quinta-feira, 18 de junho de 2015

De manhã

De manhã ouvi na Radio Comercial que hoje o Programa da Manhã completa oito anos de permanência na grelha. Entretanto a locutora desafiou os ouvintes a divulgarem no Fuçasbuque o que teriam feito no dia dezoito de junho de dois mil e sete, ou o que teria acontecido nas suas vidas. Pronto, ok, vá, nem toda a gente se vai lembrar do que fez há precisamente oito anos mas, por exemplo, imagine-se que se foi mãe, ou pai, ou tia, ou tio, ou prima, ou primo, ou se casou, ou se divorciou, ou se enviuvou e blás. Ou então imagine-se que se tem um diário ou um blogue...
Lembrei-me logo de ir cuscar o blogue e o diário manuscrito, a ver que coisas terão acontecido na minha vida, mesmo que irrisórias. E fui, mas cusquei somente o diário, o blogue, se me lembrar, cusco logo à noite. O diário não é um blogue onde eu escreva sabendo que vai ser lido (ou então não, pois claro), nessa data contém assuntos impublicáveis. Resta o blogue. Será que escrevi alguma coisa nesse dia? A ver vamos, é que nesse tempo eu escrevia pouquíssimo. Se por um lado isso acontecia devido a alguma falta de tempo, por outro, a desenvoltura na relação ideias-mãos era parca, que ainda a procissão ia no adro (dito popular, por isso o itálico). A ver vamos, então.
Ora bem, nesse dia escrevi, sim senhores, eis o texto:


Ilação

Entrou na loja uma senhora. Enquanto a atendia observei-a atentamente porque havia algo nela que me estava a chamar a atenção, era algo quase familiar. A senhora era simpática, educada, objectiva, simples e segura.
Enquanto o negócio compra-venda se fazia eu não deixei o pensamento de que aquela senhora tinha um traço ou uma característica muito marcante e não descansei enquanto não descobri. Estava claramente em mudança de residência, devido ao tipo de artigos que me estava a pedir, tinha uma lista que ia "picando" conforme esses mesmos artigos iam aparecendo em cima do balcão. Seguia uma ordem de trabalhos previamente elaborada e aquilo estava a lembrar-me algo ou alguém. Reparei na roupa que ela usava para ver se desfazia o enigma. Era uma fato saia-casaco verde, uma blusa simples sobre a qual pousava um colar comprido (desses que estão agora muito na moda) também na cor verde e com brincos a condizer. Simples e clássica. Perguntou-me o preço de um artigo que compraria posteriormente e anotou no papel o preço, o nome e a marca. E foi quando ela escreveu quatro ou cinco palavras que se fez luz: aquela senhora só podia ser professora. Não me contive:
- A senhora é professora, não é?
Sorriu de um modo amável e cúmplice e perguntou-me porque é que eu achava isso. Respondi que era pelo facto de ela apontar as coisas num papel e pela rapidez e certeza com que escrevia. Não disse tudo o que pensei. Também podia ter-lhe dito que tinha chegado a essa conclusão pela sua maneira de falar, articulando bem as palavras, pela sua objectividade, por seguir uma ordem de trabalhos, pelos trajes simples e clássicos... toda a sua postura "respirava"ensino e regras. E quem aquela senhora me fazia lembrar era a minha professora primária. Respondeu-me que sim, foi professora mas que apontava tudo num papel para não esquecer nada e não devido à profissão. Não achei de todo verdade mas não ficava bem discordar por isso mantive-me calada.
Eu e a minha mania de tirar ilações e conclusões e afins...

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