A Adília lavava a sua própria roupa no tanque coletivo de Loures. Tinha quinze anos, uma mãe mais velha que a minha, o que muito me alegrava*, vivia numa barraca sem luz e sem água canalizada, sita mesmo ao lado do tanque municipal e tinha mau aproveitamento escolar.
Um dia, durante uma daquelas aulas em que éramos colegas de carteira, pusemo-nos a riscar a roupa uma da outra. Qual de nós terá começado a tonta brincadeira? Não me lembro.
A Adília tinha uma saia cor-de-rosa, eu tinha umas calças beges, a caneta era escura, grandes riscos, grande contraste, cada uma de nós chegou a casa num lindo estado... Recordo ela dizer em voz desconsolada que ia ter de pôr a saia na lixívia e que a mãe ia ralhar muito, em calhando levava pancada. E eu? Eu estava na boa, imbuída dum espírito rebelde, quando mostrasse as calças pintalgadas à minha mãe logo se veria... Não deve ter acontecido nada de especial porque não tenho na memória qual foi a reação da minha mãe.
*Em criança eu tinha o trauma de ter uma mãe 'velha' porque a minha era sempre das mais velhas, senão a mais velha de todas as mães dos meus colegas. Anos mais tarde a vida proporcionou-me um facto especial para contrariar essa ideia: ser sempre a mãe mais nova quando comparada com as mães dos colegas dos ricos filhos.
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