Lisboa, 7 de março de 2013 |
Ontem à noite, depois das sete, visitámos a dona Maria do Céu. Tinha a casa às escuras, estava enfiada na cama, tendo ao lado um radio que tocava baixinho a canção ‘Fernando’ dos Abba. O Luís mudou-lhe a lâmpada do candeeiro do quarto interior, armou-lhe a tábua de passar a ferro para ficar a jeito e eu andei para ali de roda dela a dizer piadas, tentando trazer até àquele quarto simplório e triste um pouco da vida que se vive lá fora. Andou-se; riu-se; falou-se. Recomendámos que comesse a banana. Não queria. Forçámos. Teimou que não queria. Reforçámos. Teimou e teimou. É incrível como os velhos são teimosos… Empurrava a banana com a mão, a bem dizer mal lhe chegando, num esforço enorme, com uma ira iminente, não se sabendo se da própria imobilidade se da nossa insistência. Depois deixámo-la com a sua solidão, quiçá amenizada pelo som do velho radio a pilhas. Era forçoso irmos embora, isso do ‘tenho mais o que fazer’ é a verdade a nu, não pode ser diferente, e esta é outra verdade nua.
A solidão na casa da dona Maia do Céu que quase se apalpa de tão densa é algo que sempre me oprime, é a casa mais solitária e saudosa que conheço, presumo que seja por contrastar vivamente com a postura social da sua dona, aquando de passagem pela rua. A sério: não tem nada a ver, ela é duma alegria imensa. Mas agora tem estado doente, não se sustém nas pernas. Há umas semanas, de visita ao cemitério, caiu dentro duma cova. Não, não estou a brincar… A dona Maria do Céu foi ao cemitério, caiu dentro duma cova aberta e ficou desgraçada das pernas, que isto da idade, pá…
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