«Nadou à volta de Pedro Levi ocm grciosidade, afastando-se apenas para se poder chegar de novo. Era claro que tinha saudades dele a partir do metro e quarenta de distância. Pedro mantinha-se imóvel a olhar o teto. Sentia as águas remexerem e o cerco apertar. Quase não respirava. Ansiava já por sair da água e recolher-se junto do produto. O objeto em que afinal se fixara, um pote de compota de laranja amarga de infinito potencial, esperava-o na prateleira do costume. A mulher não o largava. Espanejava para cá e para lá, contando com um sinal qualquer que não surgia.
De repente, no mundo aquático em que raramente algo acontece, e menos ainda fenómenos salvadores, correram crianças correndo de todo o lado e saltaram para dentro de água e uam por pouco não despachou Pedro Levi com um golpe mortal na moleirinha. Assim acordado, embora não verdadeiramente despertado, Pedro nadou sem querer até junto da mulher que o assediara e disse muito alto, na voz aflita que já lhe conhecemos:
– Não tenho casa. Estou a pensar seriamete em comprar uma casa. Não sei para quê, porque viajo constantemente e é raro passar mais de duas semanas no mesmo sítio. É a vida a que estou habituado. Não sei se estou a ir depressa demais.
– Eu vejo bem, pode ir à velocidade que quiser.»
Olhos Verdes, Luísa Costa Gomes, página 67/68
Sem comentários:
Enviar um comentário