Sou uma pessoa solitária, sou-o porque sim, não que tenha algo contra ajuntamentos (e até bacanais) mas a minha personalidade não se dá com pessoas durante muito tempo seguido. É por isso normal que às vezes imagine um Natal sem pessoas, inclusive sem consortes, os quais, menos mal, não me abandonam, que é lá isso.
Tratava obviamente da Consoada, mas em quantidade reduzida.
Fazia bacalhau com natas e couves salteadas com amêndoas, o suficiente para duas doses, uma delas guardava para daí a dois dias.
Comprava um bolo-rei pequenino que só abria quando fosse para comer, nada de o cortar logo às fatias, que os bolos sendo pequenos secam rapidamente.
Confecionava fritos de abóbora, torta de doce de ovos, arroz-doce. Colocava tudo em pequenas travessas.
Dispunha frutos secos num prato de mesa.
Via os filmes que queria ver. Em silêncio.
Nos intervalos, que seria eu a determinar quando fazê-los, vagueava pela casa. Em silêncio.
Lavava e arrumava tudo. Em silêncio.
É certo que imagino um Natal sem pessoas à minha volta como sendo uma ideia aprazível, mas ainda assim é-me impossível deixar de sentir o habitual rodopiar pela cozinha, e ouço também as vozes dos comensais do costume e até os chamamentos e as atenções da cadela.
Mas eu ia gostar de passar um Natal sozinha, para saber como é.
Ah, é verdade, e a árvore de Natal, fá-la-ia? Hum, creio que sim, no entanto, caso a solidão se estendesse por mais anos, tenho a certeza que deixava rapidamente esse costume...
Sem comentários:
Enviar um comentário