A primeira vez que tive contacto com um cubículo foi há trinta anos. Chamavam-lhe cubículo e era efetivamente um cubículo. Retangular. Havia dois varões suspensos em cada uma das paredes mais compridas, com cabides amontoados, se na ausência de roupa armazenada, ou se pelo contrário, havia roupa de pronto-a-vestir lá pendurada, os cabides estava alinhados.
Dona Maria Eugénia chamava o cubículo ao cubículo e era efetivamente um cubículo. Olha, leva isto para o cubículo, dizia ela a estender-me um montão de cabides com roupa gira e colorida tão em voga nos anos 80 a postos para pendurar nos varões. Era assim. E eu, como nunca tive jeito para desobedecer ao patronato, levava-os por ali fora, sem arrojar no chão, para não sujar. Os cabides eram todos alojados na mesma direção, como se fosse um ponto de interrogação quando a roupa tinha a frente virada para nós, para que quando fosse a altura de levar as encomendas para as lojas não andássemos às aranhas, uns cabides pra um lado outros pro outro. Não, que é lá isso.
O cubículo não era nada bonito, cheirava a mofo pela falta de ventilação, mesmo havendo uma janelinha, e em certas partes começava a crescer uma sustância esponjosa, caso as funcionárias do ateliê de costura não se dessem ao trabalho de limpar.
O cubículo. Pois.
Falta isto:
Dona Maria Vitória dava os últimos retoques ao pronto-a-vestir com o vapor duma caldeira potentíssima.
O cubículo. Pois.
Sem comentários:
Enviar um comentário