Estreei um vestido no exame da quarta classe. Estava-se em 1978, e era costume, ou lá que é, as criancinhas irem vestidas a rigor.
Normalmente era a minha mãe que confecionava a minha roupa mas não foi o caso deste vestido, que foi feito por uma costureira que morava rente à estrada, numa casinha já desaparecida. Íamos lá a casa fazer as provas, a costureira usava alfinetes, a minha mãe usava alinhavos, dava pontinhos mesmo eu estando com a peça vestida e tudo, nas provas da costureira tinha de me portar muito bem, sempre fui cheia de comichões quando é forçoso estar quieta com outra gente a mexer-me no corpinho, com a minha mãe podia estar menos quieta, e ademais a minha mãe tocar-me era muito diferente duma estranha aqui de volta.
Naquele dia tão especial de junho, lembro-me do embaraço que senti por ir toda pimpona para a escola, eu que não gostava nada de dar nas vistas. A minha mãe até me propôs, aborrecida e sarcástica:
- Vê lá se queres que te embrulhe num cobertor para ninguém te ver!
Fiquei com lágrimas de raiva, penso que não desceram, penso que as controlei, penso que me concentrei no exame que ia acontecer.
O exame decorreu, passei para o ciclo preparatório, não sei com que nota, não tenho louvores na memória, nunca fui menina-prodígio de coisa nenhuma, mas fui uma menina com um vestidinho cor-de-rosa que estranhamente não foi a minha mãe que fez.
Nota: a foto está velha e mal tratada mas é o que se arranja...
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