Andar
Vá, agora vou andar na rua como se tivesse a mania que sou boa. Ombros para trás, peito para fora, barriga para dentro.
Hum, é mais fácil construir essa mania quando a temperatura está amena. |31 jan|
A triste
Diz que a tristeza – se imensa - tem de bater num fundo qualquer. Eu escolho o fundo do mar. |27 fev|
Extremamente
Uma pessoa desinteressada é desinteressante. Uma interessada também. |30 mar|
Beijo na boca
Dois namorados – ou dois meros conhecidos, sei lá, nem verdadeiramente me interessa, para este caso – beijavam-se na boca no local mais descampado que a avenida tem. Ela tinha as mãos no alto da cabeça dele, assim como que cruzadas, mas abertas e separadas, não em louvor, antes em possessão. Que ávida. |30 abr|
Letra S
Ser
Sensual é,
Sobretudo, não tentar
Sê-lo. |31 mai|
»»»
Franzineide olhou para o meu bloco rudimentar. O termo é esse: olhou. Não sei escrever esse olhar, pra me safar podia dizer que era um olhar inexpressivo e pronto, mas não era. |30 jun|
Segredar
Ter um blogue para ter segredos. |31 jul|
E a vontade...?
Tenho sempre vontade de escrever. Pergunto. Me. Sim, tenho. Obviamente não posso estar sempre a rabiscar e a apresentar num blogue todos os meus pensamentos e atitudes. Mas gostava, claro que sim. Viver somente para escrever, porque não? Ora.
Pergunto-me como viveria. Pois. Se estivesse sempre a escrever não vivia as minhas coisas, que não me componho apenas de escritos tolos. Pensava o quê? Ah, e coiso, agora vou escrever que estou a escrever, que sinto a escrever, que refilo a escrever, que desaustino a escrever, que mordo a escrever, que mato. A escrever. Mato.
A morte. A morte é tão atraente. É-o pelo mistério.
Seria mais feliz se estivesse a escrever ininterruptamente? Sim. Não viveria. Sabe-se que são as experiências que trazem infelicidade à vida, logo: não sofreria.
A morte. Há dias vi uma corda pendurada no tronco de uma árvore. Supostamente terá sido uma criança ou um adolescente a pô-la ali para se baloiçar e divertir-se com isso. Mas eu vi imediatamente o suicídio por enforcamento, foi esse o retrato que tirei.
Mato-me a escrever. Não pergunto, sei.|22 ago|
Passado
Passado: aconteceram coisas estupendas às pessoas. |30 set|
A mulher do blogue
É aborrecido ter apontamentos acerca da mulher do blogue, isto se olhar para o futuro. O que dela escrevo é tão liso que daqui a dois ou três anos não saberei como a recordar. |31 out|
Dias de um Ginásio
Entrei na sala onde ia decorrer a aula de Pilates, mesmo estando às escuras. Sentei-me num canto, no canto onde me sentaria se as luzes estivessem acesas, descalcei-me, guardei as meias e a pulseira com a chave do cacifo dentro dos ténis e pus-me à espera. Sei perfeitamente onde está o interruptor mas não quis acender a luz, preferi ficar ali, no canto que já conheço, mas sem luz. Entretanto ia vendo refletido no espelho o movimento do Ginásio. Gosto de ver a vida acontecer, quase nunca gosto de fazer parte dela. Gostava tanto de ser um caso irremediável, mas não sou. |28 nov|
Entrei na sala onde ia decorrer a aula de Pilates, mesmo estando às escuras. Sentei-me num canto, no canto onde me sentaria se as luzes estivessem acesas, descalcei-me, guardei as meias e a pulseira com a chave do cacifo dentro dos ténis e pus-me à espera. Sei perfeitamente onde está o interruptor mas não quis acender a luz, preferi ficar ali, no canto que já conheço, mas sem luz. Entretanto ia vendo refletido no espelho o movimento do Ginásio. Gosto de ver a vida acontecer, quase nunca gosto de fazer parte dela. Gostava tanto de ser um caso irremediável, mas não sou. |28 nov|
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Meio-dia e muitos picos. Continuo sem concentração para escrever... Fui interrompida para fornecer rolhas de cortiça e para receber um valor em dívida. Relativamente à falta de concentração, a mesma falta-me mas é para ler, não para escrever como referi, enganei-me. Gosto mais de escrever do que de ler, fugiram-me os dedos para o prazer maior. Pois é, não consigo ler, não tento ler. Desde que terminei o último livro tenho vontade de o deixar no banco de jardim onde já deixei dois. Primeiramente acho que é melhor ideia deixá-lo noutro lugar, por exemplo junto à estátua que sorri, só para não fazer tudo igual, que eu cá tenho a ânsia de me livrar daquele sentimento sufocante que o 'mais do mesmo' me transmite. Mas talvez o deixe no banco de sempre, esperando que seja a mesma pessoa a recolhê-lo. |23 dez|
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