:::: Porra pá, estava a ver que não me desenlaçava do trabalho e das chagas. Cá estou, então. Logo de manhã (e este post, sendo o meu blogue presentemente construído com muitos posts e não com um imenso, devia chamar-se 'cliente') cosi o botão nas minhas calças. Senhoras e senhores, finalmente o botão está pregado. Preto, o botão; amarela, a linha. Pois. É já costume, esta disparidade. Estava eu, bela e sábia, cosendo o meu botãozinho, quando me ponho a pensar 'eh pá nunca fui apanhada nestes preparos, noutros já: a fazer chichi, descalça, a cantar, a chorar, mas nestes não, a ver se não é hoje e tal, olha eu aqui de ventre exposto, calças a cair' e não sei quê. Bom, dá para antecipar o final, não é. É. Entrou um senhor, já na altura do remate do botão, escondi-me, deixei a agulha enfiada no cós e preparei-me para entrar em cena, mas antes disso olhei para baixo e vi a linha amarela pendurada, toca de me ajeitar apressadamente enquanto sentia o frio da agulha na minha pele e o senhor indagava: tem sacos para o lixo. Ah ah. Que giro, um dia tinha de ser, não é. É.
:::: Lá vou eu dedicar-me ao passado, estes posts é o que têm de (mais ou menos) aborrecido, agora vou falar de coisinhas que aconteceram ontem depois de sair do estaminé.
:::: De tarde estive um bocadinho de volta da Internet, encontrei uma notícia: o Filme 'Música no Coração' completa cinquenta anos em dois mil e quinze. Grande filme, pois, ganhou não sei quantos óscares, daqueles mesmo importantes, vi inclusive um vídeo da Lady Gaga interpretando um apanhado de canções do dito filme. Olha, gostei muito, ainda pesquisei no youtube a ver se já andaria por lá e assim punha-o no blogue, mas não.
Vi pela primeira vez esse filme na primavera de mil novecentos e oitenta e cinco, no antigo cinema de Loures, aquele que fica mesmo encostado a um aglomerado de departamentos da Câmara, onde há uma torre que dispara uma sirene em todos os meios-dias do ano, dantes era aí que a gente via as películas, agora vamos ao centro comercial e a coisa passa-se no digital. Nessa época eu tinha dezasseis anos, quase dezassete, como a moça da canção, nunca mais esqueci isso. Depois revi o filme noutros anos, talvez no Natal ou assim, que este é filme de família que deixa o frio lá fora e se põe ao redor de uma mesa cheia de comidas reconfortantes. Gosto sempre de rever. Aquela parte em que a Maria faz as roupinhas das crianças com as cortinas é espetacular.
:::: Como referi ontem, o rico filho veio cá buscar-me. No caminho ia calado, ele e eu. É muito diferente do pai. Eu também sou muito diferente do pai. É parecido comigo, o rico filho, fala quando/se tem algo a dizer, raramente joga conversa fora. Entretanto, ao conduzir, o rico filho fez ali uma coisa, enfim, com alguma perigosidade, é jovem, medo não há, nunca apanhou grandes sustos, nunca lhe aconteceu escavacar um carro e portanto ficar apeado e blás. Eu já, o pai também. Com o susto retesei o corpo e fiz um gesto brusco com o pé direito. E pergunta o rico filho:
'Estás a travar, mãe...?'
Já me viram isto... Eu mais ou menos calma, ele de sorriso trocista. Depois adverti o que tinha de advertir, ora, ao que ele respondeu simplesmente:
'Está bem, mãe, não te preocupes.'
Esta é decerto a frase que os pais de jovens adultos mais ouvem. A gente que não se preocupe, não é. É.
:::: Ali, não. Ele preferia estar no meio dos pombos, a limpar.
Ali, não. Eu preferia estar a escrever.
Ah mas ele preferia estar no meio dos pombos para referir uma situação onde andasse enterrado em merda e assim fazer uma comparação díspar.
Eu pensei, sem vocalizar, pois é mano, mas olha que escrever é uma grande merda em certas alturas. Ele não sabe. Devia ter-lhe dito.
:::: Eram quatro pedacinhos de plástico, no lixo estão três, logo: falta dar cabo de um. Foram depositados à vez e em dias e lugares diferentes.
:::: Amanhã regresso ao ginásio. Olha eu a falar do futuro, afinal. Pois é, regresso ao ginásio, ai que saudades pá. Não fui logo ontem porque tinha de ir levar os meus pais a Albernoa. Foi boa, a viagem, saí de casa... Olha eu a falar do passado... às cinco e meia da tarde, até passei pela praça de Londres:
Lisboa; praça de Londres; 17:59; 15º
:::: Assim que cheguei ao estaminé li um recadinho: Gina, por favor chama a atenção do guarda noturno que coiso e tal e isso assim. Esteve cá ontem, esse guarda, a receber a módica quantia de. Módica porque uma quantia é sempre módica, não é. Não sei, se calhar não. O guarda noturno assobiava e fazia barulhinhos com a garganta enquanto eu mexia nas notas todas que tinha de lhe dar. Acho que o atrapalho/baratino/descomando, mas também acho que não sou só eu que o atrapalho/baratino/descomando, acho que este tipo de homem se atrapalha na presença de toda e qualquer mulher.
:::: O meu pai gosta de fazer registos de datas e factos resumidos em todo o lugar onde um risco de marcador se mantenha, como por exemplo no portão do quintal, no poste, no pau de levantar a roupa no estendal, nos pequenos ou grandes objetos que tem pendurados por fios fininhos junto ao antigo pombal. Já anteriormente registei no lbogue... ai perdão, blogue que o meu pai tem esta característica, a qual inclusivamente fui buscar e portanto saio a ele, só por dizer que faço isso num blogue. No outro dia aconteceu eu precisar de saber em que data comprei a máquina fotográfica por causa da avaria, não fosse a garantia ainda cobrir o desarranjo, pois bem, em vez de passar uma série de minutos à procura de papéis, disse à rica filha olha lá deixa a mãe ver aí uma coisa no meu blogue (na hora era ela que estava plantada à frente do computador) e escrevi as letrinhas 'nova máquina fotográfica' no retângulo que dá acesso à pesquisa e pumba, apareceu o resultado: montes de posts onde está escrito a frase pesquisada e entre eles um onde o conteúdo era então a nova máquina que tinha sido comprada aos trinta ou trinta e um de março de dois mil e treze, portanto estava na garantia, sim senhores, quanto ao resto, os homens daquele estaminé têm tudo informatizado, não precisam do 'papelinho' para nada.
:::: Porque é que na maioria das vezes escrevo números por extenso quando podia poupar tempo e trabalho calcando nas teclas dos números, não é. É. Poque tenho a mania que me vou evidenciar com minudências; porque gosto de escrever e acho um desperdício despachar a coisa; porque dou indubitavlemente mais valor às letras.
:::: Meio-dia e trinta e quatro e já escrevi isto tudo. Mil cento e cinquenta e uma palavras; seis mil trezentos e sessenta e dois caracteres, até terminar o item anterior. Olha eu a falar do presente e a escrever os números por extenso e portanto a falar do passado também por causa de estar a lembrar o item aqui por cima. Ah ah. Mas pronto, coiso, ser essa a hora de agora (os minutos passaram a ser trinta e seis) significa que é quase horas de almoçar. Está também na hora da gula, apetece-me trincar chocolate, colocar um quadradinho ou dois ou então um e meio dentro da boca e mastigá-lo(s) sem esconder a voracidade nem o prazer. Vou estar no banco do jardim que tem as pessoas de pedra e tem também a bicicleta. Vou espirrar. Tenho pingo no nariz. Depois venho cá dizer se fiz estas coisas ou então não. Comer; espirrar e isso assim. Posso morrer entretanto. Se há coisa que penso amiúde é o dia em que não vou poder mais atualizar o lbogue... ai perdão, blogue e principalmente não vou poder escrever mais. Isso pode acontecer por ter morrido esta pessoa que escreve, o que significará que ficam rascunhos no blogue e no computador, as pessoas descobrem-nos no futuro, e espantar-se-ão comigo. Mais ou menos como aquele senhor a quem o meu colega anunciou que escrevo, que já participei em várias coletâneas e divulgou o endereço do blogue. Vai daí o homem pôs-se a ler o blogue e apreciou-o imenso, dizendo que sim senhor, sou formidável, nunca pensou que eu, enfim, que surpresa, agora é que me conhece, antes nunca pensaria que eu. Formidável, foi o adjetivo com que me coroou. Este pedacinho de texto para aqui fica, longe de olhares impacientes, é consabido o quanto um longo texto (se apresentado na Internet) aborrece o leitor. Eu tinha de escrever este facto um dia, não é. É. Do espanto deste senhor leitor perante esta pessoa que escreve. É disso que falo. É que isto do 'formidável' ocorreu para aí no Natal, passaram cerca de três meses.
:::: Olá, são três e tal da tarde. Este pedacinho de texto serve apenas para separar as partes do dia. Olarila. Quero ainda acrescentar que as miudezas ocorridas durante o grande intervalo não vão ser apresentadas cronologicamente. Que é lá isso. Posso não ter tempo de organizar as coisas e vai daí deixar algumas por fazer. Assim, pronto, coiso, vou escrevendo conforme me for lembrando, que isso sempre foi o meu costume.
:::: Cheguei cedo ao banco de pedra. 14:32; 18º. Sentei-me na berma mais à minha direita, olhei para o trio de árvores novamente e idealizei que quando voltar a andar com a máquina fotográfica dentro da mala vou copiar a foto que tirei o ano passado em abril, enquandrá-la igualmente, ou parecido, vá.
Entretanto, ao depois de vasculhar todas as fotos de dois mil e catorze, vim a descobrir que não tirara duas fotos nesse lugar, mas apenas uma. Ou então a outra pertencerá a dois mil e treze, não sei. Mas um dia eu tiro outra foto, quiçá no dia em que a outra faz um ano, era giro, e depois comparo, será giro.
:::: A propósito de árvores, a árvore amarela já mostra pequeninas bolas nas pontas de alguns ramos, principalmente na copa, onde recebe mais sol e outras coisas boas. Depois fui mirar as vinte e seis árvores. Igual, bolinhas nas pontas mas não sobretudo nas pontas, isso não.
:::: De manhã tinha muito sono, agora tenho muito sono. O meu descanso anda esquisito há semanas, para além de ter dormido mal durante muitos dias seguidos, o que ao presente já não se me afigura, uma vez que tenho repousado de seguida nestas últimas noites, sem acordar com sonhos parvos e isso, mas ainda assim continuo a acordar às cinco e tal da madrugada e fico para ali a tentar descansar mais, era bom que dormisse mais, que não tenho necessidade de me levantar a essa hora, e vai daí passo o dia ensonada.
:::: Deixei no caixote do lixo, ao pé das horas e dos graus que anuncio mais acima, o outro quadradinho de plástico, acho que foi assim que lhe chamei, e uma chave inutilizada. Termina a história.
:::: Tenho borbulhas. A primavera vem aí...
:::: Lembrei-me agora do chocolate. Pois, não comi. Ao almoço estava sozinha, portanto não tive a ajuda do meu colega para me acabar com um quarto da minha comida, então olha, comi todo o conteúdo do prato e fiquei de estômago cheio, satisfeita e sem mais vontades que o café no lugar da musa.
:::: A minha mãe revolta-se com o mal-estar da avançada idade, diz que bastavam cabelos brancos e rugas, que já não é pouco para suportar, para quê isto das dores?! Ó pá...! Concordo, penso exatamente assim e ainda agora se me começou a decadência. Um dia faço uma listinha das coisinhas más e publico no blogue.
:::: O meu pai. Outra vez, que há bocado quando me joguei a escrevê-lo era para dizer o que registo seguidamente. Mostrou-me uma caixinha branca, era de um relógio, Casio, de sua marca, julgo eu, só por dizer que o meu pai escreveu Cacio na caixinha. Depois escreveu ainda:
13-7-10
garrafões pouço
'Pouço' também está com erro, é poço, claro. E acabo de constatar que não recordo o resto que ele lá pôs, mas seja lá o que for, a verdade é que o que recordo já dá para ter uma ideia. Eu, eu é que tenho a ideia. Aquele registo foi para marcar o fim de uma tarefa. Dantes o meu pai ia ao poço das Fontaínhas, Albernoa, buscar água em garrafões, agarrava no carrinho de mão e lá vinha ele carregado deles cheios de água. Essa atividade cessou por conta da tal idade avançada de que também sofre, assim como a minha mãe, também ele tem dores e males. Raios a partam, pá, que qualquer dia vão-se-me os progenitores, deixando eu de os ver. Registo-os despudoradamente algumas vezes. Quero lá saber se o que escrevo não se percebe, ou se é desinteressante colocar estas coisas na Internet, que leia quem o quiser fazer.
:::: Eram dez para as cinco quando a dona Lurdes assoma à porta, foi isto pouco depois de concluir o item anterior. Diz ela:
Ó Gina, vem lanchar, que eu hoje faço anos.
Fui. Chá de camomila e tiramisu e bolo de laranja com chantili e mais coisas que eu quisesse mas não quis. Dividimos o bule de chá e os bolos. Falou e falou e falou e falou. Estive quase para a interromper a dizer:
Ó dona Lurdes, já viu que temos as duas casacos roxos? Olhe lá, então e a sua saia é da mesma cor que a minha camisola, andamos as duas a combinar duas cores que não combinam...
Mas não.
Não pus açúcar no chá, como é meu costume, e guardei o pacote de açúcar, que o dito tem lá uma receita de pão de mel e eu queria coscuvilhar aquilo...
:::: O dia de trabalho está mesmo a terminar. Está aqui um senhor a comprar uma fechadura. Parece aquele ator que fez 'O Lobo', que agora não se me lembra o nome do homem, pá. Paciência.
:::: Até amanhã.
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