quinta-feira, 1 de outubro de 2015

De roda do meu antigo escrever

Credo, que se me deu um baque do caneco quando pensei que tinha também 'voado' um outro documento de escrita onde apontei ideias para contos que nunca terminei, ideias essas que são do tempo em que me dediquei a escrever um conto sobre o tema sete pecados capitais. Dediquei-me a escrever esse conto e escrevi, chama-se 'Modo de' e está numa coletânea de nome 7 Pecados, volume I.
Há meses que ando para me dedicar de novo às tais ideias que entretanto não aproveitei, alterá-las e aprimorá-las e publicá-las no blogue, mas a vontade nunca é a suficiente.
Mas não. Falo agora do desaparecimento. O documento não se me desapareceu, qual quê, para ali anda, vivinho da costa e assunção de figueiredo. Assunpção.
Tenho de tratar daquilo, não mexo lá vai para mais de um ano, ou talvez dois. Estou curiosa, estou tão curiosa que vou ver.
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Luxúria
mexido e gravado em 13/02/2014 às 15:10:33
Inveja
mexido e gravado em 28/10/2013 às 12:38:01
Preguiça
mexido e gravado em 28/10/2013 às 12:38:39
Vaidade:
mexido e gravado em 10-02-2014 às 12:09:14
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Portanto, há alguns que não são mexidos há praticamente dois anos e outros que há mais dum ano e meio. E agora os textos, decidi que os publico hoje, tal e qual como estão. Vou apenas alterar para o tipo itálico onde o texto não passa de lembretes para o futuro, de como estenderia a ideia e a cobriria com alguns pozinhos de perlimpimpim. Deixo apenas mais uma nota: há temas com mais do que uma ideia, nesses casos não haverá linha em branco, o título a negrito faz o papel duma divisória.

Luxúria:
Sobeja d’ pecaminosa que escreve, tentando o tom voluptuoso
Era uma vez uma mulher certinha
Quem achar que sou capaz de escrever um conto erótico está muito enganado. Não sou. À partida um conto assim é aquele em que os personagens possuem características fantásticas, são compostas para os leitores crerem que o frescor é constante, o vigor jamais finda, a líbido atua incessantemente e a promiscuidade não pressupõe perversidade. Irrealidade.
Mesmo fingindo um sentimento desprendido não me sinto capaz de escrever eroticamente. Mas devia ser capaz, logo eu que possuo um nome de cariz sensual, pouco distando da obscenidade → Gina.
Nessas histórias que não sei contar, os personagens são boas pessoas, francas, prontas a amar, a rasgar o peito se for preciso, já nasceram assim, cheios de salamaleques românticos. Mas também não se deixam pisar, nem se intimidam com nadinha desta vida, resolvem tudo da melhor maneira. E atempadamente. E fazem-no junto ao final das páginas. Que quimera! O sentido de justeza tão pronto, reto, capaz, extraordinário.
Mas não passam das mesmas histórias, oh céus!
Voltando à questão nominativa: no tempo do salazarismo não era permitido que o nome Gina aparecesse impresso na cédula de nascimento. Devia ser um certo embaraço da gente que comandava este país, cambada de púdicos, pá... Parece mal isto, parece mal aquilo, raios os partam. Eles não queriam Gina na minha cédula mas não lamento o facto de todo. Sou Gina à mesma. Gina Maria. Gina na alma e na vida. Os meus progenitores foram teimosos e colocaram um nome no papel de onde facilmente se extraísse a Gina. E eis-me aqui.
Cresci com um vizinho com idade para ser meu pai a chamar-me ‚vagina‘, caso me visse passar na rua. A minha mãe nem dizia nada para eu não perceber até que ponto aquilo era mau.
Cresci com um bando de adolescentes desmiolados a apontar-me o dedo como que a comparar-me com as fotos indecorosas da revista ‚Gina‘. Eu, pequenina no saber, tão pequenina, a quase me sentir promíscua sem saber deveras o que isso significa.
Aqui colocar aquela hsitória da transportadora
Portanto, digamos que sou uma mulher a quem esporadicamente recordam que o meu nome é ‚Gina‘ tal como essa revista cheia de mulheres escanchadas e nuas e pénis esguichando esperma para as suas bocas.
Hum, estou para aqui a pensar que já me está a custar muito menos escrever cenas de sexo, ou espectros do assunto. Se calhar, pronto, vá, vou tentar escrever de beijos e abraços carnais.
«Enquanto a Mari Stella degusta um pastelinho de feijão... Maria Eduarda abre as pernas ao Serafim, o homem que trabalha nas entregas domiciliárias do talho lá do bairro. Ela com um desejo crescendo na boca do corpo, ele com...»
Ná... Veem? Não sei contar histórias destas, daqui a nada estava a falar em penetração sexual e fluídos genitais. Não sou capaz de escrever acerca dessas coisas. Isso foi lá atrás, dois parágrafos lá atrás, para aí...
Onde anda a minha sensualidade? Onde anda aquele desejo subtil no qual apenas se vislumbra uma fugaz centelha do meu recalcado potencial? Oh céus, só eu conheço o quanto é verdadeiramente arrojado!
Andiamo! (Estou a usar a língua materna da Mari Stella, a personagem que inventei mais acima, é-me muito necessário encontrar a realidade.)
Preciso da realidade tanto quanto preciso de escrever uma história com pessoas que se amem fora do risco, ou em risco. O perigo eminente é assaz luxurioso. Supostamente, claro, que eu cá sou uma mulher certinha.
E a minha vergonha já vem dos primórdios da minha existência
Acrescentar a história do corno, a do Max e da Mina, a da Isabel na papelaria
aliás, gajo angelical, explanar as cenas dos livros parolos
Papel Vegetal
Entrou uma mulher pela papelaria adentro e José empertigou-se por trás do balcão corrido.
Não nos debrucemos sobre os pormenores do balcão, cores, cheiros e texturas, o que importa agora são as folhas de papel vegetal.
«O papel vegetal... Não sei de onde vem, ou como se fabrica. Só sei que é branco, transparente e macio, como a pele da mulher que entrou na papelaria.» Foi o José que fez a comparação, foi ele que fez poesia logo que a viu entrar.
Ela queria papel vegetal, ele não.
Perguntou-lhe para que era o papel vegetal, numa ânsia de a demorar.
Depois enlaçaram-se, mesmo sendo comprometidos com outras pessoas, um e outro, mas lá se amanharam com grande promiscuidade. Entretanto a paixão esfriou, nenhum queria largar o poiso, o casamento e depois findou a relação. Hoje ela tem um vestido cor-de-rosa. Lindíssimo.

Inveja:
Sobeja d’ pecaminosa que escreve, tentando o tom tinhoso
Mulheres
A mulher cuzuda tem inveja da magreza. A mulher magra queria ter chicha.
À noite sonhava com ele
Marisa sonha com um homem todas as noites, não falha uma. No sonho o homem está para ali sentado num banquinho de pernas curtas, dobrado sobre si, monologando em frases concisas.
Marisa escuta, somente.
Parece que afinal este homem dita as frases como se lesse em voz alta, sem que façam sentido para os demais.
Mas Marisa é uma mulher especial, gosta de escrever, tanto que a sua cabeça vai buscar o homem das letras todas as noites, porque, como se sabe, todos desejamos companhia, e se existem pontos comuns, tanto melhor.
«Este homem lê só para mim, oh glória terrestre!» pensa Marisa para com o seu íntimo.
Intimista, Marisa é intimista no modo de falar, de gesticular, de sonhar, de escrever. Tudo nela se converte em coisinhas profundas, sentidas mesmo lá no fundo, naquele ponto onde todos somos boas pessoas.
As noites passam e Marisa vai conhecendo gradualmente o homem que escreve. Numa noite dessas percebe que o homem tem um diário e mais não faz do que o ler em voz alta para quem queira ouvir. E Marisa gosta de o ouvir, identifica-se com o assunto e o sentimento advindos da prosa declamada, tem um tom e estilo que se assemelham à sua própria crueza. No entanto, por causa dessa semelança, começa a despontar uma inveja pequenina.
Colocar a ilegibilidade como palavra difícil; inveja do modo de escrever
Fazer de conta que alguém me descobriu através da internet, por causa de falar tão descansadamente em drogaria.
Contar da invejosa que inveja um gajo que escreve na avenida da Républica; mesmo ao lado do supermercado; a igreja como sendo a dgv. Ou então Alvalade, com a igreja são João de Brito. Colocar a escrita no plano dos sonhos, inventar a trama e finalizar com os dois casando na igreja.

Preguiça:
Sobeja d’ pecaminosa que escreve, tentando o tom alapado
Astenia
Passar pelos mais diversos sinónimos no que à preguiça diz respeito
Alapada, refastelada, espojada, inerte,
«E eu que era tão despachada!»
É a frase que mas se lhe ouve. Envelheceu. Empobreceu. Outrora foi «despachada». Agora, se vê uma manchinha na parede, esquece-a rapidamente.
Colocar o assunto na preguiça, na letargia, na velhice, o não se limpar a casa.

Vaidade:
Sobeja d’ pecaminosa que escreve, tentando o tom ególatra
Equilíbrio
Max e Mina resulta no título deste pequenino conto - equilíbrio.
Max é mágico, é tão mágico que dá espetáculos e tudo.
Mina acompanha, como uma sombra. Mina não chateia Max. Não inveja. Não se sobrepõe.
Max é uma estrela. Exubera, como se a prepotência não lhe fosse prejudicial, ou não arruinasse os sonhos doutros seres que com ele convivem.
Mina não contrapõe Max. Nadinha, nadinha. Deixa-o ser aparecer, fazer, deixa-o ser como quer, quando quer, onde quer.
Max aperalta-se para os seus espetáculos. Ao seu redor movem-se belas mulheres
Eu, a que observa, a que conta a história, concluo que cornos desses todos queremos ter.

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