domingo, 30 de junho de 2013

Outra vez

Esta semana apresento a portinhola saloia outra vez. Não é tão linda assim em imagem gigantesca e na vertical e a ver-se lá ao fundo, muito ao fundo as ventoinhas eólicas?

Loures, 29 de junho de 2013

Sonho

Sonhei que um senhor me perguntava a idade. Respondi 43, menos um que a realidade. Este sonho está atrasado um ano.

Vislumbre

Ontem à noite vi de soslaio um amor antigo e mais à frente reconheci a figura duma amiga de infância que não vejo há anos.
Nunca souberam amar-me. Nem um nem outro.

Meio ano

Fiz pudim instantâneo, terminava o prazo de validade em dezembro de 2012,.
Já lá vão seis meses desde que nos despedimos de 2012.
Gosto de assinalar o meio do ano e sei porquê.

Vestido

Pus um dos meus vestidos em pé. Provei-o e fui mostrar à rica filha. Entretanto lembrei-me de lho oferecer:
- Quere-lo para ti?
- ... Eu não gosto muito desses vestidos, mãe... Pareces a avó Rosária, só que com uma bata mais gira.

PC

Neste momento o meu pc tem a barra de tarefas totalmente oculta, vai-se sem mais nem menos. Desde ontem que me limito a ter apenas uma janela aberta, ora outlook, ora blogspot, ora facebook para não cansar o pobrezinho mas cheira-me que não tardará da sucumbir...

M

Quis ser má mas depois não consegui. As maldades premeditadas são talvez as verdadeiras maldades.

Vestido novo

Estive para aqui de roda dos trapos. Escolhi um vestido num modelo que tem um longo decote, daqueles que descem até ao umbigo. Ora, como o meu umbigo não se quer mostrar, e o decote pode subir porque o meu vestido quem o faz sou eu, antes que corte demais... Escrevi um lembrete no molde.

Os anos passam

Estou nesta casa há uma série de anos. No início já por cá se via o cão, o homem do cão e o homem antipático. Estão velhos, os homens têm as cabeças brancas, o cão coxeia.


Tão bom

Maravilha de verão: lavar e estender os lençóis e tirá-los do estendal para os colocar na cama de onde haviam saído escassas horas antes, isto contornando a tarefa de os engomar, claro. Tão bom.

Horta



Aparentemente, os coentros e a hortelã dão-se bem com o calor, o resto da horta é que não, por isso não figuram...

Altas temperaturas



A resplandecência solar continua. Então, hoje de manhã, aquando do passeio com a cadela, vesti uma blusinha que dê, note bem: dê, para bronzear (igualmente) aquela zona do peito mais baixa. É chato a gente vestir um biquini e haver dois tons que definem dois tempos distintos, o da praia e o do trabalho.

Eu sabia bordar, sabia...



«No fundo da arca, Francisca encontra os elementos mais modestos do enxoval, os panos de louça e os panos do pó, executados em algodão grosseiro e corados a muitos sóis para ganharem a brancura imaculada que agora brilha contra a madeira escura. Tira-os um a um, e verifica – como podia ter esquecido?! – que a menina Angelina também bordou, em todos eles, uma pequena flor, um pássaro singelo ou um fruto, como se proclamasse num inesperado desafio, que até as coisas mais humildes têm sagrado direito a um toque de graça.»

‘Os Íbis Vermelhos da Guiana’, Helena Marques

Ponto de partida

Loures, 29 de junho de 2013

sábado, 29 de junho de 2013

Sonho

Sonhei com a minha tia Virgínia. Não lembro nada, só da minha tia, a cara dela, o nome dela. O meu. Bah.

...

Agora estava na hora de pôr aqui umas fotos e tal. O meu pc doméstico anda parvo, passa-se dos carretos com software que venha do exterior, usbs e isso.

Ele

'Bem digo eu...',
diz ele quando quer relembrar razões.
E escrevo eu para lembrar razões doutrem.

2484

Algures aí para baixao está o post 2442, a capicua. Esqueci-me completamente... No que toca a escrever não sirvo para regras.

U /O

Descobri que 'suares' é forma verbal.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sexta-feira à tardinha

E se fosse sexta-feira de manhã novamente? E se tivesse de viver tudo, cada momento, desde o acordar até agora? Não quero, obrigadinha. Pra quê, se está tudo feito! O giro é que mesmo não tendo vivido momentos maus, não me apetece viver outra vez.

A não olvidar jamais:
o presente é eterno,
o passado é sobrevalorizado,
o futuro é inalcançável.

Fotografias & Assim

O fotógrafo adorou uma peça que está na minha montra. Perguntei-lhe o porquê de tanta paixão e ele respondeu que se podem fazer fotos muito giras com materiais de cores mortiças, aí a vivacidade estará na forma do objeto. Depositei-lhe a minha máquina nas mãos:
- Vá, mostra-me.
Mostrou ele e mostro eu.



O texto acima das fotos foi uma tentativa de fazê-las parecer de categoria profissional. O fotógrafo existiu, o interesse dele também, mas a conversa não foi tão romântica nem tão completa como descrevi.

O abstrato

Nos últimos dias, em alguns posts, tenho tentado escrever abstratamente. Digamos que escrevo assim como quem fala para ninguém, e de ninguém em particular. É-me muito difícil, não é essa a minha impressão literária, por isso me desafio. Tenho a mania de escrever tu isto ou tu aquilo, esta pessoa é assim e assado. Mas é-me tão difícil, tão difícil escrever para ninguém.

Vespertinamente

Olá, boa-tarde. Já fui e já vim, que é como quem diz: já fugi daqui e já regressei ao mesmo local.
Senti falta do sô João, já ontem havia sentido. Caiu uma pernada duma das árvores que estão junto ao lugar onde ele costumava estar, o que mo trouxe à memória.
No lugar da musa observei o método de o moço me preparar o café, achei-o mais esmerado que o costume, ele notou a minha atenção e eu comentei sucintamente o esmero. Sorriu, pareceu-me feliz ou assim. Enquanto pousava a chávena no pires perguntou-me se preferia uma bolachinha ou um chocolatinho, que hoje era o seu último dia ali – portanto era um dia especial, viria daí o ar feliz? - e eu podia escolher. Escolhi o chocolatinho, o pequeno quadrado castanho que não dá para encher a boca, mas que é tão melhor, de sabor concentrado e me leva a tirar o maior partido possível do momento. A fugacidade dalguns momentos torna-me demasiadamente interessada.

Obra amorosa

Como se sabe – julgo eu que se sabe, ou queria eu que se soubesse – ando a ler a coletânea Beijos de Bicos aos poucachinhos. Mais recentemente li o conto dum autor que, aquando do discurso no lançamento, me pareceu vir a ser muito bom de ler. Pois bem: ‘a montanha pariu um rato’; para a vida me surpreender é imprescindível não esperar porra nenhuma de ninguém, esperei demais, as altas expetativas não auguram grande coisa na maioria das vezes.

A minha secreta esperança é essa: sei o que não aparento, a ver se alguém me descobre sem eu ter de dizer que estou aqui.

A pecaminosa que escreve

Tenho de mudar o título do meu conto. Logo o título. E eu que nem gosto de intitular. E eu que gostava tanto do título e nem gosto de intitular. Que merda.

Então é assim: telefonaram da editora, olhe lá, a gente vai fazer uma obra pecaminosa em jeito de ser o leitor a decidir na sua cabeça em qual dos pecados insere as histórias, não vamos catalogá-las nem nada pois isso é determinar e determinar é definir e definir é castrar e isso nada tem a ver com arte e mais não sei o quê, por isso o leitor que decida.

Agora a sério: nem todos os títulos dos contos têm de ser mudados mas o meu tem porque é efetivamente demasiado previsto. O título que escolhi tem um verbo, retirei o verbo e pronto, está feito. Incrivelmente, o título definitivo era o título que primariamente eu havia criado. E está feito, não mexe mais.
Um dia explico isto melhor, por ora não quero revelar sequer uma palavra do meu conto.

Postumamente

As coisas são para serem ditas, os sentimentos são para ser revelados, que não se espere a morte das pessoas de quem se gosta, diga-se agora, depois não valerá a pena dizer nada.

«Ele próprio entendeu melhor toda a medida do desolado vazio da sua vida em Inglaterra, toda a extrema pobreza do seu relacionamento com Emily, de que tanto se culpara. E continuava a culpar-se, já que nunca tinha feito os gestos que quebram os bloqueios, nem dito as palavras que soltam as emoções.» Os Íbis Vermelhos da Guiana, Helena Marques 

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«Aviso aos familiares:
Se querem mostrar-me apreço, é agora, que estou viva. Não esperem pela minha morte, morta não ouvirei elogios ou juras dalgumas formas de amor. Deixem a ideia do póstumo e venham cá dar-me abracinhos enquanto há bafo e corpo quente. Vá.» Coletânea Beijos de Bicos, Gina G

Tive coragem para publicar um excerto meu a conspurcar o texto doutro autor?! Oh céus…

É favor não baralhar

O homem da cafetaria esteve a contar-me duma cliente especial que folheou o jornal, o qual não achou suficientemente interessante e vai daí pergunta-lhe se ele não teria aquelas páginas dos anúncios sexuais, ele disse que tinha sim senhora e deu-lho, ela mirou e remirou o jornal e depois telefonou a alguém:

Olha, fizeste a sopa?
…?
Ó pá, se fizeste a sopa, se trataste da comida?
…?!
Pronto… Puseste o anúncio?!

Desmanchei-me a rir, porquanto a cena me pareceu anedótica. Rimos, eu e o homem da cafetaria, rimos tanto que Elisabete Maria, a esotérica, perguntou se estávamos a rir dela. A mania que as pessoas têm de se armar em importantes, pá…

Pesca

O meu blogue foi encontrado sob a pesquisa da seguinte frase:
‘de fazer tudo o que a outra’.
Considero estas frases do mais hilário que há, a sério: são fantásticas. Onde é que raio terei escrito algo que se assemelhe a essa frase?!

Home Cinema

Há dias vi o filme 'A Vida de Pi' do realizador Ang Lee. É uma lição de vida muito bonita e comovedora. A história é como que narrada
(atenção: vou-me armar em desmancha-prazeres e informo desde já que neste post desvendo particularidades do filme, inclusivamente cenas finais, se bem que tentarei não esventrar a trama de todo)
pelo protagonista acerca das suas aventuras como náufrago a um escritor que supostamente as quer transformar em romance. Durante o filme vemos um testemunho cheio de peripécias, onde se mistura o irreal e ilógico com o instinto de sobrevivência e as inerentes vontades férreas dalguém que vive no lumiar da loucura e relata essas sensações sem pudores ou mágoas ou ainda grandes traumas. No final o protagonista pede ao escritor que escolha dentre duas histórias possíveis de ele vir a transformar em livro: uma onde os factos são racionais, lúcidos, possíveis, outra onde tudo é absurdo e fantástico, por vezes belo (como o filme, na verdade).

A história fantástica era a que eu escolheria. Escolhi antes de ver a cena, inclusivamente verbalizei a escolha:
'A fantástica, claro!'
O escritor também escolheu essa, daí o filme rocambolesco ter nascido…

Amarelo

A do cabelo amarelo é daquelas pessoas que nuns dias se apresentam dispostas à conversa e noutros dias não. É conforme.
Dantes tinha montes de paciência para pessoas assim, e é sem mosdéstia que afirmo que tinha um jeito especial para elas. Pensava ‘ok, hoje estás bom(a) para falar, falemos’, ou então ‘hum, hoje não estás virado(a) para a conversa, então pronto, não faz mal’.
Tinha um jeito especial. Tinha.
De há meia dúzia de anos para cá tenho perdido essa capacidade, sei lá, começou a parecer-me que ficava como que à mercê das vontades doutrem e isso começou a perturbar o meu ego, o qual precisava de crescer por causa disto de escrever, e a verdade é que o dito cresceu consideravelmente.
Diz que as pessoas não mudam, revelam-se. Não sei é assim, tenho um ego mais opulento que em outros tempos mas continuo sem certezas.

Figura pública

Ontem, depois das sete, fui dar mais um passeio com a cadela, o derradeiro.
Dia de greve geral, a alameda dizia ‘greve geral’ na relva, lá em cima, junto ao IST. Devia ser para avisar os mais distraídos ou isso.
No semáforo oposto avisto a Glória de Matos, esperando o verde, como nós. Pensei dizer ao cão*: ‘olha Olívia, vês aquela senhora? É uma atriz conceituada da nossa praça.’
Mas não disse.
Notei que a senhora se mostrava ansiosa, quase trémula, esperando o verde, e pensei que era tal e qual uma ou outra velhinha que nem são do panorama artístico português nem nada; uma velhinha esperando o sinal verde; uma velhinha igual às outras, até podia ser a dona Lurdes, com os seus medos particulares.
Cruzámo-nos, a atriz agora em passo seguro, ao depois do ligeiro tremor de dúvida: como atravessar; se atravessar; quando atravessar; etecetera, eu e o cão, meros transeuntes; anónimos; transparentes.
Descemos a avenida e fomos dar à praça com nome britânico, virámos à direita para percorrer meia avenida francesa para aí encontrar uma outra praça, com nome de cientista francês.
Ainda pensei levar a cadela a ver a minha rua preferencial e o jardim da minha paixão, e chegadas lá falava outra vez com ela, segredando: ‘olha, Olívia, vês, este é o jardim onde venho coisar’. 
Mas não. 
Se bem que devia aproveitar o amor da minha cadela, a sua atenção desmesurada e falar-lhe das minhas coisinhas e de como as coiso. Se virasse na rua do poeta contemporâneo de Camões, iriamos lá ter. 
Mas não. 
E que tal contrariar tudo e apresentar-lhe a bicicleta bê de biragem
Não. 
Sentei-me um pouco. A cadela ficou em pé, não curte ter o rabinho assente em pedras irregulares como são as daquele jardinzinho que sempre me lembra o leite pasteurizado. Sim, o leite e a praça têm tudo a ver… Praça Pasteur. E não ofereço mais referências nenhumas.
Tirei fotos.



*A minha cadela é cão, uma vez por outra, é daquelas coisas dos apetites que me dão e assim.

?

A internet fez-se para trabalhar ou para brincar?

;

Usar ponto e vírgula é como querer dizer que vem aí mais do mesmo.

Olá, bom-dia!

Estou constipada há cinco dias. Em muito. Como que doente. Tenho-me aliviado com os comprimidos franceses - paracétamol voie orale - , que inclusivamente estão fora de prazo desde dezembro último. Melhorei ligeiramente, obrigadinha, ainda que os comprimidos sejam velhinhos.
De manhãzinha, como estava com dores no gargalo e com a voz grossa, comprei rebuçados que supostamente alterarão o tom de voz e farão desaparecer os dói-dóis. Tenho um cubinho doce e fresco aos rebolões dentro da boca, a ver vamos que alterações haverá.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Anoiteceu

Tenho rascunhos, ideias e afins. É sempre no presente. Tenho. Tenho rascunhos e ideias para escrever. Seja manhã, tarde ou noite.

Perspetivas

Lisboa, avenida Almirante Reis.
Desço a avenida, à torreira do sol. Já remataram o muro do hospital, ficou giro, torneado, como se fossem umas ondinhas. Calhando querem trazer o oceano para aqui ou o caraças. Está longe mas pronto, lembremos o rio, sempre é água.
Mesmo ao pé da primeira ondinha avista-se o número três da rua António Pereira Carrilho. Se estiver no outro ponto, quero eu dizer: ao pé desse mesmo número, avista-se a primeira ondinha. Costuma ser assim: se eu te vejo, tu também me vês. Só que às vezes falha.

Miragens

À noitinha fui ver dois miradouros de Lisboa: o da Graça e o da Senhora do Monte. Devido ao calor havia mais pessoas e turistas que o costume. Sim, os turistas são pessoas, mas é assim mesmo: havia pessoas e turistas, digamos que são duas espécies distintas. Rente ao muro podia ver-se o esplendor da cidade; as luzinhas, as avenidas, ruas e becos, prédios. Em suma: civilização, obra humana, grandeza, charme. Achei a vista magnífica e vazia de pessoas e desejei imenso que os miradouros se encontrassem assim, sem ninguém, vazios. Sem vida, bem sei. Que não se atente por aí além, isto é a minha ignóbil e dominante ânsia de solidão a falar.

O verbo

Voltei ao lugar da musa, após um intervalo de dias. As pessoas conversam. Corro o risco de me tornar repetitiva mas a verdade é que essa constatação me pasma e não é pouco.
Uma mulher emotiva proseia com paixão. Não quer que ouçam o que diz, baixa o tom de voz, mas tem uma dicção tão boa que ouvi tudo. Não vou reproduzir, não é aí que está o fulcro, é na paixão e na dicção dessa mulher.

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Gosto tanto do verbo conversar quanto gosto do verbo escrever. Gosto de escrever sobre escrever e gosto de conversar sobre conversar. Gosto mais ainda de escrever sobre conversar porque gosto mais de escrever do que de conversar.
Sinto necessidade de conversar. Não converso lá muito, não, embora pareça que sim. Converso com meia dúzia de pessoas e a maioria das vezes essas pessoas é que conversam comigo, deixo-as falar sem intromissões ou comentários. Isto, quando consigo, claro, sou um bocado espontânea e digo parvoeiras que não têm nada a ver com a conversa. E escrever coisinhas não é bom nem alivia, só por dizer que gosto disso. Desavergonhadamente.

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Não quero parecer lamentosa. De todo. Contudo sei que pareço.
Não quero que conversem comigo, a sério que não.
Não estou a pedir leitores nem comentários nem companhia nem conversa, garanto.
Apenas quero cogitar, esta página é um blogue onde me esparramo em inconfidências. Digamos que não converso lá muito, não, e é por isso que escrevo.

Há pouco...

… Quando passeava a cadela pelas ruas da capital (hoje escaldantes, oh céus, que horror, que lassidão...), uma senhora brasileira meteu-se com ela:
- Tu és um cão muito bonito. Um alfacinha muito bonito.

Vespertinamente

Olá, boa-tarde. De manhã tinha rascunhos e ideia abstratas e vontade de preparar a sopa de letras d’ hoje. Agora tenho rascunhos e muitas ideias abstratas e muita vontade de apresentar um verdadeiro banquete literário.
Vontade posso ter, pois posso? Agora se o banquete se mostra soberbo ou não…

Era uma vez


Uma menina de oito anos vendia desenhos à porta da vidraria.
– A senhora não quer comprar um desenho a cinco cêntimos?
Comprei (ver imagem acima), movida pela nostalgia, os ricos filhos faziam a mesma coisa à porta da minha loja. Há uma senhora que mora nesta rua que ainda fala desse costume e há uma pintora que também guarda esses desenhos com carinho.

Arrumos e limpezas

A dona Adelina, quando chega aqui, já vem com a casinha limpa e arrumada. 'Já fiz isto, já fiz aquilo', diz ela. Quem ouvir imagina que é uma mulher muito asseada.

E é.

Ausência

O rico filho não está na capital, esse foi a uma cidade com praia de areia branca e mar gelado e revolto.

Presença e ausência

A rica filha está cá, veio à cidade.
A rica filha esteve cá, foi trabalhar. Quando me despedi disse:
‘Adeus, gaja mais gira do planeta’
E ela respondeu:
‘Acho bem, acho bem. Adeus segunda gaja mais gira do planeta.’

Presença

A cadela está cá, veio à cidade. Um pelo dela estacionou no bico da minha caneta, impedindo-me por momentos de continuar a escrever.

«Trazem histórias de um sítio melhor»

Pessoas trouxeram histórias felizes de lugares que outras pessoas desconheciam. E assim nasceu a emigração.

Olá, bom-dia

Tenho muitos rascunhos.
Tenho muitas ideias abstratas.
Tenho de as escrever.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não há

‘Não há ninguém como tu’, diz o poeta (João Pedro Pais).
Não há, não. Todos são diferentes. Ou somos. Todos somos diferentes.

Boa-tarde e isso

Lisboa, 25 de junho de 2013

O meu colega foi abrir uma porta e depois eu fui lá levar a fechadura novinha que era para se pôr em vez da que tinha avariado. O cliente ficara de fora, fechado na rua, como eu costumo dizer, o que nem sempre é visto como graçola mas pronto. Após subir uma dezena de lanços de escada avistei-o e cumprimentei-o com uma sonora 'boa-tarde' e ele devolve-me uma 'má-tarde'. Percebi que o homem não estava a viver a melhor das suas tardes e para descomprimir quase lhe ia respondendo que isso dependia do ponto de vista, pois para mim a tarde naquele momento corria que era um espetáculo... Mas calei-me a tempo.
Tirei uma foto sob a luz que trespassava a claraboia. Antes isso mas não para deixar de dizer aquilo.
Ah, antes que me esqueça, depois o homem sorriu. Depois do 'má-tarde', depois da fechadura montada e a funcionar, depois de pagar. Depois. Sorriu muitas vezes.

Isso

Cliente: - Montam estores ou isso?

Eu: - Montamos estores e isso.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A voz

Numa loja giríssima, daquelas em que a gente pode andar a vasculhar as prateleiras, desdobrar as peças todas e deixá-las fora do lugar sem que nos venham moer a cabeça, vi uma cara conhecida do panorama literário português. Primeiro pareceu-me ela e fiquei com algumas dúvidas mas depois de a ouvir falar tive a certeza que era mesmo quem eu estava a pensar, pois possui uma voz extremamente peculiar.
A dada altura reparei que a escritora espreitou de dentro do provador e que precisava duma funcionária. Decidi intervir, oferecendo ajuda. Ela aceitou, mostrando-se muito grata. Chamei a moça e regressei para lhe dizer que a funcionária não tardaria. Entretanto tomei coragem para acrescentar que a vi na tv, tendo gostado bastante da sua transparência enquanto entrevistada e que também gosto do modo apaixonado como escreve. Ela agradeceu e agradeceu e agradeceu.
– Ah, muito obrigada. Muito obrigada. Muito obrigada.
E eu fiquei como que arrependida, não era nada daquilo que eu queria dizer, muito embora sejam verdades e coisas que realmente penso, o que eu queria era conversar de livros e de escrita com alguém dos livros e da escrita. Tive as vazas todas, convidava-a para um cafezinho e conversávamos. Mas não.
Vai daí, depois, ouvi-a falando com a funcionária, como quem duvida:
– E tem este modelo num número que me sirva?! Ai filha, é que eu estou uma vaca!
A funcionária disse algo que concluo ser um 'não é nada, ora essa, deixe lá isso' e ela ripostou com veemência:
– Estou, estou!


Nota:
Não revelo o nome da senhora porque criei um texto onde mostro uma cena que talvez a protagonista não gostasse de ver publicada.

Luzinha verde

Finalmente dignaram-se a mudar a luzinha do semáforo que não era luzinha nenhuma porque estava fundida. Agora já é luz. Em verde. É um alívio atravessar a estrada porque como é sabido, eu que sou uma desconcentrada do caraças, já posso concentrar a minha atenção noutras minudências.

Vespertinamente

Olá, boa-tarde. Já fugi e já regressei, fazendo jus ao anúncio desta manhã.
Está muito calor, muito calor, muito calor.
Pelo caminho encontrei a dona Carminda, tanto para lá como para cá. Vinha com um colega que não era o Ricardo Araújo Pereira, era um outro pequenino, tão pequenino que mais parece uma criança velha, o qual também me disse olá e ainda não me conhece lá muito bem.
A propósito do RAP, enquanto bancário: a dona Carminda agora já se dá bem com o moço, tanto que lhe acha um piadão, ri-se muito e atira a cabeça encaracolada para trás, tal a comicidade do dito. Sei como é, dona Carminda, é difícil ficar-se zangado com quem nos faz rir.
A propósito de idas ao banco: o facto de a dependência bancária ter desopilado daqui perto leva-me a encontrar pessoas duma zona mais afastada do meu núcleo, mas da qual conheço as pessoas que por lá se movem igualmente bem. E é giro ver as pessoas na fila a cumprimentar-me com afabilidade e eu a responder com cordialidade e notar as caras de espanto contido do RAP, como quem diz lá por dentro: porra, esta gaja conhece toda a gente!

Ironia

Um cliente ensinou-me as diferenças entre as tomadas embutidas e as que ficam à face da parede. E ainda me deu umas luzes acerca das tomadas exteriores, as estanques, aquelas preparadas para resistir às intempéries. Que fofo.

A droguista

Uma cliente pediu aguafás. Era ucraniana, por isso a distorção do nome. Se não era ucraniana era doutra nacionalidade qualquer daquelas bandas, não é aí que reside o fulcro do momento.

De vez em quando convém deixar escrito que trabalho numa drogaria e coiso. Convém acrescentar que era aguarrás que a senhora queria. Também me apetece dizer que sendo uma droguista moderna, vendo aguarrás em garrafas de litro, chegam aqui embaladinhas e bonitinhas, que o cliente gosta de ver aprumo e asseio.
Mas o cliente nunca viu um buraco no chão, vedado com uma peça de ferro. Eu já. Antigamente abria-se aquela tampa para o fornecedor de químicos enfiar um tubo por ali abaixo e depositar cem (ou mais) litros de aguarrás no armazém em cada carregamento. E petróleo e benzina. Antigamente era assim mas agora não. Sou uma droguista moderna.

Modo

Ninguém tem de estar de nenhum modo específico para escrever umas linhas, nem triste nem alegre, cansado(a) ou alerta. Está-se, é-se e escreve-se independentemente do estado de espírito.
Óscar Wilde dizia que...

«Não existem mais que duas regras para escrever: ter algo que dizer e dizê-lo.»

… E eu acho que o homem tinha razão.

Por causa das manas de há pouco...

… Lembrei-me dos meus ricos filhos.
A rica filha diz ‘o mano isto e aquilo’. O rico filho diz ‘a mana assim ou assado’. Isto se estiverem em conversa connosco: mãe e pai. Com a restante família ou os de fora referem ‘o meu irmão’; ‘a minha irmã’.
Eu, se quiser falar da rica filha ao rico filho digo ‘a mana’ mas se quiser falar do rico filho à rica filha digo ‘o André’.
O rico filho chama ‘mana’ à rica filha, já o contrário não se verifica, ela chama-o pelo nome, como eu.
São hábitos que se criam, ou então é por ele ser o benjamim e quando eram pequenos era queriducho e fofinho dizer ‘a mana’ e ela sendo mais velha tinha de a fazer parecer mais crescida.
Não sei.
Para terminar: sabe bem um deles chegar a casa e dar por falta do outro e perguntar-me:
- O mano?
- A mana?
É tão bom.

Dias de um Ginásio

No ginásio há duas manas com uma considerável diferença de idades. A mana mais nova trata a mana mais velha por mana mas esta não retribui esse tratamento carinhoso.
Acarinham-se mutuamente, não disse o contrário.
Aparentemente têm os mesmos costumes: frequentam o mesmo ginásio, executam os mesmos exercícios, partilham cremes e champôs, trocando impressões aqui e ali. E pintam os olhos depois do banho. Em simultâneo. Uma num espelho, outra noutro. E ainda têm a graça de um espelho refletir a outra e assim poderem falar olho no olho.
Há pessoas que têm companhia.
E era isto.

...

É o desnível, o que promove o afastamento entre as pessoas. Não se pode ser pior que o outro. Não se poderá jamais ser melhor.

Primeiramente

Olá, bom-dia!
Está calor.
Chegou o verão, é mesmo verdade.
O verão chegou há cinco dias, o calor chegou há dois.
Está calor.
Só me apetece é fugir.
Já lá vou.
Depois regresso.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Audição

Pus os indicadores dentro dos ouvidos para sentir o pulsar do meu coração. Deixei-me estar quietinha e caladinha e procurei o bombear cadenciado. Procurei o bombear descompassado. O desnorteado. Um som a fazer bão-bão. Nada. Ouvi tripas e veias, algo como um rufar de tambores longínquo. Em suma: ouvi tráfego que me passava a certidão de vida, mas não ouvi o bão-bão do meu coração. Há vida nas tripas e nas veias e para me sentir normal vi-me forçada a inventar um bater de coração, que uma pessoa tem de se saber viva. Inventei um, ouvi-o e tudo. Sirvo para inventar a vida, ultimamente.

Maturidade

Já não tenho o medo que tinha do 'parece mal'. Não sei se por estar calejada, cada dia que passa me confronto com o 'parece mal' e a calosidade se tenha instalado e assim se foi a sensibilidade, se pela corriqueirice o 'parece mal' deixou efetivamente de parecer mal, qual calos qual quê.

Uma mulher num texto virgem

Igual, não, diferente, troca a perna. Há o livro; há os óculos escuros pousados cuidadosamente em cima da mesinha; há a mão apoiada no queixo; há o ar pensativo. Não há mistério. Não. Não e não. Lê avidamente, muito compenetrada. Tem um vestido curto com florinhas vermelhas. Num repente, diria que quer parecer mais nova mas não vou por aí, esse caminho é fácil, vou por outro, igual a tantos, onde não há originalidade.
Até pareço eu. Mas não. Nunca saberia descrever-me verosimilmente.

A menina mal comportada

Disse a uma cliente que durmo com o filho do patrão e que ainda hoje de manhã tinha acordado com ele mesmo ali ao meu lado. Disse-o como se fosse algo fantástico, mordaz e até depravado. Ela riu-se muito sem sequer indagar se eu falava verdade, assumiu que era.
De facto, há cenas na minha vida que são hilariantes.

Derivações

Pingar e raspar são verbos que derivam dum som → pingue-pingue; rre-rre.

Era uma vez uma bloguista que pensava

O meu colega viu um aviso na porta duma loja, a seu ver muito engraçado, onde estava escrito algo como:

«Estamos fechados porque não estamos abertos.»

Vai daí, o meu colega diz-me que se lembrou logo de mim, que é o tipo de coisas que costumo escrever. Primeiro achei-lhe um piadão e ri-me e coiso. Depois conclui: «Ora bolas... e eu a pensar que sou criativa na escrita e mais não sei o quê...»

domingo, 23 de junho de 2013

Mais uma

Pergunto-me se os caminhos já conhecerão tão bem os meus passos como eu conheço e reconheço cada pedra, cada flor, cada cenário. Creio que já fotografei esta portinhola uma e outra vez e a apresentei no blogue outras tantas. Se bem que coloco no blogue aquilo que acho por bem, sei disso, sei como funcionam estas coisas há anos, mas pergunto-me se não andarei a publicar fotografias aos montes e qualquer dia encho o blogue e este tem de fechar por falta de espaço. Se bem que este blogue está fora de prazo... Mas adiante.

Loures, 23 de junho de 2013

Passeio da Manhã & Passeio da Tarde



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