Eu estava ao balcão para pedir um copo de água e, esquecendo o castelhano, pedi à portuguesa:
Dê-me um copo de água natural, por favor.
A senhora do bar despachou-se e encheu um enorme copo de água gelada e eu, que sou poupada, deixei-me estar assim. Enquanto engolia a água, não tão avidamente quanto a minha sede clamava, que eu cá não curto água gelada, ia revendo mentalmente a frase que devia ter saído da minha boca:
Uno vasito de água non fresca, por favor.
Mas não.
Dê-me um copo de água natural, por favor.
Caraças, pá.
Entretanto, ainda enquanto ia engolindo a água, um senhor que estava do lado de cá do balcão, como eu, aproveitou a deixa e exclamou:
Já não há nada natural!
Achei aquela entrada um tanto ou quanto esquisita, eu só tinha muita sede, mais nada. Engoli rapidamente o conteúdo do copo e pedi mais. Neste intervalo o homem perguntou-me:
Então em Portugal, como vão as coisas?
Fiquei parada nada de tempo, de copo na mão, contendo o resto da sede, e:
Olhe, se eu estivesse em Portugal, estava a trabalhar, assim, como estou aqui, estou de férias!
Portugal estava ótimo, portanto.
O homem não estava nada a fazer-se a mim, ora essa. Os homens não querem nada comigo, há uns que até fogem.
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