As pessoas estão doentes. Se não estão doentes, estão no mínimo sorumbáticas. Nesse estado sai-nos umas coisas ruins da expressão. Nesse estado parecemos ruins. Outras pessoas estão ausentes. O melhor é escrever, sempre difiro. Se vejo alguém de caneta na mão é porque está a fazer as palavras cruzadas ou de roda do sudoku.
Diz bom dia. Dizem bom dia. Dizemos bom dia. Todos. Todas as vezes. Há vezes dessas vezes que dizemos unissonamente, como se tivessemos ensaiado para um jogral. A vida. Ah ah. 'A Arte imita a Vida', Oscar Wilde tinha (tem?) razão. Tem, Oscar Wilde está vivo, ressuscitei-o agora mesmo.
Bic laranja; escrita fina, a caneta do senhor das palavras cruzadas.
Saquinho verde, do moranguinho, como o meu, só por dizer que o meu é vermelho. É a senhora que mais sorumbatismo tem na expressão, cabelo negro, descombina dramaticamente com a sua faixa etária. Que drama. Redundância.
A outra geme, de revista encostada à cara, vê mal ao longe, deve ser isso. Não percebo se geme ou simplesmente tem uma respiração pesada. Pesadíssima, nesse caso. Quando começaram os gemidos todos os olhos da sala se fixaram nela. Depois a gente habituou-se, já só se espanta com aquilo quem chega de novo.
Estou sentada entre duas pessoas que já viveram tão mais do que eu, quase o dobro. Destoo. Nenhum deles se inclina, querem lá saber, vai-se a ver nem dão por mim, e eu aqui tão perto.
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