Dentre outras coisas que não decorei, hoje é dia do anel. A locutora disse que gostaria que os ouvintes ligassem para lá ou se dirigissem ao fuçasbuque no sentido de contar a história da sua aliança de comprometido, se usa ou não, se tem episódios curiosos acerca de. Eu tenho. Ou por outra: não sei se são episódios curiosos mas vou contá-los.
Casei em 16 de julho de 1989. Nesse dia o noivo enfiou uma aliança de ouro no meu dedo anelar esquerdo, antes disso agarrara-me na mão direita. Pois. Por dentro da aliança estava gravado o nome dele e a data do casório. Ele tinha uma igual, só que mais larga, com a mesma data e o meu nome e essa quem lha enfiou fui eu, sem me enganar na mão. Passou um ano e tal, engravidei e inchei pra caraças por todo o corpo, antes que não conseguisse retirar a aliança desenfiei-a do dedo e enfiei-a no fio de prata que habitualmente usava ao pescoço. Lembro-me de a merceeira me dizer: olha, olha, isso é sinal que estás descomprometida. Não liguei, nunca fui de ir em ideias gerais e na verdade infundadas. Ao que parece as moçoilas sem par ostentavam as alianças num fio ao pescoço, não é. É. Mas eu cá não era por nada disso. A rica filha nasceu, os dedos e tudo o mais desinchou. Normalidade. Passaram anos, engravidei novamente e toca de inchar. Mais ainda, parecia um balão. Processo igual, mas desta vez guardei a aliança lá em casa, não sei onde, provavelmente em algum guarda-joias que tivesse na altura. Nesta segunda gravidez, além de inchar engordei demasiado. Quando o rico filho nasceu a aliança mal me servia. Mas servia. Andei com ela apertada talvez um ano ou dois. No dia em que realizei que jamais emagreceria, em que me aceitei, fui pô-la no ourives para a alargar. Pronto, és uma gorda, esquece lá isso, a vida continua. Passou uma quantidade de anos, talvez seis ou sete, por algo explicável mas não publicável emagreci imenso. Voltei às antigas medidas, a aliança rolava no dedo e resvalava, ainda a perdia. Enquanto me habituava ao meu novo tamanho, não fosse aquilo ser um sonho bom, ou algo assim, usava a aliança no dedo vizinho, o médio. As pessoas achavam piada àquilo, a aliança não é nesse dedo, mulher, eu explicava o porquê e acabava a conversa, talvez ríssemos, não sei, mas talvez. Passou não sei quanto tempo. No dia em que percebi que ia ficar com aquele aspeto, quem sabe para sempre, resolvi mandar apertar a aliança, oh felicidade. E passam mais anos. O Luís perde a aliança dele (é a segunda que perde mas isso é assunto para outro post) algures em 2013, a um ano e tal de fazermos 25 anos de casados, e a ideia foi desde logo aguentar até julho de 2014 e nessa altura adquiriríamos as alianças comemorativas das bodas de prata. Mas não. Pronto, não dava lá muito jeito. Pouco depois de o Luís perder a sua aliança eu deixei de usar a minha. Não é por nada negativo, não é nenhuma espécie de vingança, raiva ou frustração, é que assim fico com mais um dedo livre para quando quero usar montes de anéis, o que acontece somente nas estações mais quentes. Além disso creio que nessa altura estava-se no inverno, eu tinha frieiras, dedos inchados e doridos e o caraças. Vá, mete mas é a aliança no guarda-joias, o que a bem dizer, isto de andar sem aliança era algo recorrente nos invernos passados. Entretanto chega o verão, o de 2014, não há alianças pra ninguém, nem de ouro branco, nem de prata, nem com ou sem enfeites fofinhos e nomezinhos e datazinhas no interior, como já referi, passado tempo, chega este inverno, frieiras, há-de chegar a primavera, o verão e montes de anéis... E é assim: aliança, não é. É. Querem saber, não é. É. Não uso, senhores da Radio, não uso.
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