Ancilosa morreu. Chamava-se Ancelina mas há uns anos chamei-lhe Ancilosa num post. Pois bem, Ancelina morreu e morreu-me mais um pedaço da infância.
Entretanto, pus-me a divagar sobre o que sei da vida da Ancelina. Era uma mulher religiosa, muitíssimo crente, rente ao delírio, acreditava piamente nas doutrinas que lhe foram ensinadas, e pus-me a pensar, pus-me a pensar outra vez, pois, será que ela finalmente encontrou aquele céu em que tão fervorosamente acreditava, será que é tal e qual como pensava...? Seja lá como for, ela agora sabe, o que quer que seja que acontece após a morte, ou se não acontece absolutamente nada, ela agora sabe o que é e como é, porque morreu. Deixo agora o texto que escrevi em tempos acerca da sua exagerada fé.
A irmã Ancilosa pregava acerca da vinda do Senhor, que era preciso estar sempre de sentinela não fosse Ele chegar montado numa nuvem branca e apanhar-nos em pecado. Fôssemos cegos, surdos, mudos, mutilados, sofredores de qualquer espécie de doença, ou até sem dentes... Ele levar-nos-ia para o céu, assim estivéssemos nós preparados para ir com Ele. O corpo não interessava para nada, só o espírito merecia toda a nossa atenção. 'Já viste, se o Senhor Jesus vier numa nuvem branca e tu não estás preparado? Se o Senhor Jesus viesse agora ias para o céu com Ele? Se vives em pecado irás para o Inferno onde há fogo e fumo de enxofre, sofrerás horrivelmente!' dizia ela fervendo tanto que lhe saltavam gotas de saliva. E eu sempre esperançada que as gotas não viessem aterrar-me em cima da pele, porque de certeza que não seria o céu a livrar-me daquilo...
A pregação da irmã Ancilosa era sobretudo acerca das profecias apocalípticas, do que não se conhece, do que ainda há-de vir. Havia uma coisa qualquer que a envolvia e lhe tomava a vontade, ouvi-la era arrepiante. Acho que as coisas não podem ser vistas dessa maneira. Não assim, tendo como base o medo. |5 de julho de 2010|
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