No dia 6 de janeiro escrevi algures assim:
«No jardim. Fui dar uma volta ao jardim. A estátua está lá especada desde janeiro de 1968. Que era janeiro e que era 1968 já eu tinha decorado, só não recordava o dia de maneira nenhuma. Fui lá espreitar:19. Só não volto para tirar as fotos nesse dia vindouro porque este ano calhará num domingo e ao domingo não ando por aqui. Um dia desses vou lá clicar, que hoje a máquina estava sem bateria.
Há poças d' água e lama com fartura, tanto que me enlameei por andar nos carreirinhos do jardim, uma verdadeira gincana para descortinar o dia dezanove.
Atrapalhei um casal de namorados adolescentes. Beijinho para aqui, beijinho para ali. E eu a incomodar os pobrezitos...
Andei à chuva. Vamos lá a ver se se entende: eu gosto de chuva; eu ando à chuva. E, conquanto não vente, estou feliz e grata. Grata, pois, olha se eu não visse a chuva, se apenas a ouvisse, a cheirasse, a sentisse. Eu também vejo a chuva, tenho olhos que veem.»
Hoje é dia 16 e já tirei as fotos, não esperei que a permanência do poeta cumprisse 46 anos. Entretanto pus-me a pensar que era giro voltar a este lugar de três em três meses e assim retratar as diferenças nas folhas das árvores e na cor do céu, na ausência de nuvens, no brilho do sol.
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