Se bem me lembro, a primeira vez que dancei com um rapaz num bailarico foi há trinta anos atrás. 1982. Sim, esse ano existiu, muito embora não pareça, de tão longínquo.
Ele pediu-me para o acompanhar na dança com um gesto fugaz, como era costume na altura, e eu fui ter com ele, temente. Quando nos agarrámos eu não soube onde colocar os braços, sentia-me uma boneca de trapos, sem peso nem sustentação, como se não tivesse chão debaixo dos pés, então, desorientada, coloquei os braços na cintura dele. E ele fez a mesma coisa, agarrou-me pela cintura. Ficámos assim, como que presos, desajeitados, com os braços entrecruzados, os dele por cima dos meus, pele com pele – era verão. Eu, tímida, rente ao pavor, não tive coragem de mudar de posição e fiquei ali até a música acabar. Ele... Idem, pelo menos na parte da timidez.
Se fosse hoje... Ai se fosse hoje... Se fosse hoje tinha-me amanhado, oh se tinha, e ainda acompanhava vocalmente:
– Ó 'migo, desculpa lá mas isto não tem jeito nenhum, sinto-me encurralada e não gosto disso. Eu vou tirar os braços cá de baixo e pô-los mais acima, apoiá-los nos teus ombros, pode ser? Visto que é assim que o resto da malta está a dançar...
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