Gina, a mulher que tem um blogue

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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Consultório

Quero contar como é a rotina no consultório de acunpuntura. Já quando andei na fisioterapia tive vontade de explanar por completo todos os passos e os trâmites do tratamento, desde que saía daqui (estaminé) até que voltava cá. Mas não. Vou então fazer um post relatando estas consultas/tratamentos que por enquanto tenho.
Começo por tocar na campainha e em todas as vezes me admirar por ela fazer dois dinguedongues. Clico e largo uma vez mas ouve-se o dinguedongue a dobrar. É um botão azul, fofo, mas sente-se um perne rígido quando pressionado, só por dizer que a fofura que envolve o perne não deixa aleijar a polpinha do dedo que escolhi. Aleijando, é quase certo que o senhor doutor aviaria tratamento para essa dor, mediante pagamento. Ah ah. Alguém abre a porta, pode ser o senhor doutor ou pode ser a senhora, que não sei se é doutora mas é com certeza uma espécie de assistente e também tem mão para o reiki. Damos beijinhos ou então não. Habitualmente sou esquiva, não me dou lá muito bem com contactos físicos. Claro que neste ambiente estou lixada, não é. É. Que tenho de ser tocada, não é. É. Bom, cumprimentos, ao menos verbais, feitos e entro para um dos gabinetes. Devo dizer que já os percorri todos, sendo uns maiores que outros, e este último era junto à varanda, o que me fez sentir grata pela oportunidade de ver as traseiras daquele prédio em particular. Ah ah. Dispo-me e subo para a maca. Nas primeiras vezes estava tão debilitada que neste passo tinha de ser ajudada. Dá-se então início ao tratamento de acunpuntura. O senhor doutor espeta-me duas agulhas junto a cada tornozelo, ali pela parte de trás das pernas, vá, onde começa o gémeo, onde talvez comece o gémeo, quero eu dizer, sei lá se é ali que o gémeo começa, não é. É. Um dia perguntei-lhe em que sítio exatamente ele espetava as agulhinhas, qual o ponto, se era especial e isso assim. Ele demorou a entender a minha pergunta. Compreendo, se fosse eu a ouvir-me também não ia entender. Adiante. Quando entendeu, contou-me que encontra um ponto entre o osso do tornozelo, o de fora, e esta zona aqui, apontou para o tal sítio onde julgo que começa o gémeo, mas lembrou que não é no tendão, que no tendão doeria muito. Pronto, não fiquei satisfeita, sei lá, tenho a mania de esmiuçar as coisas. Mas adiante outra vez. Findo este passo o senhor doutor dedica atenção à coluna. Lombo sagrado, a curvatura, o meu dói-dói que dói a cada pressão, mas, o, senhor, doutor, tem, de, pressionar, e, espetar, mais, agulhas. Cada espetanço faz um puf!, quase como um gemido. Não gemo. Raramente gemo ou me queixo, vai daí gemem as agulhas, às tantas não querem entrar-me na pele. É-me ainda colocado um dispositivo qualquer, chamo dispositivo porque não sei o que é, nunca vi e nunca arranjei coragem para pedir para ver, estou de costas, só sinto o calor e o cheiro a queimado. Sim, queimado, é fumo. Sou então largada, meio despida, de barriga para baixo, podendo manter os braços onde e como quiser, nisso sou livre, no mais tenho de estar quietinha. Sou largada mas não sem antes o senhor doutor me avisar que o chame caso sinta muito calor ou algo estranho, ou ainda muito incomodativo. Nunca senti nada que não conseguisse suportar, portanto sempre me mantive sossegada. E calada. E eis que chega a senhora do reiki, manifestamente alegre. É uma coisa que a gente destes meios sempre mantém, isso da alegria e da boa-disposição. Muita calma, uma onda feliz, auras do caneco, a gente ri-se e isso assim. As pessoas, estando bem, dão de si um certo quê com parte na harmonia, se o contrário se verificasse, o contrário ocorreria. Ali, sinto-me bem, feliz, como quando percorro um caminho que considero bonito. E, por junto, a dor tem atenuado. Mas a senhora do reiki. Confesso que estava longe da ideia de vir a usufruir de tal coisa, foi agradavelmente surpreendente. Não tenho conhecimentos acerca desta temática para me pôr para aqui a dizer 'ah e coiso, pois que está muito bem feito, ela é maravilhosa, tem cá umas mãos...' Não. Não sei se tem. Quero dizer: tem, mas não sei, não tenho comparação. O toque é ligeiro, mal pressionando, roda aqui e ali, pousa aqui e ali e não dura mais do que quinze minutos. Descontraio toda eu, há como que uma languidão que se me instala no corpo e o toma por seu. Tanto é que me babo. Sério. Ah ah. Terminada esta fase o senhor doutor volta. Retira tudo quanto colocara minutos atrás, não sei quantos, trinta? Não sei. Pouco importa, na verdade, não pus de lado a parcimónia para construir este post mas também não estou decidida a registar infimamente tudo e tudo e tudo. Mas o senhor doutor, que já regressou. Pergunta-me se está tudo bem. Pergunta-me amiúde se está tudo bem, se me sinto bem. E eu sinto. Bem. Nesta fase devo dizer que já passei por vários itens. Estou-lhe a chamar itens mas às tantas devia chamar molhos, utensílios, maquinaria pesada. Uma vez foi com uma régua. Credo. O senhor doutor até me perguntou se eu levei reguadas na Escola. Ah ah. Mas não. Não, senhor doutor, a dona Maria Elisa só me deu bofetadas. Aqui a régua serviu para endireitar o que estava torto, ele ladeou a coluna com a régua e pressionou com vontade, andou ali e andou e pumba. Devo dizer que doeu. Olarila. Outra vez aplicou-me uma coisa qualquer que o que fazia era chupar a minha pele, diz que era para o sangue inflamado subir, que subindo o corpo se encarregaria de o eliminar o quanto antes. Doeu. Doeu e não foi pouco. Assim de repente não me lembro de mais nada interessante o suficiente para constar no blogue... Hum, talvez um líquido viscoso, que ele estendia por sobre as minhas costas e dava umas palmadinhas em todo o comprimento, a certa altura o líquido espessou, aí a sensação que eu tinha era que ia sair de lá sem pele. Mas não, que é lá isso, está cá todinha. Bom, aquilo doeu um bocadinho, vá. E pronto, por fim vem a massagem. Do senhor doutor. Intensa. Capaz. Purificadora. Com tantos produtos bons, tantos utensílios invulgares, só podia ser. Pois. No fim de todas estas etapas, noto agora que afinal não estão tão esmiuçadas assim, levanto-me apoiando os braços na maca e fazendo os possíveis para usar o que aprendi no Pilates: força somente nos braços e na barriga, Gina Maria, não na coluna, jamais na coluna, vá. Pumba. Os primeiros levantamentos foram inglórios, depois não, e agora faço como deve ser. Resta-nos então saber se me sinto bem, se está tudo bem. Essa pergunta aliás o senhor doutor fá-la amiúde, já antes referi. Está tudo bem? Está tudo bem? Gingo as ancas. Está. Rodo o tronco. Sim. Seguidamente marca-se o próximo tratamento e chega a hora de a gente se despedir todos uns dos outros... Não despedimos nada, então que é lá isso, a senhora que talvez seja doutora mas é seguramente uma espécie de assistente fica por ali, dividindo o espaço com o senhor doutor das agulhas. Acunpuntor. Talvez escreva outro post um dia desses, que agora, ao reler este para corrigir imperfeições, noto que faltam uma série de pormenores suficientemente interessantes para constar.

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