Soube dum poema de António Canastrinha, um poeta popular, que em tempos esteve estabelecido neste bairro lisboeta. Apresento-o no blogue, retrata uma figura popular e muito carismática deste bairro.
Para o dia da Mãe
Com certo atraso mental
Sempre contente e feliz
Com uma força brutal
É tão humilde o Luís
O sonho da sua infância
Veloz como uma gazua
É imitar uma ambulância
A correr de rua em rua
Nunca fez mal a ninguém
Tem força, nada lhe dói
E só responde ma a alguém
Que diga – o Luís é boi
Para se alimentar
Dos amigos tem apoios
E é figura popular
Para o mercado de Arroios
Sem família organizada
Sem o conforto de um lar
Sem mãe, sem tia ou cunhada
Para o poder ajudar
Chamam-lhe o Luís maluco
Mas no seu comportamento
Sem ser espremido, há suco
De amor e de sentimento
A prova foi dada um dia
E cortou o coração
À Irene e à Maria
Vendedoras de criação
Chega o Luís a chorar
Triste que a todos consome
O que obriga a perguntar
O que tens, Luís? Tens fome?
Não! – responde ele a gritar
E especado se detém
- Ó Maria vai buscar
Vai buscar a minha mãe!
Num silêncio forte e bruto
Que ao seu redor se mantém
Pede passado um minuto
- Quero ver a minha mãe!
Só Deus sabe se o Luís
No todo que a vida tem
Queria um só dia feliz
Domingo – o dia da Mãe
Com juízo, muito ou pouco
Aprendam esta lição
Do sentimento de um louco
Com tão grande coração.
António Canastrinha
Lisboa, 3 de maio de 1991
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