Lisboa, 24 de outubro de 2012
Não é porque queira, é porque tem de ser. Vamos lá.
Uma senhora perguntou se eu teria telefone, que a deixasse telefonar ao filho – tão quarentão como eu, tendo em conta a idade dela - para ele não adormecer.
Outra senhora queria saber de uma padaria. Do lado oposto da rua, número oito. Ah, muito obrigada, viu? De nada.
Tenho outras coisas para escrever, designadamente o Novembro 2010, bem como os outros meses a seguir. Escolher textos. Fazer um livro. Integralmente meu.
Também tenho de escrever do amor. Custa...
Estou triste. Estou muito triste. Estou muitíssimo triste.
Ontem vi Lisboa à noite da varanda dum quinto andar. Não era uma vista muito ampla, talvez por a noite já ter caído, mas gostei sobretudo de ver a torre da igreja da Penha de França, o sino bem iluminado devido à luz artificial. O resto da vista, cá mais para baixo, eram luzinhas dispersas, prédios compactados, a perspetiva ilusionando a ausência de ruas e alcatrão, varandins e muros a quererem saltar-me à vista porque entretanto já os olhos se haviam habituado à escuridão.
Se pudessemos ir ao quarto do senhor doutor víamos o castelo, aí sim é que é lindo, disse ela. Que pena, então, pensei eu.
Não gosto de viajar no banco de trás do carro. Nada. Nadinha, nadinha.
Agora a luz solar é filtrada através do portão. Eu ao fundo da escada, a luz aos recortes lá em cima. A distância é curta, o fôlego também. Consigo ver se a fechadura está fechada à chave ou só no trinco. Ajuda um bocado, embora pareça que não, assim fico logo a saber se tenho de ter as chaves a jeito.
Estás toda encolhida... Hum-hum. Que tens? Dói-me as costas. Então?! Dormi mal. Ah... Acordei cedo por causa desta dor, levantei-me sem poder, cheguei aqui à hora do costume. Ah, olha, antes tivesses chegado a horas, as melhoras. Obrigadinha.
A maior prova da minha solidão é a conversa comigo mesma. Até se pode pensar que não estou sozinha, mas estou. Se estou.
O meu amigo está exigente, está, está. A prepotência é notória logo à partida. Aliás, cheira-se.
Cheira mal.
Bah, escrever uma história de amor. Logo eu. Que porra.
Amar é partilhar e eu não quero partilhar nada, não quero ninguém. Não sei fazer essas coisas bonitas de escrever amorosamente, sou capaz de sentimentos bonitos mas não os transformo bem, retiro-lhes a beleza, sugo-lhes a seiva para os ver encarquilhar, deleito-me nesse prazer. Sequer escrevo o que deve aparecer, ninguém gosta de ler o que alguém tão ruim debita na forma escrita. Ninguém, alguém, só indefinições. Bah. Raios partam quem inventou esta forma de comunicar.
Ao momento a previsão é a seguinte: nos próximos dias vou escrevendo ao sabor de coisa nenhuma, chegada a noite coloco a escória resultante dessa coisa num post, deixando ficar em rascunho dentro do blogue. Já sei que se não fizer assim, amanhã releio esta treta toda e não me parecerá bem.
Amanhã é outro dia, escreverei ao sabor de coisa nenhuma novamente, mas com a coisa nenhuma do próprio dia, à noitinha blás... E depois de amanhã, tudo igual. Quando me apetecer parar com este ciclo, publico os rabiscos duma assentada e num só post. Será o máximo, posso escrever, posso mesmo escrever, ninguém terá tempo para ler a maioria das coisas. Chamo tempo para não chamar paciência, pois pareceria pobrezinha e coitadinha, ou enfezada, raquítica e anã.
A irmã do deputado diz que lá fora ninguém pede trocos para facilitar, só neste país é que é assim. Ó 'miga, se você soubesse o interesse que eu tenho nessa questiúncula... Venha ler o que estou a escrever. Venha lá. Para o castigo ser recíproco, que assim você fica-me a ganhar...
De manhã na radio, o Ricardo Araújo Pereira disse uma palavra sui generis: minudência. E eu entontecendo a cabeça à procura de coisinhas pequenininhas, querendo chamar picarruchinho a isto e aquilo. Já sei mais uma.
Mas eu preciso mesmo de escrever?! Sim. Se não é como se me tapassem a boca.
Boas! (tardes)
…
Trocas-me isto? (cinco euros)
…
Ssssse faxavor? (gaguez ligeira)
Já almocei. O Daniel diz que eu deixo sempre um restinho de comida no prato. É verdade, creio que ainda não atingi o estágio da obesidade por passar aqui o tempo, isto tira-me o apetite. Fujo logo a seguir. Para voltar logo a seguir. Impreterivelmente. Insistentemente. Infinitamente.
Este é o pior lugar de sempre. Este é o melhor lugar de sempre. Em simultâneo, ah pois.
Estou doente. Não me dói nada. Paradoxalmente.
200100 abre o ficheiro 2001009. Tenho de dizer isto ao homem do pc, que está a chegar. Também há uma coisa parva na parte do gás. E tenho de saber como retirar uma nota de crédito dum recibo. Retirar ou inserir, já nem sei... Só faço asneiras, qualquer dia despedem-me, e com justa causa.
Cheguei do passeio há não muito tempo. Mais não fiz do que andar, ler, escrever, respirar e chorar. Vendo bem, fiz um montão de coisas.
As pessoas de grandes olhos são tendencialmente tristes, dá-me a impressão que à tristeza está associado um olhar imenso. Os olhinhos pequeninos normalmente são mais alegres e brilhosos, detêm na menina do olho um pontinho que brilha que eu sei lá. Os olhos grandes são lagos. Lagos com cisnes, que podem ser o branco do olho, o castanho um barco a remos, húmido, expectante. Parou por aqui, não sei o que pôr no lugar do barco no caso de os olhos serem azuis, ou verdes, ou cinzentos. Oh, punha um barco pintado, claro!
Gostava de ser homem, tenho presente que se fosse macho poderia escrever tudo. Elas já nascem emporcalhadas, eles não. Há algo no cerne da mulher que lhes retira os bons predicados logo à nascença. Os homens podem escrever. Elas são lascivas mas assenta-lhes mal. Os homens podem escrever. Eles ficam bem com a lascívia fervendo lá dentro. Ficam melhores, inclusivamente. E podem escrever. Que merda. Gostava de ser homem.
Sou uma escritora do 'não escrevas', tenho medo de escrever, ando aqui a ver se ninguém dá por mim.
Não quero ir ao lançamento do livro. Não quero que leiam a minha nova historinha. Não quero estar no meio de gente que escreve.
Estas continuam a ser três verdades muito sentidas. Lamento e não é pouco. Tenho buscado o contrário sem sucesso.
Qual louca, qual quê. Não estou louca → hoje vim trabalhar; amanhã virei trabalhar; depois de amanhã virei trabalhar. Tomarei conta dos hábitos – que não suporto -, olharei e cuidarei com zelo para que não se percam.
Diz que a história das pessoas está na sua pele, principalmente se forem velhos, li num livro (O Olhar das Mulheres, Max Gallo). Não possuo o dom de descortinar isso. Sou capaz, isso sim, de ver os pontos mais salientes da personalidade dum(a) velho(a) na sua expressão. Mas às vezes engano-me. As primeiras impressões não são tão reais assim. A pessoa velha está muito marcada, e é por norma muito mais expressiva, pode aparentar fragilidade ou medo e cansaço, mas pode ser momentâneo, ou pode calcar esses sentimentos e fazer brotar o fulgor e a vivacidade. Se for tudo a fingir... Paciência.
São seis e vinte e cinco. Chove em Lisboa. A estafa termina. O dia escurece. A mulher do senhor engenheiro sai de casa envergando um casaquinho curto cor-de-laranja. Meto-me com ela, digo que está a desafiar o tempo com essa cor tão lustrosa e primaveril. Ela diz que tem de ser, tem de ser. É parecida comigo: repete-se. Quando se aproxima cheira-me a pinho. Eu vendo disso aqui na loja, anti traça com odor a pinho, como se numa mata a gente estivesse. Tão bom. A combinar com a chuva e tudo. Há melhor cheiro que o da terra molhada pela chuva?
Lisboa, 25 de Outubro de 2012
Loures, 6:30, despertar espontâneo e antes da hora outra vez, penoso outra vez, dói-me as costas outra vez;
7:30, chuva com abrandamentos de intensidade, cadela chegada do passeio matinal, encontra-se num frenesim, língua de fora querendo lamber-me as mãos, e lambendo-as efetivamente, grande cumplicidade entre nós.
Temos de perder a vergonha se queremos escrever. Temos de assentar nos papelinhos os assuntos que ocorrem na nossa cabeça, independentemente de alguém nos estar a observar.
Estamos a escrever na segunda pessoa do plural mas não sabemos o motivo de tal desordem, quiçá distúrbio psicológico. Nós gostamos de tudo quanto seja pertinente à psique e achamos que somos muito dinâmicas e possuímos uma avidez tamanha pelos motivos e razões para tudo o que sentimos. Vamos parar de escrever assim para trabalhar um poucochinho. Daqui a nada voltaremos à escrita para dar azo à criatividade literária que possuímos... Quanto baste.
Ontem à noite custou-me horrores não publicar as minhas coisinhas. Ficaram lá, dentro do blogue, em rascunho, sem leitores. Do facto de não ter leitores não retiro benefícios de qualquer espécie, na verdade comecei com isto de escrever debaixo da inspiração de coisa nenhuma por uma caturrice, tenho dias ou momentos em que não quero ser lida, porém a necessidade de fazer registos é imensa e incontrolável. Já que comecei com este diário, termino-o.
Tu não gostas de ler, disse eu ao homem da cafetaria quando ele brincando disse que doravante apenas receberia os pedidos por escrito. Antes tinha argumentado que não sei o nome dos bolos, como é que me safaria? Podia descrevê-los (seria um prazer) mas ele depois não ia ler...
No livro que ando a ler ('O Anjo Literário', Eduardo Halfon) alguém referiu que a feitura dum diário é a coisa mais ridícula que existe. Discordo, não é nada, homessa! Escrever é escrever, pouco importa o quê ou acerca de quem. Podemos apontar a vida das outras pessoas, claro, para nos distanciarmos, mas mesmo assim faremos a coisa à nossa maneira. O ego não se afasta do que escrevemos. Nunca.
Hoje é que as minhas patacoadas estão a ser inspiradas por coisa nenhuma. Onde anda a musa d' ontem, pá?!
No livro que ando a ler ('O Anjo Literário', Eduardo Halfon) diz que um anjo nos relembra o que já esquecemos para assim podermos escrever tudo o que já nos lembrámos anteriormente. Bem hajas, ó anjo, que bem-aventurada existência!
Sei que existe algo assim, pode ser um anjo, pode ser uma musa, pode ser outra coisa no campo da espiritualidade, desconheço a sua especificidade, mas existe, que eu sinto-o cá dentro aos pulos. Se o sentir for ilusão do meu pensar... Marimbo.
Ela arrasta os pés como se uma grande força de gravidade lhe estivesse apoiada nos ombros, como que não querendo viver. Quando chega das compras, extenuada, arruma tudo nos devidos lugares. E, antes de finalmente descansar, estica todos os sacos vazios e engelhados, dobrando-os em oito partes, quatro dobras, portanto. É tão primorosa, esta senhora, eu bem vejo. Depois de tudo ainda arruma os saquinhos num recipiente próprio para esse efeito que tem na despensa.
Dava-me jeito que o tal anjo aparecesse agora. Neste segundo. Vá lá, preciso de ti, 'migo. Sei que tenho memórias nos confins. Ajuda-me.
Se já alguém me encorajou a escrever? Já. O Luís. Ele sabe disto tudo, do blogue, do meu gosto pela escrita, do quão preciosos são para mim. Mas não vem ler, raríssimas vezes o faz. Diz que me bloqueia a criatividade se assim fizer. Dói um bocadinho este abandono e aparente desinteresse pelas minhas criações, bolas pá, nem o Luís vem ler... Mas ele tem razão, existem certos temas nos quais não entraria se soubesse que ele havia de ler as minhas incursões literárias.
O lugar da musa hoje está com uma música de fundo mais ritmada que o costume.
Que não me encolha perante uma senhora assim. Ela é alta mas tímida, duas características díspares que me transmitem conforto. Conforto muito bem-vindo, posso dizer.
Tem nas mãos um guarda-chuva com um padrão cheio de classe. Não percebe nada disto aqui, só quer algo que pesquisou na internet para retirar os maus cheiros dos canos: cloro. Cloro não tenho, aconselho ácido ou lixívia. Mau conselho, disso tem ela lá em casa, mas para se certificar telefona a alguém. É o amor dela, trata-o por 'meu amor' e depois chama-lhe você.
'Ah, você acha que há ácido lá em casa? Hum-hum... Sim, meu amor, eu espero por si naquela esquina do toldo verde, bebo por lá um café. Sim, meu amor, quando estiver quase a chegar, telefone-me.'
Que cena... Por entre a conversa ri-se timidamente, em gargalhadas pequenas, meio soluçadas, reparte-as desigualmente, dirigi-as ora ao amor dela, ora a mim. Para mim são poucochinhas, claro. Olho-a sem medo, noto que está embaraçada por ter conversas particulares frente a uma estranha, desvio o olhar. Pede desculpa pelo abuso, retribuo com um sorriso e um 'não faz mal, esteja à vontade'.
Mentirosa. Agora sou mentirosa. Dantes também era, só por dizer que não escrevia e agora escavaco-me toda para descobrir as verdades... Que esmiuçadas se viram do avesso. Mentiras e mais mentiras. Um problemão. Dantes não escrevia, por isso estas questões não me impediam de ser feliz. Escrever embruteceu-me e mostrou-me um negrume que eu não sabia que tinha.
Estou a ser fortemente influenciada pelo livro que ando a ler ('O Anjo Literário', Eduardo Halfon). Já ontem tinha dado por isso. Olha a sinopse:
«’O anjo literário’ é uma pesquisa apaixonante sobre a literatura e o processo criativo dos autores. Um livro que não é simples de catalogar, um género híbrido, entre a ficção, o fragmentário, a recolha de contos, o ensaio e a entrevista, e que oferece um mosaico sobre o arranque literário de numerosos escritores, ao mesmo tempo que vai descrevendo e registando de forma reflexiva o próprio processo da sua escrita.»
Nota: foi a
Redonda que mo ofereceu.
Natureza.
A montanha é-o no sentido lato se estivermos afastados. A bem dizer, quanto mais afastamento houver mais montanha há para nós, mais a sua grandeza se nos mostra.
Hoje estou muito dada à segunda pessoa do plural. Estou, estou.
Natureza.
A brisa ligeira é um vento sigiloso.
Duas e cinquenta da tarde. Em Lisboa a chuva desabou em pingos grossos. Abri o chapéu-de-chuva carregando num botão que acionaria o mecanismo (modernices!) e um bando de pombos levantou voo repentinamente ao som do bôum! do meu chapéu. Grande susto, pobres bichinhos.
Do diário. Dos diaristas. Presumo que o leitor esteja cansado deste texto em forma de pequenos posts mas sem título. Fragmentado, por assim dizer. Ler diariamente um bocadinho dum diário acerca da vida desengraçada duma diarista leva-se bem, ler duma só vez um texto com metro e meio de comprido por vinte e dois centímetros de largura é tremendamente aborrecido. A sério. Mesmo a sério. Sei o que estou a afirmar. Estou convosco, caros leitores, isto que estou a fazer há dois dias consecutivos não se faz, não existem leitores tão benévolos assim. Mas eu gosto de violar regras comportamentais, principalmente em questões de escrita.
Pois bem, paro por hoje, regressarei amanhã. Mas vós, se quereis continuar com a leitura... Força nisso, é já aí abaixo, estareis lá num segundo.
Lisboa, 26 de outubro de 2012
Acordei bem melhor, obrigadinha. Agora dói mais abaixo, mas menos. Se eu soubesse que a língua da minha cadela me curaria, deixava-a lamber à vontade, ali naquele sítio, no pontinho específico, no fulcro, no cerne da dor.
Nunca pensei sentir isto → estou doente. Há algo na minha cabeça que me segura os movimentos, me domina o corpo, me suga o ânimo, creio que as dores que sinto advêm da parte psicológica.
Tenho medo de escrever estas coisas doentias, tenho medo que se intensifiquem de tal modo que me imobilizem abruptamente, dá-se para aqui um nó que ninguém desatará. O escrever às vezes faz-me isso, engrandece-me o pensar e saem-me estas monstruosidades.
Não sei falar inglês, 'migo. No português vou-me safando, agora inglês... Não.
É por causa das folhas secas. Se não fossem as folhas no chão, o mundo não estava assim, tinha outras cores, vivia-se doutra maneira. Para quê caírem folhas?!
Das palavras de difícil articulação.
Tenaz em vez de pinça. Tenaz é muito diferente de pinça. OK, menos uma para me atazanar.
O quê em vez de fundida?! Dizer fodida é uma chatice... Depois ninguém entende, lá vai tudo a fugir daqui, e vender é primordial e deveras necessário.
Confundida é outra coisa que me avassala cá por dentro, mas pouco, digo confusa e pronto, siga a vida.
Dizer avariada em vez de fundida é mau, uma lâmpada não se avaria, uma lâmpada funde-se. Mas não se fode. Não fora um objeto e seria uma lâmpada infeliz, a pobre. E dizer que se romperam os filamentos, e portanto não há circuito, que tal?
Já lá fui eu. Já lá foi ele. Já lá foi a filha dela. Ela precisa de aprender a abrir aquela porta...
Foi com o Minotauro que aprendi a regra da verdade. Umas vezes curioso, outras arisco, ele era alguém cheio de cortesias em contrabalanço com uma aspereza difícil de aguentar. E assim me habituei às minhas verdades, inconsequentemente. Com riscos mas sem infortúnio, que eu sou uma mulher cheia de sorte.
Sim, o meu Minotauro existe, obviamente não se chama assim mas eu cognominei-o dessa forma por um motivo ultrassecreto. Minotauro é alguém específico, um ser feito de carne e emoções, que dificilmente encontrará este blogue, e se hipoteticamente encontrar, e vier a ler este nicho de palavras, nunca perceberá que é a ele que desvendo.
Escorrendo o tempo, o Sipipú passou a ser amiguinho da gente aqui. Fala comigo e tudo. Amoroso, este bicho.
Entretanto adquiriu outras formas, mais complexas, mas sempre esquisitas e indecifráveis. Sempre vou evoluindo,
né?
Isto aqui é só gajos, pá! Sim, o género masculino apela-me de sobremaneira, não tenho qualquer tendência homossexual.
O que a
Redonda me disse acerca do meu escrever.
Primeiro: certificou-se de que eu não faço muita divulgação do meu blogue → não, não faço, não senhores, contudo não me escondo, marimbando para o anonimato, e se eventualmente não marimbo tanto assim é para manter o anonimato doutras pessoas, nunca o meu, mas deixo-me estar no meu cantinho sem dizer 'olhem lá, eu estou aqui, presente e saliente'.
Segundo: disse que se eu divulgasse o blogue, a maneira como escrevo atrairia muitos leitores.
Terceiro: disse que há dois tipos de escritores, os que escrevem dum modo encapotado, escondendo-se atrás da escrita, como se estivessem fora das histórias que criam, e há os outros, os que abordam os temas de forma concreta, sendo que pertenço a este último grupo, referiu, e ela gosta muito mais de ler os textos de quem escreve diretamente.
(Obrigada...)
Sei que estou atolada em egolatria, transbordo o ego escrevendo assim, é um exagero este expor copioso, mas é tão raro ouvir alguém debruçado sobre o que apresento no blogue que não podia deixar de fazer este registo. Ademais, foi-me dito oral e presencialmente, o que é um acontecimento puramente feliz na vida desta que escreve.
(Viste como cheguei à pureza que foi um instantinho?)
Problema passageiro. Tenho um problema com as pessoas que conheço.
Problemão. Tenho um problema com as pessoas que não conheço.
Acerca do palavreado enigmático anterior: amanhã é o lançamento da coletânea. Tenho medo das pessoas que vão lá estar. Tenho medo de me dirigir a elas. Tenho medo de falar para elas. «Aquilo» vai acontecer não tarda muito. «Eu» vou estar lá. Tenho medo de falar acerca do lançamento às pessoas que conheço. Tenho medo de falar. «Aquilo» vai acontecer, a hora chegará. «Poucos, menos ainda» vão estar presentes.
Aqui estou eu. Garatujando, garatujando, garatujando. Confabulações e mais confabulações. Esperando ardentemente que me leiam, que ouçam os meus gritos de dor e raiva, que escutem as minhas paixões e se deleitem, que leiam até ao fim, mas depois de isso acontecer deixem-me em paz, por favor. Não me digam nada, por favor.
Ainda agora começou a tarde e já escrevi isto tudo. Pode ser que durante o que resta da tarde haja muito que fazer e esta seja a última confabulação.
Quero agora acrescentar, não vá aparecer uma multidão de clientes que me impeça a escrita, que todos os textos dos últimos três dias foram efetivamente escritos e revistos no próprio dia, as ocorrências descritas em alguns desses textos poderão não pertencer ao dia corrente mas a feitura dos mesmos pertence.
Sei porque escrevo
mas não sei para que escrevo.
O motivo pode ser o mesmo
mas não é,
porque eu escrevo por necessidade
e escrevo sem utilidade.
Arranja-me um docomentozinho? Arranjo, sim senhor. Um que preste...? Sim, arranjo-lhe um documento prestável. Ora bem, é isso que eu quero.
Elementar, 'migos. De salientar que material «pa estores» não tem nada a ver com pastorícia, eu é que navego por ondas literárias, idealizando e compondo frases, e depois ouço o que ninguém disse: «pa estores» → «pastores».
Sonhei que retirava cera dos ouvidos. Em grandes doses, vinham bocados enormes desse sebo dourado e peganhento agarrados ao algodão dos cotonetes. Parecia que se me estava a sair toda a merda que tenho dentro da cabeça...
Curiosamente, recordei este sonho quando de manhã ouvi na radio a rubrica 'Traquitanas' do Nuno Markl, uma dessas hoje foi sobre cotonetes. Não tivesse ouvido esta rubrica e não teria recordado o sonho. Obrigadinha, 'miguinho Nuno.
Agora me lembro: eu podia muito bem ser uma Bond. Note bem: não uma Bondgirl, que a idade e a estrutura óssea (tanto em altura como em largura) não ajudariam, mas uma zero-zero-sete, um papel principal doutra película qualquer. Digo isto porque o secretismo está-me intrínseco. A parte de me racharem os cornos é que era pior... Ora, fizessem uma película sem rachas!
Esta estafa imensa que agora termina foi a solução que arranjei para o cansaço que em certas alturas a exposição em demasia me provoca, sem abandonar o ato de escrever. Sou grafómana, certo?! E como grafómana me despeço por hoje, dizendo que não escrevi tudo...