Nada como um dia menos fértil em ideias publicáveis para divulgar os poemas que publiquei no Facebook. Os poemas remanescentes, não os que estão editados nas antologias Poesia sem Gavetas - Parte I (Pastelaria Studios Editora) e Nós, Poetas, Editamos - Parte I.
Uns poemas já por cá andavam, neste blogue ou no anterior; outros são ideias transformadas a partir de prosas; outros são completamente inéditos. É conforme, pouco me importa se está mal formado ou mal concebido ou mal apresentado. São poemas ou uma espécie disso e pronto.
Uns poemas já por cá andavam, neste blogue ou no anterior; outros são ideias transformadas a partir de prosas; outros são completamente inéditos. É conforme, pouco me importa se está mal formado ou mal concebido ou mal apresentado. São poemas ou uma espécie disso e pronto.
Boa previsão
Sei tão bem
Como é o dobrar da esquina
Sei como é o vento
Lá
Como sei
Que naquela subida
Vou encontrar
O teu olhar estrelado.
Querer
Quero ouvir as revelações
Diz-me como está a tua cabeça
Conta-me dos medos
Das traições
E do amor
Também
Quero saber
A friorenta
Tem frio
Não vem de fora
Mas infiltra-se
Ora e esta?
Estranheza...
Está por baixo da pele
Mesmo antes da carne
Rodopia e sopra
Entre as duas:
Pele e carne.
O frio
O ruim
Esse malfazejo
Não vem de fora
Não
O frio
É a alma à solta
Rebelde
Entre as duas:
Pele e carne
Soltura
Liberdade de expressão
É um
Envolvente corcel
É um
Céu
É um
Arco-íris
Que promove o convívio
Doentio
Deste modo
Denunciantes
Não fales
Deixa-te disso
Escuda-te
Num
Vão de escada
Num
Esconderijo
Melhor assim
Mulheres
A mulher verde possui
frescura
vigor
leveza
despreocupação
liberdade.
A mulher vermelha possui
temperança
conhecimento
histórias
saudade
tolerância.
Uma
não é
melhor
que
a outra.
Nem pensar.
Troça
Eu não faço
Pouco das pessoas
Não
Não e não
Eu faço muito
Faço muito das pessoas
Faço-as em muito.
Não sei o que mais querem...
Eu sou bem-disposta
Eu trabalho
Eu simplifico os problemas
Eu enxoto a tristeza para as profundezas
Eu afasto as arrelias
Eu rio
Eu falo
Eu não me queixo
Eu ando
Eu converso
Eu tolero
Eu mexo-me
Eu convivo
Eu comprazo-me com o constante pulsar da vida
Terceira pessoa
Gostava de ser uma mulher destemida.
Ela, que esta não sou eu.
Queria mostrar ao mundo como conseguir ser feliz.
Ela, que esta não sou eu.
Trabalhava de bom grado, se tivesse o apoio necessário.
Ela,que esta não sou eu.
Transformava as vivências e experiências de tal modo que pareceriam fantásticas.
Ela, que esta não sou eu.
Viveria feliz; contente; capaz.
Ela, que esta não sou eu.
Que fácil escrever na terceira pessoa, afinal!
Desnecessário
Não preciso de ninguém para absolutamente coisa nenhuma. Nada. Tenho a internet. Tempos modernos, chamem-lhe assim, se o preferirem.
Internet → Google, Sapo. IOL. Cliques. Saber. Disciplina.
Pesquiso. Flutuo. Ou navego, caso prefiram. Aprendo. Fixo. Divulgo.
Fantástico.
Pessoas para quê? Desapareçam, vá. A solidão tem um lado obscuro que me diverte. Ou ausência de conflitos. É esta a melhor parte. Sou uma excelente pessoa sempre que ando sozinha por aí.
Gostos
Ela tem um gosto
Ele tem o gosto dela
Ela gosta do gosto dele
Porque tem o gosto dela
Ela gosta
Dele
Diz-me tu
Se alguém me perguntar:
«Ó Gina, o que querem as mulheres?»
… Eu sei responder.
Não perguntes nada,
Deixa lá isso
Reparaste no título deste poema bastardo
E subtilmente malicioso e provocatório?
Diz-me tu.
Sem título
Marimbo
Falo da tristeza,
da morte,
da estupidez
e até das dores.
Que se lixe!
A vida é composta disso também
E principalmente.
O amor
Queixa infantil:
Ela não quer ter coisas esquisitas.
Abraço consolador:
Então ela não vai ter essas coisas esquisitas.
O Amor
Um dia
Tive um amor impossível
Ele
Não gostava de mim
Estranhamente...
Pouco importa, agora
Podiam desterrar montanhas
Podiam sorver os mares
Eu tive um amor
Ele
Não gostava dos meus versos
Chuva de verão
Chove em Lisboa
É uma chuva grossa,
as gotas distam umas das outras
É chuva de verão
Passageira,
quase alegre,
a gente sabe que acaba num instante
Gosto de a sentir no peito,
nos braços,
nas pernas.
Refresca e seca depressa
É chuva de verão.
Sem título
O vento esfuma as palavras ditas
Mas nunca leva as que se escrevem
Sou capaz
Capacidade: atrair; manipular
Pergunto
Sim, há dias em que sim
Esperar é alcançar
Haja paciência
Sim, tenho paciência
Para esperar
Para atrair
Para manipular
Tenho capacidade
(imensa)
Tenho pena dos consortes
(não muita)
Tenho ardileza
(a rodos)
E tenho dito!
(escrito!)
Boas lembranças
Ah,
eu lembro-me de si
Diz ele,
de expressão aberta,
com um sorriso cheio de brilhozinhos
bem intencionados.
Eu
também me lembro de si
Diz ela,
debaixo duma aura subtilmente provocatória.
Sempre e só.
Quem lhe dera alguém
que prolongasse este prazer.
Tu e tu
És tu
Não sei quem me alenta, quem me faz sorrir. Sequer conheço quem me faz escrever. Não sei quem tu és. Conta-me tu. De ti e dos outros, vá.
Tu és
Tu não és diferente, és especial. A igualdade entre os seres impera, é o que se promove, não é? Sendo assim sou igual a ti... Já se vê, sou também especial. Ah pois é!
Água
É a vida;
São pessoas.
Mesmo que chova.
Que queres?
Anda para a frente, vá!
Mesmo que chova
Que importam os lagos na calçada?
Caçar leitores
Alusões subtis?
Sim, também as há.
Tenho medo de escrever,
Lembras-te?
Ou por outra:
Incidir ou alumiar
Não é engodo nenhum
E a pescaria escasseia
Aniquilando a partilha
A vontade
Não sei o que faça com a astenia
Não sei o que fazer
Fazer mais
Melhor ficar, deixá-la
Apodrecer, renascer
Estagnar para logo mais brotar.
Deambulando
Querem vender malas e ler a sina
Querem vender castanhas quentes e boas
Querem ter a avenida iluminada com cores alegres
Querem vender livros de histórias
Querem que eu beba um cafezinho
Querem que eu leia
Querem que eu debite assuntos
Querem que eu tenha frio
Querem que eu não tenha frio
Querem que eu venda lacas e esfregonas
Querem que eu escreva
Querem que eu escreva
Pergunto
Outono
A água por causa da secura do solo
A morte para haver renascimento
O sol fraquinho para relembrar o brilho
As nuvens porque anunciar é preciso
O vento...
Para secar a roupa...?
E pronto!
E pronto!
Uma pessoa está aqui a descansar,
a gastar o tempo que é demais,
numa ânsia que só visto,
porque uma pessoa
não tem capacidade
para se manter sossegada.
E pronto!
Uma pessoa está aqui.
E vem um senhor
cheio de modos cavalheirescos
perguntar se pode tirar o jornal
num olhar intenso e perturbador.
Posso?
Pode, sim senhor.
Não se importa?
Com certeza que não, faz favor!
E pronto!
O cavalheiro leva o jornal
deixando uma pessoa mais isolada ainda.
E pronto!
Uma pessoa põe-se a escrever na esplanada.
Escrever: ato que traz companhia.
A manhã clara,
amena,,
um primor.
E pronto!
Cai um pingo de água nas costas da pessoa
que está aqui a escrever.
Cai do ar condicionado,
a malvada.
O pingo acertou mesmo naquele orifício
que tem a t-shirt (lindérrima!) que hoje enverga.
E pronto!
Uma pessoa dá um salto de todo o tamanho
na cadeira.
Lá se vai a pose de senhora escrevente.
Visões fecundas
Não é preciso imaginar
Vejo.
Antes isso, antes ver
Ou imagino o que imagino com base no que não vejo?
5
Passaram cinco anos.
Cortou o cabelo num penteado novo e moderno: franja grossa, as mechas caindo logo acima das sobrancelhas, como fasquias aparentemente rebeldes.
Passaram cinco anos.
Deslocou-se à casa ferrosa para almoçar e conviver com os amigos. No caminho, florinhas resplandecentes, ervas verdejantes e passarinhos cantantes prestavam-lhe vassalagem.
Passaram cinco anos.
Tirou fotografias a todos os amigos, ávida da sua presença. Uns riam com prazer, outros conversavam animadamente, ela fazia parte do cenário clicando aqui e ali. Cabecinhas juntas, amigas, denunciando cumplicidade e amores sinceros.
Passaram cinco anos.
O cabelo cresceu, vigoroso mas disforme. As flores murcharam, ficaram secas, esguias, quebradiças. A azáfama instalou-se. Os amigos mudaram hábitos e partiram sem dizer adeus.
A não esquecer
Conheci-te às apalpadelas,
Gerei-te a mando de apetites,
Criei-te a gosto.
Agora me lembro:
Sei-te de cor,
Ainda.
Outra coisa
Quando meto uma coisa na cabeça...
é teimosia,
é não olhar à volta,
é destratar o real.
Quando meto a cabeça numa coisa...
é leviandade,
é arrojo,
é poderio.
Sons
Durante o dia fui música
Os brincos tilintavam as pulseiras tiniam
Uma sinfonia, eu.
Versejar
Não sei fazer poemas, senhores
Não sei falar de amor nem de fadas
As minhas apresentações
São desvarios literários
Em frases curtas
Sem pontuação
Poesia
Eu.
Simplista na prosa...
Logo...
Simplista na poesia.
Eu.
Um dia
Um dia compro uns sapatos caros,
faço o pino,
canto em público,
escrevo um poema...
porque um dia há-de ser um dia diferente.
Sol
O sol envelhece a pele
Mas como lhe resistir?
Como ficar em casa,
à sombra?
Sem viver?
Sol: sinónimo de vida.
Sol: um poema,
ao sol,
ao vento,
luz; calor; vida,
disfrute; esplendor.
Assim.
Ah, se eu fosse poeta!
Se eu fosse poeta
hoje teria feito um belo poema,
cheio de tristezas,
mas belo.
Assim,
resta-me a prosa,
na qual me espojo,
sem que consiga despojar as mágoas.
Dúvida
Para (eu) escrever
Talvez interesse o (meu) viver
Talvez não interesse a (minha) vida.
Sou uma Filha do Mais ou Menos
Mais ou Menos
Boniteza
Mais ou Menos
Bondade
Mais ou Menos
Ruindade
Mais ou Menos
Honestidade
Mais ou Menos
Disposição
Mais ou Menos
Carinho
Mais ou Menos
Rudeza
Mais ou Menos
Simpatia
Boneca de porcelana
Sou uma boneca de porcelana.
Estática.
Estou no alto de uma prateleira,
avisto tudo ao derredor,
invisível e ausente.
como que dispensável...
como se opiniões e ideias sejam infundadas,
nulas.
Mas se me tirassem da prateleira
e me pusessem dentro do armário,
todos me dariam pela minha falta.
Irradio algo que não sei o que é,
Que ainda não cheguei lá.
Sou uma boneca de porcelana.
Frágil.
Tirarem-me da prateleira contém perigo.
Dificulto o manuseamento pela minha fragilidade.
Eles não sabem como lidar comigo
porque eu não sei lidar com eles.
Sou estática e frágil.
Sou interativa e robusta.
Consigo interagir com o meio
e não fazer parte dele.
Tudo isto de uma só vez.
Zás!
Zás é cortante e arguto
Despachado e bruto
Frio e resoluto.
Lugar limpinho
Quero um lugar limpinho
Onde possa pôr os pés
Quero um lugar limpinho
Onde haja espaço para os sorrisos
Quero um lugar limpinho
Onde mostre uma postura condizente
Quero um lugar limpinho
Onde veja recantos de aprumo
Ordens
Parágrafo:
Para de grafar nesta linha.
Recomeça aqui, agora podes.
Grafa, quero ler.
Vulcanicidade
Vulcão inativo, não.
Vulcão fracamente ativo, talvez.
De vez em quando,
por culpa da natureza,
ocorre erupção,
sai uma lava incandescente,
fere e queima quem se atravessa à frente.
Matar pessoas,
nunca,
apenas o horror.
Depois acalma.
Ativo,
o vulcão,
está sim senhores!
Mas contido.
Conjuntura
Lugar da musa:
Café; tinta; papel
Movimentos; burburinho
Mescla sedutora e irresistível.
Decisão:
Vou escrever!
1º poema
não aparece
a trovoada por não se ouvir
pensamentos difusos
flores queria sentir
céu azul e límpido
mas chove na minha cabeça
Questões
Quem escreveu que eu tenho de ser feliz?
Qual a mais bela cor do arco-íris?
O que fazer para cessarem os dias?
Como congelar um momento bom?
Onde está o amor?
Quando amarrar o riso?
Quem manda em mim?
Dói muito ter liberdade?
Solto agora a gargalhada?
Domingo
Amanhã é segunda-feira. E depois?
Estará um dia lindo:
sol, calor, os elementos da boa disposição.
Aproveita!
Amanhã é segunda-feira. E depois?
Pinta os lábios,
enfia um anel no dedo,
brincos nas orelhas,
veste uma roupa diferente.
Está calor!
Amanhã é segunda-feira. E depois?
Deixa-te de tristezas,
vai trabalhar!
Mas feliz, vá!
Amanhã é segunda-feira. E depois?
Depois é terça-feira...
Rima
Autoestima
em cima...
rima.
Não a ostentar lá em baixo,
portanto,
será seguramente favorável.
A passo
Dona Petra passa na rua.
Bengala na mão.
Antes canadiana. Bengala, não.
Plural: canadianas, duas são.
Tiquetique, tiquetique, quando assentam no chão.
Passeio
Chamam-me maluca
Porque aproveito o passeio
Espaireço
Passeio ao frio
À chuva
Passeio ao sol
E ao calor também,
Em caso disso
Fechada não,
Que adoeço
Asfixio
O chão foge
A cabeça rodopia
Chamem-me maluca se quiserem
Estarão em cima da verdade
Sem o saber.
Outono
É por causa das folhas secas.
Se não fossem as folhas no chão,
o mundo não estava assim,
tinha outras cores,
vivia-se doutra maneira.
Para quê caírem folhas?!
Não confesso às paredes
Confesso a uma nuvem
ou às folhas das árvores.
Às vezes também segredo ao arco-íris,
mas esse é mais arisco,
nem sempre aparece.
Tristeza
Estás triste?
Sim.
Porque é que estás triste?
Sou viciada em tristeza,
preciso dela para escrever.
A droguista
Na minha rua há um sítio
Onde fixaram um letreiro:
Estamos a pintar lá em baixo.
A pintar lá em baixo... coitados!
Lá em baixo canta-se,
ri-se,
dança-se,
chora-se.
Lá em baixo não se pinta!
Lá em baixo arrumam-se esfregonas
e garrafões de cera.
Lá em baixo oferece-se pancada ao cão estúpido
com o par de vassouras que se traz na mão.
Qual pintar, qual quê...
Lá em baixo ouve-se o canto dos passarinhos,
observa-se as nuvens
e as escadas de caracol.
Observa-se as rosas
e os fetos
e aquela palmeira.
E a nespereira.
Pintar lá em baixo... Bah!
A artista
Sou artista de verdade:
tudo o que faço
extremamente bem…
é inútil
ou engorda!
Obituário
Afoguei um cachorrinho
- com dono e sem abandono -
numa poça pouco profunda.
Eu,
alta e possante para o bicho,
enraivecida,
agarrei-o pelo pescoço e fui apertando.
Ele estrebuchou e morreu.
(Matei o meu amor, já não uso aquele anel.)
Agora sofro eu,
é a mim que dói.
Dói que se farta mas não vou ruir,
que sou possante.
(Afinal de contas... Ando sempre a inventar.)
Terceira pessoa
Ela considerou estar tão bestificada como supunha, em certa altura do dia. Nem queria acreditar... É verdade, verdadinha.
Ela tirou fotos à fruta, aos tomates, às especiarias, ao relógio e ao cato. Para se distrair do infortúnio, que ser uma besta cansa que se farta.
Ela hoje quis escrever na terceira pessoa do singular. Uma voz sussurrou-lhe: «Afasta-te do ego! Afasta-te do ego! Não é bom agoiro tanto ajuntamento!»
A ver se o disco vira, se toca o lado bê, pensou ela. Hum... Torceu o nariz.
Ela grafou umas coisas.
Ela rabiscou contrariada.
Ela publicou insatisfeita.
Não queres escrever?
Queres escrever da avenida mais pequena de Lisboa?
Não.
Queres escrever da cigana aos gritos com o polícia?
Não.
Queres escrever da senhora assustada com os números do exame de oncologia?
Não.
Queres escrever do homem que te cuspiu para a cara?
Não.
Queres escrever do jovem extraordinário que estava no lugar da musa?
Não.
Queres escrever do granizo d' hoje?
Não.
Então e da beleza floral destes dias luminosos? Ontem esqueceste-te...
Não.
Queres escrever...
Não!
Quente, quente, quente!
O calor chegara.
Porém, não tardaria a abalar,
contrito,
pela patada que dera ao amigo frio.
Milena e os calores.
Milena tinha calor.
Oh céus, que calor!
E a senhora,
sentada no sofá preto,
de perna aberta,
escanchada,
desavergonhadamente!
Está calor.
Arejar é preciso.
Não!
Milena não queria tal vislumbre.
Mas tinha de ser...
A menos que fechasse os olhos.
Sair dali também era uma boa ideia.
Pois bem.
Foi-se.
Sensualidade
Se eu sou sensual?
Sim, sou.
Sou bastante sensual.
Imensamente.
Sai-me pelos poros a toda a hora.
Até escorre.
Em forma líquida que é para ser bebida.
Sou sensual, pois.
Olha só:
Não compro iogurtes simples já açucarados
porque gosto de ser eu a mexer nas minhas coisas.
...
Sinto saudades do que não vivi.
Não sinto saudades daquele tempo em que.
...
Ramerrão.
Todos os dias são iguais.
Estou sozinha.
Siga a vida.
O bajulador
Olha o senhor professor.
Bom-dia, senhor professor.
Passou bem, senhor professor?
Vem beber o cafezinho, senhor professor?
Não, um penalti de tinto
e um prego bem passado.
Loucura
Qual louca, qual quê!
Ela não está louca → hoje foi trabalhar;
amanhã irá trabalhar;
depois de amanhã irá trabalhar.
Tomará conta dos hábitos
– que não suporta -,
olhará e cuidará com zelo para que não se percam.
Consumação & efemeridades
Consumar o efémero,
inventei eu.
atuar diariamente em cima de insignificâncias
mui necessárias à vida.
Coisinhas desinteressantes
Que se esfumam à velocidade dum ai suspirante.
Ninguém vê nem fala das ditas coisinhas.
Mas é preciso.
É mister.
Consumar o efémero é mister.
Sem título
Desfasamento.
A realidade é uma névoa.
O imaginário é um dia claro e ameno.
Tão melhor assim...
Está certo!
As certezas pertencem aos néscios
Talvez seja assim, quero eu dizer.
Tópico
Não
escrevo
essas
palavras
bonitas
que
todos
gostam
de
ler.
Olha lá!
Quando te perguntarem se está tudo bem,
diz que sim,
mesmo sabendo que não passa de uma reles farsa.
Não cries ondas nem sopres brisas,
por mais leves que sejam.
Deixa-te estar,
não contes das aflições e tristezas.
Sequer das alegrias e prazeres.
Mantém-te sossegada,
é o melhor.
Dizes só que está tudo bem e a vida segue.
Ninguém realmente gosta ou admira alguém diferente.
Primariamente pode haver uma atração manifestamente agradável,
culpa dos opostos,
eles acham-te graça,
o que te reconforta,
mas olha que é uma paixão balofa,
estéril,
sem forma ou consistência,
dissipa-se num instante.
Não tardará que passes a... diferente,
aí não servirás para mais nada.
Distração
Alguém fungou ruidosamente
Ele olhou para mim
Não fui eu 'migo.
Eu estou só a chupar o pau de canela
Alguém vociferou um
«ah, 'tava a ver!»
Ele olhou para mim
Não fui eu 'migo
Eu estou simplesmente bebericando o cafezinho bem bom
Depois aconteceu o términus da pausa
Houve barulho de velcro, por sinal gritante,
Houve barulho de clique, pequenino e inocente mas audível
Houve barulho de claque, mola vigorosa
Eu, tudo eu
Ele não olhou mais para mim, estava distraído...
Oferenda
Oferecer os escritos de raspão é porreiro,
Vê lá se consegues dizer alguma coisa...
Não consegues, pois não?
Gostar
Nem toda a gente gosta de toda a gente
Eu não gosto de toda a gente
Há gente que não gosta de mim
Mas deviam...
Eu sou uma pessoa extraordinária
Ao sério.
Caso temerário
Tenho medo de escrever.
Escrever é um bicho grande
e feio
e feroz
e ruim,
Um papão de criancinhas indefesas e lindas.
Contradição
Gosta de dar nas vistas
Sabe dar nas vistas
Nunca quer dar nas vistas
Não gosta de dar nas vistas
Não sabe dar nas vistas
Quer dar nas vistas
A prestável
Normalmente acho que não presto para nada
Por isso, talvez não deva escrever aqui mais nada
Tenho qualidades que não lembram a ninguém
E nem a mim me ficam na memória
Os meus defeitos têm mais força
Perduram na minha memória
Pareço ter só defeitos
E agora não me apetece escrever sobre eles.
Limbo
Agora ficava aqui.
Até quando nem sei.
Depois alguém me levaria ao colo para outro destino do meu agrado.
Podia ser a baixa pombalina ou o jardim do Campo Grande.
Quando já não desse mais,
ou quando já tivesse visto tudo
(não posso falar em tédio senão perco a poesia toda...),
viria o vento e sopraria
- suavemente, que eu sou uma pena de galinha -
empurrando-me até outro destino...
– a ver na altura,
que a imaginação já se me acabou.
Poema capilar
Gaja-gira
No passeio
Gaja-gira
Vai
Cabeleireiro-cortês
Vem
Mimi, Mimi
Do coração
Beijinho daqui
Beijinho dali
Oh céus!
Que rubor
Que faz aqui
Pergunta Mimi
Nada ausente
Sorridente
Covinha na bochecha
Oh céus!
Gaja-gira
Verseja
Gaja-gira...
Pragueja
Lamenta
A tormenta...
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