Na tv está uma mulher a preparar uma pasta gordurosa para barrar uma perna de borrego, borrego esse que foi criado nas terras altas dum país qualquer. Essa pasta, é o que me interessa por ora, dentre outras coisas leva lavanda, aquelas florzinhas liláses. Em tempos andei de roda dum canteiro de lavanda que não me pertence, mas, lá por não me pertencer, não significa que não colhesse um ou outro pezinho que saísse fora do muro do quintal alheio. Colhi e fiz açúcar com cheiro e sabor a lavanda. Guardei duzentos gramas e três pezinhos de lavanda num frasco durante dois ou três meses. Depois veio o bolo. De claras, limão e outras coisas, como o açúcar com lavanda. É dos anjos esse bolo, como se a leveza lhes pertencesse, só por ser de claras quer dizer que é leve e só por ser leve quer dizer que é dos anjos. Era bom, o bolo, mas não sei se fez jus ao céu que dizem existir lá em cima, carregado de anjos que cantam. Pode estar em baixo, esse céu. E mudo. Tenho quarenta e sete anos, sei que o mundo pode, e deve, ser como eu quiser. É na rua mais bonita de Lisboa, o muro por onde espreita a lavanda. Amanhã vou lá.
Sem comentários:
Enviar um comentário