«Para o teu romance, escreveu-me, se me permites que chame já romance ao embrião que me descreves, ocorre-me o caso de Garcia Márquez, em Aracataca, a ler Kafka, no México, a ler Rulfo, em Paris, sem um centavo, a escrever a sua obra-prima. Também Juan Marsé. Sempre me pareceu interessante porque é que um tipo tão novo e bruto do bairro de Guinardó cai numa coisa tão sofisticada como ler romances e, sobretudo, escrevê-los. Logo pensarei noutros. Um anjo literário, então? Walter Benjamin disse que um anjo nos faz recordar tudo aquilo que esquecemos. Talvez.»
«Diz Eudora Welty: Escrever relatos de ficção despertou em mim um respeito reverencial por tudo aquilo que é desconhecido numa vida humana e certos indícios de onde ir buscar as chaves, como continuar, como ligar, como encontrar, num emaranhado, qual a linha clara que persiste. Estão lá todos os fios, todos os cabos: para a memória, nunca há nada que se perca realmente.
Certo, um anjo recorda-nos tudo aquilo que esquecemos.».
In 'O Anjo Literário', Eduardo Halfon
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