulher determinada.

Relação amor-ódio. Extremos que através do hífen - esse sinal de ligação - se tocam.
Ele gosta dela, tem-lhe amor e dedicação, desfaz-se em boas maneiras. Por outro lado, odeia-a num misto de orgulho e desprezo.

Do lado de lá da avenida, esperando o sinal abrir, está um homem de rosto disforme, que não percebo se é mongoloide ou puramente feio. O sinal abriu, aproximámo-nos e cruzámo-nos, ombro no ombro. Olhei-o destemidamente, era feio, era. Muito feio. Horrendo. Senti-me tão bela, a bela da história, e ele era o monstro. Só faltou o amor entre nós...

Às vezes não ouço bem

Um cliente queria saber se o jerrican era homologado para transportar combustível. Eu percebia amolgado mas respondia como se ele tivesse dito homologado. E ele, efetivamente, disse amolgado... Mas eu às vezes não ouço bem.

A pergunta

Esteve aqui um senhor que me perguntou se eu fazia descontos a arquitetos, respondendo logo de seguida - ele mesmo - que não, o que me livrou duma resposta negativa, e depois, inexplicavelmente, fiquei cheia de calor.

Provérbio cheio de fiéis seguidores

Não faças hoje o que podes guardar para amanhã.

Aviso

Conselho aos cibernautas de todos os tipos:

Não enviem mails com dois ou mais assuntos. O recetor responderá apenas e só ao último assunto exposto. Garantidamente.

Beleza no masculino

No café Império o António Calvário está exposto numa foto enorme e sem grão. Nada de porosidades na tela, não senhores, apresenta uma pele lisinha, lisinha, e uma candura muito angelical. Tem uma pose estranha, no entanto, é meio efeminada, encosta as costas duma das mãos na face, obliquamente.
Era de facto um homem bonito, não admira que as donzelas e as menos donzelas dos anos sessenta se derretessem ao vê-lo, se ademais ele parecia tão sensível, e naqueles tempos sensível não era sinónimo de homossexual.

Um senhor muito interessante

O doutor da farmácia interessa-se desmesuradamente pelo senhor Joaquim. Este senhor é amigo dele, ou antes cliente regular.
Então o senhor Joaquim? Fugiu? - Pergunta o doutor.
Não, saiu. – Responde a secretária.
Fugiu? - Faz ele, fingindo surpresa.
Não, outro iu: saiu! - Brinca a secretária.

domingo, 25 de novembro de 2012

Mais do mesmo

Hoje estou extremamente musical, além de melancólica, pois tenho umas saudades do caraças de escrever no blogue. Note bem: eu disse escrever no blogue. Tenho andado armada em escritora amorosa, é o que é.
E agora, imbuída do espírito super hiper mega fantástico e especial e belo e sublime... AMOR... Deixo mais uma lamechice amorosa que não fui eu que escrevi, garanto, e um 'até amanhã'. (Amanhã tenho de escrever as minhas patacoadas, dê lá por onde der...)

All My Life, K-Ci & Jojo

I will never find another lover sweetter than you,
Sweetter than you
And I will never find another lover more precious than you
More precious than you
Girl you are
Close to me you're like my mother
Close to me you're like my father
Close to me you're like my sister
Close to me you're like my brother
You are the only one my everything and for you this song I sing

And all my life
I've prayed for someone like you
And I thank God that I, that I finally found you
All my life
I've prayed for someone like you
And I hope that you feel the same way too
Yes, I pray that you do love me too

I said you're all that I'm thinkin' of.....baby

Said, I promise to never fall in love with a stranger
You're all I'm thinkin' of, I praise the Lord above
For sending me your love, I cherish every hug
I really love you

And all my life, baby, baby, I've prayed for someone like you,
And I thank God that I, that I finally found you, baby
All my life I've prayed for someone like you
And I hope that you feel the same way too
Yes, I pray that you do love me

You're all that I ever known
When you smile, on my face, all I see is a glow
You turned my life around
You picked me up when I was down
You're all that I ever known
When you smile on your face all I see is a glow
You picked me up when I was down
You're all that I ever known
When you smile on your face all I see is a glow
You picked me up when I was down
And I hope that you feel the same way too
Yes I pray that you do love me too

All my life
I've prayed for someone like you
And I thank God that I, that I finally found you
All my life I've prayed for someone like you
Yes, I pray that you do love me too
All my life I've prayed for someone like you
And I thank God that I, that I finally found you
All my life I've prayed for someone like you
Yes, I pray that you do love me too

Fonte: Vagalume

Fantástico... (Na mouche)

Desfado, Ana Moura

Quer o destino que eu não creia no destino
E o meu fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
Ai que alegria, esta tão grande tristeza
Esperar que um dia eu não espere mais um dia
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém
Que aqui está e não existe
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem
Só por eu andar tão triste

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande incerteza de não estar certa de nada

Copiado daqui .

3, 2, 1 + 1 ovo


Pumba, mais uma receita. É uma massa vienense, chamada 3, 2, 1 + 1 ovo, usada para bases de tarte ou bolachas. Fiz bolachas, a base de tarte fica para outra vez. À segunda fornada de bolachas (imagem de baixo) juntei sementes de papoila e raspa de limão. Tenho visto por aí na blogosfera que os dois componentes se dão especialmente bem. Eis a receita:

3, 2, 1 + 1 ovo

300 gramas de farinha
200 gramas de manteiga
100 gramas de açúcar
1 ovo

Colocar a farinha em monte numa superfície e fazer uma cova ao meio. Colocar nessa cova a manteiga (que deve estar à temperatura ambiente) aos bocadinhos, o açúcar e o ovo.
Misturar primeiro a manteiga com o açúcar e o ovo e ir desfazendo a manteiga com o calor das mãos. Lentamente agregar a farinha até estar tudo bem ligado.
Levar ao frigorífico no mínimo meia hora para enrijar e ser mais fácil de estender.
Para estender: enfarinhar a superfície, o rolo e as mãos. Pressionar o rolo até a massa ter cerca de um centímetro de espessura. Depois cortar a gosto.

Nota. receita retirada do programa 'As Doces Iguarias de Rudolph' do canal 24 Kitchen.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Obra amorosa

Tenho estado ocupadíssima a escrever amorosamente. Às vezes sou fofa... Às vezes consigo ser mesmo muito fofinha, quero eu dizer. Mas algo me contraria: tão depressa vejo o amor em tudo o que escrevo como não. Se calhar é o cosmos ou outra força qualquer que não me quer ver escritora e amorosa em simultâneo. Pode ser um caso bicudo, um verdadeiro horror, isto de escrever acerca do amor... Oh, céus!
Hum, já agora acrescento que retirei a seguinte frase da minha obra amorosa:
«O amor é a gente ter frio porque a coberta escorregou para o chão mas não se mexer para não destapar o amoroso que dorme connosco.»
Achei melhor, aquilo não fazia lá nada.
Adiante.
Ora bem, que tal cantar o amor? A gente põe um cd a tocar, pode ser o possante e extinto tenor Pavarotti em dueto com o Brian Adams, o detentor dessa voz que mais ninguém tem, e canta-se, abre-se as goelas. Cantemos todos, então, um hino ao amor.

All for love

When it's love you give
I'll be a man of good faith
then in love you live.
I'll make a stand. I won't break
I'll be the rock you can build on,
be there when you're old,
to have and to hold.

When there's love inside
I swear I'll always be strong
then there's a reason why.
I'll prove to you we belong
I'll be the wall that protects you
from the wind and the rain,
from the hurt and pain.

Let's make it all for one and all for love.
Let the one you hold be the one you want,
The one you need,
Cause when it's all for one it's one for all.
When there's someone that should know
Then just let your feelings show
And make it all for one and all for love.

When it's love you make
I'll be the fire in your night.
When it's love you take.
I will defend, I will fight
I'll be there when you need me.
When honor's at stake,
This vow I will make

That it's all for one and all for love.
Let the one you hold be the one you want,
The one you need.
Cause when it's all for one it's one for all.
When there's someone that should know
Then just let your feelings show
And make it all for one and all for love.

Don't lay out love to rest
Cause we can stand up to the test.
We got everything, that and more
Then we had planned,
More than the rivers that run the land.
We've got it all, in our hands.

Now it's all for one and all for love.
Let the one you hold be the one you want
The one you need,
Cause when it's all for one it's one for all.
When there's someone that should know
then just let your feelings show.
When there's someone that you want,
when there's someone that you need
Let's make it all, all for one and all for love.

Fonte: Vagalume.com.br

Nota aborrecida: não descobri na internet um video com a versão do dueto supra citado...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Metamorfose

Seguidamente viajarei para um plano totalmente diferente. Transformar-me-ei noutra pessoa para fazer poemas e escrever do amor. A poetisa e a amorosa, vou buscá-las agora. Essas pessoas existem mas estão nas profundezas, vou ter de escavar pra caraças...

Senhor psicólogo…

… Eu queira saber se é normal a gente ter a mania de engrandecer tudo... Acha que é preciso consultar um psiquiatra? Falar consigo ajuda ou como é? Pode ouvir-me só um instante?
Sabe, dou por mim infeliz e há dias em que dou vazão à tristeza. Depois, noutros dias, estou feliz, contente, acho a vida maravilhosa, e o mesmo se passa. Ou seja: alcanço aquele estágio doentio do mesmo modo, igual; igual. É-me impossível não extravasar a alegria e a felicidade, só por dizer que os sintomas são os mesmos quer esteja feliz ou então não.
Que acha? É patológico ou normal? É melhor ir ver isto com um profissional doutra área?
Olhe, outra coisinha: devo deixar de escrever? Acha que exagero nisto de escrever? Sabe, faz-me bem... Mas será melhor não escrever? Hum? Foi por causa da escrita que fiquei assim? Ou serão só manias? Que lhe parece?
Hipocondríaca, eu?! Acha…?

Primórdio

Troquei uma nota por moedas, numa espécie de boa ação, armada em boa alma, fazendo um favor a um desconhecido.
O homem ficou tão grato que levantava a mão num estilo papal enquanto desenvolvia agradecimentos e outras obras cristãs, mas obras verbais, acrescento, tanto que recebi o primeiro voto de Natal deste ano.

Muito agradecido!
Saúde, paz e amor para a senhora!
E Boas Festas!

Nota: hoje é dia 21 de novembro, falta um ror de tempo para o Natal.

Fotos

Ontem quis trazer a máquina fotográfica comigo para tirar fotos e mais isto e mais aquilo, pelo meio escreveria das mimalhices da cadela e das tiradas dos ricos filhos para esquecer as parvoíces que se têm visto (lido) no blogue.
E depois nada. Nadinha, nadinha. Ou quase nada, vá, estão duas fotos imediatamente abaixo deste post. Isto, ontem.
Hoje trouxe de novo a máquina. Mais não fiz que andar carregada debalde.
Amanhã não trarei a máquina...

Ler

Lisboa, 20 de novembro 2012

Ninguém, tendo um livro para ler, devia estar infeliz → um livro é um amigo.

Continuo lendo o livro 'A Mulher', de Meg Wolitzer, onde de vez em quando aparece um pénis, numa das referências diz inclusive que é tão grande como um chouriço.
Mas não é um livro sexual, nem a autora possui uma escrita abusiva nesse sentido, nada disso, é um tipo de escrita como eu gosto, clara e direta, chama os nomes às coisas. Arrojo e destemor... Siga a vida.


Toda a gente sabe

Lisboa, 20 de novembro de 2012

Toda a gente sabe que estamos no outono, algo na natureza desmoronou, a seiva secou, cessou o fluxo, as folhas morrem e viajam até ao chão, a humidade agora está no ar.
Toda a gente sabe que há copas de árvores no tom amarelado, acastanhado, alaranjado, avermelhado.
Toda a gente sabe que as ruas estão atapetadas pelas folhas secas e encarquilhadas. Tapete aqui, tapete ali.
Toda a gente sabe que as roupas acabadas de lavar expulsam mal a água e por isso se demoram no estendal, não faltam nas vistas estendais com roupa de tons tristes.


Numa loja variada

Um homem dirigiu-se-me pedindo antecipadamente muitas desculpas por me maçar mas queria saber se a frigideira que tinha nas mãos era para fritar batatas.
Homessa, não faz mal, homem, é isso mesmo, para fritar batatas é isso mesmo!
Conclusão: não sou uma mulher sexual... Todavia, se estivesse de avental, nodoso, sinal de uso, prova concludente de corrupio na cozinha, logo, cozinhados, eu poderia parecer extremamente sexual, sim senhores, que comer é*...

*Consultar o post anterior…

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O dia

Está um dia lindo e quentinho.
Daqui a nada vou a um lugar lindo e quentinho. Trarei novidades. Ou então não.
Apetece-me escrever, ando à procura dos interesses.
O estado do tempo é sempre interessante, por isso comecei por aí. O ar está tão quentinho que tirei uma camisola. Pumba, outro interesse. Recebi um sms. E toma lá outro interesse.

Fui ler o sms → era promocional, dizem que ganho um ipod se blás.
Está a arrefecer, estou com frio → tenho de vestir a camisola.
Falta ir ao lugar lindo e quentinho → a ver vamos se trago interesses. Se não voltar de lá é porque morri, ceifada por um autocarro ou esmagada por um contentor de entulho.

Devia ser uma pessoa feliz mas não sou. Pergunto-me se não serei feliz pelo dever → O dever de ser feliz. Tampouco estou segura de ter saúde, nem nesse campo há presentemente muita alegria.

Outro interesse capaz – voltando aos interesses, por agora - é o de ter os pés assentes numa das cidades mais belas do mundo → Lisboa. Olha lá para fora, a luz, não é linda? Clara, limpa, intensa. Qual fugacidade, qual quê, aqui não há luzes fugazes, nem ao lusco-fusco, que é belo e duradouro. E pode-se respirar e tudo, não há assim tanta poluição.

O lugar lindo e quentinho já tem decorações de Natal. São bolas suspensas do teto, enormes, prateadas, cheias de veios e laços claros, a combinar com luz, para manter a serenidade e nos parecer que a vida é limpinha. Estava tanto calor que voltei a tirar a camisola. Fiquei toda vestida de preto. Diz que o preto fica bem a toda a gente...

Escrever o quê?
Vamos a isto, conquanto escreva, viverei feliz.
Mulher e colher. Porquê tão igual? Amar é comer. Comer é foder.

Diz que sim, diz que no Algarve a coisa está preta. Ciclones, casas derrubadas, pessoas desalojadas, viaturas inutilizadas, gente apeada. Diz que sim, diz que a gente pondo-se no lugar doutros infelizes, se presume feliz. Temos é de arranjar uns infelizes que efetivamente sejam mais infelizes que a gente.
Discordo. Não sou muito perentória na discórdia mas discordo. Creio que essa atenção canalizada para outros infelizes da vida nos torna ainda mais egoístas, estaremos a tirar proveito da desgraça alheia para nos alegrarmos.
Complicado? É, bem sei. É difícil viver.

Cinco da tarde. Queria descrever o contorno do prédio lá ao alto, faz um bico engraçado. Queria descrever a luz solar que ainda resta deste dia. Queria descrever as nuvens fofinhas e iridescentes. São cinco da tarde, nada mais a acrescentar.

Devia ter comprado um chocolate para me lambuzar. Para encher a boca com quadrados doces, moê-los prazerosamente. Assim, aqui, agora, estaria satisfeita e feliz.

É noite. Isto agora é diferente, lá de fora veem tudo, a luz incide daqui para a rua e não o contrário, toda a gente que passa pode ver as minhas caras. Um horror.

É noite, noitinha, escura e fria.
Não morri, ou este post não seria lançado para a blogosfera. Sim, penso muito em morrer, é a verdade. Habituaram-me a que as minhas verdades sejam repelentes, como se eu tivesse uma doença contagiosa, bem como a ausência de romantismo que me caracteriza. Quem quiser aguentar as patacoadas secas que escrevo deixe-se estar, que eu não mordo, prometo, apenas tenho a mania que sou depressiva, maluca e abrutalhada, apenas me defendo escrevendo, há inclusive quem chame catarse a isto de escrever as coisinhas de rajada.
Por hoje resta-me dizer que a vida seguir devagar e convictamente é o melhor que há.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Chuvada

O sol foi embora e a claridade ficou laranja. A chuva chegou ao meio-dia e picos, durando horas.
Estado da alma: inalterável.
Só acho que os senhores da radio não deviam passar a música do Michael Bublé no tema 'Home' em dias chuvosos como este. Let me go home, let me go home, canta ele tristemente...

Home, Michael Bublé

Another summer day
Has come and gone away
In Paris and Rome
But I wanna go home

Maybe surrounded by
A million people I
Still feel all alone
I just wanna go home
Baby I miss you, you know

And I've been keeping all the letters that I wrote to you
Each one a line or two
"I'm fine baby, how are you?"
I would send them but I know that it's just not enough
My words were cold and flat
And you deserve more than that

Another airplane
Another sunny place
I'm lucky I know
But I wanna go home
I've got to go home

Let me go home
'Cause I'm just too far
From where you are
I wanna come home

And I feel just like I'm living someone else's life
It's like I just stepped outside
When everything was going right
And I know just why you could not
Come along with me
'Cause this was not your dream
But you always believed in me

Another winter day has come
And gone away
And even Paris and Rome
And I wanna go home
Let me go home

And I'm surrounded by
A million people I
Still feel alone
Let me go home
I miss you, you know

Let me go home
I've had my run
Baby, I'm done
I gotta go home

Let me go home
It all will be alright
I'll be home tonight
I'm coming back home

Retirado daqui.

Aguarela

Tão mais glorioso, caso pintassem quadros...
Mas não.
É de unhas que falam, do embelezamento colorido que lhes dão. Referem periodicidade, horários e métodos.

Ordem

A minha palavra de ordem é 'escrever'. Porque é o imperativo mais fogoso que possuo. Noutras áreas, não tenho palavra de ordem... Hum, será 'viver'?! Puramente viver, andar por cá, ficar, estar, respirar...?

Obra amorosa

Tenho quinze dias para concluir a minha obra amorosa. Tenho um quinto de obra produzido. Tenho muitas ideias, muitos tópicos e nada, mesmo nada, concluído.

O cachecol

A suicida que há em mim atualmente tem a oportunidade de dar um nó junto ao pescoço três vezes ao dia. Está toda contente.

Rescaldo; Conjuntura televisivo-radiofónica

a crise a troika a merkl as medidas de austeridade o passos a crise o estado o país o estado do país a polícia a crise os subsídios a merkl a crise o passos o cavaco a gorda as medidas de austeridade o passos a crise as medidas de austeridade os subsídios a manif a polícia a greve a manif a polícia a manif as bastonadas a manif as pessoas no chão as bastonadas a polícia a crise a greve a manif o cavaco o passos a merkl o josé seguro a polícia as pessoas no chão a crise os jornalistas a polícia a greve a manif o passos a troika as medidas de austeridade a gorda... A CRISE! Ah, e o quaresma, já agora.

Tenho um amigo...

Tenho um amigo que podia ser cognominado neste blogue como 'Juventude'. Isto porque o homem chama juventude a toda a gente a quem se dirige.
'Ó juventude, dá aí uma imperial, faxavor.'
'Olha, juventude, tens cá mangueira para gás e abraçadeiras?'
'Ó juventude, quando quiseres tirar malaguetas lá de baixo, tira!'
Se este meu amigo fosse um spot publicitário, 'juventude' seria o seu slogan.
E vou parar por aqui, que já escrevi inglesismos demais para um só dia.

O cliente

Tenho um cliente do tipo 'não fode nem sai de cima'. É um problema atender o homem, custoso que sei lá, investe, afasta-se, demora, pensa, elabora questões... Ciclicamente. Raríssimas vezes se conclui o negócio.
Todos os comerciantes de bairro têm um protótipo destes, aposto.

Perdido e achado

Alguém hoje perdeu uma castanha bojuda e brilhante, macia e lisa, com um aspeto saudável que só visto, junto ao Mercado de Arroios?

Post atrasado sobre um não grevista

Olá, sou o Vasco, trabalho num escritório, mexo em papéis e dinheiro, e hoje vim trabalhar de bicicleta para contrariar a greve. O pior é o hemorroidal, fui operado este ano e isto ainda não está bom, mas pronto, eu tenho de trabalhar!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tentação

A mulher que trabalha na loja de colchões deve sofrer horrores. Falo por mim, que aquele negócio sendo comigo, nos dias em que me assola uma vontade irresistível de me deitar para desistir da vida, esses colchões seriam uma tentação do caraças.

Viver

Estou um tudo-nada depressiva e repetitiva: viver é uma merda.
Consigo arranjar uma coisinha ainda mais deprimente: isto já não tem melhoras.

A persistência que aborrece

Assim de repente apetece-me morrer porque o viver persiste e está-me a cansar em demasia.

Não há

Há um cliente que entra aqui e logo diz: 'não há'. Dá-lhe para aquilo, pobrezito, acha que aqui não há nada e passa a si mesmo um atestado de estupidez pois se não há cá nada não sei o que vem cá fazer. Já uma vez lhe fiz a pergunta, já. Depois foi daqui satisfeito.

Aquela pessoa

Há aquela pessoa que anda ao vento. Não quer mas anda. Vai daí, o vento faz das suas soprando um sopro forte e aquela pessoa fica com a cabeleira contrária ao seu natural, o risco faz-se do outro lado da cabeça, o estupor do vento não está de feição com a tendência natural do penteado daquela pessoa. Vai daí, aquela pessoa fica com uma cara muito esquisita, porque uma coisa é ter o risco num lado e ver-se assim anos a fio, outra é ter o risco contrário ser forçado por algum vendaval fora d'horas, provocando uma visão tosca e desenxabida, porque o cabelo, esse manto teimoso, não quer estar assim, e a bem dizer faz doer a tola se contrariado. Viver é uma merda, pá.

Beiço

Se eu falar com a dona Marília de frente vejo que ela tem o lábio inferior muito distendido para a frente, tanto que quando diz alguma palavra que contenha éfes lhe sai algo rente ao ésse. Mas, se eu falar com a dona Marília e ela estiver de lado para mim, mesmo calada, ela calada, quero eu dizer, posso ver que o beiço de baixo está ao mesmo nível que as mamas em termos de horizontalidade. A dona Marília é uma mulher de sorte: tem duas prateleiras.

Nota: este, sim, é um post interessante porque consegui colocar a palavra 'mamas'.

Este post era para se chamar «Subtileza» mas depois mudei de ideia

Revi um senhor que não via há para aí uns dez anos. Eu levei um segundo a reconhecê-lo e ele levou três segundos a reconhecer-me. Diz que estou na mesma. Que fofo. Que mentira. Mas pronto. Siga a vida, vá.
Ele não está na mesma, a não ser na forma patética do bigode, farfalhudo e muito revirado nas pontas, as demais características estão esfumadas e por junto há rugas, cãs, papos, flacidez, cansaço, o que a meu ver lhe aligeirou a efusividade doutros tempos.
Mas é um querido, e isso sempre foi. Folgo, então.

Frangos

Na churrasqueira o homem do talho pediu um frango assado e duas tiras de piano e eu achei que ele estava no sítio certo porque no talho os frangos estão crus e o piano é doutra cor.

?!


Como não há fotos, há digitalizações, são imagens, é quanto baste. Para não pensar nem me alongar escrevi o que escrevi, uma das frases mais proferidas pela humanidade, uma das FAQ's deste mundo incompreensível.

Nova historinha

E agora vou-me vangloriar: a minha nova historinha foi elogiada por um coautor no fuçasbuque. (Obrigada)
Diz que gosta do mistério feminino que envolve a minha escrita. Eh pá... 'Tou aqui toda coisa.
E pronto, adiante.
Eu sei que tenho uma certa aura de mistério, não tanta quanto gostaria, acho que podia ser mais misteriosa, embora por vezes sinta que escrevo demais, exponho demais, divulgo as minhas vivências e algumas são muito particulares, ficando assim com a sensação de que abro o jogo todo e que não há portanto mais nada para mostrar.

Força nisso

Mandar embora sem testemunhar; relembrar; escutar. É mister. Força nisso, vá.

A bolsa dourada

Chamo a atenção para o seguinte: este post é interessantíssimo e surpreendentemente invulgar, o caro leitor leia até ao fim.

Tenho uma bolsinha dourada, tão dourada como o título, que anda na minha mala aos rebolões e que serve para colocar três molhos de chaves. Comprei-a em dourado para a ver bem assim que abrir a mala, o que até tem acontecido.
A dita bolsinha tem dois compartimentos, dois fechos. Um dos compartimentos alberga os dois molhos de chaves que uso menos, o outro, já se sabe, alberga o molho que mais uso.
Qual é o primeiro fecho que eu abro sempre que necessito de qualquer um dos molhos de chaves? Pois é, é aquele onde estão guardadas as chaves desnecessárias ao momento. Sistematicamente. Não sei se é a lógica da batata ou a da couve-flor ou o cosmos a atuar, só sei que a minha vidinha é assim.
Entretanto tenho desenvolvido técnicas especiais, apalpo a bolsa antes de abrir qualquer um dos fechos, a ver se descubro quais são as que quero, mas ainda não estou perita, se ademais já cá chegou a porra do frio e estar com as mãos de fora apalpando uma bolsa com mais de uma dezena de chaves parece-me atroz e bem vistas as coisas levo menos tempo a abrir dois fechos...

Bom-dia!

Não, não fiz greve.
Não, não estou solidária com a greve porque não me informei sobre o que realmente consiste.
Sim, suponho que a greve se deva a essa merdas de tirarem o dinheiro à malta e o caraças.
Sim, estou solidária com quem faz greve e 'sabe' o que está a fazer.
Não, não há transportes em Lisboa.
Sim, cheguei atrasada.
Não, não foi devido à greve.
Sim, quem sofre com as greves são as pessoas que 'têm' de trabalhar.
Sim, em vez do 'têm' podia dizer que são as pessoas que 'querem' trabalhar.
Não, não digo.
Sim, creio que somente existem pessoas que 'têm' de trabalhar
Não, não creio que existam pessoas que 'queiram' trabalhar.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A poetisa

Tenho-me dedicado à poesia ultimamente. Gosto. Não gosto. Depende. Produzo textos com alguma poesia, sei que sim, e gosto da minha poesia, mas (tal como acontece na prosa...) receio que seja só eu a gostar, ou, pior, a entender.
Entretanto começou a decorrer uma mostra de poemas no fuçasbuque da editora para o qual fui amavelmente convidada a participar, e eu, armada aos cucos, ao pingarelho, em carapau de corrida, ou, ainda, em poeta medíocre, mandei para lá uma série de frases da minha criação. Agora estou arrependida. Quero dizer, estou mais ou menos arrependida.
O mais giro deste acontecimento foi o seguinte: há uma frase muito minha, muito eu, que escrevi há tempos → Não escrevo essas palavras bonitas que todos gostam de ler. Agarrei na frase e para a fazer parecida com a poesia fiz assim:

Não
escrevo
essas
palavras
bonitas
que
todos
gostam
de
ler.

Vai daí, esta que não escreve palavras bonitas, recebeu um comentário da própria editora dizendo 'isso', só 'isso', sem a ênfase da pontuação. Ou seja, estou confusa... 'Isso' porque realmente não escrevo palavras bonitas? 'Isso' porque devo seguir em frente? 'Isso' tipo força aí, a gente está contigo, continua? Não sei. E o melhor é não saber. Viver na ignorância é vantajoso.

Falar

A pintora fala sozinha, já várias vezes referi no blogue. Vai caminhando, esbracejando, falando cheia duma energia invulgar para a idade. Só hoje me lembrei que ela provavelmente não fala sozinha e sim para alguém em especial, imaginário. Tão melhor assim. É melhor falar para alguém, embora eu não tenha alcançado ainda esse estágio, tenho de aprimorar os meus métodos.

Palavrita sui generis

Solilóquio?
Colóquio só?
Sem assistência?
Sim, indubitavelmente.
Não faço solilóquios, não sou tão grandiosa assim.

Além do natural

Sons só meus. Tenho ouvido uns sonidos lá longe e tão perto em simultâneo, o tu-tu dum telefone, o estalar de prateleiras, passos dentro da cabeça, respirações sem que esteja alguém comigo.
Não creio no além do natural, julgo haver uma explicação científica para os fenómenos estranhos e por último presumo que é no inexplicável para o ser humano que reside o tal ser superior ao qual a maioria das pessoas chama Deus.
Das questões 'cabeçais', pois bem, sou corpo mas também espírito e é na cabeça que habita esse espírito, não é no coração nem na alma.
Antes que haja dúvidas: não, não tenho medo destes barulhinhos, não senhores, e pouco me importa se são ilusões e/ou invenções minhas. Também não sou vidente ou sequer crente naquilo que se não vê. Mas creio estupidamente naquilo que sinto.

Despertar

Milena despertou do sonho de amor. Era preciso atentar nos pingos de sangue no chão, alguém a advertira:
– Cuidado, menina, não escorregue.
Regressar ao sonho foi impossível. Que pena.
Pesadelo era o da senhora estendida no chão. Pobrezita.
Susto era o de alguém que lhe sussurrava:
– Podia ter sido pior...

13:35

Na alameda há sol, papagaios verdes, prédios amarelos e retângulos de relva. As pessoas não me interessam, por agora.

Intitular

Voltei ao horror de arranjar títulos. Oh céus!

A lâmpada

Se pode deixar aqui uma lâmpada acastanhada pelas cagadelas de mosca e peganhenta de tanta gordura enquanto vai ao supermercado e vem do supermercado?
Claro que sim, 'miga, deixe ficar. Até nunca mais. Vá descansada que ponho a lâmpada no meu lixo.

Confusão

Não, não trabalho aqui, não senhor.
Não sirvo cafés nem bolos neste estabelecimento.
Esqueça este meu ar serviçal e olhe ao derredor, atente nos pormenores. Olhe só:
estou encasacada;
estou sentada;
estou a beber um café.
Entendeu?!

O dente

Ela é uma pessoa muito comunicativa e alegre, o que a faz arreganhar a dentadura. Tem um dos dentes caninos descaído, o que para mim atua como chamariz da diferença e exerce o mesmo fascínio que um olho estrábico.

...

Ir é insuportável.
Ficar idem.


A minha força é canalizada apenas para a questão estar. O ânimo é escrever. Folgo que não se note nada.

Não

Eu não lhe contei há pouco que fui ali ao senhor Manel comprar o euro milhões?
Não.
Ah, não me diga que eu não lhe contei que fui ali ao senhor Manel comprar o euro milhões...
Que me lembre, não.
Ora, deixe lá, eu fui ali ao senhor Manel comprar o euro milhões a ver se me sai.

Achei melhor não lhe contar a minha história, aquela em que digo que quem joga tem cinquenta por cento de hipótese de ganhar. Melhor não me alongar.

O tempo

Os senhores da radio falam sobretudo acerca das nuvens, dos chuviscos, do vento, da temperatura do ar.
Diz que a temática 'estado do tempo' é salvadora de quem tem ausência de assunto. Arranjem lá outros assuntos, senhores da radio, vá.

Hum...

Descobri que os pensos rápidos têm prazo de validade. A ver se vendo quarenta e oito pensos até ao final de dois mil e catorze.

Bom-dia!

Cá estou eu, no modo habitual. Tinha saudades de escrever estes textos ligeiros, uns doces, outros não, pipocas doces ou salgadas, já ontem tinha dado pelas saudades. Regresso aos hábitos, então.

P.S.
Saudades;
Hábitos;
Plural;
Tudo em muito...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Até ao Fim

Pergunto-me se tenho de escrever. Digo-me que sim. Mesmo forçadamente. É por causa desta tosse que não me larga...

Da janela do quarto do Hermano pende um cobertor vermelho com o intuito de apanhar ar. Sei que é segunda-feira, sei que o Hermano agora tem friozinho, que há duas semanas o cobertor não se avistava, apenas a colcha de baixo se deixava ver.

O papel na porta do consultório do senhor doutor está enrolado na extremidade de baixo. Aquele papel onde se leem letras garrafais, grandes, assim-assim e picarruchas, para os ceguetas verem – par os ceguetas verem, não é o máximo?! - até que ponto têm a visão estragada. Ou então rejubilarem por não terem a visão estragada.
O papel está enrolado porque passou o verão naquela divisão e já antes disso tinha passado o inverno, a humidade evaporou e o papel encarquilhou. Agora que a humidade ainda não penetrou nas casas, o papel lá está, fingindo um verão que não existe lá fora.

O pensamento é abstrato, tão veloz que quando idealizo as minhas criações literárias, as mesmas me parecem pequenas maravilhas do papel ou da blogosfera. Depois, vai-se a ver, quando há ecrã e teclado, a maravilha desfaz-se.

Ando nisto do blogue e o caraças há anos... Mas ainda não se me evaporou a ideia de que o que mais faço é usurpar pedaços da vida alheia. Sou uma usurpadora de cenas e frases e questões que não são minhas mas são por mim enaltecidas, deitando por terra as muralhas construídas a custo por todos quantos usurpo.

A dona Genoveva é uma fofa e uma querida e mais não sei o quê. Enquanto a ouvia relatar as suas cenas – das quais não vou fazer registo nenhum por agora – imaginei-a numa entrevista de tv. Havia de ser giro, a dona Genoveva, uma mulher aparentemente conversadora mas rapidamente monopolizadora, açambarca toda e qualquer atenção e mostra-se imparável no monólogo. Seria um monólogo, sim. Pobre do entrevistador, pobre de mim. Se o entrevistador fizesse a pergunta cliché do 'Alta Definição': o que dizem o seus olhos?, ela não esconderia de ninguém:
Os meus olhos dizem que eu gosto muito da Gina, que ela é muito boa ouvinte, e que eu tenho de vir aqui desabafar com ela, porque ela ouve e escuta, é como ir a uma sessão no psicanalista, e ela sabe muito bem que eu só falo acerca de mim mesma e das minhas questões.

Dez por vinte. Temos dez dias de calmaria, com regulares picos de felicidade intensa. Temos vinte dias de vendaval interno, erupções constantes, vulcões e isso, e uma chuva de pingos grossos prestes a desabar. Temos problemas. São iminentes mas temo-los. Temos de falar assim, a fingir que somos outra pessoa, ou muitas, já se vê, tipo terapia de enfermeira, para pensarmos que não vai doer nada quando a agulha for espetada na nalga, o problema não é problema nenhum, é uma questiúncula desinteressante, que a bem dizer, nem sequer existe. Escrevamos, todas nós, pois é o melhor.

Há umas pessoas que vêm pagar dívidas. Bem hajam.

Penso que será boa ideia dizer agora que trabalho numa loja. É bem, os leitores do costume já conhecem esse facto, mas os que chegarem agora, sabem lá do que falo!

A rica filha quer ir ao concerto dos One Direction, mas não tem dinheiro nem teria pachorra para estar numa fila imensa. De vez em quando solta o que parecem ser gemidos aflitivos de desgosto – porque já não há bilhetes, ou lá que é – ou suspiros angusitantes – porque ela queria muito ir – e vai especulando questões aqui e indagando ali, com as mãos debaixo do queixo e aquele ar sonhador de fã incondicional... (Mas pouco.)
Uma das questões mencionadas debaixo da postura sonhadora que acima descrevi, foi:
– Quem será a primeira pessoa a entrar pela porta da entrada naquele concerto...?
Ao que o rico filho remata, com a razão a assisti-lo:
– É o porteiro.

A minha cadela comunica e eu falo com ela. Olha, Olívia, já viste ali na tv, uma gaja gorda a falar com um gajo? Afinal as gordas também podem ser gajas boas e ter gajos de roda delas. E ele fala com ela atentando na sua presença, fala com ela sem lhe olhar para as mamas, olhos nos olhos, portanto... Viste, Olívia? Tu és uma preta gira, porque as pretas também podem ser giras... E as gordas também podem ser gajas boas.

Dantes precisava de amigas para desabafar e não as tinha, não havia sequer pessoas da minha idade nos meus relacionamentos.
Depois passou a haver pessoas da minha idade, ou amigos(as), por assim dizer, saíamos e estávamos juntos, divertíamo-nos e tínhamos histórias para contar uns aos outros ou vivências em comum, o que contribuiu largamente para a minha felicidade.
A seguir fiz escolhas, os(as) ditos(as) amigos(as) não me interessavam assim tanto, não havia assim tanta harmonia, a idade era outra e a paciência diminuta para certas coisas.
Hoje, embora me relacione com gente da minha idade, sei que não tenho amigos. Assumo a culpa dessa ausência, sou eu que me mantenho num lugar intransponível.

Encontraram-se as duas numa dessas portas extra seguras duma dependência bancária. Uma fez a Outra esperar. A Outra não curtiu e cena e disse que assim nunca mais saía dali. A Uma pede desculpa. A Outra faz um estalido com a língua como se lhe estivessem a mexer na... nas... como se lhe estivessem a mexer em algum lugar do corpinho onde não lhe apetecia mexedelas, pronto. A Uma ainda faz uma vaia de gozo, ai desculpe lá, sim?
Daqui a nada vão escrever no facebook, agora é assim que funciona o mundo dos pequeninos...

12:29. Literalmente, em matéria de letras, quero eu dizer, estou imparável. E não se julgue que não tenho trabalhado - e ainda por cima cheguei atrasada – mas é que tenho sempre muito a dizer. Escrever, queria dizer escrever.
Já vendi umas coisitas, sim senhores, marquei um trabalho, sim senhores, e retirei metade dos produtos que compõem uma das montras – que vou modificar não tarda – e arrumei-os nos seus lugares, sim senhores. Isto é que é trabalhar!

Sim, eu sei, ninguém vai ler este texto enorme, vá, eu sei. Mas agora é necessário retirar-me da luz, ando aborrecida comigo e com o modo parvo que uso para fazer as minhas divulgações esquisitas, e também não sei o que ando a fazer blogosfera fora, debitando sequências de vidas que não me pertencem. Ninguém vai querer ler de si mesmo, não serve de nada estar a dizer às pessoas 'ah, eu tenho um blogue e gosto de escrever e escrevo coisinhas suas' porque ninguém se quer ler a si mesmo, aqui ou em livro ou em porra alguma. Eu sei disso. A resolução deste problema estaria num céu doutra cor e num sol especial, mais especial ainda do que este que hoje teima em aparecer, mas eu não possuo essa arte de mistificar o que já existe.

Escrever é uma merda. A gente quer dar-se a ler, por causa daquela coisa do ego e o caraças, mas depois, acaba por se dar uma atenção desmesurada às pessoas em geral, atenção essa que nunca se verá retribuída na mesma medida. Esse pensamento transmite uma onda de solidão infeliz e avassaladora.

12:57. Vou almoçar. Sou mesmo célere nisto das letras e assuntos.

Aparentemente está feliz. Sorri e desliza a mão pelo cabelo, como se o penteasse em todo o comprimento, pendendo a cabeça para um dos lados, a ver se chega à raiz, quiçá ao cerne da alegria. Sorri muito. Bastante. Demais para um quadro assim como este. Talvez lhe cheguem cócegas debaixo da cadeira, ou alguém invisível a acompanha e lhe conta piadas exclusivas; privadas; inaudíveis para os mortais. Ou pode ser a revista cor-de-rosa que tem no colo e à qual dedica alguma atenção. Artigos rosa-choque... Essa literatura anedótica.

A felicidade pode ser momentânea. Tal e qual como o amor. É nisso que me basearei um dia destes. Momentos; espasmos; picos; níveis elevados.

Creio que a obscuridade contém o palavreado de que necessito constantemente. Encontro essa obscuridade amiúde, ultimamente. Pode ser um lago pouco profundo, para eu conseguir manter-me à tona, respirando e vivendo, ou pode estar no céu, dentro duma nuvem fofinha que de vez em quando deixa escapar as palavras, ou no sopro do vento, que me canta o que devo escrever. Esse precioso palavreado está num plano diferente, vá, siga a vida.

O Natal já chegou à Galeria Acqua Roma e ao Pingo Doce de Telheiras, aquele que se vê da 2ª circular, em Lisboa. Brilhoso mas pouco, este Natal, como que tendo medo do Gaspar ou outro gajo qualquer dos dinheiros, não se vá gastar muito e depois a culpa é do patronato ou do contribuinte, dependendo do prisma.

Passeio. Estou aqui e falo. As pessoas são as mesmas: a mãe com a menina pequenina mas com idade para a mamã não ter de a ir buscar à escola com medo dos delinquentes; a mulher do cigarro aceso, com ar de quem não fode há muito tempo. Esta última oferece-me uma visão descombinada. Quem dera descortinar a verdade, pois uma mulher fumando com ar de quem não fode há muito tempo não é nada.

Está ali um que não se cala com as doenças do pai já falecido, o que tira a possibilidade dalguma mudança. Médicos. É de médicos, agora. Vá lá, assim já é uma conversa aceitável e frutífera. Falam de profissionalismo e competência dos médicos, já deixaram a morte, essa inalterável, de lado.

Fala ao telemóvel, a mão a boca, num esforço glorioso para que não se perceba nada do que diz. Glorioso, pois, que eu cá não percebo nada.

O dos médicos não se cala. Tem três ouvintes. Se acorrentados dalguma maneira ou voluntários é que não sei. Mas estão lá todos. Quatro. Porra. Quem dera ser assim. É que nem a escrever me safo.

Estou quase lá, sinto que estou perto. Ferve. Sou uma triste.

Telemóvel. É melhor ver as horas → 14:28. Já venho.

Sim, sou isso mesmo. Deve ser da perversidade excessiva. Manias...

Ah, é verdade, o fim-de-semana foi bom. Muito bom, afinal. Fomos a Sintra, ao canil, mostrar a cadela. Ela reconheceu imediatamente o tratador que lhe dava a comida, já um outro que pouco lidou com ela não lhe ligou nenhuma, afastava-se, desinteressada do cheiro dele.
A serra de Sintra, castanha e húmida, é linda. É tão húmida que se ouve um pingar constante, sem que se veja os pingos e na verdade mais parece um crepitar que outra coisa, se bem que crepitar e humidade não se misturam, um anula o outro.

Devo ter o 'perfeitamente incapaz' inscrito na frente. Só pode. E em letras arial black; tamanho 48; caixa alta. Assim até os míopes ficam conhecedores deste facto aborrecido. Pensando bem, devo ter essas duas palavrinhas inscritas também na parte de trás, para ninguém perder a oportunidade de.

Uma oportunidade espetacular. Desperdicei-a. Outra oportunidade fantástica, embora um tudo-nada menos especial. Não houve coragem. Não tenho grande dose de coragem em mim. E quantas vezes arranjo a coragem imbuída pelo 'tem de ser...'?

A coragem é proporcional ao ensejo. E ao desejo.

É penoso para mim pensar que não posso viver doutra maneira. Eu não quero escrever, não quero continuar com o blogue, é tão inútil quanto disparatado. Estou cansadíssima.

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Que pena não existir um programa de computador que inserido nos olhos do homem do banco se lhes chispem ultrassons ou ondas hertzianas ou algo que não se ouça, de modo a que mal olhe para mim saiba imediatamente o número de conta e montante a depositar. Era fixe para aqueles dias em que não tenho vontade nenhuma de falar.
A saudação, vulgo boa-tarde, estou agora a lembrar-me, é dispensável, ninguém numa dependência bancária me vai admoestar, ah e tal a senhora entrou e não deu as boas-tardes e mais não sei o quê.
Mas eu dou a saudação às pessoas, mesmo que não me apeteça falar nem só um bocadinho.

Que não se duvide da feminilidade da minha cadela → a Olívia gosta de banana.

O sopro do dia. É um homem que vai beber um café e sopra para a chávena com grande vontade, próximo ao vendaval, proporcionalmente falando, estica as beiças e vai disto, sopra o sopro do dia.

A rica filha pertence à geração 'simultâneo'. Estuda semântica e fonologia mais ou menos atenta a um pc portátil em cima da mesa, ao lado dos livros e folhas de apontamentos, o telemóvel também não está nada longe e a tv está ligada transmitindo uma série daquelas que ela gosta de ver.

O rico filho está um homem, já esquece as chaves e a carteira em casa. Felizmente há telemóveis, ligou a pedir que se lhe fosse levar os objetos esquecidos... À escola, que o rico filho está um homem mas ainda anda na escola.

A pobrezinha: tem cinco cêntimos na carteira, saldo negativo no banco, o ordenado em atraso, a despensa meia cheia, ácido úrico a mais e uma grande dor de cabeça.

Hoje continuo aborrecida com o meu escrever. Por ser forçado, por estar viciada, por não encontrar outra forma de aguentar a vida.

Invejo as pessoas todas; todas me parecem felizes, ou, ainda, tão menos infelizes que eu. A minha vizinha, por exemplo, foi dispensada duma empresa pública onde trabalhava há anos, e eu cá, se fosse ela, estaria felicíssima por não ter de vir para aqui, por não ter de vir aturar as mesmas pessoas, por não ter de dar os bons-dias a quem não merece, por não ter de ver caras.

Resolução: olha pá, o melhor é.

Nunca conheci ninguém como ela, fala que se desunha mas é tudo a meias frases, inicia a (suposta) conversa e depois faz um gesto largo com as mãos ou franze-se toda para se exprimir. E eu percebo-a, claro que percebo, ela é verdadeiramente expressiva.

Neste momento estou um tudo-nada arrependida de ter dado início a esta catrefa de escritos, esta verdadeira maratona de coisinhas fúteis, ideias parvas e outras trivialidades. Acabo por ter de colocar este post enorme em praticamente todas as etiquetas que já criei para o blogue, e se um dia quiser referir-me a uma dessas coisinhas triviais não vai dar para fazê-lo. Não estou a isolar os factos, portanto, e assim talvez lhes esteja a retirar importância e interesse. Depois há outras questões, quanto a mim pertinentes: como é que o leitor vai comentar um destes espasmos literários se o quiser efetivamente fazer? E, pior ainda, quem é que vai ler esta compilação avulsa?!
Mas vou continuar, meti isto na cabeça e assim sendo, aqui me tendes. Portanto: salvo desejo em contrário ou súbita mudança de opinião, vou continuar até sexta-feira, pelo menos.

Milena toma chá com a dona Lurdes. Dulcineia entra na cafetaria – devia ser salão de chá... - e vendo as duas cochichando faz um esgar de curiosidade, fugaz e impreciso.

Andou a pôr anúncios no jornal, a reforma era pouca e a solidão era muita. Conseguiu uma série de pretendentes, se é que se pode chamar pretendentes – porque não repescados? - a estes cavalheiros da cama vazia e damas do desalento. Ela conseguiu. Depois de escrutínios, critérios e apuros vários escolheu dentre dois, não o mais bonito, antes o que mais lhe convinha. Juntaram os trapinhos, oito anos de junções, depois acabou. O homem era calado e ela tagarela, não deu para aguentar mais tempo a disparidade. Hoje não vivem maritalmente mas vão-se amigando de quinze em quinze dias e é sempre ela que dá o primeiro passo.

São 14:30 no relógio e o sol vai tão alto como se fossem as 20:00 dum entardecer de junho.

Faço um esforço descomunal para me dar com as pessoas. Prova disso é a minha atividade no Fuçasbuque, lugar virtual que não aprecio de todo e, bem vistas as coisas, desprezo. Ainda assim esforço-me. Vá lá, Gina Maria, tens de te dar às pessoas, fazer, aparecer e acontecer. Mas há algo a impedir a interação: mandei uma mensagem a um coautor que ao que parece afinal não foi enviada, e publiquei uma espécie de poema no mural da editora, que tem um evento, ou lá que é aquilo, em que se pede aos participantes que divulguem poesia, acontece que quando cliquei a minha espécie de poema aparecia publicada na página, sim senhores, mas depois não sei que raio aconteceu... Escafedeu-se!

Aviso aos familiares: se querem dar-me apreço, é agora, não esperam pela minha morte. Morta não ouvirei elogios ou juras de todas as formas de amor. Deixem-se dessas merdas do póstumo e o caraças e venham cá dar-me abracinhos enquanto há bafo e corpo quente.

Escrever é fingir certezas. Vá lá, finge, ao menos isso.

Se sei fingir? Claro! Eu sou mulher, homessa!
(Não fica tão bem mulher logo seguido de homessa...?)

O mistério, esse estágio que todos querem atingir. Quero ser misteriosa, não passar pelo aborrecimento de me explicar, principalmente explicar o que registo no blogue. Quero que se entenda mas também se saiba. E eu caladinha, misteriosa. Quimera...

Ninguém quer estar com os loucos. Não sou um génio mas devo estar lá perto. Tenho para mim que a solidão, quando imensa, se transfigura em genialidade para o ser solitário. É só para ele, obviamente, que ninguém quer estar com os loucos.

Para deixar o modo egocêntrico de escrever tenho de chamar a Paulina ou a Milena ou a Tomélia ou a Eufélia. Mas nenhuma está em casa...

Falava horas sem fim. Fim.
Depois do fim agarrava no carro e ia comprar as mercearias de que tinha falta.

Há um 'depois' de cada 'fim'. Chama-se 'ciclo' ou então 'renascimento'.

Esboços. Melancolia. Saudade. Insatisfação.

A bem dizer o que eu queria mesmo era morrer mas creio que viverei até aos cem anos, pois se repudio as pessoas também saberei fazê-lo à morte.

Ela está mais velha e mais gorda. Os olhos pequeninos estão agora ainda mais juntos, pela força da idade, quiçá pelos problemas. Tem, ela também tem problemas, montes deles, carradas. Óbvio. E maiores, bem maiores. Óbvio.

Às vezes assalta-me a questão de saber escrever ou então não. Desconheço o que significa saber escrever, bem como estar longe de saber fazê-lo. Primariamente, parece-me que saber escrever é ser entendido a priori. Por esta ordem de supostos ideais... Blás.

Sete e picos, lá vou eu deambular, o que não produz efeitos desejáveis na minha cabeça. Mas siga a vida.

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Meio-dia e um quarto. Cheguei há pouco, fui ao senhor doutor, mas não me vou pôr para aqui a escrever das maminhas crocantes do queque nem do copinho de leite nem do homem da cafetaria nem da chuva. Vou-me pôr para aqui a escrever das senhoras que eu vi de passagem na estação de metro. Ontem, uma dessas senhoras, comprou-me pedrinhas de cânfora, não sem antes perguntar como estou nem sem que eu tenha dito que estou ótima, obrigadinha, porque a verdade é que se eu fosse dizer que estou doente e abatida ela não quereria saber, ó 'miga que é isso, problemas toda a gente tem, diria.
Noutra estação de metro vi a outra senhora, a que um dia se me chegou aqui dizendo que tinha acabado de lhe dar um ataque de pânico. Tão forte, tão forte, menina, dizia ela pondo a mão na minha mão, numa ânsia de contacto físico. Ora bem, fiquei sem reação, claro, ia dizer o quê? Não sei. Não é que não queira saber das pessoas, foi antes falta de palavreado apropriado, o confronto com esta realidade tão chocante paralisou-me, fui incapaz de formular frases de alento.
(Não, a senhora das pedrinhas de cânfora não quereria ouvir as minhas queixas. Ouvir, ouvir, eu escrevi ouvir.)

Sonhei que tinha umas palmilhas engelhadas, sujas e fedorentas. Ainda bem que tudo não passou dum sonho.

O senhor Nascimento já deve ter morrido. É giro ver a morte e o nascimento escrito assim. É frio, também.
O senhor Nascimento era muito velho, tinhas as manchas da idade espalhadas pela cara, braços e mãos, as costas muito curvadas e contava mais de noventa anos. Ao tempo que não aparece, portanto já deve ter partido deste mundo. Quem dera estar errada e ele se me entrasse por aqui adentro agora.
Quando lá íamos a casa mudar as válvulas da torneira ou as fitas de estore, imperava o som da música clássica pelas divisões, aumentando ou diminuindo conforme nos movíamos dum lado para o outro.

Deambular pelo fecho definitivo do blogue, sem indagar, arranjar certezas e conclusões. Ser concisa e justa para com as vontades. Ou seja: manter o blogue está a revelar-se doentio.

O livro que anda na boca de toda a gente é 'As cinquenta Sombras de Grey' do autor E. L. James. À partida toda a gente diz mal, particularmente a gente da elite das letras, reagem como se o livro contivesse todos os males e o autor fosse um bicho papão e horripilante, não querem imiscuir-se em meras e ocas histórias que nem a literatura ascendem, segundo esses gurus. Ora bem, eu, que sou alguém que toda a vida viu amesquinhados os costumes e abalarem-se-lhe amigos às reboladas, acho que quem consegue num só livro, numa só publicação alcançar tamanha fama e agarrar leitores desta maneira é de louvar.
Tenho o estranho hábito de apreciar nos outros as qualidades que não possuo, é o que é.
P.S.1 Não li o livro, portanto não sei se gosto.
P.S.2 Não lerei o livro, não me parece...

Ontem queria acabar com isto. Hoje não. Hoje estou curiosa. Como será que me vou sentir amanhã? Terei a mesma vontade imensa de revogar esta existência?

São três à mesa, uma mesa quadrada, que giro. Uma delas mantém-se no lugar, as outras duas vão indo e vindo com livros nas mãos que depois mostram umas às outras, soltando ahs e ohs, apreciando e debatendo ideias sobre o que oferecer ao chefe, conferenciando entre si que após escolhido o livro rabiscarão dedicatórias na folha morta que geralmente os livros têm. A que está sentada só lhe interessa o preço, que de livros não percebe nada, ouvi eu.
O chefe... Não sei se é chefe mas faz de conta, escrever é fingir certezas. Ademais, que coleguinha simples e miserável mereceria tamanho empenho em ofertar? Obviamente é chefe, e muito chefe, chefe suficiente para ter uma prenda.

Pois é, estás a ver? Dás demasiada atenção às pessoas. Ninguém merece. Ninguém retribuirá. Nunca.

Sim, estou triste, hoje também. Já é corriqueiro, porém não passageiro. Ao momento não me convém pôr-me para aqui a debitar motivos e o caraças. Que se lixe. É um estado de espírito comum, habitual. Qualquer dia esta tristeza deixa de ser engraçada e espetacular até para mim.

Tenha um bom dia!, disse ele, parecendo-me sincero.
Gosto desta expressão, deste voto, parece mais quentinho que o vulgo bom-dia. Gosto de sentir este calor, no entanto não uso a expressão, acho-me feia e rude porque uma vez a usei para dar ênfase ao desprezo que sentia, desejando exatamente o contrário ao meu recetor. Eu queria era que a pessoa se lixasse naquele dia, se aleijasse, se estropiasse. Morresse.

A do diário comprou detergente para a louça e uma vassoura. Aparentemente lava a louça e varre o chão. Que asseadinha.

Chamo a atenção para o seguinte: não venham cá comprar parafusos, são caríssimos. Cinco cêntimos por cada um é uma roubalheira. Seis parafusinhos ficam a trinta cêntimos, assim ninguém lhes poderá chegar.

A ideia dum términus persegue-me, de momento não há nada que faça sentido ou que me oriente, nem fechar o blogue, nem escondê-lo, nem - e isso muito menos - deixar de escrever.

Não faço crer que sou uma pessoa fantástica ou que trabalho num lugar maravilhoso. Não faço crer mas gostava tanto.

Oito-um-três pode ser a doutora da frente com uma merdinha qualquer que quer ver resolvida ou a dona Rute a pedir injeções de mercadoria, que depois passa cá.

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Olá bom-dia! É melhor situar-me no tempo: hoje é quinta-feira, dia 8 de novembro de 2012.
«A vida não é bela.
As crianças são birrentas.
Os velhos são enfadonhos.
Os adultos são presunçosos.
A chuva é gelada.
O outono devia ser doutra cor.
Tenho dores pelo corpo.»
De notar que escrevi estas coisinhas todas dentro da minha cabeça estremunhada, acabada de acordar e ainda debaixo dos cobertores, portanto, o que de certa forma prova o estado de demência em que me encontro.

'Até ao Fim', é como se vai chamar este extenso post, escolhi há bocado, enquanto vinha no carro, ouvindo o radio, escutando uma canção dos Quinta do Bill. Vou imitar o título dum dos sucessos discográficos desse grupo, acho que tem tudo a ver com o que venho escrevendo desde segunda-feira passada.
Ou então não.
Não é nada disso.
O que eu quero é um título apelativo, cujo texto vingue na blogosfera e perdure durante anos, seja marca e mote dos bloguistas.
Ou então não.
Não é nada disso.
Confesso que tenho feito esta maratona de notas avulsas com a ideia subliminar de fazer algo enorme no sentido literal e que leve as pessoas a não lerem, numa espécie de vingançazinha estúpida. Se não leem noutras alturas também não leem agora, pronto. Não faço falta, a verdade é essa, ninguém nota a minha ausência.

Ainda no âmbito da extensão deste post, devo dizer que encontrei agora mesmo uma vantagem imensa neste registo copioso que tenho feito nos últimos dias. Ora bem, é assim: é fixe para as pesquisas, imagine-se alguém pesquisar uma parcela duma frase que eu tenha escrito, o google vai buscar, que é bem-mandado, depois as pessoas vêm à cata da busca, e querendo encontrar vão ter de ler isto tudo e maravilhar-se-ão com a espetacularidade aqui manifesta. Que fixe.

Se o homem da 'minha menher, isto a minha menher aquilo' vai lá para a igreja dele testemunhar como o senhor opera maravilhosamente na sua vida... Não vai haver tempo para ouvir a palavra, que faz tanto bem aos corações fiéis, nem para o grupo de louvor atuar, que tanto conforta alma. Que tagarela. Porra.

Acho que ficas aqui mal, este lugar é feio e nauseabundo. Tu és bonito e sorridente. Vai-te embora, vá, que destoas.

Não tem medo de estar aqui sozinha? Tão fofo.
Elas andam todas assim, essas cores são bonitas e ficam-lhe bem. Tão fofa.

Não sou daquelas pessoas do 'ai isto só comigo, pá'. Tudo o que me acontece, acontece à outra gente idem. Durmo e acordo, estou feliz ou desgraçada, como, vomito e... aquelas coisas, pronto, estou doente ou de saúde.
É por isso que busco vivências e observâncias, ou os engrandeço, para terem importância e me ilusionarem por serem diferentes.

Catorze e coiso → ah, cafezinho bom! Quão precisada estou!

Não me agrada ser confrontada com as opiniões que deixo no blogue. Bem vistas as coisas não gosto desses comentários, atrofiam-me. Isto porque um blogue
- o meu blogue –
faz-se de pedacinhos de sentimentos e/ou pequenos atos, e toda a gente sabe
– e se não sabe devia saber –
que o presente só interessa ao presente. O que escrevo agora, logo mais não importa, podendo, inclusive, perder a razão, pois o que mais faço enquanto escrevente deste blogue, é contradizer-me.

Não ande atrás de mim, que eu tenho medo.
Então saia da minha frente, que eu quero andar!

O Ricardo Araújo Pereira, enquanto caixa de banco, perguntou-me se está tudo bem comigo. E eu ia desfalecendo com tanta amabilidade... E à despedida disse até à próxima e tudo, ele quer-me lá… quer digitar números que eu dite… ver-me e assim... Oh céus!

Tive um quarto de hora um tanto ou quanto atribulado, montes de porcariazinhas que não se esfumavam nem por nada, difíceis de resolver pra caraças. Vai daí, ao almoço, pus vinagre na salada ao invés de azeite. Depois, ainda, por causa dos nervos e isso, sucederam-se uma série de chatices inconfessáveis. E é assim que a minha vidinha subsiste e não se conclui. Estou farta. Que merda.

Um dia destes, creio que está escrito neste mesmo post aí para cima algures, referi que assumia a culpa de não ter amigos. Porém, hoje lembrei-me desse item, e creio que é melhor mudar de opinião, eu não posso assumir essa culpa sozinha, se eu não tenho amigos é porque ninguém se quer dar como amigo; é por isso também. Assumo cinquenta por cento da culpa, vá. Siga a vida.

Foram quase todos embora. Qualquer dia nem tu te aguentas.

Aberta a época invernal (invernosa). Vendi um aquecedor de chão com duas varetas rubras, aquando no botão on.

Invernal; invernosa. Não é tão vasta a língua portuguesa? É tudo uma questão de escolha. A gente, os meros escreventes, podemos escolher dentre um parafernália imensa de vocábulos sinónimos entre si, escolhendo o que mais se adequa em termos de etimologia ou mera vontade do momento.

Cinco-á-tê-um; duzentos-mil duzentos e cinco; treze e cinquenta; pê-cê dois e dez, desajuste ligeiro → dois ou três. Sei umas coisas de cor, tenho-as num qualquer ficheiro do cérebro.

Estou extenuada. Não me apetece conversar; falar; ouvir. Não podemos todos ser átomos silenciosos até que me passe a crise? Por favor? Hum?

Tenho passado todo o dia de hoje terrivelmente baralhada da cachimónia. Ser e apresentar-me baralhada poderia ter montes de piada e resmas de interesse, mas isso é para outro corpo; outra vida.

O homem do autocarro chega ao terminal e sai para olhar para o ecrã onde aparece o destino a leds laranjas que alternam as informações Feliz Natal ou Boas Férias, conforme o mês em que estamos. Aparentemente algo não lhe estava a correr bem, se calhar queria outro destino, ou o anúncio de transbordo ou aluguer, não sei, não quedei para me certificar.
Se bem que estas coisas de autocarro hoje em dia estejam computorizadas, lembrei-me dos motoristas da camioneta da saloiada aquando da partida da garagem do Martim Moniz (Lisboa), antes de arrancar abriam um compartimento acima do banco deles e davam à manivela para desenrolar um rolo de localidades até encontrarem o lugar que queriam. E eu via passarem-me diante dos olhos localidades diversas, sonhando que um dia ia lá, mesmo não tendo a certeza da sua existência. Um desses lugares que apenas podia imaginar um dia vir a descobrir onde era, ir lá e passear, era Terrugem. Hoje, trinta anos depois, a relação que tenho com essa localidade são flocos de espuma e fibra sintética, que essa mercadoria vem de lá.

Olha só a exclamação sonante e mui expressiva do jovem revirando caixinhas de blush numa lojeca de bairro:
– Foda-se!
Não é amoroso?
Olha só a forma como termino a sucessão de escritos d' hoje. Não é fantástica?

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Experimento uma solidão que há muito tempo não sentia. A bem dizer, busquei este estado. Precisava dum deserto despovoado e de certo modo livre dentro da cabeça. Não é de todo agradável mas é o que se arranja.
Pouco interessam os amigos, afinal, pouco diferem dos conhecidos, afinal. A solidão acaba por ser benéfica e prazerosa, estou sozinha mas tenho um escudo que me protege das ferroadas, tiros e setas. Ninguém merece a minha a atenção, afinal. Falo da atenção sincera, aquela que dói quando não é correspondida, ou, pior ainda, quando é desdenhada.

Daqui a nada vou ao centro de saúde. Quem me quiser ver, levo um casaco vermelho. Ou esperem lá, não vai dar, isto vai ser publicado em diferido. Fica para uma próxima oportunidade.

No centro de saúde um homem jogava ao solitário no telemóvel enquanto aguardava a sua vez. Dez minutos depois o telemóvel tocou, ele largou o jogo e atendeu, cumprimentando o interlocutor. Após uma perguntinha do lado de lá, respondeu que estava em Mafra.
Ó 'migo, olhe que você está deslocado, pá, isto aqui é Loures!
À despedida mandou beijinhos e desejou bom fim-de-semana. Coisa boa.

O tempo passa e as caravanas também. Os cães ladram de longe a longe, numa ânsia de diferir o hábito.

Lápis não tem plural. E, vendo bem, não tem singular.

Vá, vai-te lá tratar, diz ele. Que giro.

A senhora doutora gargalhou para mim, quando me disse até à próxima. Hoje é sexta-feira, deve vir daí a boa disposição.

Caros clientes, terminou a viagem, bom fim-de-semana, diz o motorista da saloiada.

Três da tarde e eu a fazer um raio-x aos pés em duas frentes, ou seja: por baixo e de lado, nada de frente. Que estranho estar deitada numa maca branca e fria...

O sol lá fora destoa um bocado dos últimos dias. Bem hajas, ó sol, tinha saudades e nem sabia.

Não. Não e não. Nada disso.

A dona Carminda tem as unhas na cor verde-água, e nos anelares uma florzinha branca.
Verde-água. 
Verde-água; verde-água.
Deu-me uma nostalgia...
A dona Carminda não me curte. São cenas de gaja, a bem dizer inexplicáveis. Conheço o motivo para esta altivez mal disfarçada. Sei-o, pois. Mas não tem razão de ser, nem pouco mais ou menos. Acontece, porém, que a reciprocidade existe efetivamente e atua indubitavelmente e eu acabo por embarcar no mesmo sentimento mesquinho.

Um homem andar numa loja de vestuário perguntando à empregada se tem o tamanho xs é de pôr uma mulher nos píncaros. Três sonhos. Três. Três verdadeiras quimeras.
1) O homem comprar-lhe roupa
2) O homem saber o número que deve comprar
3) A mulher vestir o tamanho xs

Segundo uma notícia d' hoje, fresquinha, já alguém andou a dizer que agora toda a gente escreve livros, que até já a da drogaria escreve livros. Não é um espetáculo? Que maravilha, pá! Oh glória terrestre! Isto só pode significar que dou nas vistas.

Os tides e os omos agora estão de frente, os quantos e os skipes, esses continuam de lado para mim.
E é desta maneira profissionalíssima que termino a saga d’ hoje.
Despeço-me: até amanhã.

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Sábado. Há cheiro a bolo de marmelada pela casa. Gosto destas manhãs, mais que as de domingo, o sábado tem um sentimento a descanso que o domingo não destrona.
Isto de escrever sem publicar ainda não terminou, cá para mim terminará na segunda-feira à noite, pelo menos é a ideia que tenho agora.

Tenho a casa para limpar. Eu e os ricos filhos, a cadela fica a ver o movimento, ou foge dos barulhos e dos cheiros intensos a lixívia e outros detergentes.
Já vou às limpezas, ainda é cedo, se ligo o aspirador agora lá vem a vizinha dizer subtilmente que me levanto cedo...

O isqueiro pegou fogo a um fiozinho de esfregão que tinha ficado preso à asa da panela aquando da lavagem manual. Logo se extinguiu, que as labaredas aqui têm pouco alimento. Culpa da dona de casa, hoje atarefada.

Noutros dias também sou dona de casa, mas menos tempo seguido, é uma ocupação intervalada ou assim, alterno-a com trabalho e mimalhices.

14:16; muito bom, o bolo de marmelada; agradável surpresa. Há crumble de fruta no forno, hoje estou virada para a goludice. Carências...

Ele caminha, a compasso, estende e flete as pernas. Desloca-se.
Somos iguais.
Encontra um obstáculo, a traseira duma camioneta de carga que, comprida de mais, não deixa sobrar passeio. Ele soluciona: equilibra-se na beira do passeio, naquela fileira de pedras juntas umas às outras, fazendo a separação entre o passeio e a relva.
Somos diferentes.
Eu piso a relva, atenta às fezes caninas e à lama.

A rica filha quis lençóis de flanela, não porque esteja frio mas porque são fofinhos. Até bateu palmas.
O rico filho tanto lhe fazia, para não fugir à regra de macho: para que é que isso interessa? Lençóis de flanela, sim, pode ser, mãe.

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Domingo. Acordar e ir verificar se efetivamente os filhos estão nas suas caminhas, se chegaram bem das suas saídas noturnas, é indubitavelmente uma nova forma de ser mãe.

Sonhei um sonho erótico. Hum, a bem dizer sexual.
Está bom assim, não mexo mais na conversa.

11:00; e esta malta que não acorda, hoje nem a cadela me liga...

12:00; a sirene dos bombeiros voluntários soou. Não, não é que haja incêndio ou outra calamidade, é costume a sirene tocar ao meio-dia.

12:09; há pão de milho no forno, a amiga da rica filha pediu, para a segunda parte da festa.

Mãe: Ricos filhos, há roupa para dobrar, quem é o primeiro?
Rica filha: O mano!

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Segunda-feira. Sol a jorros, janela adentro. Que lindo dia! Vamos viver? Vamos?

Hoje não irei ao lugar da musa, o que confere à minha existência um certo ar de afastamento da escrita, porque é sabido, e se não é sabido devia ser, que o lugar da musa é altamente inspirador e revelador e motivador e retemperador. E outras coisas acabadas em 'or' para rimar com amor.

Não fui ao lugar da musa porque fui à Carminho tratar da beleza podo-qualquer coisa. Ela estava mal da tripa por causa da barrigada de castanhas d’ ontem mas eu fiquei com a parte podo que há em mim muito bem tratada e bem mais bonita.

É necessário organizar-me. Vou tratar disso.
Tinha de deixar chegar este dia, o derradeiro da etapa, para ver como está o meu interior no que concerne à invulgar falta de comparência perante a blogosfera, falta essa que impus a mim própria por motivos completamente absurdos.
Um dos motivos era acabar com o blogue neste dia, aqui ao fim das linhas, quando já ninguém lhe apetecesse ler, para não se dar por isso. No entanto fui-me sempre contrariando com a ideia de que assim pareceria uma perfeita cobarde, melhor seria publicar um post pequenino logo a seguir, pequenino, muito pequenino, pensei inclusivamente no título: 'Acabou' e no texto: 'O blogue que durou vinte e quatro dias'. Sim, de onze de julho até agora decorreram vinte e quatro dias, dei-me ao trabalho de os contar.
Outro motivo era o de querer punir gravemente os leitores, queria que a minha ausência fizesse sofrer horrivelmente uma multidão leitora, multidão essa que apenas existe na minha cabeça, pois na verdade os leitores deste blogue distam largamente daquilo a que se chama uma multidão, certamente não passam de quatro, e já estou a contar comigo mesma, que eu sim, leio o meu blogue e admiro verdadeiramente tudo quanto aqui deposito.
Outro motivo, ainda, era o de querer continuar a escrever sem me mostrar; não deixar a escrita radicalmente, uma vez que não consigo, essa força não está em mim, não escrever seria demasiado penoso.
Agora, hoje, estou arrependida de ter começado isto de ir escrevendo durante oito dias e publicar tudo duma assentada, mostrando uma enciclopédia bloguista tão extensa que não haverá tempo na vida dalgum leitor para chegar a este item, já para não falar da paciência. É que não tem mesmo pilhéria alguma, um blogue com um texto enorme, pesado, arrastando-se... Eu escrevo publicamente, logo, preciso de leitores, logo, tenho de pensar neles, acarinhá-los e não repudiá-los com longos e aborrecidos escritos.
Esquecendo o facto de estar aqui para baixo, esquecendo a cobardia, caso eu seja cobarde, e sou-o em algumas alturas, e aproveitando a improbabilidade dalguém descer tanto, devo dizer que continuo com vontade - agora poucochinha - de terminar o blogue porque não sei lidar com a realidade e a virtualidade em simultâneo, não sei viver em dois mundos diferentes. Sinto que me estou a afastar da vida, o imaginário é tão mais apelativo – ou tem-no sido -, desconstruo o mundo e reconstruo-o como me aprouver ao momento. Entretanto dou comigo a sentir que durante esse processo cíclico e doentio a vida não me apraz tanto quanto devia, dou-me ao imaginário, à criação, e escrevo ininterruptamente, ou desconstruo e reconstruo as minhas observâncias, o que me cansa, oprime e martiriza. Na verdade eu não tenho uma cabeça pensante, eu tenho uma cabeça escrevedora, penso, escrevo e escrevo e escrevo e escrevo, eles e elas vão embora porque eu preciso estar sozinha para escrever, ou então não me dão atenção, claro que não, digo patacoadas improváveis – não sei conversar - ou sou muito ansiosa ou muito séria ou muito autocrítica e amedronto as pessoas.
Ora bem, não posso continuar assim, há que mudar ou partir. Sou uma mulher pobre, que não descobriu ainda se realmente sabe escrever para os outros, para ter leitores, para que se entenda o que diz. Não sei, não sei a verdade, ninguém ma vai confessar, uns por compaixão, outros por desinteresse. Sou pobre, repito, não posso viver da escrita, muito menos do imaginário, e a tentação de sucumbir, esquecer a vida e dedicar-me à loucura ultimamente tão sentida, é incrivelmente sedutora. É por isso que quero desistir de escrever. A verdade é essa. Note bem: eu disse 'quero' mas sem convicção. Note muito bem: este itenzinho da treta está uma confusão do caraças.

Pronto, a estafa termina agora. Pelo meio destes oito dias, de segunda-feira a segunda-feira, muitas coisas acontecerem, muitos estados de alma e vivências foram escritos.
Aí para baixo vai haver espaço para três fotos de Sintra que tirei no domingo, dia 4. São três porque usei três programas diferentes, acabando por fazer três tons distintos da mesma paisagem, e na impossibilidade de escolher a que melhor me parece, ficam as três.
Vai também ver-se uma foto de Lisboa, tirada à Olívia junto a uma montra de vestidos de noiva, criando um contraste de cor e de realidades muito engraçado.
Por junto e finalmente, haverá receitas de dois bolos e o poema duma canção dos Quinta do Bill que afinal não se chama 'Até ao fim' mas 'Chamar-te a mim'.

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Bolo de figos

Ingredientes

12 figos secos
150 gramas de manteiga
200 gramas de açúcar
3 colheres de chá de fermento em pó
150 gramas de amêndoa moída

Preparação

Cortam-se os figos em pedacinhos, regam-se com água a ferver e deixam-se arrefecer.
Entretanto, bate-se a manteiga com o açúcar e as gemas até se formar um creme fofo. Mistura-se a farinha peneirada com o fermento, os figos escorridos, a amêndoa e por último as claras em castelo.
Coloca-se numa forma untada com margarina e polvilhada com farinha e leva-se a cozer a meio do forno durante cerca de 40 minutos. Desenforma-se depois de frio.

Bolo de marmelada

Ingredientes

250 gramas de açúcar
70 gramas de manteiga
150 gramas de marmelada
1 colher de sobremesa de canela em pó
Raspa de 1 limão
200 gramas de miolo de amêndoa, moído
75 gramas de farinha
12 colher de chá de fermento em pó
6 ovos

Preparação

Bata o açúcar com a manteiga até ficar um creme esbranquiçado. Junte os ovos um a um. Depois adicione a marmelada previamente passada por um passador de rede, a canela e a raspa de limão e bata bem. Adicione então a amêndoa, a farinha peneirada com o fermento e mexa muito bem.
Coloca-se numa forma untada com margarina e polvilhada com farinha e leva-se a cozer a meio do forno durante cerca de 40 minutos. Desenforme, deixe arrefecer e cubra com marmelada em puré, ou pincele com geleia de marmelo.


Chamar-te a mim, Quinta do Bill


Sabes que eu sou tudo, menos racional
não sei de que lado estão o bem e o mal
nem sequer o tempo sei contar
sou o filho que Deus esqueceu de amar

Até ao fim
eu vou lutar
chamar-te a mim...

Sabes que não sobra muito a quem pouco tem
se me olho ao espelho, nunca encontro alguém
já não sei em quem acreditar
dá-me a tua loucura, faz-me aqui ficar

Até ao fim
eu vou lutar
chamar-te a mim...

E se alguém me acusar de louco
não me, não me importo nada
sou eu mesmo louco
não me importo nada
não me importo nada, não te importes nada

Até ao fim
eu vou lutar
chamar-te a mim...

Eles não sabem quem eu sou, quem sou, quem sou

Letra retirada daqui.

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