… Na Lisboa dum centro comercial. Era para ir à loja das louças e cutelarias mas enfio-me na loja das roupas pobretanas. Era para ir à loja das bugigangas e tecidos vários mas meto-me na loja dos brincos e pulseiras e anéis. Após minuciosa observação das lojecas, entro no estamine devido, finalmente. Distraio-me com as prateleiras cheias de artimanhas e chinesices para cozinhar melhor, em menos tempo, com maior asseio. Tanto circulo pelo amplo espaço que se aproxima um funcionário tão quarentão quanto eu. Vejo-me igual: 40s, lojista. Pergunta-me se preciso de ajuda e não lhe noto qualquer vontade de me ajudar. Acho este senhor carismático devido ao ar desamparado que sempre tem, tanto que dá dó. Me dá dó. Não tenho vontade de o ajudar. Vejo-me igual e solto a minha poesia, curta e inartificiosa:
«Não, apenas deambulo.»
Ele sorri vagamente, como quem desentende a informação e se sente cansado demais para entender. Responde um monossílabo qualquer. Afasta-se de ombros caídos. Tão triste, sempre triste, este senhor.
Se eu fui capaz de declamar a minha poesia?! Sim, o público era reduzido e é fácil falar com um estranho*. É ainda mais fácil falar para um estranho.
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