Gina, a mulher que tem um blogue

Gina, a mulher que tem um blogue

sexta-feira, 31 de maio de 2013

361

Olá, boa-noite. Não quero ser ovacionada ou tampouco notada, mas é assim:
Escrevo este texto para registar que criei o mais alto número de posts num só mês: 361,
escrevo porque sou uma maratonista de posts e bati o meu record pessoal,
escrevo porque gosto de memoriais.

Ideia feliz

(É melhor que perdure na minha cabeça a ideia de que sou uma grafómana solitária e triste e perdida da literatura... É melhor, é. Que não venha cá ninguém dizer que sei escrever e essas merdas para eu poder continuar a saber fazê-lo tão maravilhosamente como até aqui.)

«Os prémios domesticam o escritor independente, cortam as asas do inspirado, castram o rebelde...» Otavio Paz

Simpaticamente

A senhora faz-me um favor?, a pergunta é feita num tom ansioso. Viro-me e vejo um homem muito jovem, muito educado, muito simpático. Muito simpático, foco. Sobretudo, repito, simpático. A simpatia está inerente à necessidade em certos momentos da nossa vida. Ele precisava imensamente de mim. Fiz-lhe o favor, claro. Como não?! Sou incapaz de resistir a um homem simpático.

Sentidos

Tu não sabes o que é preciso. Há piar de gaivotas lá fora. E nós tão distantes do rio. Cheira a gafanhotos. Saboreio o cansaço. Mesmo assim: tu não sabes o que é preciso.

E 1
E 2
E 3

Digo que sou das letras e o pessoal conclui que não sei fazer contas. Digo que sou das letras.

Exercício de escrita

Fazer um texto com as palavras:

Zulmira;
Calça;
Casaco;
Verde-água;
Doutora.

Zulmira vem vindo aí com um fatinho calça e casaco no tom verde-água. Anda sempre assim, bem vestida, na verdade. Na verdade, não, não anda bem vestida, antes se mostra espalhafatosa. Espalhafatosa de fato de calça e casaco. Espalhafatosa de facto.
Zulmira está velhota, mal limpa o pó dos móveis e já não tem a força de outrora, queixa-se a senhora doutora. Mas é honesta, nunca lhe levou dali um fio de cabelo, e isso não tem preço, acrescenta a senhora doutora.

Dlim-dlim

Recebi uma chamada acerca dum estudo de mercado para falarmos do meu consumo de garrafas de gás. Vai daí, lembrei-me que o aquecedor tem de ir para a arrecadação. Rico filho: amanhã já sabes.

Lembrete

Nunca mais falei da pilha de jeans. Está na mesma. Passaram trinta e dois dias. No futuro haverá desfecho, do qual nunca conhecerei o caráter e portanto não o poderei escrever, se bem que podia profetizar aqui e agora. Mas não. Fim. O fim acontecerá quando a pilha mudar de aspeto. Entretanto há capítulos, o que me leva a quase desejar não haver mudança nenhuma.

Chamamento

No poste tal há um botão que me chama. É verde. Preto toda a volta. Carrega em mim! Carrega em mim! Diz ele. Mas eu não carrego por causa da rebeldia, que é tão gira de ter.

Olhos ao quadrado

Há um par de olhos que mira o estamine quatro vezes por dia. Não direi a que horas porque ninguém tem nada que saber da vidinha simples das pessoas. Passa lá fora e olha, sempre com espanto. Quatro vezes, decerto. É o homem dos olhos espantados. Deve achar o estamine um espanto.

Estou para aqui a pensar...

… Como hei-de abordar o tema genital. Pronto, ok, vá, é assim: tenho uma cliente que anda terrivelmente indecisa acerca duma certa torneira de bidé. E agora quero sem ponta e agora ponha lá ponta para eu ver como é e agora quero uma ponta mais comprida e agora não sei se fica bem e agora quero uma torneira diferente e agora veja lá se tem uma torneira que me sirva. Portanto, caríssimos, nunca na minha vida de balconista tinha meditado tão intensa e amiudadamente nos genitais duma cliente.

Item sexual

A felicidade é o orgasmo da vida, poetizou ele.

Pois, é sentida em picos, explicou ela.

2 ou 3 frios

Ontem havia três frios: o de fora, o de dentro e o frio da outra gente; o frio que circunda; o frio comum.
Hoje é dia de dois frios. Menos um, portanto. Fantástico. Está calorzinho e assim sendo tenho apenas dois frios para apanhar: o frio de fora e o frio de dentro. O frio de fora é aquele que sinto quando chega o calor, que o calor é uma coisa que não tem explicação: arrepia e pronto, siga a vida. O frio de dentro é estúpido que se farta, é o frio que nunca desaparece, independentemente da temperatura exterior, interior, da humidade e do vento. É meu, muito meu. Melhor seria chamar-lhe intrínseco.

Manas

Na cafetaria da porta do lado há novo mobiliário: as mesas são maiores, as cadeiras idem, tanto que mais parecem poltronas, aliás, é isso mesmo o que eu lhes chamo. O único senão é a gente custar a entrar por entre as pernas da mesa e da cadeira. A gente: eu. E como eu, outros haverá.
Hoje é sexta-feira, as manas picoas (o cognome é da minha autoria) vêm almoçar chicha de porco à portuguesa sempre tão apaladada, e eu estou desejosa de vê-las sentar e levantar do novo mobiliário.

Adendas a posteriori

Adenda primeira:
Ó Gina... - Chama o homem da cafetaria em segredo. - Já sentei as velhas...
Refilaram? - Quis eu saber.
Não, nada, tive de as empurrar já sentadas, são tão levezinhas...

Adenda segunda:
Na ementa não havia chicha de porco à portuguesa sempre tão apaladada.

Adenda terceira:
Vais realizar um dos teus sonhos. - Diz o meu colega e logo percebo que já viu as picoas acomodadas nas poltronas. E eu nada.

Adenda quarta:
Não vi as picoas sentar. Não cheguei a ver as picoas levantar, que estava de costas. Mau grado.

Adenda quinta:
Não quero saber se chicha é linguagem informal, ok senhor word desta espelunca de computador?!

Post ridículo

O mal feito pode fazer-se bem feito.

Post radiofónico

Disseram na Radio que hoje é o dia do 'vizinho' mas eu escrevo da vizinhança amanhã, caso me dê na tola.

Nome

Uma amiga da rica filha ficou maravilhada com a presença da minha cadela, já a havia visto nas fotos mas ao vivo era melhor.
– Ah que giro, ela parece maior nas fotos, aqui é um mini-cão-grande!

A foto

O que fazer numa oficina enquanto se espera o diagnóstico do popozinho? Tirar fotos, pois claro, e depois escolher apenas uma, a mais linda. E rabiscar e isso: agora os mecânicos trabalham de luvinhas, que mariquice...

Olival Basto, 31 de maio de 2013

Eu vou ali pintar uma porta e já cá venho...

Loures, 31 de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Post final

Boa-noite. É noite do dia 30 de maio. Faz anos que me estreei no parentesco tia/sobrinha. 28. 1985. Contei a efeméride ao senhor Victor com cê. Para brincar pronuncio Viquetor sempre que o cumprimento. Diz que fez anos a 21. Há 9 dias. Não percebeu. Não é o fazer anos. É o ser tia. É a estreia nesse papel. E para finalizar: de novo marimbando para as vírgulas.

Post canídeo

Na casa da cliente (post anterior) há uma cadela enorme que me acompanha corredor aqui, divisão ali. As patas são enormes, os pelos são compridos, a cabeça é gigantesca. O osso do cocuruto então nem se fala, é pontiagudo, incomoda-me um bocadinho acariciá-la no alto da cabeça. Cheira-me as mãos e os pés e a bainha das calças. Cheira a drogaria, não é?, brinco eu. Ela responde com um olhar meigo. Em meiguice é igual à minha cadela. E em curiosidade de cheirar a bainha das minhas calças idem.

Post artístico

Estive no domicílio da sósia da Rita Lee. É uma mulher que possui a exuberância dos artistas, o perscrutar aguçado dos escritores e a sensibilidade dos poetas. Tem uma expressão forte, cheia de certezas. Havia saído do banho de espuma, envergava um roupão grosso e pesado, com muitos gramas de fios, e apresentava um ar descontraído e a nuca molhada.

Post virgulado e frásico

Ando a ver se as faço maiores, se uso mais as vírgulas. Tendo a criar frases curtas. Sou abrupta de natureza. Não gosto de vírgulas (que entendo como intervalos indecisos), gosto de pontos finais (que entendo como sábios remates), mas sinto que sem vírgulas o texto parecerá rude e ininteligível. E se não escrevo para mim mas de mim para os outros...

Post noticioso

Há tanto tempo que não ia ao lugar da musa que fiz confusão com a entrada. (Sou uma menina muito má, não li nada do livro, nem uma página, nem duas, nem nada.) Tinha saudades daquilo e blás. E blás o caraças, que medo de escrever, pá → tinha saudades de ouvir conversar.

Post ocular

Perguntei ao meu colega se achava bem eu publicar no blogue que hoje um homem me piscou o olho e que esse foi o momento mais emocionante do dia. Ele disse que sim.

Post vampírico

Ainda não contei ao mundo que ronda nesta área um ator, acho que trabalha como vampiro, ou lá que é. Já lhe achava carisma e peculiaridades antes de o saber ator, se bem que sou achada em falta nesta ideia → todas as pessoas me são especiais. Intimamente especiais, quero eu dizer.

Post capilar

Tenho um amigo que gosta de me ver arranjada. Ó Gina, olha aí o cabelo, tens uma ponta abaixo e outra acima, avisa ele. Que fofo. Perguntei-lhe se era mesmo preciso amanhar o cabelo, se não ficava gira assim toda desgrenhada. Ele encolheu os ombros e eu fiquei com a certeza de que fico sim senhores. Quem cala consente, diz a minha mãe, e as mães estão sempre certas.

Post têxtil

Vi uma t-shirt maravilhosa numa montra alta e transparente. Tinha 'Sexy Girl' estampado em letras garrafais. Não comprei. Tampouco experimentei. Não tenho parte com nenhum dos dois predicados.

Post trabalhador

Hoje era para ser feriado mas não é. Soube disto porque ouvi na Radio, pois se assim não fosse o facto ter-me-ia passado despercebido, que eu cá sou comerciante, logo, os feriados são um tanto ou quanto indesejados, significam menos receita e portanto não lhes ligo por aí além. Se eu não fosse comerciante, era outra coisa qualquer e talvez não desse pela abolição do feriado na mesma. Os se's são incógnitas fantásticas na vida duma pessoa. Eu. Fantásticas de fantasia.

A pecaminosa que escreve

Estou lixada. O meu conto pecaminoso assenta sobre um tema ancestral e portanto não é novidade nenhuma (isso já eu sabia e já agora acrescento que não procuro temas ou histórias originais, cansar-me-ia debalde) só por dizer que ultimamente ouço amiúde o assunto ancestral que escolhi para me mostrar pecaminosa... Ele é na Radio, ele é na TV… Merda.

Saga dos seis poemas

A saga dos seis poemas não se tem revelado saga nenhuma, afinal. Tudo fácil. Fácil, fácil. Rápido e sem percalços. Em termos de relação editora/autores é semelhante ao que já conheço. A única diferença é ter assinado um contrato a dizer que sim senhores, deixo que usem a minha arte como lhes aprouver e o caraças. Vá, leiam-na para aí, pintem a minha poesia com outras cores, pouco me importa. Em termos de apresentação da obra, capa e isso, parece mais cuidada, mais bonita, com mais categoria ou assim.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

De verdad...

«Quer-me quando menos o merecer, pois será aí que mais o necessito.»

Pablo Neruda

Uma poetisa à solta...

… Na Lisboa dum centro comercial. Era para ir à loja das louças e cutelarias mas enfio-me na loja das roupas pobretanas. Era para ir à loja das bugigangas e tecidos vários mas meto-me na loja dos brincos e pulseiras e anéis. Após minuciosa observação das lojecas, entro no estamine devido, finalmente. Distraio-me com as prateleiras cheias de artimanhas e chinesices para cozinhar melhor, em menos tempo, com maior asseio. Tanto circulo pelo amplo espaço que se aproxima um funcionário tão quarentão quanto eu. Vejo-me igual: 40s, lojista. Pergunta-me se preciso de ajuda e não lhe noto qualquer vontade de me ajudar. Acho este senhor carismático devido ao ar desamparado que sempre tem, tanto que dá dó. Me dá dó. Não tenho vontade de o ajudar. Vejo-me igual e solto a minha poesia, curta e inartificiosa:
«Não, apenas deambulo.»
Ele sorri vagamente, como quem desentende a informação e se sente cansado demais para entender. Responde um monossílabo qualquer. Afasta-se de ombros caídos. Tão triste, sempre triste, este senhor.

Se eu fui capaz de declamar a minha poesia?! Sim, o público era reduzido e é fácil falar com um estranho*. É ainda mais fácil falar para um estranho.

*Ver aqui


Eu

Eu? Estou no miau a ver passerelles da marca ferrosa, que é do Norte. As roupas são caras, bonitas. Simples mas glamorosas. Há café atrás de mim e frio à minha volta.
Eu? Estou no banco curvo, na chaise longue, que é como quem diz: cadeira comprida, só por dizer que isto não é uma cadeira, é um banco.
Eu? Estou no supermercado, daqui a nada, agora ainda não. Vou cheirar o peixe e mexer nos pacotes de massa.
Eu? Observo minuciosamente o placar do café. Diz que há bica curta e cheia. Escaldada, italiana, cimbalino, sem princípio. (Bica sem princípio não sei o que é, a ver se pergunto a um perito.) Abatanado. E há café sem cafeína para os amantes de café falso, café que não o é, café adulterado, café que não palpita. Credo, oh céus, a ideia de beber um descafeinado é como necessitar grandemente de ritmo sexual e apenas dispor dum vibrador com as pilhas fracas.
Eu? Mudei de chaise longue. Aqui não se respira melhor. Recosto-me. Vejo têxteis doutras cores, talvez mais vibrantes.
Eu? Sonho com um mundo meu. Quando digo meu, é meu e meu, meu de verdade.

A casinha

Elisabete Maria, a esotérica, tem a espiga ainda verde pendurada na porta da cozinha, secando à sombra, protegendo a casinha. Não, protegendo a casinha não, promovendo a vida, colocando a esperança num ramalhete campestre, inventando ideias de prosperidade. Ilusões ou isso.
A casa cheira-me a lenha queimando. Não percebo porquê. Não vi lareira nenhuma. Queria ver fagulhas. O lume aceso. As brasas. Mas não. Aspiro o cheiro e consolo-me. E se o fogão é a lenha? O fogão, onde está o fogão? O radio toca baixinho. Há frigorífico. Há tv por cabo e internet. Lá em cima não cheira a nada, nem a pó, está tudo limpo. Pobre mas limpo. O quartinho tem uma claraboia com a portinhola aberta. Vejo o céu e tenho vontade de pedir para tirar fotos. Mas não. Desço por onde há pouco subi. Parece tão íngreme, agora, comento eu. Elisabete Maria ri, conta que desce aquele lanço de noite, às escuras. Regressamos ao cheiro e ao radio que tocapara ninguém. Cheira-me a lenha queimando mas não me lembro de descobrir o fogão. Quero ver o quintal, tenho vontade de fazer perguntas. Mas não.

Questão

Já te aconteceu entrares num sítio que conheces extremamente bem, como se fosse a tua casa, e de repente esse local te parece frio e impessoal, tão desprovido de emoções como um trapo velho?
Se nunca te aconteceu, ainda bem, não é de todo agradável.
Se já te aconteceu, seremos pares, significa que tens uma imaginação tão absurdamente fantástica quanto a minha.

Modo de escrever

Ser clarividente pode conter uma rasteira: de repente fica tudo esclarecido, não há pontos a discutir. Ainda não fui rasteirada, orgulho-me disso, a vida mostra-me incessantemente pontinhos deslumbrantes. Então discuto-os e clarifico-os solitariamente para não ser contrariada.

Parar

- Mãe, consegues parar o tempo?
Pergunta a rica filha debaixo duma evidente preguiça em rumar para o trabalho. Exponho-lhe francamente a vulgar ideia:
- Se tu quiseres o tempo para, na tua cabeça consegues ser e fazer o que quiseres.
Ela fita-me demoradamente e conclui:
– Mãe, esse assunto é bom para desenvolver, devias escrever um livro sobre isso.
Aconselho-a num repente:
– Lê o meu blogue, filha.

(A imaginação é tua. Na tua cabeça podes ser quem tu quiseres e pode acontecer-te o que achares melhor. Isto até ao momento em que a realidade dizima as ideias e destrona a imaginação. Irremediavelmente.)

Docinhos da mamã

É quarta-feira e já ando a pensar no bolo que hei-de fazer no fim-de-semana…

Laranja; sementes de papoila; coco; canela; baunilha; amêndoa, iogurte; natas.

A cor do dinheiro

As notas de vinte euros têm a cor verde-água à mistura com o azul-celeste. Só hoje reparei no verde.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Blogues

Eu a pensar que a senhora ia responder-me logo a seguir, cheia de amáveis conselhos e da mais sincera cordialidade.
«Ó Gina, a menina faça o que quiser, tem o meu aval. Tome lá o texto ponha-o aí no seu cantinho, ‘miga, não faz mal nenhum, qual quê. Olhe, estive a ler o seu blogue. Menina: você escreve tão bem... Escreva mas é um livro e deixe-se dessa patetice de manter um blogue, vá, que a blogosfera é para os medíocres.»
Mas não. Fez muito bem, disse ela por escrito, e mandou-me abraços, que chegaram cá arrefecidos pela distância.

O traço

Saia travada, casaco de pele sintética, para não fazer mal aos bichinhos. Cinquenta anos. Lábios vermelho esbatido e um traço escuro contornando o limite, na cor preta, parece-me. Mulher nenhuma devia pintar os lábios dessa maneira, ficam dramáticas. Retire o traço, minha querida, vá lá.
É simpática q.b., achou muita piada à loja, bem que lhe haviam dito que era assim, estava maravilhada. O adjetivo foi ela que usou. E eu repito para ser fiel à realidade.
Estar na plateia é tão bom, encontra-se pessoas diferentes da minha, sem a chatice do confronto, sem me ensarilhar a vida, sem testas, debates e afins.

Verão sem maiúsculas

É outro verão. É o verão d'agora. 2013. Está frio. O calor extingue-se. Extinguiu-se. Há-de passar. 2013. 2013 é outro verão.



Lisboa, 28 de maio de 2013

Luz solar

'Best Summer Ever' impresso a letras prateadas numa t-shirt amarela pressagia calorosos e felizes momentos. Só falta o gelado de limão, visto que na minha cabeça parece combinar tão a propósito. Mas eu não possuo arte para fazer uma ligação capaz entre um gelado de limão e uma t-shirt amarela.

Dois papéis

Antes de escrever, pensei: só mais duas ideias, vá.
Pumba, só falta uma.

Também posso arranjar um texto maior.
Pumba, já está.

(Não tenho papéis.)

31

Ela sai do 31 de saquinho na mão. Encosta a porta do prédio e sete passos depois abre a porta de serviço. O saquinho é um saquinho com lixo, nada de valor, portanto.
Se a vejo, estou no ponto certo, no segundo mais desejado. Se não a vejo, não me lembro dela, posso estar atrasada ou adiantada. Não me lembro dela. Não a vejo. Mas hoje vi.

Ocupação

Baza daí, puto, que esse banco é meu.

Lisboa, 28 de maio de 2013

Momento literário e sexual

A mulher magricela, velha, definha e definha, definha ainda mais, cada dia, chupada nas bochechas, covas, ossos, a pele dum cinza alaranjado, como um céu de novembro na eminência duma trovoada. Quando leva o cigarro à boca põe-na em redondo, lembrando os vídeos sexuais que circularm na internet.

Nota informativa

Num texto, as notas são invariavelmente informativas.

Nota informativa

Já não apresento todas as letras das canções dos vídeos, ficará ao critério do momento.
Ou seja:
apetece-me, pois sim senhores, junto o poema;
não me apetece, pois não senhores, não junto o poema.

A quem interesse

'A quem interesse' é uma presença em todos os posts, independentemente do título que lhes ponho.

A quem interesse

Chamo bicho cão à minha cadela. Bicho cão, bicho cão, anda cá à dona. Bicho cão, tu-tu, bicho cão muito lindo, tu-tu-tu. Bicho cão fofinho, lindo da dona.
É uma cadela, é.

Aviso

Li na porta envidraçada dum cabeleireiro masculino:

«Estamos a almoçar na cave. Por favor, bata à porta com uma moeda.»

Que fofos. Que criatividade. Só falta a 'boa-tarde', mas pronto. Ah, e bom apetite para vocês, 'migos, desejo eu daqui, que também sou fofinha.

Frases passageiras

O Michael já disse que vem cá quando eu fizer 85.

I spent a few days in Lisbon just to explore.*

*Corrigido pelo rico filho, que eu cá sou uma nulidade a escrever inglês.

Dias de um Ginásio

Ontem não me apetecia nada ir ao ginásio. Nada, nada, mesmo nada. Mas fui. Havia um certo perímetro do meu corpinho que clamava intensamente por manutenção. Ouvia-lhe o clamor, pois ouvia. Hoje estou melhor. Agradecida.

Carga policial (para continuar na onda do momento literário que este antecede)

Vi um par de polícias na rua fazendo a ronda. Tão jovens, pá. A pele lisinha, pele de leite, apesar da barba, sem sulcos mas com ilusões. A ilusão é minha → vê-los fez-me pensar que já tenho idade para ser mãe de polícias.

O guarda noturno

O guarda noturno está na esplanada bebendo uns canecos, cavaqueando descontraidamente. Roda de amigos, álcool, conversa. Como se quer. Os outros, não sei, mas ele mantém o mesmo ar seguro do outro dia.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

• Preto & Branco

• E debaixo do soli.

• E debaixo das folas.

• E debaixo das árves.

• E debaixo das nuves.


Gosto (gósto)

Gosto de pessoas. Falo de gostar e falo de pessoas. Gosto. Até gosto dos defeitos, dos que descombinam de mim, mesmo os que me baratinam ou aborrecem. Gosto, é a verdade, gosto mesmo, a sério, gosto, mas assim tanto, assim como digo, não gosto de muitas pessoas, tenho o filtro apertado.

Gosto (gôsto)

O senhor professor segredou-me que gosta de morenas.
Eu segredo ao blogue que já comprei a peruca loura. Nunca suportaria ser o tipo físico de homem nenhum.

O mundo está no chão

Um maltrapilho deita-se no chão para espreitar debaixo do parquímetro que não está totalmente assente no chão, ansiando por moedas eventualmente caídas naquela greta. À minha frente segue um homem com um saco cheio de cascas de batata, cenouras, bananas.
A pobreza em duas frentes. E eu a fugir delas. Não, nada disso, não há ilações acerca do parágrafo acima.

Fim-de-semana em rescaldo

Dona Lurdes contou à Gina que no sábado fez um bolo de iogurte - com iogurte magro - e que o bolo não cresceu. Vai daí continuou a historiar: ofereceu um pedaço do bolo compactado e salobro à vizinha e as duas discutiram essa grande questão. Dona Lurdes afirmou que é do iogurte ser magro. Vizinha discordou, qual quê, o bolo não cresceu por causa da farinha estar quente ou fria, ou as claras não terem encastelado. Dona Lurdes ripostou, o forno dela é muito bom. Vizinha comeu o bolo e alvitrou que a dona Lurdes esqueceu o fermento. Dona Lurdes sabia do que falava, foi boleira durante anos e anos e quase se zangou. Vizinha voltou a dizer mais qualquer coisita em discordância. Dona Lurdes ficou nervosa. Dona Lurdes ficou muito nervosa. Dona Lurdes quase chorou. Dona Lurdes lembrou-se da Gina e disse para com ela, deixa estar que na segunda-feira vou contar isto tudo à Gina. Já está. Gina sonhou com a chegada de encomendas à loja. Era sábado e era domingo. Gina trabalha nos sonhos. Gina lembra a dona Adelina, a qual lhe fala amiúde das propriedades desengordurantes e abrilhantadoras do vinagre. Gina juntou essa substância à água de lavar o chão. Não notou nada de especial. A garrafa do vinagre veio do espólio da dona Maria do Céu. Dona Maria do Céu foi morar no lar transmontano. Dona Maria do Céu também ofertou o resto do azeite mas com essa gordura não há mezinhas caseiras no que toca a limpezas.

domingo, 26 de maio de 2013

8 1/2

A roupinha está estendida, já brinquei com as molas e a restante parafernália. Ainda não jantei. Ainda há luz do dia lá fora, é isto o que a primavera tem de melhor. Ainda é domingo. Ainda posso falar do domingo. A cadela. Ontem e hoje tenho estado musical, e, portanto, estou a soluçar, eu e as vírgulas, dançando corredor afora dei um pontapé no queixo da cadela. Suprimi uma vírgula entre afora e dei. A cadela não tem nada de andar atrás de mim quando estou a dançar. A cadela sentou-se com a força do pontapé. Coitadinha. Fiz-lhe muitas festinhas. Muitas, muitas. Perdoou-me. Perdoou-me? Não. Se não chegou a odiar-me...

8

São oito da tarde, ou noite, ou lá que é. Tenho um pc no colo, o que não é habitual. Está quente, o que me desconforta. Tenho a tv ligada, não olho para lá, que isso de digitar sem olhar para o teclado não é para mim, ademais eu gosto é de escrever. Espero o apito da máquina para ir estender a roupa. O jantar está pronto, em cima do fogão. Hoje é domingo. Amanhã será segunda-feira. O mundo está cheio de verdades, afinal. A máquina apitou. Molas e estendal, vá.

#

Nunca mais se é tão verdadeiro como no momento em que se nasce.

Liberdade



Santo António dos Cavaleiros, primavera de 2009

sábado, 25 de maio de 2013

Vizinhança

Hoje a vizinhança está tão musical quanto o meu blogue. E, posto isto, depois de tanta canção, finalmente se dignou pôr-me a escutar um som que me agrada particularmente.

Gosto musical

Um dia perguntaram-me qual o meu cantor preferido. Meditei um pouco e respondi o que responderia hoje: não tenho, gosto de tudo um pouco. Depois, numa ânsia de parecer diferente, lembrei-me:
«Olha, gosto de ouvir a Kate Bush.»
O interlocutor do momento riposta logo certezas: eu não gostava da música da Kate Bush, nada disso, podia até gostar dalgumas canções (as mais comerciais, a Babooshka ou assim) mas de certezinha que não gostava de todas.
Fiquei triste. Comigo mesma. Com ele. Era muito jovem e não tive resposta pronta nem conhecimentos para argumentar, só tinha um cd cá em casa que ouvia regularmente. Deixei-me estar. Gostava (e gosto) mesmo dessa cantora. Gosto do timbre da sua voz, é agreste, carismática, agrada-me e emociona-me; gosto do ritmo da música, é envolvente, dramática, penetrante; gosto da teatralidade da artista.
Ninguém me conhece. Ainda hoje ninguém me conhece. Parafraseando o caríssimo Daniel Oliveira (Alta Definição, SIC) numa das suas perguntas cliché:
«Alguém te conhece como só tu te conheces?»
Não, ninguém me conhece como só eu me conheço.




Outside
Gets inside
Through her skin.
I've been out before
But this time it's much safer in.

Last night in the sky,
Such a bright light.
My radar send me danger
But my instincts tell me to keep

Breathing,
("Out, in, out, in, out, in...")
Breathing,
Breathing my mother in,
Breathing my beloved in,
Breathing,
Breathing her nicotine,
Breathing,
Breathing the fall-out in,
Out in, out in, out in, out in.

We've lost our chance.
We're the first and the last, ooh,
After the blast.
Chips of Plutonium
Are twinkling in every lung.

I love my
Beloved, ooh,
All and everywhere,
Only the fools blew it.
You and me
Knew life itself is

Breathing,
("Out, in, out, in, out...")
Breathing,
Breathing my mother in,
Breathing my beloved in,
Breathing,
Breathing her nicotine,
Breathing,
Breathing the fall-out in,
Out in, out in, out in, out in,
Out in, out in, out in, out...
("Out!")

"In point of fact it is possible to tell the
("Out!")
difference between a small nuclear explosion and
a large one by a very simple method. The calling
card of a nuclear bomb is the blinding flash that
is far more dazzling than any light on earth--brighter
even than the sun itself--and it is by the duration
of this flash that we are able to determine the size
("What are we going to do without?")
of the weapon. After the flash a fireball can be
seen to rise, sucking up under it the debris, dust
and living things around the area of the explosion,
and as this ascends, it soon becomes recognisable
as the familiar "mushroom cloud". As a demonstration
of the flash duration test let's try and count the
number of seconds for the flash emitted by a very
small bomb; then a more substantial, medium-sized
bomb; and finally, one of our very powerful,
"high-yield" bombs

"What are we going to do without?"
Ooh please!
"What are we going to do without?"
Let me breathe!
"What are we going to do without?"
Ooh, Quick!
"We are all going to die without!"
Breathe in deep!
"What are we going to die without?"
Leave me something to breathe!
"We are all going to die without!"
Oh, leave me something to breathe!
"What are we going to do without?"
Oh, God, please leave us something to breathe!"
"We are all going to die without
Oh, life is--Breathing.

Fonte: http://www.vagalume.com.br

Cores

Amarelo e roxo continua a ser um junção fantástica, a meu ver.

Loures, 25 de maio de 2013

A menina do vestidinho cor-de-rosa

Estreei um vestido no exame da quarta classe. Estava-se em 1978, e era costume, ou lá que é, as criancinhas irem vestidas a rigor.
Normalmente era a minha mãe que confecionava a minha roupa mas não foi o caso deste vestido, que foi feito por uma costureira que morava rente à estrada, numa casinha já desaparecida. Íamos lá a casa fazer as provas, a costureira usava alfinetes, a minha mãe usava alinhavos, dava pontinhos mesmo eu estando com a peça vestida e tudo, nas provas da costureira tinha de me portar muito bem, sempre fui cheia de comichões quando é forçoso estar quieta com outra gente a mexer-me no corpinho, com a minha mãe podia estar menos quieta, e ademais a minha mãe tocar-me era muito diferente duma estranha aqui de volta.
Naquele dia tão especial de junho, lembro-me do embaraço que senti por ir toda pimpona para a escola, eu que não gostava nada de dar nas vistas. A minha mãe até me propôs, aborrecida e sarcástica:
- Vê lá se queres que te embrulhe num cobertor para ninguém te ver!
Fiquei com lágrimas de raiva, penso que não desceram, penso que as controlei, penso que me concentrei no exame que ia acontecer.
O exame decorreu, passei para o ciclo preparatório, não sei com que nota, não tenho louvores na memória, nunca fui menina-prodígio de coisa nenhuma, mas fui uma menina com um vestidinho cor-de-rosa que estranhamente não foi a minha mãe que fez.

Nota: a foto está velha e mal tratada mas é o que se arranja...

Há espiga...

Loures, 25 de maio de 2013

Simplesmente papoilas



Loures, 25 de maio de 2013

Como uma flor luminar...

Loures, 25 de maio de 2013

Nunca tinha visto esta vista...

Loures, 25 de amio de 2013

É por estas e por outras que não tenho amigos...

Tenho um amigo para o qual canto: ‘there’s a shadow in my heart’, Áurea.



Entretanto, e antes que o bicho se canse da cantilena, rebusquei outros versos e estaquei aqui: ‘my loneliness is killin' me’, Britney Spears.



Vai daí, não satisfeita comigo, e antes que ele deixe mesmo de ser meu amigo: ‘one day baby we’ll be old’, Asaf Avidan



Não consigo angariar amigos, por mais que me esforce.

Bolo de Bananas com Amendoins

Eu disse que fazia, não disse? Já está. Receita abaixo da foto.


Bolo de Bananas com Amendoim

4 ovos
2 cups de açúcar amarelo
1 cup de óleo
4 bananas maduras
2 cups de farinha
1 colher de chá de fermento em pó
1 colher de café de canela em pó
1 colher de café de gengibre em pó
100 gr de amendoins torrados e descascados
1 clara de ovo
Açúcar em pó

Bater os ovos com o açúcar até ficar fofo. Juntar o óleo e as bananas e bater mais um pouco. Adicionar a farinha, o fermento, a canela, o gengibre e mexer até tudo estar bem ligado. Deitar numa forma redonda, untada e enfarinhada. Colocar por cima os amendoins e levar a meio do forno.
Assim que o bolo esteja arrefecido fazer uma papa com a clara e o açúcar até ficar consistente. Decorar o bolo a gosto. Eu queria fazer fios mas não deu... Bom apetite.

No supermercado

Quando vou ao supermercado escolho a caixa com minúcia e redobrado interesse, não é que escolha a fila mais pequena, antes me é necessário simpatizar com o(a) funcionário(a). Sim, já os(as) conheço e distingo.
«Hum, este cabrão não, este não gosto nada dele, este é uma besta...»
«Esta puta não, esta puta também não, esta puta aqui então é que nem pensar...»
Digo eu para comigo, enquanto empurro o carrinho meio cheio pelo corredor até que encontro uma puta ou um cabrão de acordo com os meus desejos. Ah... Que bom.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

De visita

Gosto de visitas. Pode não parecer, sei que não parece, mas gosto. De fazer o bolo e de preparar tudo atempadamente. Sei que não parece nada. Tenho a marca de não ser. Depois sinto-me um bocado sozinha. Não sou sozinha. Não sou. E vou passear sozinha e gosto de andar sozinha, eu gosto é de andar sozinha, procuro andar sozinha. E entristeço, e sou triste sem querer sê-lo, que parecê-lo não pareço, tenho a marca de não ser. Parecer, quero eu dizer. E descrevo vidas. Tenho o blogue, um blogue faz-de-conta que é companhia, canso-me das vidas que crio e volto ao umbigo. E ando para aqui a chafurdar nos pensamentos e chego à morte e às coisas do medo e não tenho medo nenhum. Estranhamente. Não tenho, não. Se eu estiver a escrever não tenho medo nenhum. Tenho medo de escrever mas se estiver a escrever não tenho medo nenhum. Porque quando estou a escrever acho que não sei escrever. Porque tenho medo de escrever quando acho que o sei fazer capazmente. E não tenho amigos mas eles vêm cá a casa almoçar. E não me são iguais. Eu não tenho medo e digo coisas da morte. Eles não me entendem, ou pior: não querem entender. Não quero morrer. Ou seja, quero morrer mas não me quero suicidar. Eu disse que não tenho medo de dizer coisas. Eu não quero morrer porque se o inferno existe então eu vou lá parar, sou ruim. Eu não quero esse conhecimento. Quando sabemos os segredos não ficamos melhores, antes piores. Piores. E não é pouco. O conhecimento traz aflição. E não é pouca. Gosto de visitas. Conhecidos ou isso, que eu cá não tenho amigos. E acho que me estou a repetir, como no post anterior. E acho que estou a escrever no mesmo tom. Estilo. Tom. Tom é mais bonito. E coisas daqui, sem me repetir, é difícil.

Não há novidades

Coisas daqui, sem me repetir, é difícil.
A tarde apresenta-se ensolarada. O arbusto dança. Cheira a comboios. Assentam sobre carris. São azuis. Mas há vermelhos e cinzas e uns que são cinza com uma risca vermelha que acompanha a largura das janelas, assim a toda a volta, na horizontal. Não sei se dá para perceber mas adiante. Nunca se sabe quem percebe. Nem quem perceberá. Nunca saberei quem percebe. E quem percebe entende como quer. Ou entenderá, melhor no futuro, que a esperança está no porvir. O que não quer dizer que não se perceba ou não se entenda. Nem quer dizer que queira alguma coisa. Coisas daqui, sem me repetir, é difícil.
Leio. Uma página ou duas. E escrevo. E esforço-me por não me concentrar antes no sorriso da estátua. A verdade é que a estátua me sorri durante uns milésimos de segundo, daí não passa. E logo lhe noto a expressão que realmente tem e mantém, por mais que a rodeie. Muda o ângulo de visão, nunca mais muda a expressão. É uma estátua triste, afinal. Segura outra estátua que está caída a seus pés, com uma expressão tão sofrida que só visto, visto que eu não sei escrever. A estátua grita, parece-me. Inaudivelmente, parece-me. Não se ouve nada. Apenas a dança do arbusto e os comboios rolando, apitando, sem pessoas.
Eu leio e escrevo. Não, escrevo e leio. Interrompo-me constantemente. É a monte. Tudo na minha vida é a monte. Trabalho a monte, com montes. Sou a monte, encavalito tudo. Escrevo e leio a monte. E tropeço nos montes e montes. Tropeço aos montes. Amontoadamente. Amontoo o livro e a caixa dos óculos e o bloquinho rudimentar e a caneta e os óculos escuros em cima da mala que tenho no colo. Tenho dois pares de óculos assentes na cabeça. Uns no toutiço, outros no nariz.
Escrevo. Mas se disser que escrevo as parvoíces do costume estarei a repetir-me. Mas coisas daqui, sem me repetir, é difícil.
Nunca falei dos bancos de jardim. Não sei. Se calhar já falei. São muitos. Metade deles à sombra, escondidos. Albergam velhinhos desocupados e adolescentes em intervalo de aulas. Contentes e tristes, uns e outros. Troquei-me: os velhinhos estão tristes; os adolescentes estão contentes. Há uns bancos com a pontinha sombreada. Sento-me aí, que a parte soalheira escalda. Leio. Escrevo. Não, escrevo e leio. Dou mais importância ao escrever mas o ler é importante. Para aprender. Para não repetir o que os outros escrevem. Para ser eu. Coisas daqui, sem me repetir, é difícil.

Casaco de peles

O ar confiável é uma pele de boa senhora por cima da pele de mulher ludibriosa. Sou uma fraude. A boa senhora supera a mulher ludibriosa. Sou uma fraude.

Devido ao post anterior...

… Lembrei-me dum post que encpntrei... ai perdão, encontrei num lbogue... ai perdão, blogue, que mostra certas questões que podem ocorrer na vida dum escritor e que são deveras patéticas. Ou antes, e pensando melhor: a vida dum escritor é verdadeiramente risível.

Não transcrevo o texto na íntegra porque a autora do blogue tem-no protegido contra copianços. Nunca copiei nem nunca copiaria textos de blogues sem autorização prévia do autor mas ia gostar mais de ter o texto deste lado. Não tendo, o leitor tenha paciência, clique neste linque e depois faça o favor de ler. Obrigadinha.

Deixo agora um texto retirado do meu anterior blogue, que nesse mando eu:

«Terminei mais uma leitura: ‘Diário de um fescenino’, Rubem Fonseca. Este livro foi lido num instante!
Gostei. Gostei muito, muito, muito deste livro.

• Da forma hábil como o autor escreveu a intimidade masculina, tornando um diário num livro agradável, uma vez que os diários correm o sério risco de se tornarem aborrecidos.

• Do drama que o escritor descreve, levando o leitor a perceber que a escrita é indissociável da vida real, ainda que se contem histórias ficcionadas. Os escritores baseiam-se no que observam da vida real, retiram apontamentos de situações e as características dos seus personagens são muito próximas às pessoas que efetivamente conhecem.

Estas questões fizeram-me refletir bastante. Eu já sabia que escrever não é de todo agradável e neste livro percebi que se pode mesmo ser acusado das próprias criações literárias, ainda que se escreva ficção.»

Escrito em Lisboa, a 28 de maio de 2012

Conta-me histórias

Fez uma pausa, como quem medita na repercussão daquilo que vai revelar.
- Ah, eu a ti posso dizer, não tenho problema nenhum.
- Pois não, não tens.
Disse eu, aliviada por ele não se lembrar que escrevo histórias, por não ter noção nenhuma do valor que a escrita tem para mim e por estar tão distante da ideia de que tenho um blogue. Ao que parece mantenho o ar confiável, tanto que me revelam segredos ou questões com alguma importância.

O guê pelo vê;
O vê pelo guê

Tenho um amigo que troca o trago pelo travo.
Durante a conversa que tivemos aconselhou-me a comer o pastelinho de feijão da cafetaria tal, que são tão bons, ai meu deus, com um trago a limão, e aconselhou-me a que me embebede aos poucachinhos, travo a travo, nada de emborcar tudo duma vez.

É sexta-feira

Uma cliente disse-me que quando chega ao fim da semana tem de lavar as calças mas não é que cheirem a mijo, é por causa de andar de transportes públicos, suja-se toda.

De caneta na mão

Gosto muito de escrever. Os funcionários da emel idem. E são criativos, que não há duas matrículas iguais.

...

Espirrar duas vezes e ficar com uma violenta dor de cabeça é estúpido. Doer a cabeça é estúpido; espirrar é alivioso.

Fotos d' ontem…

… Numa casa alheia, vazia, mas preenchida com algumas memórias, umas minhas, outras doutros.



Loures, 23 de maio de 2013

Começo o dia com a capicua

2222. Digitar 4 vezes 2. 2222. Capicua. Já se percebeu, presumo. É a capicua, e esta é repetitiva que se farta.
É um post da capicua, há quem escreva do tempo quando não tem assunto, há quem escreva números.
Repito, que também posso:
Digitar 4 vezes 2:
2222.

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