Está um dia lindo e quentinho.
Daqui a nada vou a um lugar lindo e quentinho. Trarei novidades. Ou então não.
Apetece-me escrever, ando à procura dos interesses.
O estado do tempo é sempre interessante, por isso comecei por aí. O ar está tão quentinho que tirei uma camisola. Pumba, outro interesse. Recebi um sms. E toma lá outro interesse.
Fui ler o sms → era promocional, dizem que ganho um ipod se blás.
Está a arrefecer, estou com frio → tenho de vestir a camisola.
Falta ir ao lugar lindo e quentinho → a ver vamos se trago interesses. Se não voltar de lá é porque morri, ceifada por um autocarro ou esmagada por um contentor de entulho.
Devia ser uma pessoa feliz mas não sou. Pergunto-me se não serei feliz pelo dever → O dever de ser feliz. Tampouco estou segura de ter saúde, nem nesse campo há presentemente muita alegria.
Outro interesse capaz – voltando aos interesses, por agora - é o de ter os pés assentes numa das cidades mais belas do mundo → Lisboa. Olha lá para fora, a luz, não é linda? Clara, limpa, intensa. Qual fugacidade, qual quê, aqui não há luzes fugazes, nem ao lusco-fusco, que é belo e duradouro. E pode-se respirar e tudo, não há assim tanta poluição.
O lugar lindo e quentinho já tem decorações de Natal. São bolas suspensas do teto, enormes, prateadas, cheias de veios e laços claros, a combinar com luz, para manter a serenidade e nos parecer que a vida é limpinha. Estava tanto calor que voltei a tirar a camisola. Fiquei toda vestida de preto. Diz que o preto fica bem a toda a gente...
Escrever o quê?
Vamos a isto, conquanto escreva, viverei feliz.
Mulher e colher. Porquê tão igual? Amar é comer. Comer é foder.
Diz que sim, diz que no Algarve a coisa está preta. Ciclones, casas derrubadas, pessoas desalojadas, viaturas inutilizadas, gente apeada. Diz que sim, diz que a gente pondo-se no lugar doutros infelizes, se presume feliz. Temos é de arranjar uns infelizes que efetivamente sejam mais infelizes que a gente.
Discordo. Não sou muito perentória na discórdia mas discordo. Creio que essa atenção canalizada para outros infelizes da vida nos torna ainda mais egoístas, estaremos a tirar proveito da desgraça alheia para nos alegrarmos.
Complicado? É, bem sei. É difícil viver.
Cinco da tarde. Queria descrever o contorno do prédio lá ao alto, faz um bico engraçado. Queria descrever a luz solar que ainda resta deste dia. Queria descrever as nuvens fofinhas e iridescentes. São cinco da tarde, nada mais a acrescentar.
Devia ter comprado um chocolate para me lambuzar. Para encher a boca com quadrados doces, moê-los prazerosamente. Assim, aqui, agora, estaria satisfeita e feliz.
É noite. Isto agora é diferente, lá de fora veem tudo, a luz incide daqui para a rua e não o contrário, toda a gente que passa pode ver as minhas caras. Um horror.
É noite, noitinha, escura e fria.
Não morri, ou este post não seria lançado para a blogosfera. Sim, penso muito em morrer, é a verdade. Habituaram-me a que as minhas verdades sejam repelentes, como se eu tivesse uma doença contagiosa, bem como a ausência de romantismo que me caracteriza. Quem quiser aguentar as patacoadas secas que escrevo deixe-se estar, que eu não mordo, prometo, apenas tenho a mania que sou depressiva, maluca e abrutalhada, apenas me defendo escrevendo, há inclusive quem chame catarse a isto de escrever as coisinhas de rajada.
Por hoje resta-me dizer que a vida seguir devagar e convictamente é o melhor que há.
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