Ali por alturas do Natal passado tinha idealizado que havia de fazer um post a divulgar que leio há quarenta anos. Entretanto não tive tempo para o escrever durante a época natalícia e depois disso tenho vindo a esquecer-me. Escrevo hoje.
Há exatamente quarenta anos que sei ler. Entrei para a escola em outubro de '74 e aí por alturas do Natal do mesmo ano já me safava com as letras que compunham palavras simples e de poucas sílabas. Lembro-me da primeira palavra que li fora do livro da primeira classe, o que ocorreu dentro da minha casa, mais em concreto na cozinha. Eu almoçava (ou lanchava ou jantava, não sei muito bem) sentada à mesa e olhando atentamente para o saleiro que a minha mãe tinha pregado na parede junto à chaminé, o qual tinha umas letras enormes lá escritas, disparo:
SAL!
Fiquei extasiada com o meu feito. A minha mãe ficou extasiada com o meu feito. O meu pai ficou extasiado com o meu feito. O meu irmão ficou extasiado com o meu feito. As vizinhas, os vizinhos, o merceeiro e a mulher ficaram extasiados com o meu feito. Naquele Natal de '74 houve uma felicidade imensa pelas ruas do Pinheiro de Loures, as pessoas cumprimentavam-me efusivamente, mimavam-me dando-me sugus e bombons, idolatrando a criança mais inteligente do pedacinho saloio que é a minha terra.
Agora a sério: nunca esquecerei a sensação boa que foi ler espontaneamente. Eu consigo fazer sozinha. O meu primeiro e consciente 'eu consigo fazer sozinha'.
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