Elisabete Maria, a esotérica, tem a espiga ainda verde pendurada na porta da cozinha, secando à sombra, protegendo a casinha. Não, protegendo a casinha não, promovendo a vida, colocando a esperança num ramalhete campestre, inventando ideias de prosperidade. Ilusões ou isso.
A casa cheira-me a lenha queimando. Não percebo porquê. Não vi lareira nenhuma. Queria ver fagulhas. O lume aceso. As brasas. Mas não. Aspiro o cheiro e consolo-me. E se o fogão é a lenha? O fogão, onde está o fogão? O radio toca baixinho. Há frigorífico. Há tv por cabo e internet. Lá em cima não cheira a nada, nem a pó, está tudo limpo. Pobre mas limpo. O quartinho tem uma claraboia com a portinhola aberta. Vejo o céu e tenho vontade de pedir para tirar fotos. Mas não. Desço por onde há pouco subi. Parece tão íngreme, agora, comento eu. Elisabete Maria ri, conta que desce aquele lanço de noite, às escuras. Regressamos ao cheiro e ao radio que tocapara ninguém. Cheira-me a lenha queimando mas não me lembro de descobrir o fogão. Quero ver o quintal, tenho vontade de fazer perguntas. Mas não.
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