sexta-feira, 28 de junho de 2013

Figura pública

Ontem, depois das sete, fui dar mais um passeio com a cadela, o derradeiro.
Dia de greve geral, a alameda dizia ‘greve geral’ na relva, lá em cima, junto ao IST. Devia ser para avisar os mais distraídos ou isso.
No semáforo oposto avisto a Glória de Matos, esperando o verde, como nós. Pensei dizer ao cão*: ‘olha Olívia, vês aquela senhora? É uma atriz conceituada da nossa praça.’
Mas não disse.
Notei que a senhora se mostrava ansiosa, quase trémula, esperando o verde, e pensei que era tal e qual uma ou outra velhinha que nem são do panorama artístico português nem nada; uma velhinha esperando o sinal verde; uma velhinha igual às outras, até podia ser a dona Lurdes, com os seus medos particulares.
Cruzámo-nos, a atriz agora em passo seguro, ao depois do ligeiro tremor de dúvida: como atravessar; se atravessar; quando atravessar; etecetera, eu e o cão, meros transeuntes; anónimos; transparentes.
Descemos a avenida e fomos dar à praça com nome britânico, virámos à direita para percorrer meia avenida francesa para aí encontrar uma outra praça, com nome de cientista francês.
Ainda pensei levar a cadela a ver a minha rua preferencial e o jardim da minha paixão, e chegadas lá falava outra vez com ela, segredando: ‘olha, Olívia, vês, este é o jardim onde venho coisar’. 
Mas não. 
Se bem que devia aproveitar o amor da minha cadela, a sua atenção desmesurada e falar-lhe das minhas coisinhas e de como as coiso. Se virasse na rua do poeta contemporâneo de Camões, iriamos lá ter. 
Mas não. 
E que tal contrariar tudo e apresentar-lhe a bicicleta bê de biragem
Não. 
Sentei-me um pouco. A cadela ficou em pé, não curte ter o rabinho assente em pedras irregulares como são as daquele jardinzinho que sempre me lembra o leite pasteurizado. Sim, o leite e a praça têm tudo a ver… Praça Pasteur. E não ofereço mais referências nenhumas.
Tirei fotos.



*A minha cadela é cão, uma vez por outra, é daquelas coisas dos apetites que me dão e assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário