sábado, 23 de maio de 2015

Blás

Gina foi ao supermercado de manhãzinha. Gina gosta de lá ir ao abrir da porta para despachar a coisa e para ver e ter os géneros frescos. Gina disse bom dia ao caixa, depois de o caixa ter dito bom dia a Gina. Caixa diz para Gina olhe não sei se já lhe disse bom dia mas tinha dito, que Gina respondeu sim senhor e eu também disse, portanto dissemos os dois. Ah ah. Gina comprou batatas e vieram duas delas em feitio de coração fofinho e outra a parecer um pénis só por dizer que é parecido com um pénis mas não é um pénis. E pronto, Gina repetiu propositada e parvamente a palavra pénis (olha, outra vez) na frase anterior. Gina comprou um tubo de pasta de dentes e duas beringelas.
Gina vinha a chegar a casa e viu um homem atravessando o pátio, de estendal ferrugento nas mãos, com as pontas de fio a pender. Gina desviou-se, que o homem vinha de olhos postos na poesia que há num fio às voltas, por conta da tenacidade daquele material. Gina conhece bem esses caminhos, ou fetiços, ou inspirações, ou, mais pobremente, impressões. Quanta  poesia há neste mundo...
Gina ontem foi ao cinema ver o filme A Idade de Adaline. Gina gostou do enredo e do sentimentalismo que envolve a protagonista, um personagem que não envelhece e se isola do mundo, mas achou pouco desenvolvido. Gina achou também que o filme ia acabar com tristezas e lutos mas afinal não, talvez por isso tão pouco desenvolvidos os sentimentos.
Gina foi ao supermercado, hoje, duas vezes. Na primeira vez Gina gravou a viagem para lá e para cá. Gina vinha a cantar e a conduzir. Os filmes estão ruins, como todos os que faz, mas estes estão mais ruins ainda. Na segunda vez Gina tentou gravar mas não gravou nada. Gina foi ao supermercado duas vezes, hoje, porque estava destrambelhada e esquecida das faltas de casa.
Gina tem o jantar ao lume.
Gina tem dois ecrãs à frente, o pc e a tv. No pc Gina tem o blogue aberto e está a escrever, na tv Gina tem um filme qualquer.
Gina lembra-se de jogar à macaca. Gina lembrou-se porque leu uma passagem num blogue onde se falava dos riscos no alcatrão com giz. Quando jogava à macaca, Gina perscrutava os pedacinhos de chão, sem alcatrão, pedras, sulcos e assim, o jogo era desenhado na terra, não no alcatrão. Gina, já na infância, se debruçava por sobre minudências.
Gina vai lavar o átrio do prédio lá em baixo, mais logo.
Gina fez a tal tarte de maçã. Gina andou a semana inteira a planear o quinhão doce da sua donadecasez. Não, esta palavra não existe. Domesticidade.
Gina devia ter dito/escrito boa tarde quando começou este post, agora é tarde. Trocadilho. Ah ah. Uma mulher obesa canta no Eurofestival, agora. Casalinho, agora. Gina não fixa os países que desfilam.
Gina jantou, pelo meio da construção deste post. Às pessoas convém saber que Gina já jantou. Mas o quê? Esse é o tipo de coisa que não convém às pessoas saber. Gina duvida que esta última frase esteja bem construída. Gina ignora a frase e ignora a dúvida.
Gina vai lavar o átrio. Isto sim, convém às pessoas saber.
Gina ainda não foi lavar o átrio lá em baixo. Gina, pelo meio, ou antes, desocupou o tabuleiro do assado... ah, Gina acaba de revelar a janta! Gina apanhou a roupa que estendera há hora e meia e congratula-se com este tempo secante de roupa no estendal. Gina dançou enquanto tratava do tal tabuleiro, uma canção que não vale um peido, well I guess it's all rigth if I'm your baby...
Gina rodou o volante e a mala saiu do lugar, indo acionar o botão do ar condicionado. Gina não gosta de ar condicionado. Gina gosta tão pouco que nem sabe mexer naquilo. Solução: mexer nos botões até desaparecerem os números do visor. Gina é gaja. Gina é mesmo uma gaja. Gina trata da casa. Gina arrasa na blogosfera. Gina não sabe mexer num carro. Gina cozinha. Gina faz roupa. Gina limpa pó e gordura. Gina é gaja. Gaja. GG.
Gina já lavou o átrio.

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