Lisboa, 23 de fevereiro de 2013 |
Chegámos cedo, tanto que antes de começar o evento fomos beber um café ao bar. Sentado numa das mesas estava um senhor de chapéu, encasacado, de caneta na mão, escrevendo. Olhou-me, interessado, e creio firmemente que me olhou à procura de 'coleguismo da escrita'. Considero não possuir 'aquele' ar de escritora, um brilho intenso e frenético, controlado a custo. Como ele. E na verdade naquele momento eu não tinha esse ar, não. A menos que pegasse numa caneta e me debruçasse sobre um papelinho, debitando ideias e espasmos literários. Olhei ao redor, enquanto saboreava um golinho do café do Luís, como de costume, sou uma ladra da cafeína do meu amor.
O espaço não era opressivo, o momento era, estava um bocado apreensiva e nervosa. Retirei de dentro da mala o bloquinho rudimentar e a caneta. Escrevi. Não para ter 'aquele' ar de escritora, não para imitar quem o tem. Escrevi porque o meu cerne possui isto de escrever – eu já não sou eu sem o ato de escrever -; escrevi porque sim. (Ver aqui.)
Encontrámos a sala onde iria decorrer o evento ainda em preparação, as fotos sendo penduradas na parede para que todos pudessem ver o trabalho da fotógrafa que trabalhou nesta publicação amorosa, os livros azuis com passarinhos desenhados ilustrando 'Beijos de Bicos' sendo colocados em pilha por sobre a mesinha que serviria de apoio. Apresentei-me à senhora que 'manda' na editora, ela reconheceu o meu nome e de seguida também as feições, por causa da foto do facebook. Depois... Não estava mais ninguém presente, como já disse cheguei cedo, e, talvez por não haver mais ninguém na sala, a senhora disse:
– Gina G... Tem uma escrita muito peculiar.
Fiquei perplexa, que não estou nada habituada a estas cenas na minha vidinha de escrevente de blogues e outras coisitas que tantas vezes considero de somenos, mas tinha de responder algo... Sei lá, faz parte... Dialogar faz parte:
– Tenho?!
(Que resposta fantástica, oh céus!)
– Tem.
Disse ela, meneando a cabeça convictamente, com um sorriso nos lábios.
– Obrigada.
E pronto, foi assim. Ok, vá, eu sei que por muito que os familiares e/ou amigos e conhecidos gostem de mim e me apreciem a escrita, decerto nunca o anunciarão com o mesmo desembaraço com que alguém que desconhece o meu historial de vida o faz. Basicamente, creio que a vida dum escritor é assim, ou pelo menos, é essa a minha experiência.
Entretanto o evento engrenou, houve belas canções expressas ao vivo por uma voz não menos bela, houve vídeos promocionais, houve (muitas) pessoas assistindo, autores discursando. Alguns já conhecia doutros eventos, outros não. Dos que não conheço: mesmo junto a mim estava um homem grande e desalinhado, ouvindo-o falar percebi que era francês, não o entendi lá muito bem mas pareceu-me desejoso de saber o que estava escrito no coração vermelho. (ver foto acima) E eu, esta alma amorosa, tão cheia de boa vontade, ensinei-o:
– Je vous aime.
Ele não entendeu. Repeti. Ele não entendeu e adiantou a conversa falando um francês que por minha vez não entendi. Desisti. O meu francês é básico, ademais era melhor parar com a mania francesa, quando não o homem ia pensar que eu me estava a fazer a ele ou assim, sou (quase sempre) muito atenciosa e nem sempre reparto inteligentemente essa atenção pelas pessoas.
De novo os discursos.
(Não, não vou dizer nada acerca do meu discurso, não serei capaz de o descrever sem me desqualificar como oradora, e por arrasto, como pessoa.)
O homem que eu havia encontrado no bar e que está acima referido, era um dos autores. Quando chegou a sua vez de se lambuzar com o naco de protagonismo, declamou um poema de sua autoria, onde se indignava com o ser africano e inerências, mais concretamente: as revoltantes. Admirei logo ali a sua poesia. Muito bom. Obrigadinha.
E acabou a festa.
Pois que gostei muito daquele bocadinho de noite.
Pois que sim senhores.
Esta é a terceira coletânea em que participo.
Esta é a minha melhor história.
Esta é a história em que mais me empenhei.
Este foi o evento do qual retirei mais prazer e aprendizagem.
Este foi o evento mais bonito a que assisti.
Este foi o evento mais bonito a que assisti.
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