«Põe no papel tudo o que te vai no coração.
Nunca tenhas vergonha do assunto ou da paixão que sentes pelo assunto.
As tuas paixões «proibidas» podem revelar-se, quem sabe, o combustível que alimenta a tua escrita. Tal como aconteceu com o nosso grande dramaturgo Eugene O'Neill, que lutou toda a sua vida contra o pai, que lhe morrera muito antes; como o nosso grande estilista da prosa americana Ernest Hemingway, debatendo-se ao longo da existência contra a sua mãe; como Sylvia Plath e Anne Sexton, lutando ambas até ao fim com o sedutor Anjo da Morte que as procurava aliciar para o êxtase e o arrebatamento do suicídio. O instinto para a violenta autolaceração em Dostoévsky, bem como o sádico castigo dos «descrentes» em Flannery O'Connor. O medo de enlouquecer em Edgar Allan Poe e de cometer um ato irrevogável e indizível – matar o pai, ou a mulher, estrangular e tirar os olhos ao gato, mascote de alguém «muito querido». A luta com o teu «eu» escondido, ou «eus», favorece a tua arte; essas emoções funcionam como o combustível que alimenta a tua escrita e torna possível horas, dias, semanas, meses e anos do que aos outros, à distância, terá o aspeto de «obra feita». Sem esses impulsos incompreendidos, pode muito bem acontecer que sejas uma pessoa aparentemente mais feliz, e um cidadão deveras envolvido na tua comunidade, mas é muito pouco provável que consigas criar algo de substancial. (…)
E, ainda e sempre, põe no papel tudo o que te vai na alma.»
'A Fé de um Escritor', Joyce Carol Oates
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Pensamentos (meus) recorrentes dos últimos dias: 'Escrever não é isto; escrever não é assim; escrever não é como faço; escrever não é como escrevo; escrever não é o que escrevo; escrever embrutece-me; escrever não traz felicidade, endeuso o ato de escrever; exagero, procuro particularidades nas pessoas e momentos especiais e lugares encantatórios, está tudo errado; a minha vida é diferente.'
E depois encontro livros com excertos como o de cima, que me instigam a continuar com isto de escrever.
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