segunda-feira, 26 de Agosto de 2013
Coisas
Escrever é perigoso mas também há perigo em deixar de escrever, refiro-me ao facto de o mundo se tornar absurdo e desinteressante. A vida e as pessoas, quero eu dizer, e portanto lá se vai o deslumbre de viver a vida e de observar as pessoas.
Escrever faz-me imensa falta, afinal. Que porra.
Os escritos abaixo não pertencem ao dia corrente, escrevi-os, há poucos dias → uns e há muitos dias → outros. Não fiz as publicações do costume no blogue porque entretanto me fui desabituando deste tipo de exposição e deixei de estar preparada para isso.
Hoje estou um tanto ou quanto apática e portanto não há mais nada a dizer. (Escrever.)
A propósito
(É claro que vem a propósito.) Há dias encontrei um tom de escrita semelhante ao meu. Caraças pá, afinal onde para a originalidade, a voz única e inimitável?! Alguém a possui?! Não senhores, ninguém é original, descobri isso há muito tempo. Mas, até que ponto é agradável encontrar semelhanças na escrita, sobretudo, até que ponto gosto de me parecer com uma escritora, uma escritora com décadas de experiência e meia dúzia de livros editados? Ou não gosto?!
(Não gosto, não...)
Ainda cá venho
Faltou-me a coragem para falar em manancial mas não em cascata, antes um jato generoso, tipo um caudal que a natureza oferece, vá, e acrescentar temperatura amena e confortável à sensação que descrevia. E de quando estas coisas pedem licença para se instalar e eu concedo e de quanta maravilha há no recebimento de sensações boas - que são mesmo boas - e de sensações más - que afinal são boas.
Faltou-me a coragem para devastar o assunto, esmiuçá-lo tanto que o adulteraria, parecendo então que falava doutra coisa, porque é isso o que acontece sempre que exagero na escrita.
Mas siga a vida, que isso são ideias sem novidade... Certamente já muita gente as explorou literariamente. Paciência, afinal as ideias estão todas usadas, algumas comummente abusadas, tampouco pretendo coisa alguma que não seja vomitar ideias e pensar que me sinto aliviada com isso, mesmo que o não esteja.
...
'Onde andará o meu tom de escrita?', pensei eu, logo de manhãzinha. 'Ecos que projeto no ecrã do computador e isso assim, onde se terão metido?!'
Mantenho o tom comigo, na verdade nunca o perdi, não o dei acabado, apenas me economizei para forjar a mudança – deixar de escrever -, garrotei as veias literária, cronista e memorialista. Esta última, a mais vívida e presente, foi tão difícil de estancar, sofri horrores para não fazer caso das pipocas a estalar na minha cabeça. Ui. Ui. Ui. Que horror.
Tenho estado mais ou menos parada, a fazer de conta que a vida é morna, a rececionar calmamente as sensações boas e sem queixas as sensações más, a fingir que sou humilde e recetiva e vivo esses momentos bons e maus num frenesim contrito.
A ideia primária era conseguir ser uma pessoa normal, e fui-o durante alguns minutos e nuns certos dias. A pessoa normal que desejei ser é alguém que não escreve num blogue num registo tão pessoal. Mas no fim, hoje, agora, lá porque deixei de escrever não me sinto mais capaz ou virtuosa e/ou outras coisas giríssimas para a gente ser, qual quê. E deixei tanto por escrever...
Não obstante, do morno hiato, sem esconder que o mesmo tem o seu quê de aprazível, ficou-me isto:
«Quem disse que a mornidão não presta pra nada? Porque não viver lassamente? Porque não viver sob o mote do 'tanto me faz'?»
Obra amorosa
Ela leu. Ela não leu tudo. Ela disse que a impressão é muito boa: o papel, as fotos e tal. Hum, ok, pronto, vá lá, daqui depreendo que escrevo maravilhosamente e portanto posso continuar, faço falta à arte literária e esse tipo de coisas. Quando morrer vou ser uma pessoa fantástica. O póstumo, esse tormento, oh céus quanta gastura me dá o advérbio postumamente... É assim
...
Ela disse que gosta muito de conversar. Eu ia dizer que não gosto mas retive o comentário, porquanto não é de todo verdade e ademais este tipo de afirmação, não obstante perentória e racional, me transforma numa vítimazinha salobra.
Depois fiquei triste. E sozinha.
Bem sei que com as duas últimas afirmações já vesti a pele de vítimazinha salobra sem que seja essa a minha intenção, nada disso. Escrevo o que escrevo e como escrevo porque me é necessário contar alguns sucedidos e umas quantas emoções. Chamam-lhe escrita catártica. Seja. Se eu disser que escrevo para desvalorizar as minhas questiúnculas e o meu sofrimento, creio que não fica tão bonito como dizer que escrevo catarticamente. 'Escrita catártica' soa muito bem.
4
Estivemos os quatro em conferência como há décadas não o fazíamos. Viajando até ao passado noto mudanças várias: agora exponho questões e falo das histórias de outrora, enfatizo-as com o 'não te lembras?'. E eles lembram-se. Ah, como é boa a minha ênfase...
Rede social
O fuçasbuque está cravado de fotos com pessoas em piscinas, de biquíni fluorescente, em festarolas noturnas, com um copo na mão que alegre e simpaticamente dirigem à lente do fotógrafo, como se brindassem ao olheiro, e, ainda por cima, ostentando um bronzeado do caraças. Que merda.
2882
Capicua. Algures por aí anda o post dois; oito; oito; dois e devo dizer que este é o post vinte e nove; vinte e nove, que também é um número giro. Já baralhei esta porra e portanto não se fala mais disto.
1933
80 anos, 80 flores com acompanhamento verde, fizeram um volume graaaande, menina.
...
Nem mais nem menos: deram para encher 3 jarras graaaandes, menina.
...
Parecem rosas mas não são, menina.
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São assim abauladas. Não, não são nada túlipas, menina! Ó menina, são outras flores que não sei o nome.
À despedida
Adeus escondidinha.
Adeus senhor Tomé.
Xauzão.
Bom descanso senhor Tomé.
Até amanhã.
Até amanhã.
...
Não se fala a sós para espantar a solidão, qual quê, fala-se para si mesmo(a) por conta daqueles assuntos inconfessáveis.
Sentir
Sinto um formigueiro na moleirinha. Devo estar muito nervosa sem dar por isso.
Ismos
Não sabia, mas vendo sets. Sério, vendo sets. Um cliente pediu que lhe vendesse um set e efetivamente vendi.
Por estes dias dava-me jeito que me viessem falar em italianismos mas acho que não é lá muito habitual por entre as gentes deste país de portuguesismos...
...
Por momentos tive o estaminé guardado por um chefe da Polícia à paisana. Mostrou-me o crachá, não por gabarolice, mas para eu descansar.
Idades
Avaliando o aspeto da cliente, e ela dizendo que a fechadura foi o pai quem tratou de a mandar colocar, fiz uma dedução altamente certeira: aquela casa é trancada com material do tempo da minha bisavó.
Idades
Gosto de mulheres mais velhas.
A minha mãe
A minha sogra
A dona Lurdes
A dona Adelina
A dona Alda
A dona tal e coiso
A dona Genoveva
A dona assim e assado
A dona Marília...
Idades
Diz que é velha gaiteira mas há-de usar vermelho até morrer. Não se importa com o que digam por aí acerca dela, podem-na chamar assim à vontade, não quer saber.
A pipoca
Esta madrugada pipocou uma frase na minha cabeça…
'A coisa mais estúpida que fiz até hoje foi criar um blogue.'
… Estupidamente inconsciente, isto de me ter metido num lbogue... Ai perdão, blogue.
É isso
Sou muito boa a fazer e a ser algumas coisas. Só por dizer que não é nada que me permita ganhar muito dinheiro ou parecer uma pessoa à maneira.
Sai daqui, ´miguinho, vá...
Pus em prática os meus dotes de espantalho horripilante. Sou tão competente.
Amarelo
Tenho as unhas amarelas. Não é doença, é verniz.
Dois pontos
::tê cê::
::cê tê::
::tê pê tê::
Do verbo acrescentar
Devia ter mencionado o trajeto. Alongo-me agora: o que eu queria dizer é que, em percorrendo o trajeto, posso viver à mercê. Fico lá, imóvel, recebendo. Viverei na mesma. Quietinha. As minhas mexedelas na vida não são afagosas, não.
Do verbo mentir
Se inventarmos uma mentira e a repetirmos incessantemente, essa afirmação tornar-se-á verdadeira para nós e para quem nos rodeia.
Assim até parece que qualquer pessoa pode mudar o mundo. Bah.
Do verbo envaidecer
Uma senhora tropeçou numa pedra porque me admirava e/ou invejava o passo.
Um senhor tirou o cigarro da boca para abri-la de espanto, quando não deixá-lo-ia cair com o assombro da minha beleza.
Do verbo andar
Não me importo que os cavalheiros se inclinem para mim aquando do cruzamento de nós dois. Desde que cheirem bem.
Do verbo percorrer
Vejo-me a ir.
Vejo-me a vir.
Os caminhos não são sempre os mesmos.
Os caminhos são os de muitas vezes.
Da enormidade
Vendi cinquenta borrachinhas a um polícia grande. Grande. Por isso tantas borrachinhas. Cinquenta. Para cobrir tudo. Quando não o bicho ficava desprotegido. E ninguém gosta dum polícia grande e desprotegido. E grande.
::Eu::já::tinha::dito::que::o::polícia::era::grande::não::já::?::
Saudades
Tenho saudades da perversa de mim. O pecado faz-me falta. Ser fofinha e amorosa cansa-me que se farta.
...
Vi a escritora. Sorriu-me. Que fofa. Devia ter-me cumprimentado, mas pronto, paciência. Mesmo assim é uma fofa.
...
O homem dos olhos espantados tem a voz muito rouca. Assim tipo Bon Jovi e isso.
Agosto
Em agosto de dois mil e treze aconteceu pela primeira vez eu rubricar a minha folha de ordenado. Tenho duzentas e dezassete folhas assinadas com o nome inteiro e este mês deixei-me de merdas, que estava com pressa.
Agosto
O meu calendário está todo assassinado, círculos vermelhos rodeiam os dias mais importantes deste mês.
De abalada
A senhora do tê érre vai embora deste quarteirão no fim do mês. Que já não gosta nada disto. Que está farta de sofrer com pessoas estúpidas. Que não abala sem se despedir. Que vem cá dizer adeus. Que não esquecerá a gente todos.
Flash
A minha máquina tem um programa que permite fotografar assuntos na obscuridade, inclusivamente passa em rodapé a informação com um exemplo - céu estrelado - e adverte que se use sempre o tripé.
Há algum tempo que um objeto que me encanta pela sua antiguidade mas que se encontra efetivamente num lugar muito escuro. Resolvi experimentar o tal programa mas não fazendo caso da advertência, queria lá eu bem saber dessa mariquice com três pés e blás.
Vai daí... Ficou disforme. Ficou luminosa. Mas ficou gira.
Ficou gira porque não fico expectante em relação aos meus cliques, clico há tempo suficiente para saber que as fotos que ficam lindas quando escarrapachadas no ecrã do computador, ficam-no por um conjunto de situações que coincidem e fazem belas fotos, e sobre as quais não tenho saber. Calhou assim... Por isso ficam sempre giras, as minhas fotos.
...
Têm pírcingues, 18 anos e sotaque do Norte. Se fosse daqui por um mês seriam universitários caloiros, assim não sei que diga.
Indignação no lugar da musa
A bolachinha vinha hermeticamente embalada mas estava ratada. Não se faz.
O cartuchinho trazia não um mas dois paus de canela. Oh céus, quanto desfrute.
Diálogo alheio no lugar da musa
Não atendeu mesmo agora uma miúda muita gira que é a minha mulher?
Acho que desceu, tinha uma lista de livros escolares na mão, não tinha?
Uma lista?! Ah, ela arranja sempre coisas para fazer...
Encontro surpreendente no lugar da musa
Bicicleta estacionada mesmo à porta. Mas não é a bicicleta bê de biragem. Tenho saudades. Um poucachinho, ao menos, de saudades de tudo o que envolve a questão.
Términus
Terminei de ler a coletânea 'Beijos de Bicos'. Não que tenha adorado a leitura, nada disso, mas pronto, não me vou pôr para aqui a dizer mal dos escritores e apresentar a mediocridade literária dalguns deles e mais não sei o quê, porque para dizer mal, então que o diga da editora, que – é mesmo verdade - não revê os textos nem a formatação, e há contos que estariam inteligíveis se tivessem tido esse apoio por parte da editora.
Adiante.
O mais importante é que escrevi o meu conto 'Dias de uma Grafómana (pouco) Amorosa' e está escrito, publiquei-o e está publicado, em papel, com cheiro, com palpabilidade, que a gente também se apaixona pelo que lê e apaixona-se mais e melhor se puder cheirar e apalpar... E pronto, era isto.
Loucura
'De pouco todos temos um louco', dizia a t-shirt dele. Ele não tem um pouco de louco, não, antes tem muito, a loucura dele extravasa, percebe-se, nota-se, vê-se. É nervoso e indeciso, as mãos e os lábios tremem-lhe, como se estivesse extremamente angustiado. E está. É louco.
...
Escreve.
Escrevo?
Escreve!
Vou escrever.
Escreve.
Escreve!
Es.cre...ve!
Hum, ok, vá.
Olá bom-dia!
Precisei duma coragem imensa para abrir este documento, oh céus, mas rebusquei-a e por ora aqui me encontro. Estou que não posso, tal o esforço que fiz, toda eu tremelico. Vá, vamos lá que isto de voltar a preencher o blogue mais espetacular de sempre é coisa para não custar nada e nem apontar em papelinhos e refundi-los é a mesma coisa que atualizá-lo. Nem pouco mais ou menos. Olaré.
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