A minha vizinha de baixo grita da sua varanda lá para baixo, na rua, numa voz de fingida zanga:
- Eu vou-lhe bater!
Espreitei. Que giro, eu na minha varanda, a minha vizinha de baixo na varanda dela, a outra vizinha das duas na calçada, pescoço dobrado para ver esta última, não para me ver a mim, que eu cá estava a ver a cena mas nenhuma delas me via.
(Gosto mesmo de escrever das vizinhas ao fim-de-semana...)
Não era zanga nenhuma, afinal. Era uma revolta aparente porque uma delas não tinha nada de oferecer coisas à outra e blás.
- Pra que é aquilo? - Pergunta a da varanda de baixo, desta feita já simpática, não fingindo simpatia ou agrado.
(Acho eu...)
- É para o seu filho,que o meu já lá tem muito disso.
- Obrigadinha! - Diz a outra, ainda mais cheia de coisas boas e dignas. Nobres, até. Isto porque alguém doou sobras.
Sinto que está na hora de dizer: 'ainda bem que ninguém me liga'. Mas não explico porquê.
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