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… 'A Caixinha dos Segredos' …
Gina, a mulher que tem um blogue
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Sem título
Se eu imaginar que o escrever copioso e frenético com que sou assolada (ou presenteada, não sei muito bem) brota mediante o pulsar da vida que tem um balcão tradicional no centro de Lisboa...
Se eu imaginar que adoro dançar e sinto um forte chamamento da música que me é impossível ficar estática e fizer uma comparação... Onde iria buscar o ritmo e o pulsar enquanto estivesse no estaminé...? Ao som da catrabucha, por exemplo.
Super-herói
Passou um jovem que trazia vestida uma t-shirt com o símbolo do super-homem, portanto: como se o próprio fosse o super-homem. Eu disse para a roda de pessoas conhecidas que afinal o super-homem existe. Uma das pessoas pôs a mão na boca como quem sente muita vergonha e disse:
Eh pá, olha que o homem ouviu...
E eu:
Não faz mal nenhum, as quarentonas podem dizer este tipo de coisas à vontade. Vê lá se ele se voltou para trás ou se mudou o andar... Não, pois não? Então, pronto.
Vai haver casório
Já houve casório. Este é o capítulo oitavo. Na foto estamos as duas de mãos dadas. Eu estava um pouco retraída porque não gosto de posar para as fotografias de álbum, sinto-me hirta, de uma hirteza postiça. Ela deu-me a mão, diz que me queria ao pé dela, eu que me deixasse de coisas. Fiquei. Não foi a primeira vez que demos as mãos. Ela foi a minha primeira sobrinha, no dia em que nasceu eu tinha dezasseis anos, e era lá em casa que vivíamos todos. Dei-lhe tantas vezes a mão. Pode esta não ter sido a última...
A unha desta bloguista
Para novidades no sentido ocular ver foto abaixo. Querendo saber em modo leitura, ler:
A unha está mais ou menos, dói poucochinho agora. No pedacinho fininho, qual película de queratina, o verniz caiu. Mas vou-me aguentando. Agradecida pela atenção que tão gentilmente oferecem a esta bloguista.
Sem título
Não é que eu queira morrer, eu não quero é estar. E se para não estar a solução é morrer, então eu quero isso.
Tombos
Caiu uma parede de azulejos na futura gelataria. Fez um barulho descomunal, tanto que levei tempo a perceber o que era aquilo. Enquanto percebia e não percebia senti cair ao meu lado uma escova de fato. Mas como quem cai de uma das minhas paredes que não está encostada à parede de onde caíram os azulejos do vizinho. Não. Antes uma outra. E a escova caiu. Agora é assim: as escovas de fato estão guardadas na parede-meia de onde caíram os ditos azulejos, mas a escova caiu vindo de uma outra parede. Surreal. Pergunto. Eu queira muito que este post parecesse surreal mas ao que parece não estou a conseguir. Já li. Já reli. Já alterei umas coisitas. Não passa de um episódio desinteressante. Desisto.
...
Deixei um agrafo no pires. Não esquecido, largado. Não. Deixei-o lá. Gosto tanto de fazer história.
Números
Ponho algum número de contribuinte na fatura, pergunta a livreira numa voz monocórdica.
Ponha dois, diz o cliente.
Não posso, o programa informático apenas aceita nove dígitos, alerta a voz da livreira sem alterar o tom.
Então deixe estar, levo assim.
|o que não acontece também pode fazer história|
Moscas
Eu ia ali na rua que dá a volta ao mercado e vem de lá uma mosca que engulo sem querer. Senti-me bué da mal e coiso. Quando se me passou a aflição nunca mais me lembrei de tal acontecimento, o que é estranho que se farta, que eu cá sou pessoa pra vir logo escrever todas as coisas que me acontecem. Mas lembrei-me, pois foi, porque hoje ia eu ali na avenida quando engulo uma mosca.
|o que não acontece também pode fazer história|
Estória
Constantina apaixonou-se pelo dentista. O desejo era frémito, tanto que ela se esfregava na cadeira com as ânsias.
Constantina apaixonou-se pelo dentista. Qualquer semelhança com o romance 'Gabriela, Cravo e Canela', de Jorge Amado, é pura coincidência.
Lubrificamos dobradiças
Afinamos molas
Lisboa, ala quarenta e nove:
Que porta tão gemente...
Quinto éfe:
Que porta tão bruta...
Que porta tão gemente...
Quinto éfe:
Que porta tão bruta...
Também acontecem coisas bonitas a quem não escreve em blogues
Ele era inglês e pediu-lhe um cigarro.
Ela ofereceu-lho amavelmente. Deu-lhe lume.
Ele sugou o fumo e exclamou que era um cigarro forte.
Ela, por entre risos, disse-lhe que em Portugal as coisas são boas, como por exemplo o café expresso.
Ele exclamou: ah, o café, o café.
Ela foi falando com ele. Em inglês.
Ele foi falando com ela. Entenderam-se em inglês.
No fim daquele bocadinho bem passado, conversando como se fossem velhos amigos, ele agradeceu-lhe esse tempo, referindo que muitas vezes é tão mais fácil falarmos com quem na verdade desconhecemos. Sempre em inglês.
De passagem
Uma carrinha grande ocupava parte do passeio, sobrando pouco espaço para os transeuntes. Vem de lá o homem que corre todos os dias e é ágil e magrinho e mete-se no carreiro. Entretanto vê-me, para, recua, sorri e meneia a cabeça como quem faz questão de me dar a primazia. A gente só se conhece com os olhos mas ele é cavalheiro na mesma. Uso também eu um gesto de cabeça e avanço. Nisto há um outro senhor que vem de lá e estaca repentinamente, por adiantada que tenho a minha passagem no estreito corredor. Quando me cruzo com ele agradeço e levo como resposta uma pergunta:
Tudo bem, minha querida?
Respondi que estava tudo bem, pois claro. Quando é assim responde-se o quê, né?
Blogosfera
Vou falar das do blogue.
Mora tão perto, mas tão perto daqui, que qualquer dia cruzo-me com ela. Não aparenta ter problemas em ser vista, reconhecida, seguida, perseguida. Escreve destemidamente, o que admiro. Mantém na sua escrita aquele profundo conhecimento de quem tem conhecimento que não conhece nada mas reconhece o que sabe, transmitindo ao leitor (neste caso: eu) a ideia de que vive na corda bamba, alternando entre a resignação, porque tem uma vida feliz, e a insatisfação, porque não está bem de maneira nenhuma. O seu humor é simples e irónico. Sorrio muito ao ler o seu blogue, outras vezes rio.
Mora não muito longe de mim, creio, nunca percebi exatamente onde porque nunca mo revelou. No entanto refere amiúde pedaços do que vê da sua janela, relata alguns momentos do seu viver doméstico, do que assiste no café. Tem uma presença forte, a sua escrita é revestida de algo que não decifro, o que me empolga, e a raiva que tem ao mundo atrai-me.
Negócio
Faz-se pouco negócio, é um facto, a nova nota de dez euros saiu há uma semana e ainda nenhuma me pousou nas mãos.
Corzinhas
Agora pertenço às corzinhas.
O senhor que andou lá em casa
a fazer a instalação dizia
'tofone' e 'tevisão'.
O senhor que andou lá em casa
a fazer a instalação dizia
'tofone' e 'tevisão'.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
A árvore amarela
Ultimamente tenho passado junto à árvore amarela todos os dias de manhã. Olho-a num repente e o que vejo é o sol a bater-lhe apenas nas frondes e o tronco à sombra, que àquela hora ainda o sol não bate em toda ela. Há pouco quis certificar-me se o sol lhe dá em cheio às duas e picos, quando lá passo, mas não deu, a essa hora o sol estava escondido... Tenho de tratar disso noutro dia.
A senhora do banco
Esta senhora do banco diz:
cartsão
multsibanco
contsa
|Por ventsura dirá outsras palavritsas igualmentse intseressantses...|
cartsão
multsibanco
contsa
|Por ventsura dirá outsras palavritsas igualmentse intseressantses...|
...
Lisboa; 13:38; 27º
Que faço eu de casaco vestido?!
Encubro as costas.
Encobrir.
Não estou enganada no verbo.
Esconder.
Que faço eu de casaco vestido?!
Encubro as costas.
Encobrir.
Não estou enganada no verbo.
Esconder.
A unha desta bloguista
Ao presente é assim que está a unha desta bloguista (abaixo há uma foto). Ontem enchi-me de coragem e cortei o pedaço que estava descolado, até onde consegui. Entretanto descobri a unha nova e em certos pontos rija, mas que vai afinando conforme se vai chegando ao sabugo, e aí dói um pouquinho. Fiz a minha manicura doméstica e quando chegou a vez de pintar essa unha, pintei-a como se estivesse normal. Hoje de manhã o verniz estalou onde não tem apoio.
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