Gina, a mulher que tem um blogue
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Post do passado
Eu queria fazer dos jeans um par de peúgas. Falar das cores e das texturas e dos feitios. Depois deixei-me disso.
Letra T
Tenho uma T-shirT nova. Tem corações; Tem rendilhados; Tem porTanto um esTilo muiTo românTico; Tenho um Tipo românTico se a Tenho vesTida.
Letra V
Tenho o peito queimado do sol. A sério, o bronzeado faz um V. Agora vou ter de andar mais descascada para bronzear o resto, só por dizer que sol tem andado escasso por estes dias.
Um instante, por favor
Breve pausa nas letras para pouso duma verdade:
Este blogue é sustentado por um alter-ego.
Este blogue é sustentado por um alter-ego.
Letra P
Tem Pinta de Professora?! Pergunta exclamativa. Não. Quando muito, Posso ter Pinta de balconista, se me encontro atrás do balcão, Posso ter Pinta de doméstica, se andar com o Pano do Pó às voltas, Posso ter Pinta de médica se o meu calçado for branco, Posso ter Pinta doutra coisa qualquer, se… Coiso, Pronto.
Mas assim, Plantada num banco de Pedra, não tenho Pinta de Porra nenhuma. Pois.
Um supor
Se no grande intervalo tivesse ocorrido um percalço gravoso, eu não teria tirado
a conta do consultório,
a conta da empresa de software,
a conta do condomínio.
Concluindo...
Com tudo e por tanto, a Natureza vence sempre → morrerei um dia desses.
a conta do consultório,
a conta da empresa de software,
a conta do condomínio.
Concluindo...
Com tudo e por tanto, a Natureza vence sempre → morrerei um dia desses.
Tratamento
Olha eu feita pessoa fixe e comunicativa a dizer à senhora do banco:
Ainda bem que está livre, assim venho ter consigo em vez de ir para a máquina.
Olha a senhora do banco feita funcionária simpática e despachada a responder-me:
Fez muito bem, assim sempre falamos.
Olha eu ainda feita disso de ser fixe e parecer que gosto pra caraças de falar:
É melhor a gente lidar com pessoas do que com máquinas.
Ela mandou-me um sorriso daqueles de prestabilidade simpática.
Espero ter conseguido mandar-lhe um desses sorrisos de pessoa extremamente comunicativa e, portanto, mesmo mesmo mesmo fixe.
Posta-restante
Como é sabido, cada um conta as histórias como quer. O episódio acima relatado, se relatado a frio e cruamente, não seria assim, nem pouco mais ou menos. Ainda que o que escrevi não seja mentira nenhuma, limei arestas e puxei o lustro aos pontos que quis. Coisas de quem escreve, ou de quem conta histórias. O que aconteceu, sem colocar pós de perlimpimpim, é que eu vi a bancária sem ninguém e dando-me um rasgo de misericórdia tola e descabida quis dar-lhe trabalho, ocupá-la, pois a pobre, de tanto os clientes usarem as máquinas de depósito, um dia desses será dispensada e lembrei-me que a minha escolha possa eventualmente adiar essa data.
Dias de um Ginásio
Vou falar das minhas ancas de novo.
Em certa altura da aula o professor de Pilates manda a gente colocar os pés à largura das ancas. A gente todos mete. Eu exagero. O professor chega ao pé de mim, agarra-me nos tornozelos, diminui a distância entre os meus pés e murmura:
Até parece que tem uma anca do tamanho sei lá do quê...
(Oh céus, gosto tanto deste senhor.)
Envelhecer
Aquela senhora que vai ali, oh, já a conheci mais nova. Pois foi. Envelheceu e cresceram-lhe as mamas. Se comigo vai acontecer o mesmo, então serei finalmente uma pessoa equilibrada. É que esta discrepância métrica entre tronco e membros inferiores, pá... Persegue-me há mais de trinta anos.
Desvelo
Vinha na rua e avistei um senhor (que me é desconhecido) a sair do seu carro, tinha estacionado mesmo ao lado do meu e vi-o cheio de cuidados para não riscar (mais) a minha pintura. Que fofo, gostei tanto de ver.
Caixa d' óculos
Não tarda os meus óculos fazem três anos. Durante este tempo poupei o fecho da caixa, ou seja: sempre que os retiro para os pôr em cima do nariz, não fecho a caixa. É para não o estragar.
Adenda:
No post anterior falei em cenas parvas e digamos que desinteressantes que as pessoas dizem (ou escrevem), não falei...? Então, pronto.
O outro
Dum modo geral as pessoas tendem a dizer/fazer sobretudo o que não presta, digamos aquilo a que vulgarmente se chama: 'parvoíces'. Eu, não me excluindo do grupo, que é lá isso (veja-se o post anterior, só por dizer que essencialmente escrevo as parvoíces... pensando bem: veja-se o blogue inteiro), devo dizer que quando conhecer alguém fértil em conversas lúdicas e feitos edificantes vou imitá-lo(a) com extrema vontade, quem sabe tire algum proveito ou faça alguma diferença. Diferença para melhor, claro, o proveito é sempre bom.
Dias de um Ginásio
Sou colega do Tony Ramos na aula de Pilates. Às quartas e sextas a gente vê-se e partilha o colchão.
Gina, a mulher que tem uma mota
Ó Luís, a mota tem só uma vela?
Sim. E porque é que tem só uma vela, e porque é que tem só uma vela, e porque é que tem só uma vela?
Porque tem só um cilindro...?
Exatamente. É uma vela para cada cilindro.
Mota monocilíndrica.
Isso.
...
Ó Luís, este fim-de-semana vamos ter de fazer as malas.
Eia, pois é, ainda nem me tinha lembrado disso.
Eia, pois é, ainda nem me tinha lembrado disso.
Dia de (disseram na Radio)
Ontem não atualizei o blogue, portanto atualizo hoje.
Ontem, 29 de maio de 2014, foi Dia da Espiga. No sábado, amanhã, vou colher as papoilas que se pavoneiam ao pé da minha casa há muitos dias, a sério, estou farta de as cobiçar. Amanhã será o dia e colocá-las-ei no copo onde repousam as espigas que colhi há quase duas semanas.
Ontem foi o Dia da Energia. Já em tempos eu pus no blogue um pensamento que se resume no facto de o nome do Luís ter todas as letras da palavra energia.
Ó Luís, o teu nome tem todas as letras da palavra energia.
Ah, já me tinhas dito.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
décimo quarto
olá boa tarde são dezassete e quarenta a nove a senhora do lencinho verde atado na cabeça como se fosse uma criança que hoje não é verde é turquesa passa no outro lado da rua com a amiga vão comprar o pão e a fruta mudou a cor do lencinho e a hora mais concretamente os minutos
décimo terceiro
olá boa tarde são dezasseis e vinte e dois a dona raqueline passa neste lado da rua e se a dona raqueline passa neste lado da rua é porque hoje é quarta-feira dia de lavar a cabeça no cabeleireiro
décimo segundo
mola prendida em gargalo de garrafa de cerveja esvaziada anteriormente e deixada num banco de jardim
Flores lilases
Estas flores são de junho. Bem sei que não estamos em junho mas estamos quase e fixei que estas flores são de junho porque num ano desses tirei uma linda foto em Loures, numa manhã de sábado, fresca e húmida, por me ter deparado com um pequeno jardim atapetado destas flores, que haviam caído, quiçá devido à humidade do ar. Nesse sábado estávamos em junho. Não que eu endenda de botânica, claro, mas sei que estas plantas são de junho. Pois.
Leitura
Li três capítulos. Pequenos. Dez páginas.
|A Estreita Sombra de Catarina Vale, Irene Antunes|
|A Estreita Sombra de Catarina Vale, Irene Antunes|
Peugada
Através do telemóvel e da internet e essas coisas, o meu colega sabe a que horas faço os depósitos bancários e em que dependência. Sinto-me perseguida.
|Não se diz a um desconhecido que se tem fome...|
Aviei o cliente e enquanto esperava que ele retirasse os trocos da carteira inspirei e soltei um profundo e audível suspiro, era preciso animar-me dalguma forma e uma entrada de ar em grande quantidade às vezes faz maravilhas. O homem suspendeu a busca e sorrindo francamente, disse:
– Eia, que suspiro, isso chegou sei lá onde.
– Tenho fome.
Queixei-me eu, mais ou menos involuntariamente.
– Então está quase na hora do almoço...
Estiquei-me para ver o relógio, marcava cinco para a uma.
– Pois está.
Disse, contendo novo suspiro. Depois rimos até que o relógio marcasse treze horas e zero minutos.
Dias de um Ginásio
Entrar num balneário feminino pode ser demolidor se a gente tiver uma autoestima de merda. Um dia desses, ao entrar nesse espaço onde as hormonas femininas pululam por vezes descontroladamente, uma lambisgoia com mais ou menos dois terços da minha idade lançou-me um olhar notoriamente avaliador. Ainda que a minha autoestima seja quase sempre uma merda, esforcei-me para lhe devolver um olhar que espelhasse isto:
Sim, 'miga, é possível a gente ser bué da giras aos 45... Há esperança, mantenha a fé e a assiduidade num ginásio.
Ti-ri-ri-ri!
Toca o telefone. É aquele cliente do Norte, é dono dum prédio da zona e quer que se vá ver a fechadura que não está a funcionar bem.
Toca o telefone. É o meu colega, diz que daqui a nada vai ligar a dona Olga porque não tem luz e o caraças e que quando ela ligar eu fique com a morada certa que ele não se lembra e lhe diga que ele vai lá rente ao almoço.
Toca o telefone. É a dona Olga: ai filha tou sem luz veja lá que tudo me acontece diga ao seu colega que venha já e mais não sei o quê, hum mas como é que sabia que eu ia ligar...? mas ele não pode vir já...? repito que não e aconselho-a a falar diretamente com o homem mais desejado desta rua...
Toca o telefone. É o meu colega, diz que pronto, vai lá ao meio-dia e meio.
Toca o telefone... Horas depois.
Post muito dado a ares
O arzinho de sua graça corre agora como brisa mui ligeira. O bom presságio d' ontem adensou-se.
Fashion-blog
Faz de conta que me dedico em exclusivo à aquisição de roupas e acessórios de moda, bem como à ostentação dos mesmos perante a blogosfera... Para poder dizer – sou tão boa nisto dos blogues que me basta dizer, qual pôr fotos no blogue, qual quê – que adquiri uma bolsa lindérrima recentemente. Ando com ela todos os dias. Transportá-la faz-me feliz.
Fashion-blog
Nos blogues de moda – note bem: de moda, não da moda – diz que não se pode ter as unhas dos pés duma cor e as das mãos doutra. Sou tão rebelde...
primeiro
olá bom-dia são nove e cinquenta a dona maria francisca passa no outro lado da rua com a bengala é mais cedo que o registo que fiz ontem bem sei mas é que ontem registei os passos dela na vinda e hoje registo-os na ida obrigada
terça-feira, 27 de maio de 2014
...
Mesmo que o inesperado seja infeliz, com toda a certeza não é no esperado que está a felicidade.
'Experiências Descritivas', André Barata
'Experiências Descritivas', André Barata
Q
Que não se fazem perguntas destas numa loja. Que precisa duma empregada doméstica para duas horas semanais. Que tem aspirador e chão de madeira. Que é um instante enquanto se dá a volta àquela casa.
antepenúltimo
olá são cinco e cinquenta e dois a senhora do lencinho verde atado na cabeça como se fosse uma criança passa no outro lado da rua com a amiga vão comprar o pão e a fruta
Gina, a mulher que tem uma mota
Ó Luís, a mota tem cambota?
Tem, então não sabes que tem?!
Não.
Não sabes o que é uma cambota?
Não.
Blablá, batati-batatá...
Ah, é aquela coisa que atua descentrada...?
É.
Ah.
A mota tem só uma cambota, é monocilíndrica.
Ah.
Tem, então não sabes que tem?!
Não.
Não sabes o que é uma cambota?
Não.
Blablá, batati-batatá...
Ah, é aquela coisa que atua descentrada...?
É.
Ah.
A mota tem só uma cambota, é monocilíndrica.
Ah.
Intervalo
Carreguei o livro debalde. Ainda o abri mas estou num capítulo escrito em itálico, detesto ler assim, com letras tremidas, a quererem adormecer, faz-me sono. Desisti.
Senhoras
Senhora1
Está boa, minha senhora?
Senhora2
Muito.
Senhora1
Eu estou melhor.
Senhora2
Não duvido.
Senhora1
Estou quase comida.
Senhora2
Realmente está melhor que eu.
Está boa, minha senhora?
Senhora2
Muito.
Senhora1
Eu estou melhor.
Senhora2
Não duvido.
Senhora1
Estou quase comida.
Senhora2
Realmente está melhor que eu.
Próxima vez
Olha eu para o homem do talho:
– Não faça como fez da outra vez...
Olha o homem do talho para mim:
– Não me diga que da outra vez me portei mal consigo...?
Olha eu para o homem do talho:
– Pois, cortou as costeletas muito grossas e deixou tudo mal-amanhado.
Olha o homem do talho para mim, juntando as mãos em prece, ensanguentadas e com resquícios de chicha ainda crua:
– Ah, peço imensa desculpa!
Vai daí, levei para casa umas costeletas muito aprumadinhas, sim senhores, finas, niveladas e sem cortes oblíquos e desnecessários.
Não foi um sonho
Acordei às três da manhã a pensar que estava a escrever o primeiro post do dia, algo assim:
Olá, bom-dia! Eis o dia...
Não lembro o resto mas podia ser:
… Que começa de noite.
(Posso afiançar que a frase que não lembro faria um vistão no blogue, era espetacular.)
…?!
O que poderá correr mal se eu fizer 'copiar-colar' e ao fechar o documento despreze as opções 'rejeitar' e 'cancelar' escolhendo a opção 'guardar'...?!
Nada.
Computador que é computador jamais se engana.
...
Às vezes dá-me na tola e ponho para aqui uns versos soltos de canções, versos esses que quero pôr no blogue porque assim, soltos, me dizem algo específico, num ou noutro momento.
Às vezes dá-me na tola e escrevo coisas que depois digitalizo e ponho no blogue, porque assim é mais castiço; mostra mais de mim, caligrafia e tal.
Às vezes dá-me na tola e ponho vídeos no blogue, são sempre canções de que gosto, já que o contrário seria uma coisa estúpida.
Hoje deu-me na tola e fiz um post com tudo isso...
Tu eras para mim
Como a coca cola do deserto
(Anselmo Ralph)
A música do saxofone...
Sendo os meus conhecimentos musicais escassos, andei à cata deste vídeo uma série de tempo sem obter sucesso. Eu bem que tentava descortinar o que o(a) locutor(a) chamava ao som quando o anunciava na Radio mas estava difícil de perceber como se dizia, quanto mais como se escrevia para depois poder pesquisar, é que nem consultando a rica filha a coisa se concretizou por não ser um grupo da sua lista musical. Um dia, de tanto tentar, lá descobri. Sozinha.
No dia seguinte (foi mesmo no dia seguinte), a locutora da Radio anuncia esta canção como sendo cantada pelo grupo que tem o nome mais difícil de pronunciar que ela conhece, e articula-o devagar, devagarinho, para todos os ouvintes poderem percebê-lo. Olha, obrigadinha, agora já não preciso!
Klingande - Jubel
primeiro
olá bom dia são dez e vinte e cinco dona maria francisca passa do outro lado da rua sem bengala
segunda-feira, 26 de maio de 2014
GINA
O traço comprido fica no meio, a prolongar o I para desenhar a primeira perna do N. O G deixou-se ligeiramente à esquerda e acima daqueles. O bico do A aponta-se na direção do I e da primeira perna do N.
Odores
Escrevo amiúde dos cheiros, é um facto. Vejamo-lo do seguinte modo: o olfato é um dos cinco sentidos, o que leva à escrita são os sentidos, qualquer um, e se escrevo acerca do que como, apalpo, ouço e vejo... Escrevo também do que cheiro, o contrário não faria lá muito sentido. Trocadilho. Ah ah.
Post odorífero
O senhor doutor entra na loja e põe-se a falar com o meu colega. Roo uma maçã mesmo atrás dele, não me vê porque não se vira para onde estou, porque não ouve as minhas dentadas, porque está concentrado na conversa.
O senhor doutor traz um perfume que cheira a óleo de cedro.
No dia seguinte o senhor doutor foi lá para fora enquanto aguardava a sua vez e pôs-se a mirar a montra. A rua ficou a cheirar a óleo de cedro. Sim, eu estava lá fora também.
O perfume que o senhor doutor usa deve ser um daqueles muito amadeirados...
Cheiro bom...?
Lugar da musa. Estava uma senhora muito composta a cheirar o pescoço dum cavalheiro muito composto.
Descompuseram-se os dois...? Não.
É claro que isto não tem o mal que parece ter, se for visto de supetão, ele tinha cedido à amostra dum perfume qualquer num lugar qualquer e ela queria saber se o perfume era bom. Só por dizer que a roda toda, composta (olha a compostura aqui outra vez...) por uma série de doutores de escritórios da zona, desataram às gargalhadas, achando um piadão ao gesto da senhora e ao à-vontade do cavalheiro, e eu também, mas sem me imiscuir. Houve inclusive um deles que lembrou ah e tal se tirássemos uma foto a esta cena e coiso e fuçasbuque e assim.
Ora bem, acontece que eu que tinha de ver as horas... E como estava sem bateria no telemóvel, teria de consultar o relógio da máquina fotográfica, como é costume, e como ainda não tinha tirado o som à máquina desde que viera do arranjo... Ouviu-se
perlim...! quando a liguei. E eu, que mesmo consciente que normalmente se marimbam para a minha pessoa e ninguém me liga a ponta dum corno, fiquei embaraçada, não fosse aquela cambada pensar que eu queira era fotografar os amiguinhos cheios de intimidades.
Post do passado
Póvoa de Santo Adrião, sete e não sei quê da tarde, num dia sem importância: um homem está na varanda, de pijama vestido, um pijama ruço que só visto, engraxando um sapato castanho.
Pertences que agora me pertencem
A minha sogra deu-me um saco com alguns envelopes com fotografias, um boião já encetado de creme para o rosto e um cêntimo. Claro que este cêntimo veio sem o seu conhecimento. Pu-lo na minha carteira...
– Fizeste bem, mulher.
Acerca do boião de creme...
– Ai mulher, aquilo já não me faz nada! Fica com ele.
Acerca das fotos antigas dos ricos filhos devo dizer que há vestidos e calções que já nem me lembrava que eles tiveram. É tão bom recordar.
Abaixo é um pedaço duma das fotos que estavam nos envelopes e onde se podem ver caras infantis.
Conselho a seguir
– Não pense mais nisso, dona Gina. Olhe que pensar muito faz mal, a senhora mata a cabeça e depois...
Apraz-me que alguém se preocupe com a minha cabeça, a sério que sim.
Ti-ri-ri-ri-ri!
Toca o telefone, atendo e...
– Ora boa-tarde, é de casa do senhor Joaquim?
E a minha resposta prontíssima é...
– Pode dizer-se que sim.
|No lugar de casa leia-se loja e fica tudo... Em casa.|
– Ora boa-tarde, é de casa do senhor Joaquim?
E a minha resposta prontíssima é...
– Pode dizer-se que sim.
|No lugar de casa leia-se loja e fica tudo... Em casa.|
Ti-ri-ri-ri-ri!
Toca o telefone, atendo e...
– Olhe, eu não sei muito bem para onde estou a ligar mas vou continuar...
– Olhe, eu não sei muito bem para onde estou a ligar mas vou continuar...
domingo, 25 de maio de 2014
Novidade
Pode fazer-se açúcar lavandado, vi num programa do Chef Gordon Ramsay. Quando digo lavandado, digo como o açúcar baunilhado, é só uma questão de trocar a vagem de baunilha por pétalas de lavanda. No pote do açúcar. Pois.
Publicidade
Ainda bem que tinha os olhos na tv naquele momento porque assim já sei que lançaram o caldo knorr em pó com o sabor dos legumes, já só fata o peixinho, vá, que eu sou fã desse pó...
Assim tipo fofinhas
«Colhi umas outras peludas e brancas, assim tipo fofinhas, como se de algodão fossem feitas. E se calhar são, sei lá. Têm um caule fininho e muito comprido. Ainda bem que a flor é como se de algodão fosse feita, caso contrário aquele caule lingrinhas não aguentaria o peso.»
|escrito e publicado neste blogue a 10 de maio último, tirei-lhes hoje uma foto e gosto particularmente das sombras na parede|
Pequeno bolo, que é como quem diz: petit gâteau
Parece que finalmente encontrei a minha receita petit gâteau, aquele bolinho de bom chocolate, muito húmido, tão húmido que na verdade o seu interior está cru e por isso escorre quando cortado ao meio, e que é cozido em ramequins - pequenas taças de ir ao forno e servir, se bem que neste caso não é para ir à mesa - e guarnecido de chantili, ou então não. Inspirei-me numa receita que vinha no papel que embrulha o chocolate para culinária da Nestlé. Não fiz igual, nem pensar, fiz assim:
Ingredientes:
Manteiga para untar
Cacau em pó para polvilhar
200 gramas de chocolate
100 gramas de manteiga
8 ovos
1 lata de leite condensado
100 gramas de amêndoa moída
Preparação:
Antes de mais tratar dos ramequins (esta receita dá para 8), untá-los com a manteiga e polvilhá-los com o cacau.
Derreter o chocolate e a manteiga em banho-maria.
Bater os ovos e o leite condensado durante 3 minutos.
Adicionar a amêndoa e mexer.
Juntar o chocolate e a manteiga derretidos e misturar bem.
Deitar sobre os ramequins sem encher até acima.
Levar a meio do forno a 180º durante 10 minutos.
Decorrido esse tempo desligar o lume e deixar repousar os petits gateauxs durante 15 minutos.
Retirar e desenformar para um prato.
Servir.
Hum, só falta comer...
Nota: sugiro a adição de morangos, ou substituir o chantili por gelado dum qualquer sabor.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Leitura
«Disse-lhe que não podia acompanhá-la porque estava a ler.
– Como vê, ainda me falta isto para chegar ao fim.
– E é bom?
– Não é grande coisa.
– Então, porque não desiste?
– Porque estou a verificar o meu índice de coragem.»
'A Estreita Sombra de Catarina Vale', Irene Antunes, página 73
Bem, na verdade nunca um livro falou comigo desta maneira, pois efetivamente estou a testar a minha coragem, uma vez que não estou a gostar lá muito muito muito de ler este livro. Ao momento tenho entendido que na história há uma mulher interessada num homem, procurando chamar a sua atenção dalguma maneira, entendi também que ela mudou de cidade e de emprego, é casada, portanto anda com pensamentos ruins, encontrando-se por agora a morar numa pensão barata. Todos os diálogos que este livro oferece me parecem fantasia da personagem, não é que não goste mas é que assim me confronto com a fantasia dalguém que não se mostra doutra maneira. O mais chato desta leitura é que eu escrevo fantasiosamente muitas vezes e portanto ler coisas parecidas ao que escrevo é como ler mais do mesmo e isso é uma canseira. Mas, é claro que isto aqui é... Só... 1... Blogue.... Não é um romance.
Olha mais um desses diálogos retirado da página 47:
«– Não se assuste, sou apenas o sacristão.
– Para sacristão falta-lhe tudo.
– Como é que sabe?
– Não tenho vontade nenhuma de tirar a prova real, não se chegue para cá.»
«– Não se assuste, sou apenas o sacristão.
– Para sacristão falta-lhe tudo.
– Como é que sabe?
– Não tenho vontade nenhuma de tirar a prova real, não se chegue para cá.»
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Na impossibilidade de me aquietar e viver o presente, espanto-me: o mundo não é estático nem nunca foi, «o mundo pula e avança.»* Sou =
*António Gedeão
Uma espécie de adenda ao post anterior
«Deve escrever-se como se fala, não usando na escrita as palavras que não se usam na oralidade», li algo assim num lugar qualquer, que entretanto não fixei. No entanto, «deve procurar-se o quebramento das regras da escrita, não esquecendo que nomes da Literatura são hoje grandes por desafiarem as regras impostas», li também algo assim noutro lugar não menos qualquer, que também não fixei.
Com tudo e por tanto, o melhor é (não) escolher...
Sucedidos
Às vezes obrigo-me a contar vocalmente os episódios que relato no blogue, a ver se dalguma maneira tomo contacto com a realidade e assim me consiga sentir uma pessoa normal, estado esse – o da normalidade – visto por mim como algo inatingível na maioria dos dias.
…................................................
Olha, nem sabes, vinha um puto a atravessar a estrada e nem reparou que eu vinha lá, mandámos cá um encontrão que o rapaz ia caindo ao chão, anda tudo a correr feito maluco, já viste?...
…................................................
Deitei um homem ao chão. Deitar não fica nada bem, que o moço tem idade para ser meu filho, mas pronto. Ele vinha da minha direita e achou que seria mais rápido que eu mas não foi e esbarrámos os dois. Gosto desta junção de palavras: os dois, mas também não fica nada bem estender o assunto se ademais a história mete alguém muito jovem. Ele cambaleou e caíu no chão, pumba. E levantou-se rapidamente, é novo...
Novidade
Há um novo moço a tirar cafés no lugar da musa. Tímido, ainda. Muito. Pergunta-me se quero canela...
Pau de canela...? Quero.
Respondo, um tanto ou quanto hesitante. O senhor que está ao meu lado sorri. Me. Imito-o. Entretanto vejo que o moço despeja uma pitada de canela em pó no recipiente onde põe o café.
Ah, pensei que estava a falar do pau!
Bem me parecia que a senhora não tinha entendido...
Refere o meu companheiro do lado, mas di-lo a medo, por causa do entusiasmo que pus no pau. O moço tímido sorri francamente. A gente jovem é duma leveza extraordinária.
Não encha muito, está bem...?
Peço eu, aqui com ares de pessoa decidida.
É que gosto de...
E torno a hesitar, ia dizer 'power' mas ia parecer 'pau'. Contive-me e na vez disso soltei um 'coiso' fraquinho porque o cavalheiro ao meu lado se encolheu todo só de pensar que eu ia dizer... Pau. De canela.
Agora a sério e mudando de assunto: mas que bomba cafeínica que eu bebi hoje, oh céus! Há meses que um café não me sabia tão bem. Canela em pó à mistura com o café também é bom.
O cubículo
A primeira vez que tive contacto com um cubículo foi há trinta anos. Chamavam-lhe cubículo e era efetivamente um cubículo. Retangular. Havia dois varões suspensos em cada uma das paredes mais compridas, com cabides amontoados, se na ausência de roupa armazenada, ou se pelo contrário, havia roupa de pronto-a-vestir lá pendurada, os cabides estava alinhados.
Dona Maria Eugénia chamava o cubículo ao cubículo e era efetivamente um cubículo. Olha, leva isto para o cubículo, dizia ela a estender-me um montão de cabides com roupa gira e colorida tão em voga nos anos 80 a postos para pendurar nos varões. Era assim. E eu, como nunca tive jeito para desobedecer ao patronato, levava-os por ali fora, sem arrojar no chão, para não sujar. Os cabides eram todos alojados na mesma direção, como se fosse um ponto de interrogação quando a roupa tinha a frente virada para nós, para que quando fosse a altura de levar as encomendas para as lojas não andássemos às aranhas, uns cabides pra um lado outros pro outro. Não, que é lá isso.
O cubículo não era nada bonito, cheirava a mofo pela falta de ventilação, mesmo havendo uma janelinha, e em certas partes começava a crescer uma sustância esponjosa, caso as funcionárias do ateliê de costura não se dessem ao trabalho de limpar.
O cubículo. Pois.
Falta isto:
Dona Maria Vitória dava os últimos retoques ao pronto-a-vestir com o vapor duma caldeira potentíssima.
O cubículo. Pois.
Um lar
Estive numa casa onde outrora viveram pessoas que conheço muitíssimo bem, onde inclusivamente os meus filhos brincaram, retoiçaram, fizeram refeições, dormiram sestas e foram felizes.
A casa tem novos moradores, os quais por enquanto andam de roda das mudanças e eu tive de lá ir devido a um assunto não muito interessante para pôr no blogue. Pedir licença para entrar impressionou-me mais do que devia e fiquei impressionada com esses excesso. Ver móveis e candeeiros desconhecidos foi involuntariamente esmagador. Não tem nada a ver com o antigamente, há uma alma diferente naquele lugar.
Este post existe principlamente porque quero fazer o registo do seguinte:
Uma casa não são paredes e janelas, sequer cortinas ou bibelôs, uma casa são as pessoas que moram lá dentro, é a isso que se chama lar, creio eu.
Cantaremos, olaré
Já combinei com a rica filha que este fim-de-semana vamos cantar na varanda outra vez. No alinhamento vai estar a música da Mixórdia de Temáticas, conhecida rubrica da Radio Comercial, encabeçada pelo Ricardo Araújo Pereira, acho que a letra é perfeita para a ocasião.
Abordagem
Ó 'migo, é assim, você é um fofo e um querido, e na verdade está a bisar a abordagem, porque já na ida me interpelou e me interrompeu a marcha, mas não, não quero uma dessas bolas de borracha com um valor simbólico, cujo único fim é angariar fundos para crianças desprotegidas ou algo do género, nem quero contribuir com uma moedinha das mais pequeninas. Bem haja pela fofura e querideza, a sério que sim, porque admito que nem todos(as) são assim tão cheios(as) de graça. Obrigadinha, mas não.
Obituário
Morreu o senhor professor. Ora caraças.
Em tempos há muito idos o senhor professor foi o homem do tambor.
P' ra que servem os piaçabas?
O homem entrou na loja e perguntou-me se eu tinha piaçabas à antiga. Respondi que sim. Depois de ter na mão um "piaçaba à antiga" perguntou-me:
- E isto é feito de quê?
- É feito de piaçaba natural - respondi num tom neutro mas pensei para comigo em tom indignado: "É claro que é feito de piaçaba!!! Afinal, foi o que me pediu!!!"
Ele quebrou o meu pensamento indignado porque pegou em dois piaçabas, um em cada mão e, em cima do balcão, simulou um tambor. Olhou para mim e sorriu perante o meu olhar que espelhava espanto.
- Sabe p' ra que quero eu isto? - perguntou-me, referindo-se aos piaçabas. Continuava a fingir que tocava num tambor manipulando os piaçabas como se fossem as baquetas de um tambor. Demonstrava grande à-vontade no gesto denunciando assim que sabia mesmo manusear tais objectos.
- P' ra tocar num tambor?! - perguntei-lhe de volta, completamente surpreendida.
- Sim - disse simplesmente. E riu. Muito. Ri também por contágio e também pelo prazer da descoberta. E ele ia tocando em cima do balcão de vidro e rindo porque o toque produzia mesmo um som. E eu ria-me com ele.
- Hã? Que tal? Faz um som porreiro não faz?
- Faz - respondi eu - mas é capaz de em cima do tambor fazer um som diferente por ser de outro material - eu e a minha mania dos pormenores, até parecia perceber alguma coisa de tambores ou de percussão.
- Hã? Não!! Mas dá p' ra ver!!... - sorriso aos molhos que rapidamente se transformou em sonoras gargalhadas - até me fez rir!! Já viu?!
Fiquei a pensar se ele se estaria a rir porque me fizera rir a mim ou porque aquilo de que alguém lhe falara (tocar tambor com piaçaba) afinal era mesmo verdade; era mesmo assim; fazia um som mesmo porreiro...
Quero voltar a vê-lo para lhe perguntar.
|25 de maio de 2008|
Fumo
O homem do tambor descai um pouco a cada dia. Lá estava ele sentado à mesa de uma esplanada, as mãos ocupadas com o copo de vinho, o cigarro e a bengala, o olhar fitando o nada.
Calhou ele estar no meio de uma conversa entre mim e a rapariga da porta ao lado. Ela fumava e queixava-se do frio e veio-me à cabeça perguntar-lhe se o cigarro não a aquecia. O homem do tambor meteu-se e diz numa voz rouca pelos anos de fumo:
- A mim não me aquece nem me arrefece!
Inclui-o na conversa, eu que sou uma boa alma, e para prolongar o debate perguntei-lhe se lhe sabe sempre bem o fumo e aquela coisa toda que o fumar envolve.
- É fumadora?
- Não.
Ante a minha resposta o bicho remata com desdém:
- Então fume e assim fica a saber!
OK, homem do tambor, queres matar a conversa à nascença porque és parvo. O que eu agora devia fazer era pedir à rapariga da porta ao lado para te mandar o fumo direito às ventas!
|19 de maio de 2010|
Sorriso sabedor
O homem do tambor havia depositado o mesmo no chão. Queria parafusos para fixar algo que tinha solto no tambor.
Olhou-me e sorriu divertido, parecia uma criança mostrando o brinquedo preferido. O momento valeu pelo sorriso dele, porque não é uma pessoa de sorrisos, e pela visão conjunta e nunca antes vista de ‘homem+tambor’.
O sorriso mostrou uma dentadura irregular e escura mas também mostrou que sabe que eu lhe acho um piadão. Ele sabe… Só não sabe que eu lhe chamo o homem do tambor, creio.
|20 de julho de 2010|
Música
O homem do tambor reparou nos meus brincos clave de sol. Quanta perspicácia!
Ressalva: o homem do tambor é músico.
Lembrete: aqui, às vezes, o homem do tambor é o senhor professor.
|31 de março de 2011|
quinta-feira, 22 de maio de 2014
...
Ir escrevendo é o modo
de esclarecer o lugar
onde quem escreve se ilumina todo
E mais não é do que estar
a ver.
Fernando Echevarría, Fenomenologia
Retirado do livro 'Experiências Descritivas', Rita Taborda Duarte e André Barata, página 45.
de esclarecer o lugar
onde quem escreve se ilumina todo
E mais não é do que estar
a ver.
Fernando Echevarría, Fenomenologia
Retirado do livro 'Experiências Descritivas', Rita Taborda Duarte e André Barata, página 45.
Post inominado
Passei por um recanto adornado por ramos curtos e pedras soltas da calçada. Aos pés do nicho um maltrapilho dormitava. Quem adornou o espaço foi ele, para se ocupar com algo e principalmente porque está só. Esta visão e esta conclusão entristeceram-me deveras.
Voo
Vem aí um pombo a alta velocidade. Estaca abruptamente. Falo com ele:
Ca foi 'migo, quê passa, fala comigo.
Como resposta o pombo bica o chão. Inaudivelmente.
Ca foi 'migo, quê passa, fala comigo.
Como resposta o pombo bica o chão. Inaudivelmente.
Primavera (caracteristicamente) instável
Vou para o grande intervalo com óculos escuros e chapéu-de-chuva. Tanto ponho os óculos na cara como no alto da cabeça se começa a chover e é então que abro o chapéu-de-chuva.
---
Isto de não mudar de indumentária tem as suas vantagens: rabisco nos papelinhos e resguardo-os imediatamente no bolso do costume.
Cores
Rosas cor-de-rosa. Cor de rosa é vermelho, branco, amarelo e outras. Cor-de-rosa também é cor de rosa.
Convite
Não queres vir comigo, pergunta o meu colega.
Não. Já sei que essa cliente tem um quarto onde há duas camas, sei que as colchas são iguais, sei dos móveis de sala em estilo antigo, sei do televisor e do telefone fora de moda e sei das flores de plástico e dos bibelôs mal acabados. Vou contigo quando não me lembrar disto.
Almoço
Enquanto esperamos a paparoca o meu colega vê o fuçasbuque. Leu um post qualquer (ou uma mensagem, sei lá) que era finalizada pelas letrinhas a, b e c. Ficou meio perdido com aquilo e perguntou-me: abc deve ser abraço, não? Respondi-lhe assim: se o c tem cedilha é, se não tem é abracadabra e não estiveram pra pôr o d.
O tempo
O senhor Adeodato anda aborrecido com este tempo. A chuva.
– Que mais vai acontecer ao povo?
– Quero trezentos gramas de amêndoa, se faz favor.
– Palitada? Que mais vai acontecer ao povo?
– Sim.
– Hum! Que mais vai acontecer ao povo?
– Dê-me também um pacote de aveia, senhor Adeodato.
– Que mais vai acontecer ao povo? Hum! Da integral ou da outra?
– Que mais vai acontecer ao povo?
– Quero trezentos gramas de amêndoa, se faz favor.
– Palitada? Que mais vai acontecer ao povo?
– Sim.
– Hum! Que mais vai acontecer ao povo?
– Dê-me também um pacote de aveia, senhor Adeodato.
– Que mais vai acontecer ao povo? Hum! Da integral ou da outra?
Ovos & Ovos
Quando, finalmente, chegar o fim-de-semana, fazer…
Pudim de
Pera e
Bolo da
Bretanha
… Por conta da imensa quantidade de ovos que leva qualquer uma destas receitas. Se lá em casa fossemos castos a minha doçaria era conventual. Digo isto porque a minha vizinha continua a contribuir graciosamente para me encher a cesta dos ovos... De ovos.
Ovos & Ovos
Num fim-de-semana qualquer inventar e tentar fazer um…
Bolo S. Marcos
Fazer um Pão-de-Ló com
6 ovos
Igual peso de açúcar
Metade do peso em farinha
Canela em pó
Bater os ovos com o açúcar durante 5 minutos.
Juntar a farinha e a canela e mexer.
Levar ao forno durante uns 30 minutos num tabuleiro grande e untado e enfarinhado, por modo a ficar um bolo fino.
Fazer o Doce d'Ovos com
200 gramas de açúcar
1 decilitro de água
6 gemas
Levar o açúcar e a água até fazer ponto de qualquer coisa, tanto me faz, guiar-me pelo instinto. Pensando bem, acho que é o ponto estrada, id est: quando passar a colher o preparado fica dividido, como que faz uma estrada.
Retirar do lume e deixar arrefecer.
Juntar as gemas e mexer fortemente para não talhar.
Fazer o Chantili com
400 mililitros de natas geladas
100 gramas de açúcar
Bater vigorosamente as natas e a meio do batimento juntar o açúcar. Continuar a bater até a mistura ficar com picos.
Provar de doce. Se necessário juntar mais açúcar.
Fazer o caramelo com
200 gramas de açúcar
Salpicos de água
Levar ao lume o açúcar e a água até fazer um caramelo dourado.
Montagem do Bolo
Pode fazer doses individuais ou então um grande bolo. O processo será igual para as duas hipóteses.
Cortar uma tira de pão-de-ló, colocar chantili, cortar outra tira de pão-de-ló e pô-la por cima do chantili, cobrir com o doce d' ovos e por fim deitar o caramelo por cima.
Post do presente
Dona Adelina ofereceu, não sem antes me perguntar se aquilo me dizia alguma coisa. Vieram de Palma de Maiorca mas já perderam uma pérola e seis pedrinhas. Pensei que não faria mal e usaria o brinco menos desfigurado no furo fora d'horas.
Post do passado
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Estacionamento proibido
Ó dona, posso pôr a minha baique aqui, não se importa (que me tape a montra, era a preocupação)?
Pode.
É só um bocadinho.
Esteja à vontade.
Encimar a bicicleta. Escalar. Escalar não fica bem, é de montanha, mesmo que a bicicleta seja de montanha. Não voltaste ao cogitável. Ruim.
Era uma vez
A do blogue estava no lugar da musa. Encetar a conversa, eu...?
Olhe, eu leio o seu blogue e já confecionei algumas das suas receitas.
Ná... Deixo-me estar.
Detém-se na ilha dos livros onde se lê das dietas. Sai daí e circula pelo espaço para se deter mais demoradamente na ilha onde estão os livros de receitas, ou que aos aspetos da gastronomia dizem respeito. Segura num livro grosso que se dedica em exclusivo ao chocolate, sei qual é, reconheço a capa.
Eu comprava esse.
Ná... Mudez.
Tanto olho, tanto observo que daqui a pouco a mulher nota-me e depois onde me escondo?
Foi embora.
Perdi uma rara oportunidade de juntar dum modo prazenteiro duas partes da minha vida.
---
E se me fizessem a perguntinha...
É fácil gostar de ti?
E se eu respondesse que verdadeiramente...
É. Mas é difícil continuar a gostar.
É fácil gostar de ti?
E se eu respondesse que verdadeiramente...
É. Mas é difícil continuar a gostar.
---
Repetir.
A senhora é que sabe.
Aforrar.
Repetir.
A dona Genoveva dá à afilhada todas as moedas de 2 euros que consegue apanhar.
A senhora é que sabe.
Aforrar.
Repetir.
A dona Genoveva dá à afilhada todas as moedas de 2 euros que consegue apanhar.
Artigo inexistente
Discos p/ dvds...?
Às vezes podia ter...
|Quiçá, eventualmente, se bem que isto aqui é uma drogaria e pronto e coiso.|
Às vezes podia ter...
|Quiçá, eventualmente, se bem que isto aqui é uma drogaria e pronto e coiso.|
4993...?
Há cerca duma semana fiz um post intitulado 4993 e, para fazer um reparo simples e lacónico, escrevi apenas:
Capicua.
4993...? Capicua...?
|Ninguém me corrigiu.|
||Eu já corrigi.||
Pronúncia do país vizinho
Encontrou-me na loja dos trapos e ficou curiosa:
– Te ajeitas com la costura?
– Si, claro que si!
Eu a responder assim...? Qual quê. Foi antes assim:
– Sim.
Te basta así.
– Te ajeitas com la costura?
– Si, claro que si!
Eu a responder assim...? Qual quê. Foi antes assim:
– Sim.
Te basta así.
Mau castelhano
Necesito limpiar los pinceles, pero con petróleo se estropean todos...
Adenda:
Mau castelhano, o meu, quando escrevi*, e se tal existir, que quando uma língua está mal escrita, na verdade não está porque o mal escrito não é língua nenhuma.
*entretanto corrigi
Trapadas
Tecido amarelo; pregas nos ombros, manga muito curta, saia godés. Para haver altura que chegue usar a saia amarela por baixo.
5069
Este é o post cinco mil e 69. Todos os milhares têm uma coisa assim. As centenas e isso. E há mais mas pronto, coiso.
5068
68. É imperioso que eu viva até essa idade, nasci em 68. Tem de ser.
Oh! Ó menina... Então veja lá eu que nasci em 33... - Diz a dona Adelina, num tom de ralhete. - Eu já tinha morrido há sei lá quanto tempo...
terça-feira, 20 de maio de 2014
Todos a bordo! (Diário duma viagem de 3 dias + 1 pedaço)
Segunda-feira
Olá, bom-dia. Para já anuncio que hoje vou escrever d' hoje, do sábado e do domingo. Lembrei-me. Durante o fim-de-semana não quis escrever, não que não me apetecesse mas pronto, coiso. E não escrevi. Vai daí, de manhã, no carro, teci um plano: registaria as coisinhas de três dias num só post. Criarei um post confuso, bem sei, mas não será a primeira vez nem quero que seja a última.
Sábado
Fui passear o cão. Um vizinho encontrou-me junto aos caixotes do lixo e perguntou-me timidamente se eu era a pessoa tal. Afirmativo 'migo e desembuche. Desembuchou: encontrou uma luva de motoqueiro junto à entrada do prédio onde mora e se era minha. Confirmei: é minha sim senhor. Pergunto onde mora: moro no quinto andar. Obrigada, eu. De nada, ele.
Apanhei uma florinha linda, arranquei-a dum canteiro. Arrancar flores ao município é tão feio. Não a fotografei. Ainda lá está, no copinho, a embelezar a cozinha. Mas embeleza poucochinho, que é só uma florinha, um malmequer ou lá que é.
Segunda-feira
éme de 'meu'; bê de 'beleza; éfe de 'fotocópia'; tê de 'telefone'
Domingo
Passei uma camisa a ferro. No colarinho está presa uma pequenina etiqueta com um número. Pensei em como é fácil saber os tamanhos no caso do vestuário masculino, basta saber o diâmetro do pescoço e sabem-se todas as outras medidas dos corpos. Há um padrão. Que simplicidade. As mulheres são complicadas até nisso. Ah, de peito sou de tamanhão mas de ancas sou estreita. Ou então o contrário. Eles, não. Olha lá, diz-me quanto mede o teu pescoço e duma assentada dir-te-ei o resto dos números que te compõem.
Sábado
Quando fui passear o cão, uma vez mais, uma vizinha cumprimentou carinhosamente a cadela (sim, é uma cadela) e não me ligou porra nenhuma.
Segunda-feira
A nível musical o dia está a ser fraco, a Radio passa imensas canções dos Coldplay, grupo que não aprecio de todo, só porque esses parvalhões lançaram hoje um trabalho mui esperado pelos fãs, o qual, ao que parece, foi sobretudo inspirado pela separação conjugal do vocalista e sua senhora, é portanto como que um fruto da infelicidade.
Sábado
Fiquei sozinha em casa, marido foi trabalhar; rica filha foi trabalhar; rico filho foi sair. Faz-me sempre impressão ficar sozinha no recesso do meu próprio lar. Mas está cá o cão. E a tartaruga.
Tive vontade de ligar o computador e pôr-me a escrever que estava sozinha e mais não sei o quê. Mas não.
Segunda-feira
Nos rascunhos do blogue tenho um pensamento de Fernando Pessoa que fala da solidão em que sempre vivemos. Diz assim: «Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.»
Domingo
O rico filho foi levar o pai e a mana aos seus trabalhos. Fiquei sozinha de novo. Eu e o cão. A gente as duas (sim, o cão é uma cadela) mais a tartaruga, sei que esta está presente porque a ouço raspar as unhas no aquário. Dá-me a ideia que não gosta muito de estar ali...
Segunda-feira
Meio-dia e tal. Chove. Bem diziam eles, na Radio, na TV e na Internet...
Uma senhora entrou para comprar uma coisita, diz que gosta do cheiro da terra molhada. Concordo, o cheiro da terra molhada e que estava por molhar há muito tempo é agradável, é.
Domingo
Sou criativa na gastronomia doméstica – leia-se paparoca lá de casa -, fiz um gelado. Levou creme de pasteleiro; puré de pera; claras encasteladas. Hum, não ficou grande coisa mas acho que mesmo assim não vai sobrar nada. Sou criativa e exigente ou insatisfeita, o gelado não estava nada mau, tinha humidade a mais, pronto, então, em vez de ficar muito cremoso, ficou uma espécie de gelado de gelo.
Segunda-feira
Um cliente pediu veneno para os bichos da cozinha. Bichos da cozinha são baratas. O homem era estrangeiro. Calhando, sendo português usava a mesma expressão.
Sábado
Creio que não existem mais itens de sábado na minha memória.
Domingo
Eu e a rica filha cantámos uma canção lamechas* na varanda, em alta voz. Que maravilha. A vizinhança de cima calou-se um tudo-nada de tempo para ouvir e depois retomou o falatório. Mas cantámos mesmo com sentimento, quero eu dizer que cantámos bem, eu até fiz do cabo da esfregona um microfone e tudo. Cá em casa ninguém nos ligou, claro, mas lá para fora fizemos um brilharete, de certeza. Lá para fora quero eu dizer para o resto da vizinhança, doutros andares e dos prédios ao lado.
Sentimento ainda mais expressivo nesta estrofe...
And your eyes
Your eyes, your eyes
They tell me how much you care
Ooh yes, you will always be
My endless love
Your eyes, your eyes
They tell me how much you care
Ooh yes, you will always be
My endless love
Segunda-feira
Hora do grande intervalo. Vou almoçar. O quê, não interessa. Mas vou dizer que na ementa estava outra vez lombo de porco à padeiro...
Saio para a rua. Chove mais do que há pouco, tanto que o chão tem poças. O cheiro da terra que estava por molhar há muito tempo dissipou-se.
Lugar da musa: tem gente, mesmo com a chuva. O homem do pó de canela cumprimentou-me. Entretanto reconheci-o, era o homem do pó de canela, pois era, já eu tinha dito. Este homem há-de aparecer no blogue daqui a algum tempo, o dito está rascunhado desde a semana passada e como hoje estou confinada a três dias, pumba, coiso, não cabe cá.
Domingo
O rico filho chegou de ir levar o pai e a mana aos seus trabalhos. «Toma, agora é a tua vez», diz ele, entregando-me a chave e os documentos do carro. Preparei-me e saí para ir ao supermercado. Deixei a moeda de plástico na consola do carro, como das outras vezes. Enquanto subia pela escada rolante pensava que devia andar com uma tabuleta a dizer algo deste género: «arranja-me uma daquelas moedinhas para o carrinho das compras, por favor?» Dirigi-me ao balcão, o qual afinal de contas tem um monte de moedas vermelhas. Monte, no sentido literal, até faz cogulo. Portanto ao que parece não vai ser preciso pedir a moeda por boca, posso retirá-la e continuar muda. Mas mesmo assim murmuro um: «posso...?» A funcionária faz que sim com a cabeça, é mais muda que eu. É que eu sou muda mas sou educada.
Segunda-feira
A nova leitura não está a entusiasmar-me – 'A Estreita Sombra de Catarina Vale', Irene Antunes. Neste romance não existe um enredo entendível, a história é contada no ar, assim como que deitada ao acaso, em pedaços dispersos, que parecem nada ter que ver uns com os outros. Mas há pedaços muito bons, ao menos isso:
Há um homem sentado no lugar mais invisitável da casa, tem a cabeça parecida com um bola de futebol.
– É careca?
– Não é isso. Tem a língua bem escondida e olha tão longe que parece que nem olhos tem. Acho que está afastado por uma inquietação oculta. Se o encontro no corredor, nem bom dia nem boa tarde, nem parece que vai chover.
– Realmente, não é gentil, podia ao menos dizer que linda que está hoje.
– Não queria tanto.
– É careca?
– Não é isso. Tem a língua bem escondida e olha tão longe que parece que nem olhos tem. Acho que está afastado por uma inquietação oculta. Se o encontro no corredor, nem bom dia nem boa tarde, nem parece que vai chover.
– Realmente, não é gentil, podia ao menos dizer que linda que está hoje.
– Não queria tanto.
Lugar da musa. Toca o telemóvel dum homem. Estou na Barata, diz ele. E eu respondo-lhe em pensamento: não está nada, não está não senhor, que é lá isso, está no lugar da musa, 'migo. Ponho-me a rabiscar: o homem diz ao(à) recetor(a) que não tinha ligado pra ele(a), não sabe que aconteceu mas se tinha lá uma chamada dele tinha sido sem querer, diz que está a chover, que a temperatura desceu muito, que anda ali à procura dum livro com a história da matemática.
Domingo
Precisei tanto do Luís para me arrumar as compras no carrinho. Sou uma despistada, atiro as coisas lá para dentro e não quero saber de aproveitar espacinhos.
Terça-feira
Olá, bom-dia! Resolvi que é melhor continuar com este escrever. Ontem deixei assuntos pendentes e terminei o post abruptamente. Continuo.
Segunda-feira
Rua tal, árvore número oito. O esperável. Pois.
Domingo
Vi pedaços dum documentário televisivo que exprimia conclusões da ciência e da matemática, um tema sobejamente interessante mas que se mistura invariavelmente com a espiritualidade e o desconhecido. Já não tenho presente pormenores do documentário, o que lamento, mas o que quero deixar registado é que independentemente da existência daquele deus que nos ensinam a acreditar desde o berço, sei lá se existe ou não, a verdade é que vejo algo magnânimo e soberano na impossibilidade de separar o concreto do espiritual, o que me pasma tanto quanto me confunde, então, talvez seja aí que está Deus.
Segunda-feira
Se for preciso gotas protetoras em silicone, há no estaminé para vender. Na embalagem diz que são 'proctetoras', estão desactualizados… Ai perdão, desatualizados.
Terça-feira
Quem souber o que é uma 'pedra rusta' ponha o dedo no ar.
Domingo
Aterrou-se-me uma flor na varanda. É cor de cereja não muito madura e tem três hastezinhas com olhinhos cor de cereja muito madura. Muito madura. Coloquei-a ao pé da que colhi no sábado.
Segunda-feira
Ó Luís, tu não ouves o volante do carro a ranger?
Ouço.
Ah.
Terça-feira
Chamava-se 'Seaborne', a antiga gama esmaltada das tintas Robbialac. Tira-se-lhe o 'e' e o mar parece que nasce numa só palavra e num país de língua anglo-saxónica.
Terça-feira
Terça-feira. Ter. Términus.
*A canção era esta:
sexta-feira, 16 de maio de 2014
---
E eu que pensava
Que ia só comprar pão
E tu que pensavas
Que ias só passear o cão
(Miguel Araújo)
Que ia só comprar pão
E tu que pensavas
Que ias só passear o cão
(Miguel Araújo)
Nova Vaga
Lisboa, avenida Manuel Damaia, cinco e tal da tarde, caloraça do caneco.
Gina Maria, que andas tu a fazer na rua a uma hora dessas?
A vender porta a porta, claro. Havia de ser a comer um gelado na Surf, não?!
Vira à direita, enfia-te na Mexicana e pede um café, vá. Não olhaste para o relógio para ver os graus...
Não. Antes observei as pessoas, cada pessoa é uma sementeira: senhoras aprumadas; jovens mães de bebés em carrinhos, finas em corpo e em mente, homens sentados em esplanadas a bebericar prazerosamente o que lhes apeteceu pedir. Gosto tanto de os ver a todos. Gosto tão nada de não os saber escrever. Racha-se-me a cabeça com tanta coisa boa para escrever quando puder mas não escrevo nada. O cão da Paquita ladra em castelhano. É melhor assim, acho eu.
Pois.
Assim, não
Pinta os lábios com um lindo vermelho e não gosta de pessoas tristes. Então adeus 'miga, conhecê-la foi mais ou menos bom.
O tempo
As últimas 2 semanas foram inteiras.
Nas últimas 3 semanas antes daquelas 2 houve 1 feriado em cada 1.
Sobrevivi.
Nas últimas 3 semanas antes daquelas 2 houve 1 feriado em cada 1.
Sobrevivi.
Do grande intervalo
Almoço: jardineira. Retiro umas colheradas da dose do meu colega, mais de ervilhas que de chicha. Ele manda vir uma carcaça para repor.
Da barbearia vem um cheiro bom, um cheiro bom demais para quem trata em exclusivo do género masculino.
Lisboa, 14 e...? Chove. Oh. «Oh» como se o desmoronamento dum lindo penteado me abalasse os sentidos todos. Nem tiro os óculos do alto da cabeça, qual quê.
Chuva. Assim não dá para lançamentos de papéis com letras, vem tudo à janela. Convenhamos: é novidade, há muito tempo que o céu não chorava assim.
Abrigo-me debaixo da árvore amarela. Que se lixe se o leitor não conhece o amor profundo que sinto por esta amiga, é que estou tão cansada de repetir as coisas. Afinal a árvore amarela não me protege tanto assim da chuvinha escassa mas grossa. Não que não me queira bem, claro.
A chuva passou. Ia tirar uma fotografia ao céu que ficou depois. Mas não.
o nome dela dois pontos parágrafo quebra de linha foto
O diarista
Escreverás no teu diário que a toalha de mesa amarela estava pendurada no estendal do terceiro andar. O estendal é da vizinha em frente e tem desenhos com metades de melancias grandes. A toalha. O estendal é da vizinha, portanto a toalha também deve ser. Mas não te detenhas muito na toalha nem nos desenhos que tem, que é lá isso, deixa essas minudências para mim, que tenho mais jeito.
Escreverás bonito e bom, legivelmente. E falarás da ilegibilidade. Que bonito. Jamais saberei construir um texto em que caibam palavras deste calibre sem parecer que me estou a presumir escritora de boas palavras. Tens de ser tu.
Escreverás o quanto lhe desejas falar. Digo a vizinha. Ir lá a casa jantar, mesmo que na mesa haja outros convidados, desconhecidos para ti, como da outra vez. Quere-la tanto mas tanto. Não, não me vou pôr para aqui a falar dos teus amores. Tens de ser tu.
Escreverás de cravos, de rosas, da florista do bairro, do polícia fumante e de bebés. Do primo. Da esquina onde nunca bate o sol, da tasca das bifanas, do homem das castanhas, da tosse e do xarope, da loja de roupas tão apinhada que afunila. Agora tens de ser tu, eu já fiz a minha parte.
Escreverás das voltas com a bicicleta. Também, pois. Bicicleta bê de biragem. Isso. Bê de biragem é criação minha, tu escreves outras coisas, doutra maneira... Ai, como é que tu falas do teu velocípede...? «Encimo a bicicleta. Pedalo na minha bicicleta.» Isso.
De resto, escreve conforme o teu apetite, normalmente gosto bastante.
Aquela pessoa
É Lisboa e é 16 de maio de 2014. Há aquela pessoa que continua a conversa com base no que não disseste, desprezando o que te ouviu dizer, portanto. Sentes-te enjeitada. E depois querem-te participativa. Oralmente. Bah.
Era Lisboa e era 15 de maio de 2014
Ele chegou-se ali ao pé e puxou-lhe uma madeixa de cabelo. Doeu-lhe. Enraiveceu-a. Asqueroso, chamou-lhe ela, mudamente. Ele marimbou para os gestos contidos dela. Mais tarde ela teve remorsos. Depois sentiu revolta pelos remorsos. Depois do depois marimbou pra isso tudo, que a gente o que mais faz é imitar os outros.
---
Grande treta, mas deveras dramática e perentória, olaré:
– Não há homem nenhum que me obrigue a fazer o que não quero!
– Não há homem nenhum que me obrigue a fazer o que não quero!
Parecenças
Exclamei vivamente que a rica filha era parecidíssima com o pai numa determinada característica. Ela respondeu não menos vivamente que também é mórbida, como eu. Ia pedir-lhe um exemplo mas entretanto a coisa esfriou e ambas nos esquecemos de onde íamos, focando a conversa noutro assunto.
No dia seguinte, por via doutro assunto qualquer, que já não me lembro qual nem isso interessa, a rica filha, de semblante sério, declara:
– Temos de viver com calma, que vamos morrer daqui a muitos anos.
Faço um comentário insípido demais para caber neste blogue e pouco depois ela remata com uma questão:
– Então mãe, não reparaste que fui mórbida como tu costumas ser?
Dias de um Ginásio
O homem que andava lá no ginásio morreu. Fez-me cá uma impressão. Digo isto da grande impressão porque vi uma entrevista na tv e reconheci-o, era ele, era... Credo. Oh céus. Mesmo que na entrevista estivesse já num profundo estado débil, mesmo que eu não o visse lá no ginásio há bastante tempo e portanto a figura dele nessa altura nada tinha de débil, mesmo assim reconheci-o.
Não quero o nome do defunto no blogue, a minha ideia é como que resguardar a sua memória, e na verdade um nome não interessa, só vou deixar o que em tempos escrevi acerca dele porque depois da tal entrevista que vi e ouvi, não tem nada a ver.
Anda lá um homem que parece um touro prestes a investir sobre toda e qualquer pessoa (ou coisa) que se lhe atravesse à frente. Mesmo a sério, baixa os cornos e tudo. O marrão acha que aquela postura agrada ao mulherio... E não se engana, gosto de o ver, há algo nele que me atrai, talvez me faça sentir menos bovina.
|7 de Setembro de 2011|
Viver é isto
Fotógrafo pendurado na rede que delimita o Aeroporto de Lisboa, de máquina fotográfica pendurada no pescoço, pronto a captar aviões em aterragem e em levantamento. Não é uma figura ridícula, não, as pessoas têm de fazer o que lhes dá prazer. Viver é isto. Se não for assim resta-nos o quê?
Dia de (disseram na Radio)
Dentre montes doutras coisas que não memorizei, hoje é dia de tirar fotos às próprias mãos. Ora bem, tratei disso* ontem e anteontem, 'migos.
*...
quinta-feira, 15 de maio de 2014
---
«Esteja tranquilo, não vou pousar a minha mala de mão no seu sofá.»
A Estreita Sombra de Catarina Vale, Irene Antunes, página 10
A Estreita Sombra de Catarina Vale, Irene Antunes, página 10
Cabeças
Maria do Carmo tem um topete na cabeça tão alto que me lembrou a cesta de fruta da Cármen Miranda. Ao tempo que não a via. A Maria do Carmo. Para ver a Cármen Miranda vai-se ao Youtube e pronto.
Bagos d' arroz
Quando se tem os quatro dentes do ciso algo espigadotes, é comum morder-se as bochechas pelo lado de dentro e fazer dói-dóis e inchaços, os quais, devido a esse estado inchado, se morde ainda com mais facilidade, frequência e afinco. É o que acontece comigo. Tenho dói-dóis na parte de dentro das bochechas com alguma regularidade. Um horror. Em dias de arroz de pato, então... Ai. É por causa dos grãos de arroz, endurecem ao serem gratinados e não se desfazem facilmente, não é, e espetam-se nas covas dos dentes, não é, e fazem alturas, não é, e os dentes, ao invés de assentarem fileira com fileira, antes assentam no baguinho de arroz muito rijo, desequilibrando-me a cremalheira, que resvala, não é, e eu mordo-me toda cá por dentro, não é.
Penteado
A dona Aida gosta que a cabeleireira lhe consiga um bico na nuca. E consegue. Visto por trás, o cabelo da dona Aida forma um bico na nuca.
Olha aqui
Acho-me parecida com esta mulher.
Não te acho nada parecida com ela.
Que deceção. Era uma Júlia não sei quê lá da Bretanha.
Não te acho nada parecida com ela.
Que deceção. Era uma Júlia não sei quê lá da Bretanha.
Pela ½
atão o senhor safa as
atão pois
inda bem
nunca mais fez uma
não tem dado para
se quiser diga quando
eu não me importo que
e eu não me importo se
ah isso ah
oh não antes
atão pois
inda bem
nunca mais fez uma
não tem dado para
se quiser diga quando
eu não me importo que
e eu não me importo se
ah isso ah
oh não antes
Demais
Ler muito é perigoso pra caraças, 'inda me ponho práqui a imitar a escrita doutra gente. E isso é uma ganda treta.
No lugar de
Comecei três novas leituras quase em simultâneo.
No lugar de
'Rosa do Adro' (Manuel M. Rodrigues)
leio
Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci (Shelagh e Jonathan Routh)
Eia, ganda maluco, o Leonardo da Vinci era muito à frente para a época, muito à frente. É certo que as suas obras são conhecidas mundialmente mas Leonardo da Vinci era também cozinheiro na corte e a verdade é que era deveras inventivo, sendo os seus apontamentos escritos absolutamente hilariantes, quanto a mim. E os engenhos dele...? Oh céus, que loucura.
No lugar de
'Como Sombras no Muro' (Gilberto Pinto)
leio
'A Estreita Sombra de Catarina Vale' (Irene Antunes)
Ainda só li duas páginas mas parece-me uma história de amor escrita num tom divertido. Bom, já percebi que esta autora não escreve duma forma clara e concisa, e eu que gosto tanto disso, mas pronto, continua-se.
No lugar de
'Âmbar Sépia Café' (Cristiana Veiga Simão)
leio
'Experiências Descritivas' (Rita Taborda Duarte e André Barata)
É um daqueles livros que tem duas partes, uma contrária à outra, começa duas vezes, portanto, daí ter dois autores.
Términus
Terminei mais uma leitura: 'Como Sombras em Muros', de Gilberto Pinto.
Ao início gostei muito de ler este romance, mais ou menos a meio aborreceu-me um bocado e ao fim voltei a gostar, quiçá induzida pelo desejo de ver mais uma leitura concluída, ou por saber o desfecho, sei lá. A criança e a mulher, é do que trata essencialmente este livro, duas vozes que falam alternadamente durante toda a história, as personagens quase se tocando, parecendo sempre que no final seriam a mesma pessoa... Não são. Ao menos isso, o contrário seria demasiado normal para o meu gosto.
Identifiquei-me sempre com a voz infantil, vá-se lá saber porquê...
«O Elias desliza na água à nossa frente como se fosse empurrado pelo vento. As suas penas são tão brancas e tão longas que me parecem panos brancos a secarem ao sol. Agora desvio o olhar do Elias para observar as pessoas que vão passando no jardim; faço sempre isto ao fim de algum tempo a observá-lo; o olhar que depois lanço para outro sítio vai cheio da imagem tranquila do cisne. Aprendi esta palavra antes de ontem num livro que a mamã tirou das coisas do avô – havia a fotografia de uma montanha e dizia ar tranquilo. No fim do jardim, perto da rua, há um rapaz que estende a mão a uma mulher, a mulher parece nem ver e continua a andar – é por isso que gosto de olhar para o Elias: a mulher parece-me deslizar sobre o chão e os gestos do rapaz quando se vira para o outro lado desenham curvas suaves no ar.»
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