À minha frente caminha um homossexual. Como é que eu sei que ele é homossexual? Não sei, deduzo. Nunca lhe servi de colchão ou tapete de sala. Deduzo. É assim que fazem as pessoas que querem escrever umas quantas patacoadas num blogue ou noutro sítio qualquer que se destine à escrita.
É mesmo assim, os escritores não conhecem os factos com profundidade, deduzem e escrevem, registam, dão uma forma concreta, iludem os leitores com certezas que eles próprios não possuem.
À minha frente caminha um paneleiro. Leva o púbis à frente, provocador, e joga os braços ao lado com o balanço do andar, quer tocar os transeuntes, numa ânsia histérica, sem medos, sem vergonhas, aperta as nalgas como se quisesse encolher um peido, destemido, fixa o olhar no olhar de quem se cruza com ele, desafiador, roda a cabeça para ver quem o ultrapassa.
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